As informações avançam rápido, já a comunicação, muito devagar – Dominique Wolton – da coleção;
Gosto muito do Dominique Wolton, pois ele é um dos que conseguem criticar os rumos que a rede digital vem tomando sem cair para uma tecnofobia, tem bagagem e é claro nas ideias que defende, qualidades difíceis hoje em dia.
- Sugiro ler a entrevista dele;
- Quem sabe, adquirir o novo livro;
- Ou comprar um mais antigo baratinho na Estante (tem o novo dele sendo vendidos lá também.)
Ele diz que estamos indo bem na informação e mal na comunicação.
E que o problema teórico da vez é a confusão que fazemos entre os conceitos de informação e da comunicação.
Na verdade, comunicação e informação já foram casadas e se divorciaram.
São dois movimento do ser humano inseparáveis, mas já foram bem mais agarrados do que são hoje, tendo até escolas e ciências distintas (Ciência da Comunicação e Ciência da Informação).
Quando vivíamos no mundo oral, não havia possibilidade de troca que não fosse sem contato pessoal, trocando afetos, num processo informacional/comunicacional quente, presente, no qual o contato humano era algo fundamental para que a coisa toda acontecesse, principalmente nos diálogos.
Assim, qualquer teoria que separe a informação da comunicação, precisa levar em conta que é algo tão junto, indivisível, que pode apenas ser visto separado, pois houve esse divórcio no passado.
Que é chave para a compreensão das duas.
A escrita – motivo principal do rompimento – veio por uma necessidade humana de complexidade.
Precisávamos lidar com cada vez mais gente, havia uma necessidade de informação e comunicação, que não podia mais ficar presa ao tempo e lugar.
Globalizávamo-nos.
(Brinco que a globalização começou com Adão.)
Aumento demográfico exige uma produção de bens e serviços mais dinâmico, uma sociedade mais complexa e, por sua vez, uma sofisticação no processo de comunicação e informação, separando os dois processos para se ganhar velocidade no tempo e no espaço.
E criamos os documentos escritos e depois magnéticos que levaram a comunicação para objetos mais sólidos e duráveis do que nossa memória permitia no mundo oral.
O documento é o filho que nasceu desse divórcio nem tão amigável.
(Todo processo informacional/comunicacional tende a desembocar em documentos, que é parte, mas não o processo de informação mais amplo e rico.)
Quanto mais crescemos, mais separados estão ficando os dois processos (e isso exige intervenção humana).
No perde e ganha, esfriamos o processo de comunicar/informar e começamos a ter uma separação que antes não existia.
A escrita, assim, repetindo, separou a comunicação/informação do tempo e do espaço.
Ganhamos em distancia e perdemos em calor.
Hoje, é possível se informar sem se relacionar pessoalmente, antes era praticamente impossível.
Defendo que uma tribo analfabeta ou sem escrita tem que estabelecer relações mais interativas, pois a informação necessária passa sempre por um processo de comunicação, de troca e de diálogo.
Hoje, nos informamos sem necessariamente nos comunicarmos.
Antes, só se tinha contato com um pensador, perto dele.
E aí está um dos ganchos para entender o que Wolton diz e defende que estamos entrando numa interação solitária, apesar de todo o aparato informacional/comunicacional.
Ou seja, hoje podemos cada vez mais nos informar sozinhos, nos virarmos sem precisar dos outros, criando ambientes frios e tolhidos de afeto.
A comunicação que originalmente era apenas de mão dupla, do diálogo, da troca, passou a ser unidirecional.
Eu te informo. E você se informa, mas não informa e troca com a sociedade, no máximo, com amigos e de quando em quando, pois a metrópole não deixa.
Eis o impasse absoluto que a radicalização do livro, com o rádio e a tevê nos levou, criando um mundo infantil da informação unilateral, não participativa.
E pior: criando um mundo cada vez menos afetivo, pois na base informacional não é preciso se comunicar, basta acessar documentos frios, com ou sem imagens ou sons.
Uma anorexia social massificada.
A Internet, teoricamente, veio para nos livrar disso.
O que é interessante no alerta de Wolton é de que o movimento informacional/comunicacional da e na Internet – fundamental para nossa sobrevivência – não vai nos levar necessariamente ou naturalmente para o caminho do resgate do calor e do afeto.
Primeiro, estamos viciados e isolados no modelo de troca informacional/comunicacional da mídia anterior.
E mantendo, por inércia, a separação ainda maior da informação (fatos/versões) da comunicação (relação).
Esse movimento de reaproximação não é tecnológico e nem será natural.
E é isso que precisa ser pensado, matutado e formulado como proposta política-afetiva-filosófica.
O resgate do afeto, através, pela, com, mas também (e muito) sem a rede digital.
Este o papel, aliás, que educadores, filósofos, pensadores têm tentado chamar a atenção, quando dizem que o computador em sala de aula, por exemplo, ou nos espaços, nas palestras, tem reforçado esse isolamento da presença e do afeto, em última instância.
Cada um com a sua tribo de bolso.
Forte on-line, fraco off-line.
E que é interessante nos encontros presenciais estarmos todos off-line para aquecer as relações e falar de afetos.
Há uma relação entre conhecimento, conhecimento dinâmico, problemas afetivos e diálogo.
O poder de uma sociedade bloqueia os afetivos/cognitivos para consolidar conhecimentos e o senso comum que lhe interessa.
Só podemos superar esses bloqueios afetivos/cognitivos com a reflexão individual e coletiva ao trocar afetos e sofrimentos para superá-los.
Uma sociedade mais humana passa necessariamente por ser mais afetiva.
Estamos sendo mais afetivos com a Internet por inércia?
Responda sinceramente olhando em torno.
E para isso é precisso reinventar espaços de diálogos honestos também off-line, nos quais se luta contra essa opressão, que faz parte de toda a sociedade.
Acreditar que a Internet – como um messias – está nos salvando é uma ilusão perigosa.
Ou seja, estamos ganhando nota 7 na participação on-line e 3 no mundo off-line.
Estamos virando monstrinhos que só conseguem ser (meio barro/meio teclado) em rede digital.
No meio desse caminho, há a questão central do afeto perdido.
Somos afetos com casca.
E a casca anda muito grossa.
Egos levando as pessoas para fazer xixi e não o contrário.
Precisamos praticar e desenvolver ambientes afetivos para conseguir um equilíbrio necessário para nossa saúde física e mental.
Talvez seja esse o principal engano que a sociedade tem vivido hoje com a Internet, principalmente as empresas ao tentar dialogar com seu público mais participativo.
Querem criar ambientes informacionais, mas o que se tem carência é de ambientes afetivos, de troca, de relação, na qual as empresas voltam a se comunicar no calor de quem quer realmente ouvir e, principalmente, mudar com ele.
E não fingir que está mudando, por causa da moda das redes sociais.
E quem está hoje em projetos de mídias sociais falando em afeto?
Será fuzilado em praça pública!
Estão entrando com a informação, com a comunicação unidirecional, pois o afeto está perdido nessa relação de opressão e não de compreensão.
(Vários autores, tais como o Peter Senge no livro Presença, tem falado sobre isso.)
Esse movimento em busca da comunicação quente e perdida é uma das questões principais colocadas como contra-ponto da implantação da Internet no planeta.
Um nó informacional/comunicacional da humanidade.
E que não começou agora, já vem desde o surgimento da escrita há 5 mil anos, mas que se agravou com a explosão do livro impresso, a partir de 1450 com Gutemberg, quando tivemos a escrita 2.0 e vem ladeira abaixo.
Temos uma janela de oportunidade com a Internet para rever isso.
Não será com mais rede digital apenas que conseguiremos essa aproximação, mas com movimentos humanistas que consigam compreender aonde está o impasse e se utilizem das mesmas tecnologias de forma adequada, criando espaços em que elas não entram de jeito nenhum.
Fazer um contraponto necessário.
Hoje, essa clareza está ainda muito turva.
E é essa sombra que a luz de Wolton tenta preencher.
Que dizes?
[…] This post was mentioned on Twitter by Marli SVasconcellos, Bibliotecno.com.br. Bibliotecno.com.br said: Quando a comunicação se divorciou da informação: Quando a comunicação se divorciou da comunicação Gosto muito do… http://bit.ly/hVXaj6 […]
Nepô,
Para mim o documento é o objeto do processo de informação e não parte deste processo. É o resultado, ou um possível resultado.
Gostei do Wolton, vou ler…
Abraços
[…] Nessa linha, já escrevi que a escrita promoveu o divórcio entre a informação e a comunicação. […]
[…] (Falei mais sobre isso aqui.) […]