Toda vez que a invenção é arbitrária, ela não sobrevive – Ferreira Gullar – da minha coleção de frases.
Estive esta semana na palestra de Artur Matuck, pesquisador da USP, na UFRJ, a convite da Bia Martins.
Matuk é um pesquisador que reúne duas qualidades difíceis hoje em dia: criatividade e humildade.
Ou seja, é aquela pessoa que consegue ver um cenário maior, mas não se deixa levar pela sua peculiar e rara capacidade cognitiva, querendo aparecer mais do que suas ideias.
Lembra um pouco o que o rabino pós-moderno Nilton Bonder alerta e sugere:
“Não é fácil ser dotado de inteligência e consciência e não se asfixiar no próprio ego”.
De forma simples, foi apresentando o que para ele, com uma lógica clara, será a escrita do futuro da escrita.
Hoje, digitamos em processadores de texto.
Amanhã, digitaremos em processadores de matrizes – máquinas dotadas de Inteligência Artificial.
Citou:
Relação simbiótica homem-máquina segundo James Pulizzi:
“Os computadores tem sido programados para desvendar mensagens cifradas, para converter textos em fala, para conduzir analises gramaticais e parseamentos de enunciados humanos, para gerar fontes e inclusive para desenhar circuitos eletrônicos patenteáveis.” Ver mais aqui.
E ainda:
/Apesar de tais limitações, o computador é uma excelente extensão de áreas deficientes da cognição humana, tais como classificar listas extensas, realizar cálculos, armazenar e recuperar dados e corrigir erros. / /Se esses recursos puderem ser combinados com a superioridade humana no reconhecimento de padrões, na adaptabilidade, no processamento natural da linguagem e na habilidade de distinguir informações relevantes das irrelevantes, o computador e o humano podem adquirirem uma relação simbiótica potencialmente poderosa.”
Loucura?
Realidade?
(Viraremos poetas de máquinas, que produzirão infinitamente poesia por nós. Estranho?)
Estas máquinas poderão, no futuro, em seu desdobramento:
- 1- compreender em poucas palavras onde queremos chegar e desenvolver um texto próximo ao nosso estilo de escrita;
- 2- comparar o que estamos escrevendo, em rede, para saber se estamos repetindo o que outros já disseram, talvez, com mais propriedade;
Nesse futuro provável a complexidade do mundo nos levaria a reduzir a perda de tempo com textos repetitivos e estaríamos todos procurando novos “textos-matrizes”, aqueles que as máquinas não poderão (ainda) nos ajudar.
Ou seja, o que valerá não é o que se repete, mas o que se cria de realmente novo, pois o repetido o robô resolve, seja indicando algo igual, ou desenvolvendo, a partir da matriz.
Pelo que entendi, esta é a base do que apresentou Matuk, que me disse ao final que sua vontade agora é publicar suas ideias em um livro, deveria.
Deveria, aliás, ter também um blog ativo, mas…
Como abstração, podemos dizer algumas coisas:
Matuk reforça a ideia, numa avaliação minha particular, que a tal Web 3.0, ou a pós-Web será toda baseada na Inteligência Artificial e na relação homem-robôs, inaugurando um novo ambiente informacional, principalmente, quando tivermos tudo massificado;
A ideia dele reforça a teoria da tese do Moreno na tese dele dos blogs do “eu vi”, aqueles que repetem o que viram por aí e o “eu acho”, que opina sobre determinado assunto;
Dentro do campo do “eu acho”, teríamos quem acha, mas repete outras mentes. E aqueles que acham fora da caixa, que seriam os mais valorizados, pois colaboram com novas visões. E criam novas matrizes para robôs poderem desenvolver em cima.
(No fundo, os grandes poetas e pensadores sempre fizeram isso. Influenciaram com seu estilo uma legião de seguidores!)
Essa ideia coopera ainda com o avançar da nossa civilização para a sociedade da inovação acelerada, termo que prefiro ao da sociedade do conhecimento, da informação, etc…
O que já faz e fará a diferença é a nossa capacidade de termos assistentes que nos deixem trabalhar cada vez menos em tarefas repetitivas e redundantes.
As redes sociais, no fundo, têm essa função.
Hoje, apelamos para a colaboração humana.
Amanhã, além dela, e no seu limite, apelaremos para a colaboração dos robôs.
E você o que diz?
PS – Adorei ter ido. Tks, Bia!
Oi Nepô,
Pois é, estamos caminhando para essa escrita híbrida homem/máquina, como o Matuck fala.
O Wave, com seus bots, já é uma evolução nesse sentido.
Muito bom você ter ido na palestra e estar repercutindo no blog.
Vamos conversando…
bjs
Bia
PS – Sucesso na qualificação!
Bia, você deve ter estranhado a moderação do comentário..é que migramos (o Cris me ajudou) do WordPress web para um servidor, agora o blog está aqui em baixo com mais recursos e controle…
bjs,
Nepô.
Amigos do Rio e elsewhere
Fico muito contente que a palestra sobre Eletroescritura tenha sido bem recebida e comentada. Sobre o post do Nepo e em sua conversa na ECO tive um estranhamento com o termo ‘robot’ pois vejo a intervençao nos processos da escrita no futuro como vindo de sistemas maquinicos nao-antropomorfizados. A ilustraçao no post segue um tanto esta linha de associar o que chama de sistemas maquinicos a antro-maquinas. [Estes robos tocando musica sao tocantes!]
Esta associaçao pode conduzir a discussao e a reflexao a outra direçao, se teremos em nosso dia-a-dia interaçao com formas semi-humanas potencialmente mais inteligentes do que nos. O que jah foi previsto é que os robots terao uma capacidade de interconexao muito maior do que seres humanos e que portanto poderao evoluir mais rapido. Em que momento serao reconhecidos como uma espécie ?
Muito louco tudo isso! Estou absorvendo e digerindo…
Mas esse comentário do Matuck é bastante relevante, e essa visão, talvez tenha sido influência do futurismo imaginário que culminou nos Jetsons way of life.
Matuck, Synesio,
bom, acredito que hoje temos máquinas, um micro é uma máquina, mas quando ele começa a tomar decisões, a partir de parâmetros, ele começa a ganhar independência.
Um anti-virus, um software anti-spam, vão sendo instruídos, por um lado e aprendendo com a sua prática.
Sim, você está no controle, de certa forma, mas eles começam a atuar independente dos humanos.
Na queda do avião da Air France questionaram a independência que os robôs do avião passaram a ter, muita gente viu ali um erro da robótica.
Ou seja, os amigos virtuais estão chegando e sua palestra me alertou que na escrita eles ganham um colorido diferente.
Claro, que teremos, como sempre, vantagens e desvantagens, em um processo que chamo sempre de inevolução, pois toda ação humana é dialética, com causas e consequências.
Vamos adiante, grato pela visita!
Nepô.
Nepô e amigos,
acho sensacional o avanço da robótica e os benefícios que isso poderá nos trazer a médio e longo prazos. Mas, sempre, me preocupo com a questão humana. Penso que o que deve ser valorizado é o que pensamos e não o que fazemos os robôs pensarem. Por mais capacidade de processamento um computador possa ter, nada substituirá a capacidade humana.
Entretanto, no tocante a escrita – foco do post – acho que as mudanças são trazidas pela forma rápida de como nos comunicamos hoje em dia. Acredito que, como cada vez temos menos tempo para tudo, ir à fonte certa de informação (o eu vi), será sempre mais procurado do que o “eu acho”. E nisso, o processamento cada vez mais rápido das máquinas irá nos auxiliar e muito. Só não gosto de pensar no dia que em que o “eu vi” não terá uma mente humana por trás. O tema é complexo e não sei se deixei claro meu ponto de vista, mas a discussão vai longe.