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A República atual é filha da escrita e principalmente do papel impresso, assim como a nova política ou a República 3.0 será filha da colaboração de massa digital.

Vivemos um fenômeno raro da história humana.

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Estamos sentindo os efeitos iniciais da chegada de uma Revolução Cognitiva, com a massificação da colaboração de massa, via aparelhos digitais.

Esse movimento é sistêmico da espécie visa qualificar as tomadas de decisões na nova complexidade demográfica de 7 bilhões de habitantes, que agora está saindo da Ditadura Cognitiva dos meios escritos/eletrônicos.

Note que o modelo de Governança da Espécie que temos hoje na maior parte dos países ocidentais foi concebido há 200 anos quando tínhamos 1 bilhão de habitantes, com a chegada das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789).

Tal modelo só foi possível com a massificação do papel impresso, 350 anos antes, a partir da invenção de Gutemberg na Alemanha.

Ou seja, a República é filha do papel impresso, assim como a nova política ou a República 3.0 será filha da digitalização.

Construímos a ideia da república que era algo bem mais sofisticado para tomada de decisões do que a monarquia.

Saímos de apenas um rei escolhido por Deus e hereditário para o modelo de parlamentares escolhidos por nós com prazo de validade, o que foi um salto grande para a Governança da Espécie na época.

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Porém, o crescimento demográfico acelerado (de 1 para 7 bi em 200 anos) tornou esse modelo de tomada de decisões Republicano de 1800 cada vez mais obsoleto.

Cada vez menos começaram a decidir por mais, a partir dos interesses dos menos, prejudicando cada vez mais a sociedade.

O que levou os americanos a cunhar o movimento dos 99% e de todo o slogan mundial de “vocês não nos representam!”, que eclodiu em vários países incluindo o Brasil.

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Além disso, houve um processo radical de concentração das ideias, que chamo de Ditadura Cognitiva oral-escrita-eletrônica, o que ajudou bastante para que os atuais parlamentares aprendessem a a lidar e dominar o processo de renovação de mandatos, tornando-os muitas vezes quase vitalícios, como eram os nobres pré-República, reduzindo em muito a taxa de meritocracia e de representação social.

A crise é uma crise tecnológica.

O atual aparato não permite que mais gente possa participar a um custo e um tempo compatível. É preciso informatizar as decisões para torná-las mais massivas e sustentáveis, na relação custo/tempo/qualidade.

(Os momentos que antecedem a Revolução Francesa, aliás, são muito próximos do atual.)

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Os novos aparelhos digitais trazem uma luz para o fim do túnel.

Permitem hoje que possamos tomar decisões de forma rápida, a baixo custo e envolvendo muito mais gente, o que vou chamar de participação de massa, via meios digitais, que é a base da nova Governança da Espécie emergente.

Assim, quando falamos em Nova Política não podemos pensar em mudar ou reformar as práticas atuais dentro do mesmo ambiente tecno-cognitivo que temos hoje cunhado pela República 1.0, mas construir novas maneiras de decidir, se beneficiando das novas ferramentas disponíveis em que seja possível ouvir mais gente a baixo custo e com alta qualidade nos resultados.

A tão chamada reforma ou revolução política é, assim, eminentemente tecnológica, através da implantação de um novo modelo de Governança da Espécie mais compatível com a atual complexidade demográfica, que criará um novo modelo de cultura de tomada de decisões pela sociedade.

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Precisamos, portanto, nos conscientizar que somos uma tecno-espécie, a única que não tem limites de tamanho da população, pois tem a capacidade de  (re)inventar ferramentas para sair ciclicamente das crises em que nos metemos. 

O problema que se coloca – e isso não é apenas na política – é como proceder tal mudança enquanto temos tantas demandas de ordem prática no atual modelo e ainda assim construir o novo?

Ou como mudar o avião enquanto voa?

Depois de muito bater cabeça, cheguei a conclusão de que a forma mais eficaz para implantar a nova Governança Digital é a metodologia de áreas isoladas para semear a nova cultura em separado, com a criação de laboratórios disruptivos de experimentação.

Ou seja, trabalhar em duas frentes paralelas e separadas:

  • inovar, de forma incremental – o que já existe, mas sem ilusões de mudanças de larga escala nessa frente. Manter o rumo, mas conscientes dos limites e do final do atual modelo;
  • inovar de forma radical ou disruptiva –  criando o que não existe, através de laboratórios de inovação da Nova Política onde, através do uso intenso de novas tecnologias digitais, seja possível reconhecer, potencializar e quando necessário criar os primeiros projetos pilotos de participação de massa na política brasileira (em um modelo parecido e vitorioso da implantação das urnas eletrônicas.)

Tais projetos devem visar basicamente o uso intenso de Plataformas Digitais Participativas, que tenham um tripé em gestores, algoritmos e participação de massa que possam:

  • – qualificar ideias e pessoas, na dinâmica da colaboração de massa, garantindo alta taxa de meritocracia;
  • – decidir diretamente na plataforma, quando for possível;
  • – ter parâmetros bem consistentes de dados para tomada de decisões, quando a decisão precisar de um gestor de fora.

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Não é um processo conhecido, dado, em que vamos imitar modelos externos, pois estamos construindo tal cultura diante do novo cenário demográfico-cognitivo.

Esse deve ser, a meu ver, o papel histórico da Rede Sustentabilidade:

Ser um movimento (e não partido) que tem a consciência história da guinada que vivemos e ajudar a sepultar em um futuro próximo o atual modelo de fazer política por um muito mais compatível com a nova complexidade demográfica, dando vazão ao sentimento crescente de revolta atual de forma não violenta, mas institucional.

Não deve, portanto, em hipótese alguma criar a ilusão que a Rede Sustentabilidade é melhor do que os outros pela honestidade de seus membros, mas comprovar a sua ética na procura persistente em ser um pólo para criar esse novo ambiente tecno-político que reduza a taxa da atual desonestidade, refundando a República em novas bases.

Só a implantação das novas plataformas digitais, que consigam incorporar até os não incluídos digitais, nos ajudarão a dar voz para uma massa de pessoas que hoje está alienada das decisões.

O objetivo: reduzir a atual alta taxa de desigualidade e sofrimento que o atual modelo republicano oral-escrito-eletrônico mais e mais amplia.

É preciso, portanto, inovar de forma radical, sendo a Rede Sustentabilidade mais um dos pólos no país que procure atualizar a política brasileira para os desafios que o século XXI nos impõem.

É isso, que dizes?

Repercussões:

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6 Responses to “Como a Rede Sustentabilidade pode evitar ser o PT do século XXI?”

  1. João de Deus Medeiros disse:

    Prezados
    A política trata de uma classe de problema para a qual não há solução tecnológica; chega a ser ingênua a afirmação de que a crise que vivenciamos é uma crise tecnológica, até mesmo porque o avanço tecnológico, em boa parte, tem intensificado a crise.

    • Carlos Nepomuceno disse:

      João,

      Somos seres tecnológicos.

      Nada do que fazermos está fora do ambiente tecnológico, incluindo a política.

      Lembro que não há meios a distância de circulação de ideias (base da política) que não precise de tecnologia.

      Sugiro se aprofundar mais nos meus conceitos antes de rejeitá-los.

      Abraços,

      Nepô.

  2. João de Deus Medeiros disse:

    Caro Nepô
    Aparentemente temos visões distintas sobre o fenômeno.
    Minhas observações procuram tão somente alertá-lo para o fato de que o impacto de um fenômeno tecnológico localizado, como é o caso do uso de tecnologias digitais na comunicação, não possibilita generalizações e simplificações como sugere o texto. Não somos seres tecnológicos, ainda que o desenvolvimento dela pela espécie humana tenha influenciado na nossa evolução. Mas, observe que isso não é uma exclusividade do Homo sapiens, e ela (a tecnologia) nos cria soluções e problemas. O gargalo que hoje precisamos atravessar, com essa crise planetária generalizada, é em boa dose fruto do nosso dito avanço tecnológico, basta lembrar da estreita relação da atual crise climática com a revolução industrial.

    • Carlos Nepomuceno disse:

      João, a base das minhas ideias passa pelo conceito da tecno-espécie.

      Foram 10 anos de pesquisa.

      Têm uma lógica que me embasa e me ajuda a entender, que detalho no meu último livro.

      Não precisamos concordar, mas sugiro conhecer mais a hipótese que aponta para efeitos poderosos de mudança social, a, partir de uma Revolução Cognitiva, como foi no papel impresso, em 1450.

      Na minha tese de doutorado dedico um capítulo inteiro sobre isso.

      O que muda a maneira de pensar a sociedade bastante.

      É, sem dúvida, uma abordagem polêmica, mas não estou sozinho nisso.

      Grato pelo comentário,

      Nepô.

  3. barchilon disse:

    Assim como a escrita e depois a imprensa, o software e as redes repetem no ambiente político uma confusão, dessa vez em dose cavalar. Hipóteses não visitadas pelos romanos, quando construíram o conceito de representação para formação da vontade coletiva, que só em 1600 recebeu inovação com criação das sociedades anônimas, estão sendo agora revistos e reconstruídos aos trambolhões, em escala crescente. O Open Government Partnership é uma primeira iniciativa de padronização que nos permitirá avançar nessa governança mundial, a ser construída com software livre.

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