Peguei dois livros ditos de lazer para me distrair.
Um experimento na crítica literária – de C.S.Lewis, autor conhecido pelas Crônicas de Nárnia e o “Av.Paulista” do inteligente provocador português João Pereira Coutinho, que escreve na Folha.
Os dois livros têm algo em comum: os autores são cultos, críticos, escrevem bem, mas tem um grande problema: não acreditam em mudanças.
São céticos, ácido e, guardam um pouco aquele esnobismo de quem chegou no alto da laje e olham com algum desdém os outros lá de cima.
Esnobes? Um pouco.
E, na verdade, entram num rol de pessoas que têm a capacidade aguda, ferina e precisa de detectar problemas nos outros e na sociedade, mas não acreditam que estes possam sair de onde estão e avançar.
O Coutinho é mais sutil, o Lewis mais escancarado.
Não se propõem a mudar e, por causa disso, acabam por colaborar, de certa forma, dependendo do ângulo que se lê, para reforçar no oprimido mais opressão.
Dizem que Marx (socialista) adorava Balzac (monarquista) não pelas idéias do escritor francês, mas pela capacidade deste último em criticar a burguesia nascente.
No meio do livro de Lewis foi me dando essa sensação de ser atingido pelos raios paralisantes.
É curiosa a abordagem, mas sempre vão na direção da paralisia.
Ele divide os leitores entre analfabetos (que não sabem ler), os iletrados (que lêem mal) e os letrados que teriam o bom gosto.
Acredito que realmente isso exista.
Conheço pessoas que se orgulham de ler livros policiais e tratam com desdém que nem isso lê.
Mas, como um otimista realista acredito sempre que nosso papel é tentar fazer com que as pessoas saiam de um estágio A para o B, através de um processo de limpeza do lixo e da herança perversa social, da família à escola, na qual o (pr) ego (repositório de todos os nossos condicionamentos) fica imerso no senso comum.
E uso a frase de Maslow da coleção:
O homem criativo não é um homem comum ao qual se acrescentou algo. Criativo é o homem comum do qual nada se tirou – Abraham Maslow;
É um trabalho de “limpeza” interior” para nos aproximarmos da sempre intocável e inatingível verdade pessoal.
Criticar é bom para termos até um bom diagnóstico, mas cristalizar a “doença” como crônica e incurável, é cruel.
É não compreender o processo dinâmico da sociedade que oprime para seguir adiante na mesma direção sem alteração da rota, no qual somos todos os oprimidos de plantão.
É fazer da crítica que poderia ser transformadora em mais uma fonte de opressão.
Por isso, nessa praia de ler e escrever recomendo tanto o Gustavo Bernardo com o seu imperdível Redação Inquieta, no qual acredita que as pessoas podem sempre dar um passo adiante.
O que ele diz sobre isso:
“Se tomarmos um problema “em si”, agimos como se ele fosse um objeto concreto, estático, que estará resolvido quando o agarrarmos. Como não podemos agarrar objetivamente os problemas, eles se tornam “impossíveis” de resolver. Se tomamos, ao contrário, um problema pelo alcance de suas relações, agimos então como se ele fosse de fato, problema – acontecimento dinâmico e inagarrável, porém sempre possível de ser compreendido”.
E eu complementaria – de ser contornado.
Como também professor, acredito nisso.
E te pergunto: na tua vida você costuma jogar raios tranformadores ou paralisantes sobre você e os outros?
Me diga.
[…] Fonte: C. Nepomuceno […]
Professor, cada vez que leio seus posts fico me perguntando se posso fazer mestrado com o senhor sobre este tema que me fascina tanto. Quando digo que me fascina tanto, fascina mesmo, eu já devorei a Redação Inquieta, Já comprei cibercultura e estou batendo tua lista de livros, um a um. rsrsrs
Estou pensando em fazer uma resenha sobre Redação Inquieta, mostrando para meus clientes o como eles devem blogar sobre sua empresa, inovação, tecnologia, etc.
Se lembra que falei num comentário anterior, sobre meta-paradoxismo? Estou elaborando um pouco para não ficar superficial. Onde faço um passeio sobre a palavra paradoxo, a associo com o Homem e abordo o Meta-Homem, Meta-paradoxo.
Sidney,
mande os textos, ou os links para os textos….estou curioso.
Veja aonde estou dando aula em:
http://nepo.com.br/perfil/
abraços,
valeram os comentários,
Nepomuceno.
Grande post.
Crítico na medida certa (não joga raios paralisantes…)
Preciso pensar sobre ele.
Quero crer que não jogo raios paralisantes, mas…
Thereza,
ajudar aos outros a crescer é uma arte.
grato pelo comentário,
Nepô.