Apenas uma reavaliação do nosso lugar na ordem natural das coisas, produto de um novo mode de se pensar sobre a ciência e sobre o seu papel no mundo é que pode levar a uma espiritualidade livre de uma fé sobrenatural – Marcelo Gleiser – da minha coleção de frases;
Acabei de ler o MARAVILHOSO livro do Marcelo Gleiser, Criação Imperfeita.
O livro é útil para os agentes de mudança, nos seguintes aspectos:
- 1- para falar das origens do universo, fala sobre a construção do conhecimento;
- 2- e, portanto, de como pensamos e evoluímos nosso pensar;
As ideias que me marcaram:
- a) vivemos em uma grande aquário, no qual as paredes são os limites de que sabemos;
- b) nunca iremos conhecer tudo, mas apenas aquilo que podemos, a partir dos nossos limites cognitivos e tecnológicos;
- c) ou seja, a realidade – do ponto de vista da ciência – é aquela que podemos medir, todo o resto é uma obscura incógnita.
Diante dessa percepção, o autor defende:
- – não existe uma realidade por trás de tudo – uma verdade absoluta – que será sempre intocável;
- – só existe – o que entendemos por realidade – a partir da criação humana, tudo que vemos e sabemos, parte das nossas (im) possibilidades;
- – se isso é fato, não seremos salvos por anjos e é nossa responsabilidade, cuidar daquilo que fazemos e imaginamos;
- – é preciso pensar na vida com respeito e, por consequência, em nosso planeta;
Por fim, a Ciência precisa tirar o pé das nuvens e lidar com os problemas da nossa Era!
Frases que selecionei para a minha coleção:
- Toda transformação que ocorre no mundo natural é resultado de alguma forma de desequilíbrio;
- A vida na Terra continuará sem nós. Mas nós não podemos continuar sem a Terra;
- A Ciência precisa de uma estrutura, de um arcabouço de leis e princípios para funcionar;
- O que importa não é saber tudo, mas o querer saber – Tom Stoppard;
- Nosso conhecimento do mundo será sempre limitado (…) temos apenas uma descrição cada vez mais precisa da realidade em que vivemos;
- Nada é mais importante do que a preservação da vida;
- Aqueles que acham que a tecnologia necessariamente leva a uma sociedade cada vez mais secular deveriam dar uma olhada em torno;
- A grande maioria das pessoas acredita no sobrenatural por não aceitar que a morte possa ser o fim definitivo da vida.
- Apenas uma reavaliação do nosso lugar na ordem natural das coisas, produto de um novo mode de se pensar sobre a ciência e sobre o seu papel no mundo é que pode levar a uma espiritualidade livre de uma fé sobrenatural;
- A fé brota da nossa dificuldade de lidar com o imprevisto com o que está além do nosso controle ou compreensão;
- Nossa visão de mundo é determinada pelo que podemos ver e medir (..) e pelos dados que temos no momento;
- Somos como um peixe que vive aprisionado num aquário; mesmo que o nosso “aquário” cresça sempre (pois é isso o que ocorre com o corpo do conhecimento humano), tal como o peixe, nunca poderemos sair dele e explorar a totalidade do que existe. Haverá sempre um “lado de fora”, além do que podemos explorar;
- Acreditar que a ciência, num determinado momento, terá todas as respostas é dotá-la de um poder que ela não tem;
- Para nos aproximar da verdade, muitas vezes, temos que abandonar nossos sonhos de perfeição;
- Para vermos a natureza em toda a sua glória, precisamos de instrumentos que ampliem a nossa percepção, de modo que possamos “ver” o que os nossos olhos não vêem;
- Quanto mais eficiente e abrangente a ciência era em explicar a Natureza, menor o espaço para Deus;
- As equações da mecânica quântica geram probabilidades e não certezas;
- Quanto mais longe enxergarmos, mais existe para enxergar;
- Há uma limitação fundamental do conhecimento humano (…) apenas nossa vaidade intelectual nos impede de aceitar esse fato e seguir adiante;
- Um mundo assimétrico é atemorizante, pois nos força a ser responsáveis pelos nossos atos;
- Teoria sem experimentos é cega, e experimentos sem teoria são aleijados – Kant;
- A ciência passa a ser uma exploração do mundo como ele é, e não como gostaríamos que fosse;
- A imperfeição e o desequilíbrio são a semente do devir;
- A tecnologia, ao menos na física de altas energias e na cosmologia, não consegue manter-se a par com as ideias dos físicos teóricos; ideias são bem mais baratas do que máquinas;
- Entendi que a ordem que impomos na Natureza é a ordem que tanto queremos nas nossas vidas;
- A ciência que criamos é apenas isso, nossa criação;
- Não é a ciência que cria e destrói, e sim a sociedade, através das escolhas que faz;
- Quanto mais abstrata for a busca pela unidade de todas as coisas, mais nos distanciamos da Natureza e dos problemas de nossa era (..) a busca pode tornar-se um escape, o “ópio da mente”;
- A ciência é um método de conhecimento, de descobrir significados;
- Ao aceitarmos que a ciência é uma criação humana e não um fragmento de um conhecimento divino e perfeito, nós a tornamos parte de nossa identidade como seres imensamente criativos mas não infalíveis;
[…] Discute a história das reflexões humanas sobre as origens do universo, mas para isso precisa abrir uma boa e rica discussão sobre a filosofia por trás da ciência. O que nos dá a oportunidade – em alto nível – de pensar sobre nossos limites cognitivos e a nossa capacidade ou incapacidade de pensar fora da caixa. Extremamente fácil de ler, pulando algumas poucas partes mais técnicas (ver resenha que fiz aqui.) […]
“Nosso conhecimento do mundo será sempre limitado (…) temos apenas uma descrição cada vez mais precisa da realidade em que vivemos”
Por esta frase posso imaginar que existe um “absoluto”, que podemos chamar de conhecimento universal / cósmico / absoluto, etc e nosso conhecimento que vem se aproximando deste, será que este lugar (nível de conhecimento )é o paraíso? Por enquanto a metáfora do aquário vem nos auxiliando a compreender a lógica social.
Felicidades,
Formanski
Formanski, o livro tenta defender justamente o contrário.
Que nunca chegaremos a nenhum absoluto.
Que nossa compreensão da realidade sempre será limitada pelos instrumentos e capacidade de leitura destes instrumentos.
E que, assim, nunca vai existir nenhum absoluto e que não devemos procurá-lo, pois nos desvia da possibilidade de ajudar a resolver os problemas da nossa era.
Defende ainda que essa procura pelo absoluto é mais uma espécie de “ópio” que ao invés de ajudar na compreensão nos leva a delírios sem sentido, perdas de esforços, que deveriam se direcionar para a compreensão das coisas possíveis.
Nunca chegaremos a verdade absoluta, pois ela não existe.
Sempre será uma criação humana.
É um conceito novo e interessante, no qual me encaixo plenamente.
Diz,
Nepô.
Bem,
Concluo que o absoluto é o infinito, que também quero compreender, ou por outra, Toda a Possibilidade. Sinto que é uma limitação da matéria, Quem sabe a ser superada pela física quântica. Fico com o conceito de aquário, sempre limpando o vidro ver mais longe e ampliar a dimensão do aquário.
Felicidades,
Formanski
[…] que o Marcelo Gleiser, no fundo, nos sugere no livro dele (Criação Imperfeita) ao colocar o ser humano como um acaso e nossa incapacidade de fechar qualquer teoria que […]
Olá,
Parabéns pelo blog.
Gostaria de comunicar-lhes da promoção que estou realizando em meu blog de divulgação científica, o “Imperativo Científico”. Estou sorteando o Criação Imperfeita.
Acessem http://imperativocientifico.blogspot.com/2010/04/promocao-imperativo-cientifico.html
e descubram como participar!
Grato,
Rafael
Sou leitor e admirador de Marcelo Gleiser desde o lançamento de seu A Dança do Universo (1997), autografado por ele em uma de suas palestras. O título de seu livro – Criação Imperfeita – me deixou intrigado, não pela Imperfeita, mas pela Criação. Ora, se Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, a rigor não poderíamos falar em criação, no máximo – Natureza Imperfeita. Mas quem sou eu para recusar o título do livro de um cientista-escritor tão brilhante! De qualquer maneira nehum cientista disse que a Lei de Lavoisier foi revogada pela Teoria Quântica, sobretudo porque os “achados” dessa, segundo o próprio Gleiser, são apenas possibilidades. Surpreendi-me também com sua pouca ênfase à Teoria do Universo Eterno, aliás inteiramente compatível com a descoberta de Lavoisier. Ainda mais que essa nova Teoria, defendida pelo nosso cosmólogo Mario Novello e alguns outros, é muito mais elegante do que o Milagre do Big Bang, que teria sido cunhada aliás por um teólogo-matemático, George Lamaître. Novello foi publicar seu livro da Teoria do Universo Eterno na França. Este físico considera uma enorme imprudência afirmar que tudo começou no Big Bang e, ao contrário de um começo, o que ocorre é um processo. Meus personagens em O Garoto Que Queria Ser Deus inspiraram-se em Gleiser e vários divulgadores de ciência para fazer suas indagações: Deus existe ou Ele é uma invenção de homens primitivos conservada pelo homem moderno por razões de conveniência: Os livros santos de todos os credos são a fonte da verdade ou são apenas mitologias, lendas e fábulas milenares? É possível nos desvencilharmos do Deus recebido no colo da mãe?
[…] Estamos envolvidos com os livros Presença, Criação Imperfeita. […]
[…] Marcelo Gleiser – Criação Imperfeita […]
Fiquei tentado a ler o livro para melhor entender algumas idéias. Talvez, você possa me ajudar, mais uma vez.
A respeito do aquário, por exemplo. Se tudo o que, de fato, existe é criação nossa, inclusive a Ciência, nada pode existir do lado de fora dele, ou seja, nada pode existir que não conheçamos, que não faça parte da realidade.
Vejo duas consequências para esse raciocínio: Se nada existe fora da realidade do nosso aquário, não há possibilidade de conhecermos nada de novo, porque estaríamos falando em DESCOBRIR o que não existe. Nesse caso, os novos conhecimentos desmentem a teoria, na medida que surgem e, inclusive, aumentam o nosso aquário.
A segunda consequência seria crer que todo o conhecimento, invariavelmente é construído e não descoberto. Nesse caso sim, a Ciência é uma criação. Essa hipótese também me parece absurda, já que a despeito de nosso conhecimento as leis naturais sempre funcionaram. A água não passou a hidratar só porque “criamos que ela hidrata”. Ela sempre hidratou. Se amanhã aprofundarmo-nos na composição da água, as novas criações não invalidarão toda ação que a água provoca. No máximo, entenderemos melhor a ação que pouco conhecíamos. Assim se fazem as leis universais que, mesmo desconhecidas por nós, existem e regulam a vida em variadas manifestações. A vida não existe porquê a Ciência a criou.
Adotar uma possibilidade dualista também me parece impreciso. Se dissermos que as Ciências Naturais descobrem e as demais constroem, já invalidamos a idéia de que “tudo que existe é criação nossa”.
Nas minhas atuais limitações, o que consigo projetar é:
a) Existem leis universais que já existiam antes dos nossos esforços mentais. A Ciência, timidamente, interpreta de maneira correta ou equivocada os efeitos dessa lei.
b) Nós co-criamos novas causas e efeitos, seja de maneira intencional, seja de maneira inconsciente e inconsequente.
c) O nosso pensamento constrói representações do mundo sim, mas a partir de impressões de coisas que existem, mesmo que a gente não as conheça e de outras coisas que acreditamos exisitr.
Conto com a compreensão dos que consigam enxergar esse cenário de maneira mais ampla do que eu.
Forte abraço!
Dylan,
o que o Gleiser coloca é, no fundo, a incapacidade humana de compreender a realidade. É uma limitação humana. Sempre teremos uma visão sobre tudo histórica.
Hoje, é assim, amanhã vai depender de quem está, as ferramentas que temos para medir.
Desta forma, para o ser humano só existiria uma aproximação, sempre será uma aproximação..e, portanto, não existe, para nós, uma realidade, pois sempre será incompleta.
Ou seja, não dá para alguém dizer, agora sim, cheguei lá.
Seria impossível para nossa espécie.
Se existe algo – de fato – que “existe” independente do humano, não será a nós dado o direito de descobrir, portanto, para a humanidade, nessa nossa limitação, isso não se coloca.
Pois são tantas as possibilidades fora essa visão histórica..e de que a realidade é o que conseguimos ver dela.
Assim, você poderia ter.
Sim, existe uma verdade…mas nós nunca chegaremos nela.
Não, como não podemos medir, não vale a pena procurar essa verdade final, mas aceitarmos nossos limites.
A visão do Gleiser vai contra físicos que querem descobrir a “verdade final”, deixando de melhorar a vida possível, as questões, que dão para resolvermos nesse momento histórico.
Ou seja, vamos baixar a bola e cuidar das coisas aqui do lado?
O que nos remete à oração da serenidade, do AA:
“Dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar,
coragem para mudar as coisas que eu possa,
e sabedoria para que eu saiba a diferença”
É mais do que uma questão científica uma filosofia da ciência e diria mais, uma filosofia diante da vida.
Algo que nos relaxa diante da natureza…e nos coloca em sinal de respeito.
Mas é possível pensar dessa maneira de achar que há lá fora uma realidade.
Mas como nunca chegarermos lá, o que no fundo daria no mesmo.
Vamos procurar o que dá e não viajar em um sonho impossível.
Pois geraria uma ansiedade desnecessária…um eterno jogo de tentar o sonho impossível. 😉
Que dizes?
[…] Marcelo Gleiser levanta outra lebre na mesma […]
Estou contigo nessa idéia de que o importante é pensar na melhoria dessa realidade de agora, desse momento historico.
Mas me diga uma coisa. Você consegue pensar em melhoria sem que exista uma escalada em que num sentido seja melhor e no outro seja pior? Eu ainda não consigo. Acreditar em mudança que leve à melhoria é acreditar no progresso, num sentido bem próximo do aureliano.
É nesse sentido que eu abraço a idéia de que exista um caminho mais próximo do que é certo. Mesmo que a gente ainda não o enxergue com clareza.
Talvez me falte reflexão, mas eu acho que a improdutividade pode acontecer nas duas vertentes, dependendo do interesse:
Há cientistas que buscam verdades para satisfazer uma sede intelectual de conhecimento, sem falar nos que fazem grandes descobertas para lançar mais creme na indústria de cosméticos.
Por outro lado, tenho achado a proposta da filosofia contemporânea, de sujeitos como Richard Rorty, polifônica e inerte. Não se pode fundamentar o conhecimento, quem dirá políticas. Cada um fala o quer, todos batem palma e nada muda.
Por fim, no meu sonho possível, troco a descoberta de novas galáxias pela descoberta de uma receita de capim tiririca com pedra, que acabe com o problema da fome. Troco a polifônia improdutiva e instável, pela execução verdadeira de uma idéia batida e demodê como a da fraternidade ou a da igualdade. Pena que não é assim tão fácil! rs
Forte abraço!
Dylan,
quando pensamos que a realidade é, a meu ver, inventada, histórica, negociada e interesseira (vou postar sobre isso na segunda) escolhemos, como seres que somos, uma.
E agimos conforme essa sua linha, que é melhor tiritica do que outra coisa, na qual eu também amarro meu bode.
Mas, ao mesmo tempo que chegamos a isso, temos que ver que existem outras realidades flanando por aí. E que nem sempre o discurso da tiritica batem com os fatos.
O que nos leva a não ser dogmáticos, fechados, mas sempre abertos, e escolhendo algo mais humano, ético, no que achamos que deve ser aquela defesa (lá detrás) do bem comum.
Esse senso de mil realidades, pelo menos para mim, ajuda bastante, pois como lido cada vez com mais gente, diferente, e procuro trabalhar a cognição deles, vejo que quando falo abro uma ponte, mas nem sempre é larga como eu gostaria.
Vamos andando…
abraços,
bons papos,
Nepô.
MARCELO GLEISER, DISSE A COISA MAIS IMPORTANTE DO MUNDO: PRESERVAMOS A VIDA, POIS A VIDA E A TERRA SÓ SÃO UMA.
Giovanni, concordo!
[…] bastante da visão de Marcelo Gleiser, um físico, que defende que temos que ter respeito pelo desconhecido, mas também é preciso […]
[…] Gleiser (vejam resumo que fiz do livro dele). […]
[…] Marcelo Gleiser – Criação Imperfeita; […]
[…] Criação Imperfeita – Marcelo Gleiser; […]
[…] (Já resumi bem os pensamentos deles aqui.) […]
[…] Gleiser no livro Criação Imperfeita quebra com essa ideia da realidade final ou definitiva ao sugerir que ela é histórica, inatingível, pois só conseguimos ver aquilo que medimos, a cada fase da evolução humana. […]
[…] Gleiser no livro Criação Imperfeita quebra com essa ideia da realidade final ou definitiva ao sugerir que ela é histórica, inatingível, pois só conseguimos ver aquilo que medimos, a cada fase da evolução humana. […]
[…] Marcelo Gleiser, no seu livro, Criação Imperfeita (ver o resumo que fiz aqui), questiona a teoria das cordas, que seria a teoria final da humanidade, ele argumenta, usando a […]