Nós não temos um problema de excesso de informação, mas de filtros – Clay Shirky – da coleção de frases;
A Ombusman da Folha, Suzana Singer, há alguns domingos, levantou os principais desafios do jornalismo atual, com a chegada da Internet.
Foram eles:
- Como diferenciar-se nesse mar de informações?
- O que fazer para atrair a atenção dos que nasceram com o computador em casa e mal sabem manusear um jornal?
- Como satisfazer leitores dispersos em nichos de interesses?
- Qual a maneira de tornar atraente o debate dos assuntos de interesse público?
- De que forma identificar os movimentos de transformação social realmente importantes?
- Como manter-se um polo de experiências inovadoras?
Se pudesse resumir a preocupação de Singer, bem antenada nas mudanças do mundo 2.0, diria que a questão central é : como filtrar com eficiência nessa nova ecologia informacional?
Temos que superar alguns bloqueios cognitivos para enxergar o problema de forma diferente, pois não é todo dia que estamos diante de uma revolução da informação:
- 1) o ser humano depende da informação/comunicação para viver;
- 2) precisa ter contato com os fatos que ocorrem na realidade para tomar decisões das mais triviais às mais estratégicas;
- 3) pessoas e organizações filtram o mundo para nós (sempre foi assim) selecionamos, por intuição/racionalmente, as que fazem isso melhor;
- 4) ou seja, “manter informado”, na verdade, não é gerar conteúdo, mas filtrar o que aconteceu, transformando fatos em informação, via comunicação.
Assim, a mídia, ou qualquer organização “informadora/comunicadora” deve se ver não como fornecedora de conteúdo, mas como filtradora deste.
E o grande salto de percepção que podemos ter nesse momento, a saber:
- Os filtros são condicionados pelo ambiente tecnológico informacional/comunicacional da vez;
- Não existem sempre do mesmo jeito, mas mudam, conforme as tecnologias de informação e comunicação mudam também.
Estamos saindo do ambiente do papel/eletrônico para o digital em rede.
Diferenças?
Principalmente, que há uma descentralização de quem filtra.
Ou seja, a lógica de que todos precisamos de filtro continua, não mudará nunca, pois é constituinte da espécie, assim como, respirar, comer, dormir, etc…
Não se iludam nesse aspecto.
O que muda basicamente é o “quem” e o “como“.
O quem:
Novas organizações/pessoas passaram a filtrar o mundo que era filtrado basicamente pela Indústria do filtro anterior, a saber:
-
- – Ferramentas de busca (Google, etc);
- – Comunidades on-line, usuário ajudando usuário a filtrar (Twitter, Facebook, etc);
- – Blogs.
O como:
Os filtros eram feitos por pessoas (jornalistas, geradores de conteúdo, médicos, bibilotecários, profissionais de informação, do conhecimento) que detinham a “chave” do cofre para os quais tínhamos que passar por eles.
Tal filtragem – que funcionou bem com determinado tamanho de população – se mostra ineficaz quando aumentamos vertiginosamente as pessoas no mundo (de 1 em 1800 para 7 bilhões em 2010).
A Internet vem ao mundo, assim, para resolver basicamente o problema dos filtros, criando algo mais compatível para 7 bilhões de consumidores de informação.
E aí apelamos para amigos, pessoas mais próximas, desconhecidos, todos em rede, novos filtradores e principalmente robôs digitais.
Sai o ser humano individual, filtrando sozinho ou com os vizinhos, regionalmente, para o coletivo em rede digital.
Sai o critério manual para o digital em rede, via robôs.
Mas se mantém a mesma necessidade de filtragem de qualidade.
E aí está o novo nó: como filtrar com qualidade no novo ambiente digital em rede, pós-revolução informacional?
E aí temos que desenvolver técnicas, tecnologias, metodologias e pessoas (tanto teóricas para pensar o novo problema – meu caso e de tantos outros, como profissionais que consigam operar os novos filtros.)
A mesma Suzana publicou neste domingo falando sobre uma fonte, que levou o jornal a dar uma “barriga”(informação que se mostrou falsa mais adiante):
Diz ela:
O “Manual de Redação” diz que a fonte mais fidedigna deve “ter um histórico de confiabilidade com o repórter, falar com conhecimento de causa, estar muito próxima do fato que relata e não ter interesse imediato na divulgação”.
Veja que os robôs procuram exatamente identificar entre as pessoas que colabora em um site:
- – fonte mais fidedigna – o histórico de participações daquele login em dado site, no qual o usuário colabora;
- – deve “ter um histórico de confiabilidade com o repórter – idem, apenas trocando repórter por robô;
- – falar com conhecimento de causa – isso pode ser aferido por quem o segue, o perfil que ele tem, se é especialista em determinada área, também, através de dados dos robôs.
- – estar muito próxima do fato que relata e não ter interesse imediato na divulgação – idem, idem.
Notemos que, como diz Shirky lá em cima, nosso problema hoje não é de muita informação, mas de filtro.
E antes disso é que temos que rever como víamos o papel de quem filtrava.
Temos que:
- – nos conscientizar da revolução da informação em curso;
- – mudar a maneira como filtramos;
- – aceitar os novos filtradores;
- – e aperfeiçoar mais e mais os filtros, via robô, comunidades e rever o papel do filtrador profissional manual, que passa a ser o artesanal de hoje em dia, fundamental, mas com outra função.
O filtrador manual, o antigo jornalista, por exemplo, deixa de ser o cara que filtra novidade (que está cada vez mais velha) para ser o cara que sofistica tudo aquilo que os filtros digitais não permitem.
Ele entra nas brechas com um papel fundamental.
Ele não só é o programador dos robôs para fazer isso cada vez melhor (se aliando ao pessoal de tecnologia).
Mas entra nas brechas daquilo que os filtros digitais não conseguem fazer: conseguir analisar, sintetizar e ampliar o significado de tudo que é produzido na rede digital.
Vejo assim um papel forte de:
- Jornalista de comentários – aquele que vai extrair dos comentários sobre determinado assunto tendências de opiniões;
- Analistas e sintetizadores de tendências – que vai tentar mostrar macro-tendências;
- Repórter apurador (o velho e bom fuçador) – de fatos que não estão facilmente disponíveis na rede, que a força do coletivo e dos robôs não conseguem chegar, mas o que não impede de trabalhar com elas.
O papo é longo, mas fico por aqui.
Que dizes?
Adorei este post. Eu chamava esse filtro de “edição”. Lembro uma vez, conversando sobre isso com meus filhos, eu explicava que até qdo a gente conta um caso, dependendo da pessoa, e sabendo dos seus interesses, nós enfatizamos esse ou aquele ponto. No caso profissional, jornalismo, isso fica mais claro. As histórias, as informações estão por ái, depende só do olhar e do filtro dos jornalistas e das pessoas. Credibilidade é essencial. Bjs! 🙂
Huuumm… Pelo o que entendi o novo “filtrador” não pode ser apenas mecânico, e sim possuir uma massa/ pensamento crítico diante dos fatos e informações recebidas para a partir daí criar novos filtros? filtros não tecnológicos?
Ana,
Edição da vida…concordo Ana, um jornalista faz isso …
Julia, filtros são filtros….alguém tem que criá-los…estamos passando de filtros humanos para robôs…e em cima do que o robô faz criamos mais inteligência…
bjs as duas, valeu visita !