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Pode rebolar que não tem jeito.

Ao abrirmos para comentários, blogs, redes sociais estamos questionando o poder de alguém por alguém.

Tens dúvidas?

Isso fica claro no filme Lutero, que estou discutindo com meus alunos na Facha.

Os dois momentos da humanidade são bem parecidos.

Vimos que as redes de conhecimento organizam o mundo. E podemos dizer agora que têm diversas fases internas, eu separaria em:

1) fase de laboratório – quando a nova tecnologia de informação e comunicação está se desenvolvendo em laboratórios;

2) adoção por entusiastas – quando começa a ser usada por um grupo de entusiastas;

3) criação de indústria – quando ganha escala e uma indústria;

4) massificação – quando passa do uso restrito para um uso massificado, a partir da redução do custo de acesso;

5- hegemonia – quando o novo meio passa a ser a principal fonte de produção de conhecimento;

6- entropia – quando começa a mostrar seus problemas e surge, na fase de laboratório, a nova rede de conhecimento.

A Web 2.0 é a fase 4 da evolução da rede digital, com a chegada da banda larga.

Podemos dizer também que o livro impresso foi passagem da fase do Livro 1.0 para o Livro 2.0.

O Livro 2.0 é filho da Prensa de Tipos Móveis, que veio substituir os livros manuscritos.

A prensa inventada por Gutemberg foi uma tecnologia que ampliou o poder da escrita, pois basicamente reduziu o preço do livro, que antes era caro, pois produzido um a um por copistas.

As múltiplas cópias, a partir de um original ampliou o poder da nova tecnologia emergente  (o livro escrito) , potencializando e espalhando o seu alcance, através da redução de custo e das campanhas de alfabetização para que todos pudessem usufruir do novo suporte de difusão de idéias.

Copistas em ação, blogando. ;)Um livro manuscrito era muito caro, pois precisa de copistas!!! – Copistas em ação, blogando. 😉

A tecnologia massificadora da Web 2.0 é a banda larga, que surge para valer, a partir de 2004.

Todos os sites de redes sociais explodem a partir dali.

Até ali a Web era colaborativa, participativa, mas não massificada.

Tudo era na base do modem, telefone e pagamento por hora.

Muito caro.

Bom, diante disso, voltemos ao filme, pois a massificação, nos leva à hegemonia e a criação, enfim, de uma nova cultura de massa, baseada no novo ambiente de conhecimento.

É o que estamos assistindo agora, que, com o filme, podemos ver seus desdobramentos.

Na época, 1500, era a igreja que detinha o monopólio do saber.

A maneira de ver o mundo era feita, através da  Bíblia (livro manuscrito) e dita nas missas, ambas em Latim.

Ninguém pode comentar nadica naquele portal fechado.

Lutero tem acesso às escrituras em um curso de doutorado.

Ou seja, ele está na fase do Livro 1.0 (manuscrito) e lê o que está escrito no super-secreto portal, na qual se tem acesso aos textos antigos.

Só com posse daquelas informações, ou seja, no ambiente 1.0, cai a ficha dele.

Adaptando para o tempo de hoje, ele diz:

“Existem mil formas de interpretar a palavra de Jesus!!! Vou passar a minha visão e vou colocar no meu blog, a porta da Igreja.”

(Ele prega seus escritos com pregos. Havia um mural coletivo ali. Seria um Twitter do passado?)

Durante todo o filme ele repete:

“Eu só quero dar a minha interpretação do que li nos textos que tive acesso.”

Ou seja, o direito de comentar no blog fechadão da Igreja!

Um seguidor de Lutero – talvez seu gerente de marketing ou assessor de imprensa da época (é obscuro isso) 😉 – arranca o papel da porta da igreja (tecnologia do Livro 1.0)  e leva para a prensa (Tecnologia do Livro 2.0).

Naquele momento Lutero saía da fase do Livro 1.0 e passava para 2.0.

Ele estava postando suas idéias sobre as escrituras, com bastante divulgação, começa a ter impacto na coleta da Igreja que cai 1/5 (a lábia estava se esgotando) e, então, chega o nome de Lutero em Roma.

O Cardeal diz a Lutero:

“Só quem pode interpretar a bíblia é o Papa!”.

(Ou seja, nosso site não está aberto a piruadas!)

O assessor do Cardeal:

“Você não está aqui para debater. Entra lá e diz: eu nego!”.

O próprio Papa:

“Quem é esse padreco que está discutindo coisas em alemão e não em latim? Covarde!”.

Tudo gira em torno de algo simples.

O poder de mudar a forma da Igreja agir e pensar.

Só quem pode dizer como a banda toca é o Papa.

O mesmo Cardeal, tempos depois, quando o Papa morre diz:

“Ele teve tudo para reformar a Igreja e não o fez”.

Ou seja, se fechou no modelo anterior, tentou mandar Lutero para a fogueira (a vala da época), tudo para manter as coisas do jeito que estavam, com todos os defeitos visíveis.

O monopólio do poder rima com arrogância, soberba, atitudes irracionais e violentas.

A bola tá suja, mas é minha!

A bola tá suja, mas é minha!

(Não, não estou falando da Indústria da música!) 😉

O problema do Papa da época é que esqueceu de combinar com a concorrência.

Surge a Igreja Protestante exatamente pela incapacidade da Igreja católica se repensar e criar fóruns para que isso pudesse ser feito, a partir da base da pirâmide.

A conta pesada de não abrirem para comentários está sendo paga até hoje.

O exemplo nos diz muito sobre a chegada das empresas no mundo da participação livre e colaboração aberta da atualidade, da Web 2.0, em função da experiência do passado.

Eu diria:

1- quem não está em processo de abertura, de querer realmente mudar com seus usuários, é melhor não abrir-se para a Web 2.0. E combinar com todos os seus concorrentes para fazerem o mesmo. 😉

2- o critério da colaboração e da participação é o da verdade. Você não joga mais contra seus consumidores e fornecedores, faz a rede e atua com eles. É uma mudança cultural e exige preparação na gestão, pois há um descolocamento de poder do centro para as pontas.

É fato: você passa a governar de outra forma.

3- a mentira, o problema, o defeito serão descobertos mais rápido que antes, é preciso se justificar a cada piscar do cursor, apresentar argumentos, e, quando for convencido de que fazem sentido, mudar. E não tapar com a peneira.

O mundo mudou depois do Livro 2.0.

Reis foram guilhotinados. A Igreja passou a algo periférico.

Veja o futuro no passado.

Alugue o filme ou veja no Youtube.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=5Dn33_2IGrY]

As revoluções aconteceram (Protestante, Francesa, Americana, Industrial, Russa)  viabilizadas por esse novo ambiente informacional, na qual um padre e outros tantos visionários apenas queriam comentar no blog do monopólio da vez e mudar o que eles achavam, acham e acharão que não estava legal na sociedade.

Lutero não era um demônio, apenas mais um curioso engajado, como tantos outros.

Os Luteros estão aí com seus Linux, MP3, Skypes e virão muito mais, querendo mudar o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, a sua empresa, a nossa empresa, a nossa vida, o país e o mundo.

E conseguirão o impossível antes, já usando a nova tecnologia colaborativa da rede.

(Vide Obama.)

A pergunta é: você está pronto para compartilhar o poder com eles para sobreviver?

Pergunte e responda ao seu espelho:

“Espelho, espelho meu….”

E depois pense em projetos 2.0, não antes…

Concordas?

9 Responses to “Web 2.0: você está pronto para dividir o poder?”

  1. […] no post passado Web 2.0: você está pronto para dividir o poder? algumas características da evolução das redes de conhecimento. E ainda constatei que a Reforma […]

  2. Sidney disse:

    Professor, eu estou aqui novamente, só que agora sem tantas perguntas mas pedindo ajuda inclusive. Estava a um tempo pensando em criar um blog para tratar de assuntos que interligassem as empresas, os ciclos da informação e uma coisa que chamo de meta-paradoxo, que em linhas gerais é que quando um paradoxo é a solução de outro paradoxo.

    Porém não sei bem como articular, pois as ideias estão na minha cabeça, então vem dúvidas como escrever de forma informal ou mais formal?, será que meus 2 visitantes (eu e mamãe, rsrs) vão entender?

    Como é um assunto que tem haver com minha empresa coloco no blog da Empresa ou no meu pessoal? Como o senhor enxerga isso?

  3. cnepomuceno disse:

    Sidney,

    tudo é dinâmico e vai se resolvendo na estrada e não fora dela. O site da minha empresa (www.pontonet.com.br) eu fechei, pois achei que o blog para um consultor é tudo de bom.

    O importante é começar a jogar as bolas para o alto (como os garotos no sinal de trânsito) e, a partir daí, ir sentindo o caminho.

    Abre hoje o blog, depois vai mudando e colocando as mudanças como assunto do próprio blog.

    Se o seu tema for interessante e você souber criar uma rede de pessoas que se interessam nele o blog vai ter visita e comentários, dá uma olhada no texto:

    http://nepo.com.br/2008/11/15/os-blogs-vieram-para-jogar-luz-na-sombra/

    e os textos que escrevi sobre blog…que refletem a minha jornada com o meu:

    http://nepo.com.br/category/papos-sobre-o-proprio-blog/

    Me manda o link para saber mais sobre o meta-paradoxo, gostei da idéia.

    abraços,
    Nepomuceno.

  4. […] Logo depois complementei o assunto em: A reforma do consumo e Web 2.0: você está pronto para dividir o poder? […]

  5. […] basicamente, um processo cultural, a saber: 1) compartilhamento de poder, a hierarquia atual foi muito útil, agora está emperrando […]

  6. Luiz Ramos disse:

    “O monopólio do poder rima com arrogância, soberba, atitudes irracionais e violentas” (Nepo)

    Não é de hoje que bons projetos fracassam pela incompetência de seus executores que não sabiam ou ignoravam verdades como as que Você expõe nesse texto.
    Abraços

    Luiz Ramos

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