Nenhum investimento produzirá retornos efetivos se nossos conceitos sobre educação e gestão escolar permanecerem os mesmos – Viviane Mosé;
(O texto abaixo formará um livro, “50 coisas que aprendi sobre o mundo 2.0″. Colaborações são bem vindas e os que ajudarem na revisão, melhoria do texto serão citados nele. Ver também outros posts para o e-book. )
1- Existem mudanças na sociedade na forma de se informar, conhecer e comunicar e isso inapelavelmente têm forte impacto na forma de ensinar e aprender a inalcançável realidade;
2- A principal modificação no conhecimento é que ele está deixando de ser mais consolidado (sólido/individual) baseado numa mídia do papel impresso (lenta) para um mais dinâmico (líquido/coletivo) baseado numa mídia digital (rápida) para atender as novas demandas de produção e consumo de uma sociedade superpovoada, que impacta em todos os setores, inclusive na escola. (A Wikipédia é um bom exemplo de representação do conhecimento líquido/coletivo);
3– O modelo atual da escola se já era questionado no passado, agora se torna ainda mais obsoleto, pois é lento, ineficaz, pouco inteligente e pouco motivador, não formando o cidadão/cidadão para os novos desafios num mundo cada vez mais complexo e dinâmico. Estamos, assim, iniciando de forma coletiva a passagem das escolas baseadas em um modelo fechado de conhecimento (que não se modifica com os encontros) para outra em que o conhecimento é aberto (se altera a cada interação);
4 – De uma escola na qual existe algo a “ser aprendido” em uma base de conhecimento definida por “doutores”, na qual o aluno tem muito pouco a contribuir, na qual só o professor “sabe”. Para uma nova Escola 2.0, na qual o professor passa muito mais a ser um coordenador de dúvidas, apresenta até onde problematizou questões e incentiva fortemente o debate entre os alunos;
5- Tal escola alternativa esteve presente na mente de vários educadores (como Paulo Freire), mas agora se tornarão sistêmicas, incentivadas por quem está no poder, pois o mundo tem que ser mais ágil, em função do tamanho da nova população e suas consequências, movida agora por uma mídia mais dinâmica, e, portanto, leva a escola junto (além das outras instituições da sociedade). Assim, se o modelo da escola atual é filha do livro impresso, o da nova será a do ambiente digital em rede;
6- A mudança de postura do professor implica numa nova relação deste com o seu ego, que deixa de se apegar em conceitos estabelecidos e passa a combater o desconhecido, procurando reduzir o surgimento dos egos em sala de aula. Trabalha-se com argumentos e não com adjetivos. O inimigo passa a ser a ignorância de todos diante do desconhecido inatingível, no qual todos são alunos e professores procuram coletivamente a forma mais eficaz de vencer os impasses;
7– Os alunos precisam utilizar todas as ferramentas colaborativas online quando não estão juntos presencialmente e quando estão presencialmente, algo cada vez mais difícil, caro, que demanda tempo, espaço, devem evitar, ao máximo, o uso de equipamentos eletrônicos e serem estimulados fortemente a conversar e a trocar, a não ser que o tema seja algo que estes sejam extremamente necessários;
8 – Assim, procura-se na nova escola permitir que o cidadão/cidadã do novo século não mais lide com a informação de forma decorada (utilizando a memória), mas consiga construir cenários, compreender a lógica para lidar com uma informação abundante, mas pobre de significado (utilizando a criatividade) . Isso implica em um amadurecimento afetivo de todos os cidadãos/cidadãs para lidar de forma mais efetiva com uma liberdade informacional cada vez maior;
9– Neste cenário, o ensino de história e filosofia devem ganhar forte ênfase, pois são as disciplinas humanas que ajudam a superar crises de conhecimento desse tipo e incentivam a descolar o ser humano da sua realidade mais presente e atual, permitindo-o ver os conceitos e a realidade “mais de fora”;
10 – A ideia de separação dos alunos por turmas, séries, idades, espaço físico, cidades, estados, países, idiomas tende a ficar cada vez mais obsoleta, bem como, a separação do espaço entre sala de aula e casa mais invisível. Por fim, estamos, por necessidade de lidar com o complexo, em um aprendizado muito mais coletivo do que individual.
Que dizes?
Muito bom seu artigo. Sobre o item 8, hoje temos um enorme HD externo que é o volume de informação que circula na internet… Isto quer dizer, que precisamos investir nas crianças-alunos não na memória como você disse, mas no processador! A memória está na nuvem, a nova função do educador é oferecer ferramentas para incrementar o processador e os filtros, como você costuma dizer… Conheço escolas que estão muito perto disso, mas por mais que estejam mais perto, paradoxalmente, ainda estão muito distantes como o 0,999999… está do 1. Abraço.
Concordo Orlando, valeu visita!
Desculpe-me pelo novo comentário. Queria fazer uma correção de pensamento. Eu disse que “a nova função do educador é oferecer ferramentas para incrementar o processador e os filtros”. Na verdade, a frase ficou meio 1.0 demais. O que penso é, como inclusive observei em algumas escolas, que a função do educador hoje é ajudar a construir junto com o grupo de alunos essas ferrmentas e não oferecê-las…
Oi, Nepo
Bom ver está síntese! Gostei bastante de ver como as idéias evoluíram.
Acredito muito no apontado no item 7. Porém, esse aspecto de valorizar a conversar, a partilha, quando possível presencialmente, tem se tornado um problemas. Nossos alunos hoje não conseguem se desconectar! É comum estarem no mesmo ambiente físico e se comunicarem apenas virtualmente!
É fato, escola 2.0 com desafios 2.0 também.
[s]
Muito bom, sim, Beth, alargando as fronteiras, às vezes sem visto ou passaporte 😉
valeu visita, abraços,
Nepô.
Salve Nepo,
Acho que a toda mudança para a Escola 2.0 começa e passa por uma reformulação do layout da sala de aula. Saem o quadro-negro, o professor em pé na frente e alunos enfileirados de frente pra ele e de costas uns pros outros. Entram os gadgets (laptops, tablets, celulares), alunos dispostos uns de frente pros outros e o professor circulando por eles “coordenando as dúvidas”. Com essa nova estrutura dentro da sala de aula ficará mais fácil atingir esse compatilhamento e esse aprendizado coletivo, onde o professor é apenas um “guia” dentro do processo.
Grande abraço, mestre.
Concordo, Sandro, Layout novo, sofro com isso quando vou dar aula em laboratórios 😉
Gostei muito. Especialmente desse trecho: “Neste cenário, o ensino de história e filosofia devem ganhar forte ênfase, pois são as disciplinas humanas que ajudam a superar crises de conhecimento desse tipo e incentivam a descolar o ser humano da sua realidade mais presente e atual, permitindo-o ver os conceitos e a realidade “mais de fora”;
Mas para a mudança atingir a maioria das escolas falta tempo viu. Ontem fiquei chocada quando minha sobrinha disse que a lição de casa de Geografia era passar 5 páginas do livro da escola à limpo no caderno. Quanto tempo esta menina perdeu realizando essa operação mecânica sem aprender nada?
Verônica,
“Ontem fiquei chocada quando minha sobrinha disse que a lição de casa de Geografia era passar 5 páginas do livro da escola à limpo no caderno.”
É de chorar….não seria isso bullying?
[…] 10 coisas que aprendi sobre Escola 2.0 […]
[…] Publicado originalmente no blog Nepôsts – Rascunhos compartilhados e retirado do site Plurale. (Plurale)del.icio.usFacebookTwitterLinkedInPDFRSS IMPRIMIR […]
Carlos.. Neopomuceno…
Acho que já passei por isso.. ter que copiar folhas e folhas se tudo esta no livro.. perca de tempo.. para que aprender a escreve ou ter caligrafia boa se hoje é tudo digital né…Bem apezar dos pezar.. ainda bem que passei por isso se não, não saberia escrer.
Quantas pessoas não dão conta de prencher corretamente um formulario ou algo parecido.