Feed on
Posts
Comments

As organizações devem se tornar ainda mais rápida do que jamais foram na adoção de mudanças, sob pena de se tornarem irrelevantes ou até mesmo desaparecerem – Ricardo Neves – da minha coleção de frases.

Recebi da Campus/Elsevier o livro “Tempo de pensar fora da caixa“, de Ricardo Neves para resenhar.

Já tinha blogado sobre o livro.

Ele cita o autor americano Bernstein, W.J e o seu livro “The Birth of Plenty”, que pode ser lido na rede no site do Google Books.

Ricardo Neves

A teoria de Bernstein, que está detalhada no livro de Neves, admite que 1820 foi um ano miraculoso:

“(…)o início da decolagem da espiral ascendente de prosperidade e da inovação para a humanidade” (…) Deste período em diante, a cada nova geração, os filhos vivem em melhores condições que seus pais”.

Segundo Bernstein, ainda no livro de Neves, a humanidade a partir dali cresce a 2% ao ano. E Neves lança uma pergunta instigante: o que terá acontecido para que o ano de 1820 tenha sido o ano do milagre?

Neves volta a Bernstein, que se utiliza das idéias de Douglas North.

Para North, existem quatro fatores para essa explosão, que combinados que permitiram essa situação de “virada de mesa”:

(Não há citação de que obra de North foi utilizada, mas eu suponho que pode se procurar algo aqui – Structure and Change in Economic History.)

1820 – o ano do milagre…

  • a garantia do direito de propriedade – ou seja, os criadores devem receber incentivos para criar;
  • o direito das pessoas questionarem os limites impostos ao conhecimento usando métodos investigativos;
  • possibilidade de acesso daqueles interessados em promover inovação a um mercado de capital diversificado;
  • a liberdade e o aumento da mobilidade da circulação das pessoas, bens, serviços e informação, ou melhor, o florescimento do conhecimento na sociedade com a livre circulação de pessoas e ideias.

O que me chama a atenção com mais esta peça do quebra-cabeça que ando montando, é de que talvez seja possível imaginar que na evolução das redes digitais, no passado e no futuro, haja espaço para um ponto de inflexão que podemos chamar  de “virada de mesa”.

Notem que o último item citado por North o florescimento do conhecimento e a livre circulação de idéias é datado na Europa, a partir de 1450 com a chegada do livro milagre.

Vários autores destacam o papel do livro, tanto no questionamento do poder da Igreja, quando dos reis, através das revoluções que se seguiram (Francesa, americana, etc…).

Ou seja, 300 anos antes do tal ano miraculoso.

Não foi algo que surgiu ali, mas veio crescendo ao longo do tempo.

Esse fator tempo de evolulção é importante para nós que pensamos estratégias sobre o futuro da Web.

Em 50 anos, a partir de 1450,  a Europa viu circular 13 milhões de exemplares de livros!!!

Ou seja, muito antes de 1820 o novo ambiente de conhecimento começou a aumentar a sua velocidade, eliminando intermediários virtuais para depois tornar essa mudança “real”, principalmente, o poder da Igreja e dos reis.

É de supor que durante um bom período a sociedade criou um período de preparação para a “virada de mesa”, que ocorreu 300 anos depois.

Algo como o mundo social, espelhar o mundo “virtual” criado pelo livro impresso depois de um período de maturação.

Ou melhor, a circulação de idéias ganhou tal velocidade ao longo do tempo, de tal forma que as instituições não eram mais compatíveis, com seus reis e papas com o ritmo do mundo ainda virtual, que se potencializou e passou ao dia-a-dia.

(Entende-se virtual aqui como a capacidade cognitiva das pessoas que passa a funcionar de outra maneira, mas as instituições não são compatíveis com esta.)

Haveria, assim, uma realização da latência virtual, transformando o mundo, a partir de 1820, em um processo iniciado, praticamente 300 anos antes?

Reis foram guilhotinados, novas igrejas surgiram (a protestante) e passou a exitir uma incompatilibidade entre o mundo das idéias e a sua realidade, de fato, que foi ganhando corpo ano a ano, até, na prática, permitir que o novo barco pudesse navegar sem as velhas âncoras.

O mesmo  fato ocorre exatamente agora e daí a relevância do livro de Neves de jogar luz sobre este problema.

Se formos comparar, estamos iniciando o processo em que o mundo no ambiente digital – com a sua velocidade de troca de idéias – inicia um processo de “virtualização”, projetando uma sociedade futura diferente dos atuais monopólios corporativos, a separação entre paises, que tendem a se organizar em federações (como é o caso da Europa, Nafta, Mercosul..)  e a falência da representação parlamentar nos moldes criados em 1789 com a revolução francesa, sem falar na justiça e no próprio executivo.

Em termos de especulação, podemos indagar se a nossa atual “virtualização” 2.0 resultará em um momento bem demarcado de virada de mesa, na qual as novas forças com a nova dinâmica e velocidade chegarão finalmente “ao poder”?

Na qual as novas idéias, não serão mais inovação, mas o mainstream?

Passarão, assim,  a hegemônicas, transoformando a atual sociedade, criando um novo momento de inflexão da civilização em um novo ano miraculoso?

Talvez seja possível, mas podemos comparar a complexidade do mundo de hoje ao de 1820?

Neste momento, não estariam as pulgas do passado sendo jogadas para fora do planeta cachorro?

Você acredita que teremos nova virada de mesa tão demarcada?

(Note que a rede, apesar de vir crescendo, ainda não significou mudanças na forma de organização da sociedade. O mundo é 1.0 e as cabeças dos novos participantes já são 2.0. Essa imcompatibilidade pede ajustes.)

Por fim, ainda pergunto:

Tais ajustes serão tão demorados? Levarão 300 anos?

(Acredito que a velocidade é outra, mas nesse momento não estamos lidando com tecnologia, mas superação de problemas e bloqueios cognitivos. Perda de poder, de previlégios. O que nos leva para revoltas sociais, mudanças, pressão e tempo.)

1820 se repetirá? De que maneira? E quando?

Me digam.

3 Responses to “A teoria da virada de mesa da civilização”

  1. Marcos Cavalcanti disse:

    Acho interessante a idéia de virada de mesa ainda mais porque ela tem a ver com uma noção matemática de ponto de inflexão: a partir de um determinado momento a curva sofre uma inflexão e muda de patamar. Parece que foi ” de repente” mas teve toda uma preparação. Acho que não devemos concentrar nossos esforços em discutir quando isto vai acontecer, mas trabalhar para acelerar este processo e fazê-lo acontecer da melhor maneira possível. Sim, porque ele pode acontecer da forma errada, invadindo a privacidade das pessoas, por exemplo. Personalização em excesso leva a invasão de privacidade (vide o filme Minority Report)

  2. Vinicius R. T. Ferraz disse:

    Acho interessante quando tentamos aplicar uma “noção de tempo” entre grandes transformações sociais e mais interessante ainda prever a próxima transformação.

    Alguns fatos interessantes sobre preparação/inflexão tecnológica:

    A matemática e a física vêm evoluindo à milênios no sentindo da automatização dos cálculos.
    O embrião da Internet nasceu na década de 60, um pouco antes da computação pessoal.
    Foram cerca de 15 anos de Web até alguém cunhar o termo Web 2.0.

    Olhando de dentro do mundo da Ciência da Computação, tenho uma visão ranzinza:

    No geral: Penso que a Ciência da Computação é um mundo altamente imperfeito. No hardware: A arquitetura vigente foi criada também na década de 60. Na usabilidade: Por mais que hoje haja mobilidade e telecomunicação, ainda estamos sempre presos há uma tela rígida e bidimensional, um teclado e um mouse. O computador não compreende de fato nossa vóz, não enxerga o contexto das nossas buscas, nem permitem uma relação REALMENTE rica com a informação. A computação realmente onipresente (ubíqua) está LONGE. Na Engenharia de Software: a formação dos programadores é apenas razoável nas melhores universidades. Os cronogramas atrasam, empresas disputam a tapa arquitetos e projetistas realmente competentes. Os programas dão pau, não rodam em qualquer plataforma, malemá são internacionalizados. Desenvolvedores discutem a linguagem que vai tornar seu trabalho mais fácil e mais rápido e a evengelizam como se ela fizesse o café pra você também, sendo que suas bases são iguais as das outras.

    Estão fazendo avanços, muitos avanços em todas essas áreas, ora, mas é claro, mas mesmo assim acho que seu pra sacar que, no meu ponto de vista, tal ponto de inflexão está um pouco mais longe do que pensamos.

  3. cnepomuceno disse:

    Marcos,

    acredito que hoje temos mais consciência do processo, do que tivemos antes. Percebemos o ambiente de conhecimento como algo que se move….Realmente, é interessante a ideia de nos colocarmos ativos para acelerar, sem perder a ternura..;) Fechado! É o que tenho batalhado.

    Vinicius, concordo. Falta muito, agora não e mais máquina, mas pessoas e aí o papo é mil léguas submarinas mais embaixo.

    Valeram os comentários,

    Nepô.

Leave a Reply