“Não adianta tentar empurrar o gênio de volta para dentro da garrafa, por que infelizmente ele está fora e não há como voltar atrás” – Alan Moore;
A revista HSM, 85, nas bancas, traz na capa “A Conectividade mudou a Gestão (Mesmo!) – Você está preparado?”.
É um passo importante para a HSM e para as empresas no Brasil.
A HSM é a principal revista brasileira de negócios e aponta um caminho relevante para o futuro das organizações, mostrando-se antenada (como já vem fazendo há algum tempo) e problematizando as questões que deveriam ser relevantes para os executivos brasileiros.
Começa a ficar menos turvo – para cada vez mais gente – que o mundo digital não é baseado somente e apenas em tecnologia e nem é mudança necessária no departamento de comunicação, através de marketing digital, colocando operadores de Twitter ou de Facebook para “entrar” nas redes sociais, como se elas fossem uma praia.
Continua-se, assim, com o mesmo processo vertical da comunicação corporativa passada e fingi-se que nada ocorre no mundo a sua volta.
Porém, como tem cada vez mais gente apontando é algo que vai mudar a gestão, assim como o fez ambiente informacional criado pelo livro impresso, que propiciou a cama na qual o capitalismo acabou por se deitar.
As organizações, fundadas há 150 anos, nunca viveram uma mudança tão radical.
O interessante ao ler a revista é que de artigo para artigo se nota pensadores/profissionais da gestão que alguns estão conscientes do processo de mudança e o problematizando e outros passam ao largo como se não houvesse nenhuma alteração no horizonte.
É algo menor a ser avaliado.
E isso – somado a vários outros – vai criando um clima de grande incerteza de quem precisa pensar o futuro.
Assim, poderia dividir os depoimentos na revista e na atual sociedade entre os que “estão percebendo ou parando para pensar nessa mudança” e aqueles que “não estão a pensar” sobre o tamanho da ruptura que se apresenta.
Quem não está, continua a falar de gestão como se fosse uma linha contínua, sem alteração e cegos para aquela cachoeira do filme Piratas do Caribe, que aponta o final de um mundo, caindo em outro.
Entre a turma dos que percebem a mudança, o ponto alto da revista – até onde li até aqui a HSM 85, pois ainda não acabei – é a entrevista de Alan Moore, feita pela Patrícia Timoner.
Veja aqui: artigo de Alan Moore (@ Alansmlxl) da HSM 85 em PDF: http://bit.ly/e1IsuG
Moore que é inglês, (o que reforça um pouco minha teoria aleatória de que os não-americanos conseguem sair do pragmátismo e ver mais longe), defende que estamos saindo da sociedade em linha reta para uma outra não linear. que ele batizou (todo mundo gosta de chamar a seu jeito) de NSL = “no straight line“, batizando o artigo: “A sociedade e a economia NSL”.
De maneira geral, Moore reforça as macrotendências, que diversos estrategistas de gestão 2.0 têm apontado para o futuro das organizações:
- Mais horizontais;
- Em rede, envolvendo cada vez mais os usuários na produção.
Porém, o diferencial de Moore, como tenho me esgoelado aqui no blog, é de defender que a atual ruptura é principalmente uma mudança de poder.
Moore, tem essa clarividência e toca na questão principal da atual ruptura. Ele nos diz:
“Está se fazendo uma cortina de fumaça para esconder o verdadeiro incômodo, o poder está mudando de dono e saindo das mãos dos que muitos descrevem como cidadãos Kane contemporâneos” (…) O magnata da mídia Rupert Murdoch é um dos que compartilham esse nervosismo, irritação e fúria, por exemplo, é a perda de controle que elas têm da sociedade conectada que emerge das tecnologias digitais. Essa conectividade está minando o poder de Murdoch e outros e, assim, lhes é frustrante.
Moore defende que estamos passando do paradigma linear dominante baseado em uma progressão, razoavelmente lógica, com causas e consequências, a partir de um olhar da sociedade industrial. E que a passagem é basicamente de mentalidade.
Considera que a ideia do Freeconomics (tudo de grátis) é falsa, “uma forma 1.0 de pensar”, pois o usuário quando percebe valor está disposto a pagar por ele, principalmente nas redes que se formam.
(É o que se tem visto nos projetos por aí, vide o sucesso, por exemplo, da Estante Virtual, coletivo de sebos on-line. O consumidor, como defendi aqui, quer sair de uma relação de abuso passada e introduzir uma nova relação menos vertical e mais justa.)
Moore ainda afirma que o mundo 2.0 possibilita o redesenho de todo o processo de criação de valor, como o dinheiro entra e sai da plataforma de negócios.
Resgata a ideia do Manifesto Cluetrain, de que mercados são conversações e sempre foram.
O que nos aproxima da grande novidade que Moore nos traz nessa entrevista na maneira de olhar a ruptura, que se expressa aqui:
“(…) as empresas nos últimos 150 anos nos impuseram o modelo separatista de produtores e consumidores, algo tão natural, pois somos multidimensionais”.
Ou seja, que essa divisão entre consumidores e produtores, que no feudalismo, principalmente não era tão clara, passa a existir fortemente no capitalismo.
Ele defende a tese de que é mais tradicional o consumidor participar do processo de produção, do ponto de vista histórico, do que essa separação de hoje em dia, que a rede vem devolver.
O que muda bem a maneira de pensar e se colocar o problema.
Grato Moore!
Não estamos inventando o consumidor participativo, mas, simplesmente, nos rendendo a entender que essa separação precisa, de novo,ser modificada pra uma reaproximação.
Isso é muito rico!
Cita diversas empresas modelos para se espelhar, entre elas, a Best Buy, Lego, Local Motors, Grow VC.
Lembra ainda Johathan Schwartz, CEO da Sun, que diz:
“Mil blogueiros (da SUN) internos fizeram mais pela empresa do que uma campanha publicitária de 1 bilhão de dólares”.
Afirma que as empresas tradicionais preferem possuir um departamento de marketing de cinco pessoas do que contar com 500 funcionários dedicados à atividade nas redes sociais.
Para mudar, considera que é preciso enfrentrar os investidores e que isso não será feito espontaneamente.
Por fim, acredita que o novo modelo não-linear de negócios é mais eficaz, eficiente e sustentável e que é papel das empresas ser um habilitador e simplicador da vida dos consumidores e não mais um complicador.
Coloco a entrevista de Moore na HSM 85 na minha lista do que vi de melhor até aqui em 2011.
Grato a ele e a HSM por ter reforçado pontos importantes e aberto a cabeça de muita gente – inclusive a minha – para novas ideias!
No nosso caminho cada vez maior em direção ao conhecimento líquido!
Que dizes?
“A Conectividade mudou a Gestão (Mesmo!)”, o que falta mudar é a visão das empresas, a visão sob a produção e sob a comunicação em si, para a partir daí conseguir pensar de forma realmente estratégica e eficaz.
E como no fundo tudo se trata de formas de poder, ou melhor de defesa de “poder”, acho difícil que a mudança e quebra de paradigma venha de cima para baixo – forma como normalmente vem as decisões. Acho que a mudança será provocada pela sociedade, pelo consumidor, que estão percebendo a força que tem e vão começar a exigir mudanças. Quem não mudar, vai ficar de fora.
A conexão permite um caminho de duas vias: O tradicional, do fornecedor para a empresa e dela para o consumidor; E o inverso, do consumidor para a empresa e desta para o fornecedor. Há dois fenômenos que reforçam esse caminho inverso. Primeiro, a possibilidade tecnológica de unir a produção em massa ao mercado por encomenda. Segundo, a concorrência pela atenção dos consumidores.
Como exemplos, a Chrysler está colocando todo o seu inventário de carros usados na rede. A Toyota quer que seus clientes possam pedir o carro da fábrica com as especificações que quiserem, para ser entregue duas semanas depois em uma concessionária.
O serviço de notícias brasileiro Newsminer permite que os assinantes escolham que tipos de notícias querem receber.
Algumas companhias da Internet nos EUA estão dando um PC para que o consumidor veja anúncios.
Um dos cenários possíveis para o futuro/presente/bem próximo é que consumidores participem do projeto dos produtos que querem comprar e intermediários contatem as fábricas para montar os artigos ao gosto do freguês. Resta saber se os gestores estão preparados para passar o comando de suas empresas para os consumidores… e se, de fato, as empresas estão preparados para aproveitar essas mudanças.
Julia, concordo, compartilho do mesmo.
Gabrielle, quando um elemento do sistema muda e começa a fazer a diferença, todos têm que acompanhar, vide fax..telefone, computador..
questão de tempo.
bjs as duas,
Nepô.
Concordo com a Julia, acima. A questão do poder é muito “poderosa”. As empesas se apegam a ilusão do controle e, portanto, é mais fácil “controlar” 5 pessoas do marketing do que 500 funcionários blogando pela empresa. Acontece que isso não é opcional – querendo ou não…
Se não gostam, que reclamem com o bispo! 🙂 ( remetendo a Lutero :)))
[…] estes dois posts, no qual a HSM e o Wall Street Journal apontam esse futuro e a necessidade desse serviço aqui […]
[…] feudo. Ainda prefiro a entrevista com o Alan Moore (de grátis aqui), que já foi comentada pelo Nepo, mas ainda vou escrever algo por aqui. Pra começar, duas […]