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No fundo, o que as pessoas desejam quando falamos de ciência é intermediar o conhecimento.

Quando se fala em Ciência Religiosa, aquela que procura a verdade e não a solução de problemas, cria-se a intermediação científica.

Alguém sabe e os outros não sabem.

Cria-se uma espécie de igreja científica, com hierarquias, na qual todos precisam pedir amém.

Há autoridades que sabem A VERDADE e todos que têm problema precisam ir ao “confessionário científico’ falar dos seus pecados e saber quantas aves marias precisa rezar.

Quando fazemos debate sobre o conhecimento, temos a seguinte bifurcação epistemológica:

  • Ciência Religiosa – aquela que procura a verdade, uma intermediação da solução dos problemas, via senhores absolutos do saber, as “autoridades de marfim” – da ordem controlada;
  • Ciência Científica – aquela que procura resolver problemas, uma reintermediação da solução dos problemas, sem as autoridades da verdade – da ordem espontânea ou descontrolada.

Quando desenvolvi aqui os novos conceitos sobre o digital, longe da Ciência Religiosa, focado no problema “ajudar a sociedade a pensar e agir de forma mais consistente diante do digital”.

Comecei um aprendizado reintermediado com os que sofrem com este problema. Nossa comunidade, em torno do problema, foi ganhando independência.

A validação deixou se ser dos pares e passou a ser do pesquisador com os clientes – que sofrem.

Pessoas sofrem por que querem melhorar de vida diante das intempéries da realidade e querem entender e agir melhor para superar estes problemas.

Isso é o que podemos chamar de interação sapiens-mundo, com o foco melhorar de vida.

Meus alunos passaram a me ajudar a:

  • mostrar as contradições dos conceitos;
  • quando eles eram pouco claros;
  • a melhor forma de enumerá-los;
  • e como aplicá-los no operacional, com foco em minimizar os problemas que vêm com o digital.

O que me obrigou a ler mais, entender mais, mudar o tempo todo.

De forma descentralizada, fomos construindo novas filosofias, teorias e metodologias que podem ser criticas apenas de duas maneiras:

  • de forma horizontal pelos cientistas religiosos – pessoas que estão preocupadas com a forma, sob o ângulo da Ciência Religiosa, a Ciência voltada para ela mesma, como instrumento de poder, de manter a intermediação das autoridades. Não se quer saber se os conceitos estão ajudando as pessoas, mas apenas como se enquadram nas regras aceitas pelos pares;
  • de forma vertical – pessoas que estão preocupadas com o conteúdo, sob o ângulo da Ciência Científica, a Ciência voltada para o cliente, como instrumento de minimização de problemas, de reintermediação das atuais autoridades científicas. Se quer saber se os conceitos estão ajudando as pessoas.

Muito das críticas que eu recebo e vejo que as gerações anteriores da nossa escola receberam (Innis, Havelock, McLuhan) não foram sobre o que estava sendo dito, mas a forma e a independência.

O que estava claramente em jogo não era o que se diziam, mas claramente não se abrindo mão do poder científico.

Quando vejo pessoas questionando os conceitos (e vejo isso no que leio e no que vivo) sem colocá-los dentro do debate:

  • Do debate, ciência religiosa x científica;
  • Do debate, ciência voltada para os pares x ciência para os clientes;
  • Do debate ciência por assuntos x por problemas.

Da preocupação da crítica horizontal (da forma) e não da vertical (do conteúdo): são conceitos que ajudam as pessoas a pensar e agir melhor?

Enfim, vivemos profunda crise nas ciências e por baixo dela o que existe é uma briga de poder: as pessoas têm direito de resolver seus problemas por conta própria, criando seu próprio método mais científico possível, de forma espontânea?

Ou vão precisar sempre passar pelo confessionário científico para saber quantas aves marias precisam rezar?

O digital traz uma pressão sobre essa questão, não só pela liberdade que se ganhou para pesquisar, publicar e experimentar a solução de problemas, bem como, pelos novos ambientes (plataformas) que serão criados para reduzir cada vez mais o poder dos Cientistas Religiosos.

É isso, que dizes?

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