O cÃrculo vicioso não chega a colocar mentiras; simplesmente coloca nada – Gustavo Bernardo – da coleção.
O filme é imperdÃvel, pois consegue ser filosófico e de massa.
Mérito, pois são  poucos criadores que conseguem ser abrangentes em termos de público e manter sua mensagem.
Lembra Matrix?
Sim, em dois aspectos, na linha dos filmes que se baseiam na ideia do mito da Caverna de Platão.
O que seria tal mito?
- Luz x sombra.
- Sonho x realidade.
- Objetividade x subjetividade.
O que afinal somos nós, os outros, as coisas?
Ver detalhes aqui sobre o Mito de Platão.
Não é o primeiro filme – e nem será o último – que aborda essa dualidade.
Matrix, entretanto, trabalha com um tipo de poder coletivo e Origem no individual, são duas faces da mesma moeda.
Matrix relata o Governo  soberano das máquinas sobre os humanos.
Da opressão para conseguir sugar a energia das nossas mentes/corpo.
Aceitamos isso, pois estamos com os  pilotos automáticos ligados, sem saber que estamos vivendo um mito: Matrix.
Algo que é código, mas vemos realidade.
O que seria Matrix, então?
Para mim, a metáfora de um estado de espÃrito humano da alienação, da falta de auto-conhecimento, sendo coisas a mercê de um poder que nos explora.
A energia sugada seria nossa subetividade nos tentáculos do consumo que nos quer um cartão de crédito.
É assim que viajei em Matrix, com variantes, que não cabe aqui aprofundar.
Origem vai na mesma linha do poder, porém mais sutil, pois prefere a opressão individual, como cada um é dominado.
(Seria um Matrix – parte II, detalhando o como.)
Os cientistas que navegam nos sonhos têm o poder de incutir ideias nas pessoas para que elas mudem suas atitudes.
Para isso, precisam ir cada vez mais fundo no nosso inconsciente até chegar em um cofre, num final de linha, no qual estaremos ligados com as coisas mais remotas (no caso a relação/frustração/emoção com o pai – podia ser a mãe também) e ali será feita a progamação da placa-mãe cognitiva-afetiva.
Marketing de nicho? 🙂
Se Matrix, precisamos tomar uma pÃlula para cair na real e lutar em grupo.
Na Origem, temos, como sugeriu Freud, de irmos fundo no nosso inconsciente para saber por que algumas reações, ideias, maneiras de pensar e ser estão impregnadas por afetos e traumas, num sonho dentro de outros sonhos, sem volta.
Pois tudo é e não é caverna.
(ou cofre, no caso.)
O que acho bacana nessa mensagem do filme (para mais gente)  é de que não há separação entre o afeto e a ideia.
Do que achamos que pensamos, para o que achamos que sentimos e vice-versa, tudo foi programado e pode, teoricamente, ser desprogramado, a partir de um esforço afetivo-cognitivo.
Não é isso que o filme sugere, mas é o que revela, descortina, denuncia.
Se é possÃvel alterar para “A” é também para “B”.
Não adiantava nada eles falarem (cognição)  com a vÃtima do golpe no sonho, precisavam que o pai – com o qual ele tinha uma relação de amor e ódio – fizesse a cabeça dele, marcando fortemente a maneira que ele pensa, falando e sentindo, por isso aparece o cata-vento, que um dos poucos elo afetivo entre eles.
Não somos muito assim?
É um bololô de sentimento e pensamentos?
Próximo do que a cientista que sofreu um derrame conclui.
Na ponta direita do cérebro intuição e afeto.
Na outra, razão e conhecimento.
Ver mais aqui. (texto) Ou aqui (video com legenda.)
Somos resultados dos nossos traumas afetivos (os que nos deram prazer e dor, ou os dois).
E de como pensamos sobre eles.
Cognição e afeto, uma dupla sertaneja. 😉
Quando queremos pensar diferente temos que rever também como sentimos e nos sentimos perante determinado assunto, conceito, fato.
- Não há mudança cognitiva sem mudança afetiva.
- Nem mudança afetiva sem mudança cognitiva.
As ideias foram sempre plantadas em nós, através de diferentes maneiras, muitas pelo castigo e punição e se armazenaram naquele cofre da Origem (de tudo).
Sair de Matrix é uma tarefa que nos força a ir até lá para saber o que não nos pertence, jogar pela janela, recolher novas ideias, novos afetos e ir entrando e saindo de Matrix, nesse eterno jogo de sombra e luz que é viver.
A diferença entre as pessoas estaria nessa capacidade de entrar e sair do sonho e conseguir ser/estar de forma diferente, não aceitando as pÃlulas que nos fizeram engolir.
Quanto mais acreditamos nelas, menos originais somos nesse mundo “matrixado” por terceiros.
Quanto mais conseguimos nos discriminar, mais, teoricamente, menos somos eles e mais somos nós.
Porém, nunca inteiramente nós ou eles, mas um mix, dependendo da condições de temperatura e vento.
Ser ou não ser seria, assim, ir lá e sair, e se ver, e voltar, e se reconstruir.
Se reconstruir, portanto, é ser.
E não se reconstruir, é não ser.
Eis a questão?
Diz você…
Cara, parabéns pelo post. Agradeço por me ajudar a transformar conhecimento em sabedoria, pois são a partir de boas reflexões com boas referências como as tuas que nos fazem pensar um pouco mais sobre o que conhecemos!
IM-PRES-SIO-NAN-TE! Imagine, ela é uma cientista e num derrame pôde perceber o que aocntece no momento do trauma cerebral. Claro que à partir desta narrativa, contextualizado pelo teu Eu Nepô, você pôde dissertar este post muito bom, muito bom mesmo. mas me ative ao fato de que ela sendo uma cientista e tendo passado pelo processo de forma a poder registrar o que aconteceu. Isso é que foi um ganho enorma à neurociência. Imagine, milhões passam por esse processo e ela, maravilhada com o que estava experimentando, passou por todo o processo e agora estamos sendo abençoados pela sua narrativa. Veja, como esse simples fato é tão profundamente importante para entendermos o que somos e o que precisamos fazer para sermos vitoriosos juntos nesta vida. IM-PRES-SIO-NAN-TE. Fico por aqui por que essa narrativa da cientista provoca milhões de possibilidades. Mas temos um problema: era preciso que cada um dos habitantes desta orbe terrestre tivesse a capacidade de entender, mas estamso a milhares de anos em atraso evolutivo para tanto. Abraços.
Rodrigo e João,
valeram comentários e visitas,
abraços,
Nepô.
É com base nessa questão cognitiva individual, experiência incividual, que o conhecimento é uma “roupa” que se emoldura em cada um de forma diferente. Em cada incivÃduo há uma ligação neuro-cognitiva diferente, pois eu, joão, técnico de informática, vejo algo de uma forma e aprendo de uma forma, e o meu amigo aqui aolado, também técnico de informática, tendo ambos passados por treinamentos de certa forma idênticos, vê a mesma coisa de outra forma e aprende de outra forma. O conhecimento é multifacetado, à partir das diversas maneiras que cada um enxerga, vê, aprende e deduz sobre tudo o que aprende e vivencia.
João, sim, acho engraçado quando cai a nossa ficha de que alguém não entendeu o que dissemos, acho mais comum, quando alguém consegue entender, pois são dois mundos, que podem ter diferentes patamares, desde idade, gênero, religião, região, etc…
Ainda vou temperar ainda mais, imagine que cada um é outro, conforme o dia, no conceito do somos/estamos.
Existe uma margem, digamos pequena ou larga, conforme a pessoa, de ser/estar todos os dias.
Você pode ver algo hoje de um jeito, amanhã completamente diferente dependendo de mil fatores em torno.
O que nos leva a relativizar tudo, que é o post que vou colocar amanhã.
É isso, valeu a presença sempre constante, para tirar a “teia de aranha” do blog 😉
Nepô
Sua reflexao me parece iluminada Mr. Nepo. Parabens. Faria apenas algumas contextualizacoes jah que se trata de uma obra de cinema.
Nao eh que o filme consegue ser filosofico e para as massas no mesmo departamento. Nitidamente eh um filme de acao – com tudo que a tecnologia atual do cinema tem a oferecer – e aih sim, com certas ambicoes conceituais e filosoficas que abordastes muito bem.
Considero tambem uma tendencia natural resgatar o Matrix mas na verdade se trata de mundos distintos, o da escravidao virtual e o das arapucas do subconsciente. Mas claro, que ambos querem fazer a pergunta fundamental: o que eh real e o que nao eh real. Matriz trabalha a relacao servo e senhor e todo bom servo deve em parte acreditar na forcca do senhor. Inception (Origem no Brasil) acrescenta aa pergunta do REAL-NAO REAL, o nosso LIVRE-ARBITRIO. O que nos leva a um outro terreno – o da observacao dos fenomenos e do principio da incerteza. Eh por isso que toda realidade pode ter camadas de entendimento e percepcao (tal qual o celuloide na tela) que deixa margens de duvida mas que por razoes de metodologia nao devem deixar margens de relativismo que no fim das contas eh uma simples imposicao de um niilismo que vai do nada a lugar nenhum.
Dito isto e voltando para a realidade do mercado cinematografico eis que o diretor se for um crente nas questoes filosoficas que aborda sabe que nao pode – tendo 2 Batmans e centenas de milhoes de dolares de bilheteria no curriculo – ter aa mao um senhor orccamento e a ironica limitacao deste orccamento quase que ilimitado. O que em bom portugues significa:
Ai caramba, nao tem jeito, tenho de fazer um filme de sucesso pra poder justificar essa dinheirama toda. Ou entao, ele poderia ter decidido fazer um filme independe nte com 5 milhoes de dolares e ser mais profundo e talvez bem chato. Portanto, concessoes existem com qualquer tipo de orccamento. O que Freud, em seu consultorio na rua Bergasse 19 em Viena tambem deve ter percebido, senao nao teria estipulado um tempo para cada sessao. Parabens mais uma vez pela pensata nobre blogueiro midiatico.
Gostei do filme, mas não gostei do final (será que vão aprofundar no 2º filme?). De qualquer maneira acho legal essas relações que fazemos com as idéias de filmes e nossa realidade, no caso desse filme o que achei legal foi a mensagem de termos de ir no fundo de nós mesmos para resolver nossos problemas.
Mas acho que dá pra fazer reflexões, tipo, talvez a internet possa ser vista como um “sonho coletivo”, a questão é quem é o arquiteto? Que idéias estão sendo plantadas? Quem está sonhando?
Não sei se a internet tem capacidade de fazer agente entrar em contato com o fundo do nosso subconciente para resolvermos neuroses ou o contrario, fugir da realidade e vivermos em matrix, será isso um paradoxo?
Mike,
gostei disso:
“(Origem no Brasil) acrescenta aa pergunta do REAL-NAO REAL, o nosso LIVRE-ARBITRIO. O que nos leva a um outro terreno – o da observacao dos fenomenos e do principio da incerteza.”
Isso é um outro campo interessante, vou pensar mais, valeu a visita ( a primeira em grande estilo.)
Leonardo, sim, pensei tb nisso na relação do filme com a Internet..sim, acho que é um paradoxo…ser ou não ser (virtual ou presencial) eis a questão…
Achei muito boa reflexão. Vi o filme e adorei. Concordo com seu pensamento de que a cognição e o afeto andam juntos.
Realmente, acho que todos vivemos no “Matrix” e temos que lutar para sair dele!
Parabéns,
Nina
Grato Nina, sim sair de Matrix e, acabar voltando, faz parte do que é viver…valeu a visita, volte sempre! Nepô.
Acho que o fime é diferente de matrix, assim como você:
“Matrix, entretanto, trabalha com um tipo de poder coletivo e Origem no individual, são duas faces da mesma moeda.”
Mas gostei bastante do filme e este é bom ver duas ou mais vezes, pois já na segunda você perceberá coisas que não havia percebido anteriormente. Isso devido aos detalhes que o genial diretor do filme consegiu bolar.
Mas, concluindo, gostei muito da sua reflexão, acho que nesse filme haverão várias delas de todos que o virem e dará um bom e polêmico debate.
Abraços da Gangue!
[…] (Assemelha-se ao filme Origem, quando vamos ao ponto em que estão fazendo a nossa cabeça. Ver mais sobre isso aqui.) […]
Confesso ser uma “viciada” no filme A Origem, e cada vez me fascino mais pela interpretação filosófica/cognitiva que o filme apresenta. Fiquei boba quando “caiu a ficha” sobre a relação do filme com o Mito de Teseu..Mas algo que me chamou a atenção, e que ainda não achei ninguém comentando: é sobre a ligação de Saito, quando ele fica preso no limbo, e o Rei PirÃtoo, que fica preso na cadeira do esquecimento.. Acho que o filme todo é baseado [construÃdo] no mito [de Teseu], utilizando-se da analise freudiana sobre o subconsciente [ e convenhamos, a que ponto talvez o próprio Freud não se utilizou do mito do labirinto pra pensar no subconsciente, uma vez que ele por diversas vezes recorreu a algumas mitologias para elaborar doenças de ordem psÃquica]. É simplesmente um filme fantástico que não canso de ler e ver a respeito.