O ser humano é uma espécie única, pois resolveu apostar tudo no cérebro para ser competitivo.
Quem aposta no cérebro resolve, ao invés de mudar seu corpo na evolução, criar tecnologias, órteses, para complementar o que o seu corpo não pode fazer.
Para que isso seja/fosse possível, é preciso criar Tecno-códigos, que representem o que o nosso cérebro quer criar.
Assim, a espécie resolveu lidar com o aumento da complexidade, através do contínuo aperfeiçoamento de seus Tecno-códigos, que foram mais e mais capazes de desenvolver órteses cada vez mais sofisticadas.
A base dos Tecno-códigos são os símbolos, que começaram de forma bem primária, representando iguais – o desenho de uma casa era uma casa. E uma duas unidades eram duas pedras.
Com a necessidade de acelerar a comunicação e os cálculos, passamos a usar letras e números, que foi uma evolução lenta dos Tecno-códigos ao longo do tempo.
A história nos mostra – apesar de muita gente ainda querer ignorar isso – que todos os nossos avanços em direção a lidar melhor com mais complexidade, foram precedidos pela melhoria nos Tecno-códigos, que nos tornaram mais e mais flexíveis e poderosos.
Sem os números e as letras não poderíamos chegar nem de longe a 7 bilhões de habitantes.
Como nos ensina Lévy, a espécie passou por três eras diferentes:
- a Oral – com tudo sendo repassado de boca;
- a Escrita – com tudo sendo repassado por letras e números;
- a Digital – quando conseguimos criar um cérebro paralelo, que pudesse transmitir códigos de formas mas dinâmica e calcular por nós, inaugurando o processamento de processos cognitivos.
O mundo digital, baseado nos dígitos, números, nos potencializou e nos permitiu lidar melhor com a complexidade, criando a automatização de processos cognitivos. Aonde precisa de um ser humano para tomar decisões, colocamos computadores.
Criamos, um cérebro paralelo e através de linguagens de computador, pudemos determinar como eles deveriam trabalhar para resolver problemas complexos em uma velocidade e precisão muito maior do que somos capazes sozinhos.
A chegada do computador de grande porte, assim, a partir de 1940, inaugura uma nova Era da Espécie em que passamos a contar com um cérebro paralelo, que foi sendo mais sendo utilizado para a tomada de decisões.
Imaginar organizações sem computadores como suporte é algo impensável, desde o meio do século passado!!!
Nesse processo, tivemos algumas etapas relevantes da nova Era Digital:
- – 1940 – chegada dos computadores de grande porte;
- – 1980 – popularização dos microcomputadores;
- – 1990 – popularização da Internet;
- – 2004 – popularização dos canais horizontais de circulação de ideias na Internet, a partir da banda larga, que reduziu o custo de acesso.
A partir de 2004, houve algo fundamental.
A chegada da banda larga que permitiu que houvesse uma redução muito grande de custo do uso e os canais horizontais de circulação de ideias passaram a ser utilizados em larga escala.
Isso permitiu, como a chegada da prensa em 1450, uma descentralização de ideias e um aumento radical da taxa de transparência da sociedade.
As decisões tomadas pelas organizações começaram a ser vistas e questionadas por cada vez mais gente, gerando uma primeira crise no modelo de Governança, pois dizia-se algo (e circulava determinadas ideias em canais mais verticais e fechados) e começou-se a ver-se o que se fazia (pelo que circulava de ideias em canais mais horizontais e abertos).
As redes sociais, na mesma direção, criaram um maior adensamento e capacidade de troca e articulação horizontais, quebrando uma hegemonia vertical, fortemente marcada pelos meios de comunicação de massa, fortemente dominado pelas organizações de plantão e seus interesses.
Assim, podemos dizer que o primeiro forte impacto da chegada da Internet nas organizações foi o aumento radical de transparência da sociedade e de capacidade de articulação entre as pessoas, que antes não tinham tanta facilidade de se relacionar.
Por outro lado, dentro da mesma avalanche, mais e mais as ações que eram feitas fora das telas, passaram a ser feitas dentro dela. E, com isso, mais e mais ações de nossas vidas passaram a ser feitas, através de cliques, o que foi cada vez mais deixando rastros involuntários, do simples clicar, e voluntários, de qualificação do que clicavam ou acessavam, como estrelas, curtir, etc.
Houve, assim, com a chegada do Digital, desde 1940, um gradual aumento de rastros de ações humanas, que foram sendo deixados nos bancos de dados, o que antes eram “irregistráveis”, pois não eram feitos, via telas.
Eu lia um livro, mas ninguém sabia quem havia comprado, em que tempo li, o que marquei, o que gostei, em qual página fiquei mais tempo, por exemplo.
No digital e depois na Internet, mais e mais o ser humano passou a deixar um rastro de suas ações, barateando em muito o custo de se saber o que se REALMENTE FAZ e não o que se diz que faz.
A grande sacada do Google, estrela maior dessa nova era foi justamente perceber o valor desses rastros.
A empresa mais valiosa do novo século apostou que era possível, com algoritmos diversos, extrair valor dessa mina humana para resolver um grave problema de espécie: lidar de forma sustentável economicamente com a complexidade demográfica que temos hoje, sem abrir mão da diversidade, ver mais aqui.
Assim, começaram a desenvolver novas linguagens de computador, fortemente algorítmicas, que passaram a trabalhar sobre estes bancos de dados para criar relevância, fazendo destes rastros (ações concretas das pessoas) – que estavam relegados e segundo plano – um novo gerador de valor.
A lógica é simples.
- – Passamos com a Internet a fazer cada vez mais ações diante de telas digitais;
- – Estas ações geram rastros voluntário e involuntários;
- – Estes rastros permitem que eu possa, criando algoritmos trabalhar melhor a diversidade para resolver problemas cada vez mais complexos.
As buscas do Google são o exemplo mais claro que é possível, com os novos Tecno-códigos, harmonizar diversidade com complexidade, sem perder velocidade e, ao mesmo tempo, manter uma relação sustentável de custo/benefício.
O Google inaugura o exemplo do que será a nova Governança da Espécie Digital para o próximo século: tomada de decisões cada vez mais baseadas em algoritmos sobre ações voluntárias e involuntárias das pessoas.
Diferente do passado, quando era preciso conversar com as pessoas para saber o que elas desejavam e queriam, agora basta dar a elas telas digitais para que façam as suas ações e, sobre elas, criar algoritmos, que possam extrair informações para que as decisões a serem tomadas mais precisas do que são hoje.
Ou seja, nas suas ações ao clicar a pessoa já diz o que quer, facilitando a vida de quem precisa decidir.
O clicar já mostra a sua tendência como nos demonstra a Amazon, na tentativa de oferecer livros mais próximos do que somos, não por que nos perguntaram, mas por que foram aprendendo com nossas ações diante das telas o que de fato, gostamos.
Além disso, é preciso que se dê instrumentos de qualificação dos cliques para que aquilo que os algoritmos não podem fazer. Pode-se se saber que eu peguei um táxi, mas não o que achei de um dado motorista.
O modelo Google de gerar valor, via rastros voluntários ou involuntários, moldou todos os outros projetos das organizações nativas, como o TaxiBeat, Estante Virtual, Mercado Livre, Booking, AirBnb. Amazon.
Nestas Plataformas Digitais Colaborativas se registra e se torna pública as ações de todos diante das telas e se pede a qualificação de cada clique, criando um ambiente muito mais dinâmico para a tomada de decisões, baseado em ações concretas.
Assim, muito mais preciso e a baixo custo.
Que é o modelo das formigas, por exemplo, com seus feromônios, como detalhei no meu último livro impresso. O que defendo é que estamos simulando um modelo de formigueiro artificial para lidar com a nova complexidade demográfica.
Tal nova possibilidade é algo que altera fortemente a tomada de decisões e traz a Era Digital para a sua segunda fase.
- A primeira mais incremental – quando conseguiu melhorar e aperfeiçoar a Governança passada, sem mudar de forma radical o modelo de tomada de decisões;
- A segunda mais disruptiva – quando consegue criar um novo modelo de tomada de decisões, que possibilita a criação de uma nova Governança.
Assim, as organizações que querem se alinhar com o futuro precisam urgentemente perceber o novo uso do Digital e que o novo valor não é mais o modelo de tomada de decisões que tínhamos, mas uma nova a partir das novas possibilidades do Tecno-ambiente, no qual os cidadãos agem cada vez mais regulados por telas.
O que há de novo é, portanto com a chegada da Era Digital:
- – Aumento radical da taxa de transparência;
- – Aumento radical de ações da sociedade diante de uma tela;
- – Aumento radical de geração de dados das ações da sociedade dante de telas;
- – Possibilidade de qualificação destas ações;
- – Novos Tecno-códigos que permitem usar os rastros (voluntários e involuntários) destas ações para tomada rápida de decisões, gerando novos modelos de negócio;
- A partir disso, a formatação inicial de uma nova Governança da Espécie mais dinâmica para lidar com a nova complexidade demográfica.
É isso, que dizes?