Para não bater na mesma tecla, resolvi trocar de piano…:)
Minha prima, sempre atenta, me enviou o link para o artigo “Six ways to make Web 2.0 work“, um estudo recente da McKinsey Quarterly sobre as dificuldades iniciais das empresas, principalmente americanas, em implantar a Web 2.0.
A adoção de projetos nessa área será muito complicada se não tivermos a noção exata de onde estamos nos metendo.
O estudo, aliás, destaca isso ao afirmar que um dos principais problemas dos administradores é saber, afinal, o que é essa atual mudança, veja o trecho:
Many of the dissenters cite (1) impediments such as organizational structure, (2) the inability of managers to understand the new levers of change, and a (3) lack of understanding about how value is created using Web 2.0 tools.
Podemos pedir um apoio nessa discussão para um antigo, badalado e que-não-deve ser-esquecido livro que lança o termo “Ecologia da Informação”, de Thomas Davenport.
( O livro está esgotado, achei antes do Carnaval um na Estante Virtual, era o último.) ;(
O autor – cansado dos fracassos na implantação de gerenciamento da informação nas empresas com visão puramente tecnológico – defende que é preciso ter uma visão holística (daí o termo ecologia da informação) para lidar com o problema, na qual o ser humano é fundamental para que o ambiente informacional sirva aos propósitos de cada organização.
Tenho defendido aqui neste blog – quase um mantra – de que o ser humano, adotando o linguajar de Davenport – vive diferentes ambientes ecológicos informacionais hegemônicos na sociedade, que se modificam com o tempo, a partir da entrada de novas tecnologias radicais de Informação e Comunicação que os leva, de tempos em tempos, para uma nova ecologia da informação e do conhecimento.
(Ver meu estudo no doutorado no departamento de Ciência da Informação da UFF/IBICT, com apoio do CNPq.)
Estas mudanças são influenciadas pelo aumento da população e pela necessidade de criarmos ambiente cada vez mais eficientes para atender às demandas dos novos e cada vez mais numerosos habitantes.
Essa nova ecologia modifica a maneira que recebemos a informação, se massifica, se torna hegemônica e, a partir desse ponto, altera a nossa maneira de pensar.
A partir daí, cria uma nova cultura, nos faz adotar novos valores, em função das novas interações de ideias que permite, reconstruir todo o ambiente social, como vemos na figura abaixo:
Ou seja, não temos ainda estudos suficientes de como os novos ambientes informacionais modificaram o mundo, o que exige uma nova Ciência, mas temos pistas de que esse processo sempre foi preponderante, mas como demorava muito tempo para mudar, acabamos não percebendo ou não dando a importância devida ao seu fluxo.
Agora, com a velocidade das mudanças nesses ambientes informacionais (Web 1.0, 2,0, etc), esse tipo de pesquisa, se tornou estratégica para pessoas, organizações e países.
Fica muito difícil percebermos a amplitude dessa mudança atual, com a chegada da rede, pois temos que procurar no passado remoto mudanças ecológicas no ambiente informacional similares, como a introdução da escrita, do livro, dos meios de comunicação de massa e do computador.
No artigo da McKinsey argumenta-se sobre a última onda (” the latest wave in corporate technology adoptions”) e se compara a chegada da Web 2.0 como ERP e CRM:
Some historical perspective is useful. Web 2.0, the latest wave in corporate technology adoptions, could have a more far-reaching organizational impact than technologies adopted in the 1990s—such as enterprise resource planning (ERP), customer relationship management (CRM), and supply chain management (Exhibit 1). The latest Web tools have a strong bottom-up element and engage a broad base of workers. They also demand a mind-set different from that of earlier IT programs, which were instituted primarily by edicts from senior managers.
A possibilidade de comparação, entretanto, é outra.
Teremos que analisar as empresas que começaram a alfabetizar seus funcionários, ou a introduzir computadores no seu ambiente.
Adotaram os novos ambientes ecológicos disponíveis para continuar competitivos.
Quem sabia ler, ficou com as melhores terras!
Essa dificuldade dos administradores de compreenderem o novo ambiente e mesmo saber que resultados poderão obter no futuro é um desafio teórico, antes de tudo.
A compreensão do fenômeno Web e agora com a sua plenitude das redes sociais e da interação, marca uma passagem do ser humano por dois ambientes ecológicos distintos e cria uma ruptura da maneira como vemos a sociedade, a forma de gerenciar empresas e do próprio capitalismo, que tenderá a algo completamente colaborativo – difícil de compreensão nos dias de hoje. (falarei disso em outro post).
Não é exagero dizer isso, pois antes do livro tínhamos uma dupla de atacantes que era a Igreja e os reis, que perderam lugar para a nova burguesia, que, a partir da possibilidade de um novo suporte, muito mais eficiente para disseminar idéias, colocou o antigo regime na guilhotina.
Criou a idéia do parlamento, da república e do modelo que temos atualmente de sociedade.
O novo ambiente informacional baseado na rede e no compartilhamento introduz uma mudança ainda mais profunda do que a do livro. E terá a longo prazo mudanças ainda mais radicais na sociedade, que ainda está engolfada no ambiente ecológico do livro (papel) e dos meios de comunicação de massa (grande mídia).
Pela primeira vez, temos, por exemplo, a possibilidade de troca a longa distância, da capacidade de armazenamento imediato das idéias, enriquecidas por vários usuários, recuperados por ferramentas de busca, um ambiente ecológico que migra de um modelo interativo do um-para-muito para muitos-para-muitos.
O ambiente informacional – a ecologia da difusão do pensamento – influencia e é influenciado pela sociedade, mas quando se estabelece, não permite – como a história prova – volta para trás, arrastando toda a ecologia social a seu reboque, não pelo suporte, mas pela sua capacidade de tornar possível o antes impossível (vide Linux, Napster, Skype, Amazon, etc…).
Perde o sentido, então, se falar sobre retornos com essa nova implantação, pois sob esse ponto de vista, a introdução do novo ecosistema é vital para se manter nos negócios!!!
Qual o valor de não morrer???!!
O que temos diante de nós, ao pensarmos em projetos 2.0, não é implantar uma nova tecnologia dentro de uma determinada empresa ou organização, mas a reinvenção da sociedade, passando pela mudança das empresas e das organizações, a partir de uma nova tecnologia e toda a cultura que ela impulsiona.
É a introdução de um novo capitalismo!
Ou seja, não é uma tecnologia que vai entrar pela porta do fundo, será adaptada e absorvida, como outras tantas.
É uma faísca que liberará diversos galões de gasolina hoje armazenados na sociedade, prontos para queimar, mas o livro, a mídia de massa e o computador ainda não haviam permitido, em função da articulação entre os cidadãos que permitiam.
Agora, essa articulação é ampla, geral e restrita.
E, principalmente, muito mais barata!
Não é fácil, portanto, analisar e encarar esse movimento de forma mais ampla, pois nossa cabeça tende a pensar pequeno para não nos perdermos, influenciados que estamos pela ecologia informacional em declínio.
É um processo natural e humano.
Mas temos que ver as coisas do tamanho que são.
É mais fácil pensar em todo o processo de forma menos abrangente, mas, infelizmente, se não soubermos exatamente o tamanho da onda, ficaremos na praia tentando aplicar modelos de resultados que serão varridos pela água.
Quando há uma nova ecologia informacional – a história tem demonstrado – não há solução: ou adotamos rapidamente a sua nova lógica, ou ficamos para trás.
Assim, ao se implantar projetos 2.0 é querer transformar (para valer) a estrutura organizacional, tornando-a compatível com a nova ecologia de conhecimento emergente, que está cada vez mais dinâmica e adaptada ao mundo de 7 bilhões de passageiros.
É vida ou morte!
[…] (Este artigo é uma continuação das reflexões que começaram com este: A Web 2.0 é um salto entre duas ecologias da informação!) […]
Ola
Achei muito bom o texto, eu dou aula e tento sempre fazer essa ponte do Davenport para a Web 2.0, 3.0…. Excelente.
Alexandre
Alexandre,
grato pela visita, fale mais sobre as aulas e as suas pontes, fiquei curioso..
abraços,
Nepomuceno
PS – Lévy também fala de ecologia cognitiva.