Ainda sobre o bate-bola que aconteceu na troca com as pessoas que foram na palestra da Amchamao discutirmos o que muda e o que não muda na Web.
Toda mudança tecnológica, começa com uma inovação técnica, mas vira cultura, ao ficar invisível.
As vans são um bom exemplo.
Substituíram as desconfortáveis Kombis, que chegaram a tentar sem sucesso algo parecido.
As Vans se espalharam na cidade e criaram a cultura alternativa ao transporte de massa.
Acharam seu lugar nas brechas deixadas pelos cartéis dos ônibus, principalmente aqui no Rio de Janeiro.
Hoje, se pega Van.
(Não se pensa na Van enquanto tecnologia.)
É Van para cá e para lá, ponto!
Até tem Kombi que se chama de Van, mas a idéia toda gira em torno dos novos carros mais confortáveis e com preços acessíveis para seus proprietários, que permitiram essa explosão de novas linhas nas cidades.
Assim, é um engano achar, como sempre pensamos, que a Internet e tudo que vem com ela é algo “tecnológico”.
É, mas apenas no início.
É isso durante um tempo, mas depois vai chegando, nos enredando, nos envolvendo….
O celular, vejam bem, é uma aparelho tecnológico, certo?
Hoje, ele faz parte de nossas vidas, como os carros, o avião e a batedeira de bolo.
(E olha que o celular só tem 15 anos de estrada!!!!!)
Foi incorporado.
É uma tecnologia absorvida, que se torna, aos poucos, invisível, como se fizesse parte do nosso corpo.
Para uma criança de dez anos a Internet é algo igual a televisão, ou o rádio, ou o celular.
Faz parte da vida de forma invisível.
Apenas, já é.
(Escrevi um artigo há algum tempo sobre essa invisibilidade.)
Desse ponto de vista, podemos pensar que existe um tempo de cada grupo, pessoa, social, do momento em que determinada tecnologia aparece totalmente visível e “incomodante”, com a qual criamos atrito e resistimos, até o momento que vai se incorporando, ficando invisível para o conjunto da sociedade e para nós mesmos.
Esse tempo entre um estágio e outro é o que podemos chamar de absorção tecnológica, adaptação ao novo, aculturamento de um novo ambiente, como foi com a chegada do telefone, do carro, das motos, do trem, do navio a vapor.
Quando a tecnologia nova passa para a invisibilidade, nos enreda de tal forma que passamos a ter uma nova cultura, que surge em torno do que era antes “apenas tecnologia”, que passa a ter seu uso pleno e variado, conforme cada pessoa, grupo, país, empresa, etc….
Essa passagem da visibilidade para a invisibilidade para novas camadas ou plataformas tecnológicas bem absorvidas moldam a sociedade, a partir da nova realidade, alterando para sempre a maneira de nos posicionarmos no mundo.
É dessa invisibilidade inevitável que a Escola, o Governo, as Empresas, toda a sociedade mudará, com um sapo numa panela que sente a água esquentar lentamente, até virar outra coisa, a tal Humanidade 2.0, pós chegada da Internet, dentro de um novo ambiente do conhecimento.
Dito isso, é preciso, então, compreender que a Web é uma tecnologia diferente de uma Van, por exemplo, ou mesmo de um celular.
Há tecnologias que impactam mais ou menos na sociedade.
Se olharmos a história, o livro teve um papel mais amplo nas mudanças sociais, do que o barco a vapor, por exemplo, ou o telescópio, que tiveram também sua importância relativa.
Por quê?
A Web, a fala, a escrita e o livro foram núcleos pelos quais giraram os ambientes de conhecimento da sociedade.
Quando estes núcleos (de tecnologias de informação e comunicação) sofrem mudança a sociedade toda se modifica profundamente ao longo do tempo, pois passamos a produzir informação de uma nova forma e mudamos o jeito de nos relacionarmos entre nós e com o conhecimento.
O parlamento , por exemplo, criado na Revolução Francesa que deu origem a toda a democracia moderna, só foi possível por causa do surgimento do livro e depois dos jornais.
Não era viável na Idade Média com uma população analfabeta, que aprendia apenas pelo ouvido e acreditava que a Biblia em Latim era a expressão de Deus e nela estava escrito que o Rei era o escolhido por Ele para governar na terra, como Jesus.
O livro ajudou na criação da guilhotina, expressão mais violenta para acabar com esse conceito da divindade real.
Certamente, com a participação efetiva dos cidadãos, via Web, nos parece sem propósito manter a democracia representativa igual a que é hoje, ela vai se alterar, quer os parlamentares queiram ou não queiram.
Foi assim, será assim. É uma questão de tempo.
Se não compreendermos esse processo de mudanças tecnológicas que viram cultura. E a dimensão que a Web tem e terá em nossas vidas, dificilmente podemos pensar em estratégias para o futuro.
Não são assim, isoladamente nem os informáticos, nem os comunicólogos, os administradores, os educadores, nem o designers que vão dar conta da adaptação das instituições para esse novo ambiente que agora ganha força.
São todos eles, juntos!
É um momento único e especial: da passagem da produção do conhecimento vertical para a horizontal e da produção individual e escondida para a da coletiva e colaborativa.
É um esforço grande, que precisa de uma larga visão de para onde realmente a banda está tocando.
Quem perceber a dimensão sai na frente.
Ou como disse um estudioso da chegada do livro:
“Quem sabia ler ficou com as melhores terras”.
Assim, quem souber se adaptar mais rapidamente ao novo ambiente, como o Google já fez, terá as ações mais valorizadas na bolsa.
É isso.
Que dizes?
[…] Comentários do Nepomuceno (um dos palestrantes). […]
Pouco ou nada me ocorre para acrescentar.
Temos idéias bem parecidas a respeito e, enquanto lia seu post, fiquei pensando em como explicar tudo isso para quem ainda está sendo apresentado à Internet, ou pior, para quem acha que já entendeu que “a Internet é um folder ou um catálogo de produtos”.
Sempre me deparo com essa dificuldade e normalmente opto por causar uma ruptura dizendo que a Internet é parte de um passo evolutivo e que a forma do nosso cérebro funcionar está mudando junto com ela, que veremos modificações nas ligações sinápticas como já vimos quando surgiu a fala.
Outras vezes opto por uma abordagem mais suave mostrando apenas que a Internet é fruto de uma necessidade de inverter a estrutura de comunicação humana de “poucos para muitos” para de “muitos para muitos” e mostrar como isso também muda a nossa necessidade de aprender a selecionar informações e trocar a atenção concentrada para uma atenção múltipla que no entanto não é dispersa.
Roney,
pois é…mas nossa missão é essa mesmo…ajudar a quem está vindo….e afinar o discurso.
valeu o comentário,
Nepô.
Pegando carona no comentário do Roney, também tenho uma enorme dificuldade em explicar tudo isso para quem está sendo apresentado à internet, mas com um agravante: são pessoas que não fazem a mínima questão de entender. Simplesmente colocaram na cabeça que computador é apenas o novo vídeo game, que vicia os usuários, e que internet é o reduto dos males da humanidade. Não sei mais o que fazer para mostrar que existe um novo mundo surgindo e que eu faço parte dele. Mais: eu QUERO fazer parte dele. No entanto, ouço críticas do tipo “você agora vive no Twitter, você vive no computador”. Não entendem que nestes ambientes, supostamente de diversão, há muito a se aprender, a se trocar, a se compartilhar. Enfim, #prontodesabafei!!!
Patrícia,
eu fui num lançamento de livro na sexta que um amigo tinha todos os pré e pós conceitos juntos contra a Web. O que o Luli Radfahre na palestra dele chamou de visão absoluta de ambos os lados.
Link para a palestra: http://cnepomuceno.wordpress.com/2008/11/28/a-performance-epica-que-fechou-o-projeto-descolagem-em-2008/
O pessoal da tecnologia achando que tem a luz e os outros jogando sombra..;) e Ninguém com a razão…
Acredito que nós que estamos na frente, digamos com mais facilidade de uso, experimentando primeiro, temos que assumir uma missão….que é a de passar para os outros o que tiramos de bom desse novo ambiente.
É bom evitar você vem comigo, ou estará perdido para sempre…;)
Eu não como carne vermelha há anos, não tenho mais tomado açúcar e adoro mexer com coisas novas na rede.
Quando falo sobre estas coisas apenas comento como é bom e como me faz bem, não tento convencer ninguém de adotar as mesmas práticas….
Cada um é cada um….
Há que se ter uma certa paciência e perseverança, fazendo dessa ajuda aos demais, se possível, até uma forma de sobreviver….
É isso, valeu o comentário.
Nepô.
Acho que você deu uma dica de ouro Nepô: “Apenas comento como é bom e me faz bem, não tento convencer ninguém de adotar as mesmas práticas”
Fui uma criança hiperativa e sou um adulto über-hiperativo (hehehe) e tenho a tendência de descambar para o outro lado.
Roney,
eu também, por isso me esforço tanto para sair da posição de quem convence para quem expõe de forma clara o que pensa….o outro que caminhe como quiser….
valeu,
abraços
Nepô.
[…] As tecnologias de informação e comunicação mudam e atraem o mundo para sua lógica. Vide o papo do sapo no post anterior; […]
Grande, Nepo.
Há historicidade na tecnologia, e o endeusamento ou vilanização das ferramentas culturais embotam o olhar para os usos que é possível fazer delas. Bom começar o dia lendo gente que acha que há coisas mais sábias a fazer, nesse mundo difícil, do que isolar as crianças no universo de completa fantasia. A noite de ontem foi um desalento, acho um erro a TV se aproveitar de “polêmicas” para dar tanto espaço para uma figura tão inconsistente quanto o Setzer.
abço,
Lilian
Lilian,
a discussão do Luli na palestra da Descolagem #3
foi um bom alento para essa discussão, sugiro sua leitura:
http://www.luli.com.br/2008/11/29/descolagem-a-escola-do-seculo-xxi/
abraços,
Nepomuceno.
Este artigo foi publicado também em:
Imasters:
http://imasters.uol.com.br/artigo/11017/tecnologia/o_sapo_na_panela_invisivel/
E na Webinsider:
http://webinsider.uol.com.br/index.php/2008/12/13/o-que-muda-e-o-que-nao-muda-com-a-web/
[…] (Mais sobre a ideia.) […]
[…] mundo, o que exige uma nova Ciência, mas temos pistas de que esse processo é preponderante, como demorava muito tempo para mudar, acabamos não desenvolvendo melhor esse […]
[…] sapos em uma panela quente, não achávamos que isso também […]