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Volta e meia me perguntam sobre o motivo do brasileiro ser um dos principais usuários do Orkut.


Fonte: http://www.orkut.com.br/Main#MembersAll.aspx

Fonte: http://www.orkut.com.br/Main#MembersAll.aspx

Hoje, suspeito que isso se deve à nossa cultura de massa ainda muito baseada na oralidade.

O Brasil, gostemos, ou não, ainda é um país oral.

Apesar de termos só 10% da população analfabeta, quem já se alfabetizou lê pouco.

Quando lê, pouco escreve.

E, quando escreve, pouco circula o que escreveu.

(Tenho amigos que têm vergonha de cometerem erros de português e, por causa disso, participam pouco de ferramentas interativas escritas na rede.)

Se isso acontece na classe média, imagina em outros segmentos?

As sociedades baseadas na cultura escrita tendem a conseguir as informações que querem sem a necessidade da conversa com o outro.

Criam, de certa forma, uma cultura independente dos relacionamentos.

Ou seja, em resumo: o Brasil, apesar de todos as campanhas de alfabetização, ainda pode ser considerado um país oral.

A maioria da sua população, ao invés de se informar´, através de livros ou jornais, prefere conversar, ouvir rádio e televisão.

É um fato.

No Japão 65% dos japoneses lêem jornal, na Noruega 62,3%, Na Alemanha 30%, na Eslovênia 25%, nos Estados Unidos 24,9%…temos 4,5% no Brasil – e perdemos para El Salvador (5,8%), Costa Rica (4,9%) e Chile (4,9%)…Que vergonha! (Fonte – Blog do JJ – Publicidade & Marketing)

Não é à toa que o próprio presidente da república diz que opta por ser informado através de conversas, do que pela leitura de jornais.

É o típico representante de uma parcela significativa do povo brasileiro.

Uma das explicações que podemos ter para essa necessidade de forte relacionamento – e pelo gosto maior por redes sociais – é justamente a falta de prática da leitura.

Note ainda que o brasileiro é o povo que fica mais tempo fica online no mundo.

O internauta brasileiro passa, em média, 21 horas 20 minutos navegando na internet por mês. São consideradas usuários ativos as pessoas que acessam a rede ao menos uma vez por mês de casa. O recorde de tempo de navegação é de dezembro de 2006, quando o internauta brasileiro passou 21 horas e 39 minutos na média do mês. A França, com tempo médio por internauta residencial de 20 horas e 55 minutos, os Estados Unidos, com 19 horas e 30 minutos, Alemanha, com 18 horas e 56 minutos, o Japão, com 18 horas e 31 minutos e o Reino Unido, com 18 horas e 29 minutos, foram os países que mais se aproximaram do Brasil, entre os dez medidos com a mesma metodologia (Fonte – Tempo do brasileiro na internet aumenta em mais de 3 horas em um ano.)

(Seria interessante uma pesquisa para comparar o tempo que o brasileiro fica on-line com a sua atividade em rede. Nós ficamos mais tempo fazendo exatamente o que? Olhando o perfil dos outros no Orkut? Seria isso?)

Se você está em uma encruzilhada na estrada cheia de placas e não sabe ler, certamente, você precisará conversar com alguém para saber que caminho tomar.

Já aqueles que sabem, passarão por lá sem  necessidade de nenhum tipo de contato humano.

O livro impresso e a disseminação da leitura criaram a independência, mas, por outro lado, tivemos um preço a ser pago: a diminuição do relacionamento oral.

Vide o ambiente metrô em uma cidade americana, por exemplo.

Se você entra num determinado ambiente em que existem placas explicativas ou compra determinado produto eletrônico, que vem com manual, terá dificuldade para se informar pelo papel se tem como prática ouvir e falar, ao invés da ler.

Por isso, talvez, tenhamos tanta gente perguntando nas ruas sobre uma informação que está numa placa acima das nossas cabeças!

Dessa maneira, a oralidade reforça a necessidade do relacionamento para contornar problemas.

Resumo da ópera: toda a rede de conhecimento traz um preço a ser pago.

Se a leitura massificada com a rede escrita trouxe, de certa forma, uma independência, ao mesmo tempo nos levou a uma  menor  necessidade do contato com o outro.

E isso, a longo prazo, tende a fazer com que as pessoas diminuam a prática de se relacionar para se informar.

A Internet com sua capacidade de troca de informações rápidas e  instantâneas traz um pouco de volta essa cultura oral, é um pouco, aliás, o que defende Piérre Lévy.

No caso do Brasil, isso é facilitado pelo ambiente oral, pois o país ainda não passou para valer, de forma massificada, pelo caminho do livro.

Assim, a interação – que é a grande marca das culturas orais – se expande na rede, principalmente, em países menos letrados

Some-se aí o clima tropical, a miscigenação, entre outros fatores culturais particulares brasileiros e tem-se uma explição mais plausível para o uso desenfreado do Orkut.

Temos, assim, uma população mais preparada para trocar em rede, que tem muito uma oralidade ainda viva.

Nosso desafio, porém, é transformar esse ambiente interativo com  menos fofoca , com mais educação e projetos inclusivos socialmente – talvez um dos nossos grandes desafios enquanto nação rumo à rede digital.

E você o que dizes?

(Já falei mais sobre o Orkut e Brasil por aqui.)

16 Responses to “Por que o brasileiro gosta tanto do Orkut?”

  1. Concordo plenamente com o que foi dito, se olhar a rede de relacionamento SKOOB, skoob.com.br vai notar a diferença das pessoas que se relacionam lá, das pessoas que se relacionam no Orkut.

  2. Fábio Santos disse:

    O Orkut até por limitações da ferramenta é extremamente escrito. As pessoas colocam suas vidas lá baseados em fotos e textos, é como se fosse um diário coletivo. As pessoas discutem seriados, times de futebol e afins. A internet como um todo, obrigou à todos escrever eler, mesmo que estes o façam de modo incorreto. Com certeza a leitura do brasileiro se baseia mais na internet do que em livros.

  3. cnepomuceno disse:

    Fábio,

    é um salto interessante do oral para o digital, sem ter passado de forma massiva pelo escrito.

    Algo bem interessante, grato pela visita!

    abraços,
    Nepô.

  4. wiliam disse:

    Discordo da relação tecida entre “Leitura e Orkut”.
    O baixo hábito de leitura da população brasileira deve-se a razões históricas concretas, tanto de políticas públicas, como de níveis sócio-econômicos das classes sociais, do efeito de mais de 25 anos de inflações, da total falta de motivação em dominar/praticar a leitura, exceto como obrigação e exigências pontuais.
    O Orkut é um sucesso pq permitiu encontrar, linkar diferentes pessoas, tribos e ilhas culturais, além de oferecer gratuitamente um pacote de benefícios, como email, espaço de armazenamento de mídias gratuitamente, facilidade de interfaces de plataformas e… Preservar a identidade dos que AMAM espionar, bisbilhotar, invadir privacidade e vidas….
    Em tempo: mais da metade destes usuários são prováveis “Analfabetos funcionais”, usando a ferramenta (como também ocorre com celulares e PC´s) apenas nas suas superficialidades…

    A contradição é que qqr que seja a ferramenta ou tecnologia similar ela auxiliará a promover tanto a leitura, como as leituras de N níveis de cognitividade e interatividade máquina/homem e homem/homem.

  5. José Ricardo disse:

    A resposta para a pergunta é: porque o brasileiro gosta muito de vigiar a vida dos outros. Pessoas que geralmente fazem trabalhos pouco motivantes/interessantes ou que até mesmo não trabalham (imagino que a maioria dos nossos ursuários de orkut sejam crianças e adolescentes) adoram coisas como orkut e revistas de fofoca.

  6. cnepomuceno disse:

    William, não discordo de nada do que você disse.

    Mas você ler o meu artigo de novo verás que estão apenas um apontando que o Orkut é um espaço em que a oralidade é muito presente, o que favorece este perfil do brasileiro.

    Concordas?

    José Ricardo,

    isso que você aponta não seria uma característica de um país oral?

    grato pelos comentários,

    Nepomuceno.

  7. Ale disse:

    Vc já parou pra pensar que a nossa média de “21 horas 20 minutos” se deve a péssima qualidade de nossa conexão?

    O brasileiro não fica esse tempo todo “fuçando” perfil de outrem… ele fica esperando a tela carrega mesmo, clicand em refresh e back no browser.

  8. cnepomuceno disse:

    @Ale,

    uma boa teoria…a ser vista na prática.;)

    abraços,

    Nepomuceno.

  9. Taarna disse:

    traz = do verbo “trazer”
    vc escreveu “trás”

  10. cnepomuceno disse:

    Oi Taama,

    grato pelo toque. já mudei.

    Estou com um problema no ombro e tenho testado o programa da IBM chamado Via Voice, que eu dito e ele escreve e tem uns erros bizarros que aparecem e passam batido pela minha revisão.

    Valeu,

    abraços,
    Nepomuceno.

  11. […] (O livro impresso, por exemplo, trouxe o outro distante para perto, mas deixou quem lê muito, com dificuldade de interagir com quem senta do lado, por exemplo, tal como estamos cada vez mais embrutecidos pelo uso de celulares e computadores. Desenvolvi o tema sobre isso por aqui.) […]

  12. […] O livro impresso, por exemplo, trouxe o outro distante para perto, mas deixou quem lê muito, com dificuldade de interagir com quem senta do lado, por exemplo, tal como estamos cada vez mais embrutecidos pelo uso de celulares e computadores. Desenvolvi o tema sobre isso por aqui. […]

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