- Você tem que ser a mudança que você quer para o mundo – Gandhi – da coleção;
As atitudes dos grandes portais colaborativos 2.0 já demonstram uma verdade dolorida para os tecno-otimistas de plantão.
Os caras tem carro 2.0, terno 2.0, óculos 2.0, mas não atitudes 2.0.
Há, como já se disse, tecnologias 2.0 e filosofias 2.0, que são coisas bem distintas.
As primeiras chovem torrencialmente.
As outras pingam a conta-gotas!
O mundo 2.0 tem por baixo uma filosofia, ou várias, do compartilhamento humano, da comunicação horizontal, do questionamento dos direitos autorais no modelo da Idade Mídia.
Da valorização e do afinamento entre o que se diz e faz.
É uma herança do mundo hippie/socialista/igualitário/meritocrático/empreendedor (Leiam Castells “Sociedade em Rede”), que deu na indústria do computador, na rede e nos projetos inovadores, como o Google, o Facebook e o Twitter.
Os caras entraram no mercado, mas deveriam manter uma atitude coerente com a filosofia que propagam em seus projetos.
Mas não.
Isso é papo de folder!
O Facebook resolveu processar um site de professores, que trocam material de sala de aula, por ter usado o nome Book.
Também forçou o PlaceBook site de viagens para alterar seu nome para TripTrace início deste mês.
Não satisfeito, quer ser o dono da palavra Face na Internet para projetos de rede social.
Pera aí!
Os professores processados se perguntam: “Por que nós? Com que direito? Um gigante de 500 milhões de usuários preocupado com o nome Book? Isso é justo?”
Teacher e book tem tudo a ver, há muito mais tempo, do que o Facebook dar a primeira mamada na mamadeira 2.0.
Na próxima vez que o dono do Facebook vier ao Brasil seria bom perguntar para ele, com aquela cara de inovador e gênio da raça se existe coerência nessa atitude.
As contradições não param por aí.
O Goggle vai na China e aceita censurar as páginas.
O Twitter cancela contas (aconteceu com uma das minhas alunas) manda um e-mail enigmático por motivos técnicos de muitos RTs (!!!???).
Pensa-se que terão um perfil no Twitter para atender possíveis enganos?
Há, há, há… (risos sonoros)
Os caras devem beber na sexta-feira rindo desse pessoal que acredita no Twitter e nas ferramentas 2.0.
No atendimento pelas redes sociais. (Quá, quá, quá.)
Lá fora, tudo bem, mas aqui é capitalismo 1.0, meu!
OK, Brô?
E a coisa não pára.
O pai do termo Web 2.0 (Tim O´Reilly – foto abaixo) quis patenteá-lo e chegou a tentar processar uma garotada que ia fazer um encontro usando a expressão, depois da grita, recuou.
O Chris Anderson escreve o livro “Free” (para os outros), mas é vendido, sem alternativa na Web, pois tem o leitinho das crianças !!!!
Ué, se é assim, deveria ser.
“O Free é bom, desde que nos livros dos outros”
A Nokia que fala que é uma empresa moderna desenvolve sistemas de controle de ceulares para o Governo do Irã contra os manifestantes.
(Será que tem gente que pode ser apedrejada por causa disso?)
E o Wikipédia cria uma panela de especialistas, que ficam lá atrapalhando a criação coletiva.
Ou seja, o mito que a tecnologia colaborativa faz da pessoa um ser especial, ou que seus projetos vão nos levar ao Nirvana na terra.
Sei não!
Falta filosofia e coerência.
Assim, vou de Gandhi na entrada:
“Tens que ser a mudança que queres para o mundo”.
E de Jesus (mesmo que ele não tenha existido) (sem ser religioso ou dogmático) no prato principal:
“Não faça ao outro, o que não queres que faça contigo”.
Por fim, a centralização dos projetos de redes sociais na mão de poucas pessoas é algo que vai mais adiante ser incompatível com o mundo 2.0 colaborativo.
Começam, aqui e ali, projetos para fazer redes sociais sem centro.
A garantia da democracia humana vai passar por essa descentralização, pois estamos dando muito poder para pouca gente, que pode, a seu critério, criar critérios, já que tudo é de graça.
Assina-se ao entrar, algo que não lemos e não temos alternativa!
Já disse em palestra e repito aqui:
O Orkut é apenas um servidor num lugar qualquer, uma máquina ligada (ou várias), sobre a qual o Google tem o poder de desligar a qualquer momento.
Pling!
Espere o dia que o pessoal de lá achar que já não é mais legal brincar no Brasil.
Ou resolver estabelecer regras heterodoxas.
Isso pode, aquilo, não.
Podem ou não podem fazer isso? Paranóia?
O caso do Twitter me diz o contrário.
(Se acaba, o que vai ter de gente tremendo por aí com crise de abstinência, vai ser uma festa.) 🙂
Anote: isso não é #fake é #fato!
Concordas?
Nepô,
Estava, entre ontem e hoje, refletindo sobre alguns fatos relacionados a essa cultura 2.0. Concordo com você sobre a questão do Ferramentas 2.0, mas ainda não uma filosofia 2.0.
Se isso ocorre em empresas que seriam “exemplos” o que dizer de nossas congeladas empresas 1.0?
Sobre a questão do livro Free, escrevi um post hoje sobre isso. http://bit.ly/aSEipI
Abraços,
Roberto, vou detalhar.
As coisas são sustentáveis.
Quando falamos de graça é que determinada coisa precisa ser dada para outra ser vendida.
Ninguém vive de vento.
O problema é que quer se vender o que deve ser dado de graça e se dá de graça o que poderia ser vendido.
Uma inversão da mudança da mídia, que tinha valor em distribuir produtos e agora gera grana prestando serviços.
Resumiria assim, li seu texto, gostei.
O Chris Anderson perdeu a oportunidade de ser Gandhi e ganhar muito + dinheiro em palestras, pois muita gente não leu o livro dele, pois não teve dinheiro para comprar.
Perdeu na base da pirâmide, mas vamos chegar lá.
O tempo é o maior aliado do futuro. 😉
abraços,
Nepô.
É algo muito humano, Carlos. Sempre existirá o desejo humano de criar escassez proposital em algo abundante para poder lucrar. Quando se trata de caminhos, chamamos de pedágios e cancelas; quando se trata de idéias, chamamos de direitos autorais e patentes.
Como disse antes, isso acaba criando mais combustível para a máquina. O combustível nesse caso são as estórias e a máquina é a vida ou nossa realidade. No fim das contas, criarão um “Headshelf” ou outra rede com o nome satirizando a rede citada e (melhor ou igual, não sabemos, porém) será um sucesso apenas por se encaixar no assunto.
Abraço.
Leo, gostei disso:
“Sempre existirá o desejo humano de criar escassez proposital em algo abundante para poder lucrar. Quando se trata de caminhos, chamamos de pedágios e cancelas; quando se trata de idéias, chamamos de direitos autorais e patentes.”
Só não sei se o mercado e a escassez é proposital, no que tenho estudado os ciclos de escassez e abundância não dependem só das pessoas, mas dos fluxos e mudanças informacionais.
Há depois das mudanças, de novo, esse jogo, mas nem tudo é controlado pelas pessoas, há algo acima delas que é o consumo.
Tenta-se hoje compreender para entrar nisso que vc falou, mas temos um longo caminho e o ponto de equilíbrio tende a ser menos perverso do que temos hoje.
Com novas cancelas, menos rígidas, amanhã.
Não por que o humano ficou melhor, só por que temos mais gente para consumir e é preciso alargar o tamanho da estrada.
Que dizes?
Valeu visita!
Nepô.
Nepô,
Seu comentário deu uma grande luz em relação a essa questão!!
“O problema é que quer se vender o que deve ser dado de graça e se dá de graça o que poderia ser vendido.”
Essa sua frase faz esclarecer bastante a questão da diferença entre o “free” e o “de graça sem qualidade”.
O 2.0 precisa estar atento a essa diferença e saber usá-la a favor da empresa.
Valeu pela resposta! Ajudou muito!
Abraços,
Roberto
Roberto, isso me veio em função da minha vida mesmo.
Publico na web de graça e quero vender palestras, cursos, etc.
Minha sina pode ser vista nos seguintes posts:
http://nepo.com.br/2010/08/31/o-valor-e-um-sabonete/
(veja comentários)
http://nepo.com.br/2010/08/18/por-que-nao-posso-fazer-palestras-gratuitas/
http://nepo.com.br/2010/08/13/em-defesa-dos-fim-dos-livros/
Valeu!
Nepomuceno, boa noite.
Também acredito que essas plataformas que se tornam mundiais (para não dizer onipresentes) não podem ser de propriedade particular (por esses motivos que você tem destacado). A alternativa seria convidar o “mundo” a criar uma plataforma semelhante só que propriedade de uma organização não-governamental, filantrópica associada a “n” universidades pelo mundo afora. Algo que seja gerido por um comitê multi-disciplinar e que garanta um mínimo de imparcialidade em suas decisões. Algo parecido com a Wikipedia. Isso exigiria um movimento ao melhor estilo 2.0. Uma construção mundial. Um desenvolvimento baseado em software livre (que, de cara, já ganharia a simpatia de milhares de desenvolvedores que iriam garantir a constante evolução dos aplicativos satélites que enriquecem uma plataforma dessas – de integração com outras plataformas a jogos sociais).
Acredito que isso seja até uma tendência que as super-platafomas irão enfrentar em breve. Eu conheço um exemplo no Brasil que é o site elearningbrasil.com.br que é uma comunidade criada pelo fundador da Micropower (que é um fornecedor de ferramentas para e-learning) para desenvolver o e-learning no país. Com o sucesso da comunidade, foi criado um congresso onde todos os demais fornecedores participavam mas logo começaram a sentir que a Micropower era, naturalmente, a maior beneficiária e começaram um movimento para boicotar o congresso organizado por ela e criar um evento paralelo – que se pretendia ser imparcial. Não sei se isso foi pra frente (me afastei desse mercado) mas houve a intenção e o movimento foi criado e vejo que a questão da imparcialidade na gestão é a mesma no caso do Facebook, Twitter, Youtube, etc.
Vamos começar este movimento?
[…] tecnológicas entre o 1.0 e o 2.0 Publicado em 02/09/2010 por Daniel Hora O blogue Nepôsts propõe a discussão: As atitudes dos grandes portais colaborativos 2.0 já demonstram uma verdade […]
Isso me faz questionar: e o tal do marketing 3.0 defendido pelo Kotler, em seu último (ou um dos últimos livros publicados) que leva o mesmo nome?
Numa era em que os gestores da redes sociais, canais que têm como premissa de existência o conceito 2.0, não o fazem, como poderemos atingir um nível de desenvolvimento no mundo do marketing centrado para produtos e serviços que satisfaçam as necessidades de participação, criatividade, comunidade e idealismo dos homens?
O que me pensas sobre o marketing 3.0 ?
Antunes, o movimento, de fato, começou, desenvolvemos por aqui o ICOX e vou começar a procurar iniciativas descentralizadoras, já vi algo por aí….isso é uma tendência…
Bianca,
Você diz:
“(…) como poderemos atingir um nível de desenvolvimento no mundo do marketing centrado para produtos e serviços que satisfaçam as necessidades de participação, criatividade, comunidade e idealismo dos homens?”
Isso vai acontecer naturalmente com o tempo, pois os ambientes de informações atuais vão exigir uma posturar mais coerente.
Não li o Kotler, mas acredito, não sei, que ele deve estar na linha do Peter Senge, sugiro o livro “Presença”.
abraços,
Nepô.
Pelo visto eles não são mesmo tão bonzinhos assim… esse ano estréia o filme “A rede social” com a história do facebook e parece que os personagens reais não ficaram muito felizes com o resultado…
http://entretenimento.r7.com/cinema/noticias/filme-a-rede-social-desagrada-criadores-do-facebook-20100823.html
Marina,
ninguém nasce bom ou mal, a sociedade é que cria normas e leis para impedir que se faça tudo aquilo que queremos fazer…O mundo 2.0 precisa de novas leis para evitar que – mesmos os novos revolucionários 2.0, de roupa nova – continuem com as mesmas práticas.
Valeu a visita,
Nepô.
Tem razão. Tenho visto a importância da área jurídica nesses novos tempos. Mas infelizmente não tenho visto advogados e políticos 2.0, conscientes dessa necessidade de transformação. É tudo tão devagar que às vezes dá um desânimo, né?! rsrs