Um caso exemplar, que tenho abordado no blog, em função das aulas que ministro no MBKM, é a metodologia Gestão de Conhecimento, que está com problemas teóricos.
Versão 1.0 – 07 de maio de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.
Qual é o papel de um teórico social?
A meu ver, ajudar a sociedade a compreender os fenômenos sociais para que ela possa tomar decisões mais embasadas, portanto, consistentes, eficazes.
Diante disso, é preciso, como toda boa teoria, analisar os elementos que estão se alterando no meio, analisar seu histórico, comparar com outros momentos, conceituar e reconceiturar.
Uma teoria constrói um cenário, delineia necessidades de ação e abre uma picada para as metodologias poderem atuar.
Uma boa teoria, portanto, é mais eficaz quando consegue identificar, separar e graduar os elementos mutantes e destacar o mais “alterador”, aquele que tem o poder de, entre outros, exercer uma maior influência.
Uma boa teoria parte, assim, desse elemento principal e vai incorporando os demais, para se fazer uma contextualização de diferentes forças e depois é possível colocá-la em diferentes contextos.
Digamos que a Dengue é provocada pelo acúmulo de sujeira, que permite o surgimento do mosquito, que morde as pessoas, que ficam doentes.
Essa é a teoria geral da dengue, sua relação de causa e efeito, colocando o acúmulo de sujeira como a força principal a ser atacada para evitar os sintomas nas pessoas.
Uma metodologia contra a dengue deve partir, então, da causa principal, para as secundárias, como melhor forma de combater o problema.
A metodologia, após a análise teórica, assim, nos ajuda a diagnosticar “é dengue”, que tipo de dengue e as ações para que se reduza o lixo, o mosquito, a doença e, ela instalada, os sintomas.
Muita gente considera discussões teóricas de maneira geral pouco práticas.
Sim, em momentos de céu de brigadeiro, de estabilidade social, acredito que as teorias vão lapidando detalhes e nos ajudando em questões incrementais, mais e mais.
Em momentos de ruptura, de céu nublado, de instabilidade, como passamos agora, acredito que as teorias são fundamentais e nos ajudando em questões de ruptura, mais e mais, pois devem “caçar” os fatores que mais se alteram para, só então, pensar nas metologias de ajuste.
São as teorias que definem os elementos que muda na sociedade e as ações que podemos ter para que essas mudem.
A principal filha da teoria é a metodologia, que vem nos ajudar a agir, a partir de um cenário mais sólido, para dirimir uma nova força que se mostra relevante e que, para ela, é preciso ter uma ação específica.
Um caso exemplar, que tenho abordado no blog, em função das aulas que ministro no MBKM, é a metodologia Gestão de Conhecimento, que está com problemas teóricos, discuti mais sobre isso aqui.
De onde ela vem?
Principalmente, de economistas que perceberam uma migração das organizações e de seus colaboradores para um trabalho diferente, menos braçal e mais intelectual.
Criou-se a ideia que estávamos saindo de uma sociedade industrial para uma do conhecimento.
Essa é a análise teórica.
A metodologia, portanto, entra para fazer o ajuste.
As organizações, a partir dessa visão, precisa fazer o ajustes, o alinhamento, a passagem da tal sociedade industrial para a do conhecimento.
Muito se fez e se ajudou, pois a gestão do conhecimento humanizou muitas organizações e destacou a importância das pessoas sobre processos e sobre uma fria visão da gestão da informação.
Porém, a teoria da sociedade de conhecimento caducou com a chegada da Internet.
(Note bem, se a tecnologia caduca, a metodologia vem a reboque.)
A rede digital trouxe para o mundo um impasse teórico.
A Internet, como a tsunami japonesa nas usinas nucleares, nos trouxe um novo desafio paradigmático, que Pierre Lévy conseguiu definir bem.
As tecnologias cognitivas alteram o rumo da civilização de uma forma que não percebíamos. Qualquer análise sobre o futuro da sociedade sem essa incorporação me parece que nos levará a uma visão pouco eficiente.
Ou seja, um ambiente cognitivo, que tínhamos como algo estável e não mutante, resolveu se alterar. A maneira que consumimos conhecimento, nos informamos, trabalhamos, produzimos, nos relacionamos se alterou!
E, é óbvio, que nos perguntemos:
- Se alterou por que?
- Isso é novo?
- Nunca aconteceu?
- Se aconteceu, quais foram as consequências?
- E que metodologia precisa ser criada para que o alinhamento com essa “nova sociedade das redes sociais” seja feito?
Essas questões me parecem fundamentais para que possamos criar um cenário mais compatível e, a partir dele, uma metodologia que, de fato, ajude as organizações a se alinharem com esse novo fenômeno.
Rapidamente, podemos dizer que a Revolução Cognitiva em curso se altera por uma série de fatores, sendo o aumento da população o principal deles, não é novo, ocorre ciclicamente, mas é algo incomum, já ocorreu em 1450, com a chegada da prensa, quando o preço de circulação de ideias foi derrubado, as consequências foram uma revisão completa da sociedade, mas não tivemos metodologias, na época, para ajudar as organizações.
Pegando o desenho feito em sala de aula:, do meu quadro teórico de causa e efeito na sociedade, incorporando mudanças cognitivas.
No qual, o aumento da população nos leva à crises de produção, de inovação, nos ambientes de conhecimento e informação e, por fim, em uma crise de gestão.
O nosso desafio teórico, diante desse novo quadro, é gigantesco:
- Precisamos admitir, humildemente, nossa impotência para lidar com o fenômeno;
- Temos que rever, uma a uma, todas as teorias sobre a sociedade para depois reaplicá-la a esse novo fenômeno;
- Depois, precisamos estudar como podemos ajudar a se alinhar a esse novo mundo, através de novas metodologias compatíveis.
Não é pouca coisa, mas só se começa se tivermos clareza do caminho.
E dermos um primeiro passo.
Que dizes?
Nepo, se os desafios teóricos são gigantescos… eu fico imaginando os desafios práticos desse novo impacto cognitivo!!!
Estão vindo, Bruno, estão vindo…
[…] (Falei mais sobre isso aqui.) […]