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Detalhei aqui como há ao longo da história humana  jogo de linguagens muito pouco estudado pelos historiadores.

A oralidade é a forma mais antiga e democrática de comunicação, pois se aprende a falar em casa, sem necessidade de escola.

Todos os povos e pessoas sabem o idioma, porém nem todas ler e escrever.

A oralidade tem uma trajetória interessante, vejamos:

  • oralidade pré-escrita – que permitiu o surgimento das aldeias, o fim do nomadismo, a domesticação de animais e plantas. O politeísmo primitivo é filho da oralidade;
  • oralidade pós-escrita – a escrita complementa a oralidade, tornando-se a peça fundamental para lidar com novos patamares de complexidade. A escrita manuscrita e depois impressa nos permitiram quebrar as barreiras de tempo e lugar e criar  a memória humana. O monoteísmo mais ou menos totalitário é filho da escrita;
  •  oralidade nos meios eletrônicos – com o aumento demográfico dos últimos 200 anos, a oralidade volta com toda força, mas agora de forma fortemente centralizada e vertical. Há, em alguma medida, um retorno do uso da oralidade pelos centros de poder, reduzindo a capacidade de produção de informação das pontas, a não ser que seja local e presencial;
  • oralidade no digital – com a chegada do computador e depois da Internet, acrescida de equipamentos móveis, a oralidade está tendo espécie de renascimento, pois se consegue superar – pela primeira vez – as barreiras de tempo e lugar de forma descentralizada.

(De certa forma, o mesmo ocorre com a escrita, mas depois falamos mais disso.)

Note que o renascimento da oralidade distribuída será algo fundamental para o novo milênio, pois temos:

  • grandes déficits educacionais de uma população que cresceu demais (principalmente fora dos grandes centros mais desenvolvidos economicamente) e não há recursos, com o velho modelo educacional, de fornecer educação de qualidade. Hoje, está se recuperando tais déficits, mesmo sem projeto educacional explícito, através de áudios e vídeos disponíveis na rede;
  • grandes déficits republicanos de uma população que cresceu demais e não há maturidade política para tomada de decisões com mais autonomia e eficácia (baseada em domínio do idioma, da matemática e de experiências históricas). Isto também está sendo feito sem que haja um projeto intencional nessa direção.

Note que a escrita foi utilizada como a grande ferramenta educacional durante vários séculos, por total incapacidade de transmissão oral descentralizada de conhecimento.

Hoje, a grande barreira que tínhamos para a difusão da oralidade descentralizada foi superada.

A grande oportunidade que temos no novo milênio não é continuar a apostar apenas na escrita.

A grande oportunidade que temos pela frente, pois atinge a qualquer um, é incentivar o uso intensivo da oralidade distribuída a distância para que se possa promover – de forma barata, massiva e eficaz – novo ciclo educacional e republicano, que a Civilização 3.0 demanda.

 

É isso, que dizes?

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