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Somente um tonto jamais muda de opinião – Freddie Laker da minha coleção de frases;

O excesso de informação é talvez o mal desse início de século.

Não pelo fato em si, mas pela maneira que preparamos no passado nosso cérebro e toda a sociedade (escola, imprensa, etc) para lidar com a informação.

Temos cabeça de livro.

Consolidamos coisas.

O mundo existe, é real, não anda.

É cada um por si e ninguém por todos, já que Deus não existe mais.

Nossa mente foi preparada para viver num mundo informacional do certo ou do errado.

Na terra, estável, que chovia de quando em quando.

Hoje, não só fomos para o mar, como chove todos os dias!

Não tem mais terra à vista, mas um eterno mar.

O continente inundou!

Sempre, no fundo, foi assim, mas como era tão lento, tínhamos a leve impressão de que parávamos, que estávamos em continentes conhecidos.

Estamos, entretanto, em plena adaptação dum mundo informacional terrestre para um aquático.

Na murada do navio, enjoados, tudo gira, gira!

Tínhamos escassez de informação e algum sentido estático.

Agora, temos excesso de informação e sentido dinâmico.

Precisamos nos adaptar a esse novo balanço.

Ou seja, se pudermos ver um mundo como um grande quebra-cabeças, a manipulação da realidade, monocromática das tecnologias cognitivas pré-web formavam uma visão de mundo para nós – aquela caixa que seguíamos.

Havia um pai invisível que fazia isso para nós.

Alguém filtrava, a partir de um dado ponto de vista.

Era alguém que tinha “selo de qualidade”.

Não estava ali à toa.

Era o cara do Jornal, da Tevê, o editor do livro, o médico, o jornalista, o professor.

Ave, mestre!

Essse sentido estava ali embutido, por trás da informação, que engolíamos, sem precisar pensar.

Como eram poucas e selecionadas, tudo ia bem.

Era um tipo de caixa que nos filtrava o mundo e nos explicava como cada coisa se encaixava no todo.

Hoje, temos milhares de fontes e não conseguimos ser o nosso próprio guia.

Não temos mente para isso.

Não fomos educados para isso.

E precisamos nos virar.

Pior que as novas gerações não vêm com isso pronto.

São ótimos para trafegar nesse mundo, mexer nas máquinas, mas não para dominá-lo, mudá-lo, ter consciência de como pode atuar enquanto agente e não reagente (ou mesmo detergente.) 🙂

São ótimos para operar peças, mas não para construir um sentido.

Formar a sua própria tampa da caixa.

E esse é o contra-ponto urgente que as escolas devem procurar suprir.

(Mais sobre escola 2.0 aqui.)

Precisamos saber o que está por trás das mensagens.

Urge a necessidade de sermos muito mais filósofos do que antes para poder lidar nesse mundo picotado de informações soltas!

É uma mudaça radical em muito pouco tempo.

Num mundo que se arrepia quando se fala em teoria, em filosofia ou mesmo poesia.

Queremos ferramentas para lidar com problemas que as ferramentas atrapalham.

E aí?

Estamos no meio da rua, sem ninguém para nos guiar pela mão para atravessar.

E quando tentamos alguém aparecem tantas delas…

  • Qual?
  • É segura?
  • Vou, não vou?
  • Para onde?

Ou partimos para a ansiedade do consumo informacional feito loucos.

Ou para a anorexia informacional.

“Cara, tô fora!”

É preciso conhecer mais as teorias de topo, aquelas que escolhiam para nós.

Somos nós que temos que  selecioná-las e optar por elas.

As opções que temos para saber que quebra-cabeças, de fato, vamos montar.

Tem que ser mais assumido e menos automático.

E isso é novo e complicado, pois envolve filosofia, discussão de história, das correntes de pensamento.

Estamos à beira de um neo-iluminismo digital, que já começou ainda de leve, mas vai explodir.

Não o papo furado, mas uma nova geração de pensadores.

Foi assim na oxigenação social passada, acredito que o fenômeno vai se repetir.

São os novos conceitos que vão permear, através de várias manifestações o imaginário necessário para preencher com uma nova subjetividade essa nova civilização que se avizinha.

Tudo isso que foi banido da escola (principalmente a filosofia), quando o mundo estava pronto e fechado.

Agora que se abre….se diz na floresta:

Índio não quer só informação, quer principalmente sentido!

Complicado?

Sim, porém indispensável.

Que dizes?

6 Responses to “As peças, a caixa e o quebra-cabeças”

  1. Mônica Couto disse:

    Nepô:
    Esse post veio bem no momento em que acabei de viver duas experiências muito interessantes.
    Ontem(pela manhã) e hoje ( à noite) fui conversar com alunos ( 3ª série do Ensino Médio) de um CIEP em Macaé a pedido de uma amiga que trabalha nesta escola.
    Minha proposta, a partir do que ela solicitou, foi realizar um debate sobre Educação e Trabalho e levei como materiais de provocação alguns vídeos e o que consegui assimilar de todas as aulas no MBKM.(Ainda em ebulição!).Foi como um ping-pong de idéias. Mostrava alguma coisa e lançava perguntas e eles me devolviam outras idéias e assim fomos seguindo até chegarmos à construção coletiva de alguns conceitos (como nas aulas do MBKM). Conceituamos trabalho, escola, e escrevemos hipóteses sobre o que as empresas esperam de seus funcionários e o que estes esperam das empresas.
    Foi tudo muito interessante, mas uma menina me chamou a atenção e, ao terminar tudo, pedi que ela ficasse porque eu queria filmá-la repetindo um comentário feito durante a conversa. Ela me disse coisas tão bacanas que mandei uma mensagem para o Prof.Marcos, a título de trocar figurinhas e matar as saudades. Ele publicou no blog dele. O mais importante nesta história é o efeito que essa publicação vai ter NA/PARA A MENINA!
    O texto ( copiei exatamente como está gravado no vídeo):
    “Eu acho que, na teoria, a escola é tida como uma instituição que ensina coisas para formar pessoas para o mercado de trabalho, mas eu acho que deveria ser uma instituição que formasse pensadores. Na realidade o que a gente vê hoje na escola é (são) : FATO(s), porque os professores, muitos professores, chegam aqui passam o que têm que passar no quadro e vão embora. Não querem ensinar. Não fazem o aluno pensar naquilo. Eles só escrevem e a gente copia e acabou. Na realidade, às vezes a gente pode ter um ser humano que sabe fazer , mas ele não sabe (o) porque (daquilo que) faz, não pensa , ele só age.”
    Carina, 3ª série do Ensino Médio de um CIEP em Macaé/RJ.
    e está também no blog http://oglobo.globo.com/blogs/inteligenciaempresarial/

  2. Ótimo exemplo da Mônica. Relata bem como é a eduação 1.0 dos dias de hoje. Muitos educadores não saber trabalhar com o conceito de co-criação para desenvolver pensadores nas escolas. Mas isso é algo que vem de cima, de toda uma política de informação que modelou a nossa sociedade assim. As escolas ensinam o modelo do mundo 1.0 para que os futuros trabalhadores sejam 1.0, não questionem, somente executem. A internet veio para mudar isso. A oxigenação de toda a rede secial(sociedade) virá da necessidade de substituir esse modelo atual por um mais colaborativo, o mundo 2.0 que flamos nas aulas e aqui no blog!

  3. Olá Nepô!

    Lamentável mesmo! E o pior: esses professores formam profissionais para um mercado que exige qualificação (leia-se: títulos), criatividade, apresentação e um monte de outros requisitos que as fofas do RH insistem como fundamentais mas de fato recrutam mão de obra quase robótica para execução de processos de uma “old school” industrial.
    Caetano Veloso tinha razão: alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial.
    Abraços!

  4. A questão passa por vários pontos: desde a formação dos novos educadores e atualização (ou ‘reciclagem’, se prefeir) dos atuais, até a conscientização dos legisladores e gestores públicos sobre a importância dessa nova forma de educação, exigida pela atual configuração do cotidiano.
    Enquanto tivermos leis que impedem a entrada de celulares e outros gadgets em salas de aula e estabelecem distância mínima entre escolas e lan houses, não estamos indo pelo caminho certo.
    Ora, como queremos criar pensadores do e para o futuro se nem a tecnologia do presente – e outros fenômenos antropológicos e sociais resultantes dela – é aceita na escola? Não seria justamente aí onde deveria ser recebida de braços abertos?
    Aproveito para recomendar um vídeo que ilustra bem esse tópico: http://www.youtube.com/watch?v=ZokqjjIy77Y

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