O caminho nada mais é do que ir em direção a si mesmo e a terra prometida nada mais é do que o processo de se comprometer consigo – Nilton Bonder, no livro “Tirando os sapatos” (recomendo para uma atitude em um mundo mais colaborativos).
O pessoal do Nós da Comunicação me entrevistou semana passada.
Abordaram um tema que eu ainda estou engatinhando: gestão da sabedoria.
Veja o que respondi à repórter:
Nós da Comunicação – Qual é a definição do que você chama de “gestão da sabedoria”? De que forma o profissional pode contribuir para essa nova gestão no meio corporativo?
C. N. – Vivemos uma tsunami informacional. Nesse contexto, qual é a diferença entre um cidadão e outro ou entre uma empresa e outra? Não é receber informações. É a sabedoria para entender o tipo de informação que está ali, perceber onde ela se encaixa e usá-la para avançar como cidadão, país ou empresa. Falo de um conceito que não utilizamos muito – a sabedoria, que pressupõe uma visão mais ampla e holística. A nova geração acha que a tecnologia vai resolver todos os problemas, mas ela é apenas parte deles. Um exemplo: o Second Life foi considerado o futuro da internet, as empresas investiram em ações nesse espaço e ele acabou ficando na periferia da rede. Como você distingue se algo é relevante ou não? É preciso ter visão histórica e conceitos para lidar com as informações que recebemos.
Num outro post eu tentei abordar esta questão diferenciação entre dado, informação, conhecimento e sabedoria.
Mas vamos avançar no conceito que considero ainda verde (colaborações são bem-vindas!).
Qual seria a diferença, então, entre conhecimento e sabedoria?
Eu diria: o auto-conhecimento.
É a diferença do esperto para o sábio.
Da pessoa brilhante ansiosa para a serena.
Vejo pessoas que articulam muito bem, conseguem até relativo sucesso profissional, mas são extremamente enroladas na relação com a vida.
Ou com amigos, parentes, mulher, filhos, chefe, qualquer um.
Têm dificuldade de lidar com perdas, frustrações, sucessos e fracassos.
Perdem a calma com facilidade, vivem de mau com o mundo e consigo mesmo por mais inteligentes que sejam.
No fundo, temos fases que estamos desse jeito. É uma batalha diária para procurar o equilíbrio.
Ou seja, fala-se por ai que essa capacidade seria a tal Inteligência emocional, pode ser.
Mas a sabedoria não é algo, a meu ver, focada para um determinado fim direto e imediato.
Uma coisa que fica num tapume, mas lá dentro rola de tudo.
Sou isso, mas escondo aquilo.
Uma pessoa sábia, a meu ver, é aquela que consegue se olhar de fora.
Percebe que existe um “Eu” dentro de nós condicionado, que reage rapidamente a qualquer impulso externo.
Essa capacidade que vai sendo desenvolvida – como uma atividade diária – de perceber que nós somos algo maior, conectado com o mundo (pessoas e não pessoas) e que essa relação com essa grande rede é maior do que meus desejos imediatos, que se evaporam na primeira batida em algum poste da vida.
Eu não sou o meu ego….e posso olhá-lo de fora, como um filme. E até rir dele.
Há, aliás, uma tradição oriental bem consolidada de que não devemos nos enganar que somos nossos egos.
Até tem uma cena interessante sobre isso com o Brad Pitt, no filme “Sete Anos do Tibet“, quando a moça pela qual ele se apaixona escolhe o amigo menos glamuroso. Ele pergunta o motivo e ela responde algo assim:
“Aqui, valorizamos quem administra (ou não se ilude) com seu próprio ego”.
A sabedoria passa por essa relação harmônica com essa rede maior, da qual somos um mínimo pedaço.
Notem que nossa tendência é viver no passado e no futuro e tratar o mundo como se fosse uma ponte para atingir nossos nobres propósitos individuais, passando pelo presente como um trator.
De fato, só existe o presente, o resto é fantasia, estou certo?
O mundo, assim, saca e reage a isso, isolando-o da interação, algo cada vez mais importante e fundamental num ambiente em que a colaboração cresce de importância.
Num processo de coisificação de si mesmo e dos outros.
Como é uma cultura disseminada e estimulada, estamos todos isolados, vivendo nesse mundo de espelhos.
Arnold Toynbee, historiador, depois de muito estudar o humano, considerou que a única forma de mudança no planeta seria algo mais holístico e espiritual, depoimente no livro “A sociedade do futuro“
Para não cairmos no papo de insenso e achar que o Nepô vai para um mosteiro semana que vem, considero que a procura de viver o presente, se relacionar com as pessoas e uma preocupação com a rede maior, tem deixado há tempos de ser um papo de ONG e alternativo.
E a rede digital trará algumas contribuições interessantes nesse aspecto:
- – a hipocrisia é rapidamente detectada hoje em dia em pessoas e empresas em função da multiplicação das fontes;
- – o planeta está se repensando enquanto planeta;
- – mais e mais consumidores farão opções ecológicas, no qual outros fatores serão levados em conta;
- – e mais e mais teremos poder de denúncia, divulgação e mobilização.
Essa sabedoria genuína – e não a esperteza simulada – passa basicamente pelas mudança das pessoas dentro e fora das organizações.
Nisso, o mundo colaborativo pode ajudar a discutir e ajudar nesse processo.
(Note bem, ajudar, mas não conduzir!)
Paro por aqui e volto ao tema depois que meu incenso já queimou todo ;).
Quem quiser ir adiante, sugiro a leitura do livro do Eckart Tolle, que ajuda bastante na melhor harmonia dessa relação homem-ego.
Me diga…
“Perdem a calma com facilidade, vivem de mau com o mundo e consigo mesmo por mais inteligentes que sejam.”
Parece que foi escrito para mim isso, haha…
Esse lance de auto-conhecimento é bastante explorado pela Gnosis – super-interessante, diga-se de passagem.
André,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnose
Vi lá no Wikipedia.
Valeu a visita,
abraços
Nepô.
[…] A estratégia envolve muito mais e até conhecimento e, por que não, sabedoria. […]
[…] podem ser aticulados entre si. Quando falo em sabedoria, posso linkar com minhas idéias sobre o tema, sem precisar […]
[…] seria a sabedoria a procura da serenidade para enfrentar momentos fáceis e difíceis da […]
[…] Saber seu papel no mundo e sua capacidade de interferir na mudança, é algo que exige a tal gestão da sabedoria. […]
[…] relação de poder agora é diferente e deve ser incorporada de forma sábia e não […]
[…] Tecnologia e explosão informacional precisam de sabedoria. […]
Eu não tinha lido esse post! Está incrível.
Para mim conhecimento é apenas um degrau para a sabedoria.
Parabéns!
Lucia, dei uma atualizada e uma revisada, valeu a lembrança!
Este post marca um momento importante.