Há um debate hoje sobre o pensamento binário esquerda e direita, que faz parte de um debate do século passado, que é fruto, a meu ver, de uma cosmovisão marxista.
Há uma divisão entre ricos/maus/perversos (direita) e pobres/bons/salvadores (esquerda).
Quando tentamos abandonar esse binarismo, vamos cair em outro binarismo ou iremos para um pensamento não binário?
Há algumas coisas para iniciar esse novo e interessante debate.
Diria que o pensamento, se constitui através de diálogos da pessoa com ela mesma, com outras pessoas e com a conjuntura em que ela vive.
Em determinadas situações, há pólos mais definidos, que exigem um pensamento mais binário e há momentos que se pode ter uma menor taxa de binarismo.
Portanto, vou defender que o pensamento binário é conjuntural e que em determinados contextos, pessoas que você se relaciona, ou momentos histórias essa taxa vai subir ou reduzir, conforme cada situação.
Digamos que estejamos no meio do meio do século passado com a ascensão do nazismo, um projeto totalitário de poder, que invade países, mata pessoas e tem um projeto de dominar o mundo, a partir de uma fictícia visão racial. Seria possível não ter uma visão binária?
Nós (não nazistas) versus eles (nazistas).
Podemos, então, dizer que a visão binária não é absoluta, mas ela aparece, a partir de taxas de binarismo, diante de conjunturas mais radicais, de crises de pensamento ou de implantação de dado modelo mais radical de projeto, que nos abriga a aumentar a nossa taxa de binarismo.
Vejo isso em sala de aula, quando tenho alunos mais dogmáticos ou uma turma mais aberta ao debate. Dogmatismos tendem a aumentar a taxa de binarismo e vice-versa.
Não se pode, portanto, defender o não-binarismo como uma bandeira, pois há momentos em que se deve se posicionar contra determinadas ideias e bandeiras, no que podemos chamar projetos anti-civilizatórios, dogmatismos, autoritarismos, dogmáticos, etc.
Note que não estou aqui falando apenas de contato com pessoas que aumentam a taxa de binarismo, mas de projetos macros de poder político em que situações vão se extremando entre duas culturas completamente opostas entre si, na qual você acaba tendo que tomar um dado partido, o que nos leva a um aumento conjuntural da taxa de binarismo.
Podemos dizer também que existem falsos binarismo e isso nos leva a ter que ter sabedoria para saber separar o falso binarismo do necessário aumenta da taxa de binarismo, como uma proteção contra ações anti-diálogo e anti-civilizatórias.
Nestes momentos em que há um projeto anti-civilizatório em curso a tendência é que as pessoas vão se posicionando contra e a favor e se criando um binarismo.
Na minha opinião, é o caso da América Latina com o projeto neopopulista totalitário, em que o outro (que não concorda com um dado projeto) não deve ter direito, seja de voz ou de exercício de poder. Isso é dito e se vê práticas claras nessa direção, com respaldo dos simpatizantes.
Neste momento, temos um aumento da taxa de binarismo, pois há uma resistência a um projeto considerado anti-civilizatório, pois pessoas começam a temer perder seus e dos outros direitos considerados básicos.
Há ainda momentos na história em que se cria dois pólos de pensamento de cultura opostas, entre duas culturas políticas e econômicas distintas, que nos leva ao aumento da taxa de binarismo.
- Posso lembrar, por exemplo, os defensores da monarquia versus a república;
- Ou ainda a defesa, ou não, da escravidão.
Em que houve uma visão binária.
Bem como comunismo versus capitalismo no século passado.
Ou ser era a favor, ou contra.
Obviamente, que há uma diferença de diversidades de pensamento político e implantação de regimes totalitários e anti-civilizatórios.
Hoje, por exemplo, acredito que temos duas correntes que serão polarizadas no século XXI, que são os movimentos descentralizadores (usando as novas tecnologias da rede, que implanta uma nova cultura) versus os centralizadores, que ganharam novos nomes sociais, políticos, econômicos e religiosos.
Os fundamentalistas do IE, por exemplo, são centralizadores radicais, pois querem um retorno a centralização pré-república, em um estado baseado totalmente na religião, algo superado pela sociedade moderna.
Do meu ponto de vista, eles seriam os centralizadores radicais, bem como um projeto der centralização AINDA mais light (comparado ao IE) como o da Venezuela, do ponto de vista da violência, seria um centralizador radical ainda em fase moderada.
Os esforços de barrar iniciativas de implantação de projetos de redes descentralizadas seriam reações moderadas a esse macro-movimento de descentralização.
Como acredito em forças de ação e reação em momentos de crise, nossa maneira de pensar acaba sendo regida por estes contextos e conjunturas, aumentando ou reduzindo a taxa de binarismo.
Ou seja, há momentos que é positivo, civilizatório, ser binário, pois nos dá a garantia de que aquele tipo de movimento não pode se expandir, criando uma oposição clara a ele, sem dúvidas.
Cria-se a necessidade de definir que tipo de movimentos anti-civilizatórios precisam ser combatidos fortemente e dos quais um grupo passa a ser oposição e outro situação e vice-versa.
Há reação há projetos de mudança, que aumentam a taxa de binarismo.
E, a partir dessa definição de campos, que sempre haverá na sociedade, em todas as épocas, movimentos mais ou menos binários para construir novas opções, entre aqueles que compartilham de cosmovisões, que podemos considerar civilizatórias e os anti-civilizatórias.
O que há ainda é dogmatismo binário sem necessidade ou a defesa do não binarismo, quando ele é necessário.
Para início de conversa, é isso.