Toda linguagem contem os elementos de uma concepção de mundo – Antonio Gramsci – da minha coleção de frases.
Quando os europeus precisaram de escravos para alavancar seu desenvolvimento social, pediram para a Igreja tirar a alma destes. E num passe de mágica, se fez a nova filosofia oportunista, da hora:
“Os negros e os índios não têm alma, podem arrepiar”!
A luta dos abolicionistas foi basicamente de tentar repor a alma para aquelas pessoas!
Tirá-las da exclusão humana!
Quando Hitler quis exterminar os judeus, retirou destes o rótulo de humanos. Elevou os arianos a um patamar superior e do alto mandou exterminar os comunistas, os homossexuais, os ciganos e os judeus utilizando-se, diga-se de passagem a tecnologia nascente dos computadores.
O outro, sempre foi e talvez sempre será, uma marionete nas nossas fantasias e se adota uma filosofia da hora para justificar determinados interesses conjunturais.
Grandes crises nacionais são revolvidas com guerras ao “bárbaro exterior”, como foram a das Malvinas (um genocídio de uma juventude argentina) e os recentes conflitos provocados por Israel no Oriente Médio, às vésperas de uma eleição, como foi também a ida em vão dos EUA contra as imaginadas e nunca encontradas armas químicas do Iraque.
É melhor brigar com o outro!
No avançar do capitalismo, diferente da relação dos artesãos com seus clientes, se estabeleceu a famosa frase:
“Negócios são negócios, amizade à parte”.
Tirando do consumidor, fornecedor, empregados sua alma.
Pois se deduz, nos negócios eu só tenho inimigos.
E os inimigos, como se viu aqui, não têm alma!
No bom filme, Distrito 9, o burocrata recebe um líquido na cara e passa o filme a virar um alien.
E, como alien, passa da figura de raça superior à inferior, sentindo na carne a discriminação.
Uma metamorfose do alto da cadeia alimentar, ( logo ele que acreditava tanto!!!), para o posto mais baixo.
No final, aparece totalmente alien, o que nos permite, por fim, nos identificar com “aqueles camarões gigantes”, pois dentro daquele ser existe um de nós.
A chegada da Internet, como foi a do livro impresso, em 1450, estabelece novas pontes entre os humanos.
Um canal novo e poderoso de troca de ideias.
Margens de rios antes sem contato passam a se conectar, somar conceitos, pensar diferente.
As academias surgiram dali, o que podemos chamar de Redes Sociais do Papel.
Os orkuts dos pensadores!
E isso implica, entre outras coisas, a se rever como vemos o outro.
Todas as revoluções que se seguiram à invenção de Gutemberg, possibilitadas pelas pontes informacionais erguidas, foram na direção de um empoderamento da alma em camadas, antes fora do tabuleiro, que pediam Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
No filme Piaf, veja a força da alma da menina que canta esse direito:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=ucOIDOMsrQE&feature=player_embedded]
No caso, hoje vivemos a luta pelo resgate da alma do cidadão, o consumidor, a população em geral massacrados pela massificação das grandes empresas, da globalização, do afastamento da política da vida das pessoas, de cada um conseguir ser cada um.
É uma possibilidade que se abre, através de novas pontes informacionais, de estabelecermos um upgrade civilizacional, no qual um conjunto de sem-almas, reivindica o seu novo espaço no mundo.
Não por causa da tecnologia, que é apenas ponte, mas sobretudo pela possibilidade de troca dos sem-almas, que agora invadem a nova praia e estabelecem que do jeito que estava não vai ficar.
Assim, é preciso rever como vemos o outro, tanto em outros países, mas em torno de nós.
Aquele cidadão e consumidor agora quer um novo espaço.
Sim, eu tenho alma e desejos.
Quero e vou colocá-los para fora, pois agora posso me manifestar e, conforme sua capacidade de conexão e comunicação pessoal, fazer a diferença, seja se manifestando ou mesmo construindo projetos coletivos, Linux, Wikipedia, Youtube, etc.
É preciso, assim, a revisão da filosofia de como vemos o outro.
Um upgrade filosófico de como vemos a alma alheia.
Estamos impregnados de navios negreiros!!!
É essa revisão filosófica a base conceitual dos projetos 2.0, seja nas empresas, governo e sociedade.
O resto tenderá ao vazio, pois os sem almas já não se sentem tão sem alma assim.
É uma revisão filosófica típica da pós-novas-pontes-informacionais.
(Sugiro, por fim, ler, ou reler, como é meu caso, “Xogum” do James Clavell, uma aventura dos bárbaros europeus nas terras dos bárbaros japoneses, um o tempo todo, estranhando a falta de alma do outro.)
Que dizes?
Enxergar o outro, admitir a alma, desejos, necessidades, erros e acertos desse outro é o grande desafio do ser humano, afinal mal enxerga a nós mesmos.
Além disso, precisamos depois de nos enxergar nos aceitar. Aí sim… vemos o outro e o aceitamos. É 2.0 com potência quadrada 🙂
Parabéns pelo artigo!
Nepô,
Eu bem entendi que o Distrito 9 era uma crítica social, mas só aguentei assistir 40 minutos de filme. Muito nojento! Parabéns pela coragem de vê-lo até o fim.
Bjs
Raquel
Será que a consolidação dessa nova filosofia não deveria ser o principal objetivo dos projetos 2.0?
Será que não é mais importante mudar a cultura dos líderes (naturais ou hierárquicos) ao invés de focar nas ferramentas?
Uma sugestão: Seria legal post com o título “Não sou 2.0 se…” e listar os principais equívocos de projetos 2.0.
Parabéns pelo post!
Raquel, não senti esse nojo, até gostei dos camarões rs…
Saí do filme bem satisfeito…
André,
coloco aqui:
Não sou 2.0 se
não entender a dimensão da ruptura que estamos passando;
se não compreender que esta ruptura muda muitas regras de jogo estabelecidas;
de que se trata de uma mudança tecnológica, que impulsiona uma cultura, que nos exige uma revisão filosófica de como encaramos o outro;
de que a base de tudo é a comunicação humana, que deve ser revista e aprimorada, acima de tudo.
Seria isso, para começar, que dizes?
Valeram os comentários.
Nepô.
Mariana, concordo, só conseguiremos rever a comunicação quando nos olharmos….tudo passa por cada um. Bingo total.
Nepô, valeu a visita.
Nepô,
Achei legal o começo, concordo com todos esses, mas estava pensando em algo menos filosófico. Por exemplo:
“Uso blogs mas não gosto que me contradigam”;
“Quero incentivar a criatividade, mas não deixo ninguém acessar youtube”;
“Promovo uma hierarquia rígida que não pode ser questionada”;
“Falo em transparência, mas escondo meus erros”;
O que achas?
Andre, saquei…
acho que Gandhi vai voltar a moda:
Você tem que ser a mudança que você quer para o mundo – Gandhi;
O problema que a transparência da comunicação dos dias atuais, exige coerência, pois todo mundo vê tudo e espalha para todos os lugares.
E vai cair a ficha desse pessoal pelo $$$ e não de outro jeito, vão cantarolar o Jorge Ben:
Se malandro soubesse como é bom ser honesto; seria honesto só por malandragem – Jorge Ben Jor;
Será mais barato evitar a crise e ser ético, do que não ser e apagar o incêndio depois.
É uma saia justa.
Tem que ter, por outro lado, paciência, pois a mudança é muito grande e tem gente que não vai chegar.
É a minha teoria dos vampiros.
Eles não existem mesmo.
Pois a natureza fez a morte justamente para aqueles que não querem nunca deixar o novo vingar.
Um dia todos nós – e eles- acabam voltando para a mesma caixa do tabuleiro.
E o mundo segue impassível.
Os vampiros poderiam resistir, mas eles não existem.;)
Concordas?
Abraços,
Nepô.
Será que negros e índios não têm alma??? sobre este tema é fundamental acessar, ler e propagar o blog: http://www.laurohenchen.blogstpot.com
Lauro, na época não tinham, assim como os consumidores, para quem vende para eles, também quase não tem, como também não tem os colaboradores internos, antes chamados de empregados,
é isso, grato pela visita e dica,
Nepô.