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Toda ação científica exige um propósito. Quando se faz algo sem propósito, o que é válido, chamamos de arte, lazer, hobbie. Ou se for algo pseudo-científico de falsa ciência ou ciência masturbatória (desculpem o termo).

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Quando resolvemos publicar o trabalho dito acadêmico, parte-se do princípio que ali há algo a ser melhorado em algum lugar e vai se usar um dado método de reflexão para ajudar a aperfeiçoar a solução.

Ninguém faz uma ação científica, portanto, para piorar ou deixar no mesmo lugar o que já existe, a não ser em casos extremos de destrutividade. Dizem que existe algo como uma ciência pura, mas eu rejeito isso.

O que temos são problemas mais abstratos, no âmbito da filosofia geral ou de cada ciência, que são questões menos pragmáticas, que pedem estudos, cujo resultado imediato vai se ver em teorias e depois em metodologias.

Assim, a meu ver,  primeiro passo para qualquer ação científica é escolher um dado problema que, a princípio, você com seu olho, experiência, intuição, cultura, vivência, percepção do sofrimento, passado consegue enxergar e acha que tem algo a colaborar para a sua minimização. 

Algo ali desperta a curiosidade do pesquisador, que fica inquieto, pois vê a oportunidade de agregar a sua singularidade para mudar algo para a solução daquele problema.

Assim, qualquer projeto de pesquisa deve partir de um problema que desperte a curiosidade do pesquisador e que ele sinta que possa, com sua singularidade, agregar algo na forma de se pensar ou agir para minimizar o problema.

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Note que como a vida é um movimento não existem problemas que são DEFINITIVAMENTE solucionados, mas apenas minimizados no sofrimento que causa a alguém em um dado contexto e momento.

O seu papel é colocar um tijolo na grande casa que é destruída e construída ao longo do tempo.

E aqui é preciso usar a sabedoria do pessoal do AA (alcoólatras anônimos) para não ser nem impotente, fazer menos do que o possível ou o impossível, seguindo o mantra da serenidade (adaptada por mim):

Serenidade para o impossível, coragem para o possível e sabedoria para diferenciar.

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Assim, o fazer científico se resume a:

  • – escolher um problema que causa sofrimento (quanto mais sofrimento causa e a quantas pessoas, mais relevante será o estudo);
  • – agregar reflexão sobre o dado problema para minimizar o sofrimento causado;
  • – trazer a sua singularidade, que é só sua, para ver um dado problema de um jeito particular, que talvez nunca seja visto por ninguém, pois ninguém é igual a você.

Assim, um trabalho científico que não entra no que podemos chamar de falso trabalho ou falsa ciência vem agregar algo para um dado problema para ajudar a minimizar um dado sofrimento na sociedade.

(Muitos dirão que há áreas que não visam reduzir sofrimento. Peço uma reflexão mais profunda para analisar se isso de fato faz sentido, pois qualquer visão equivocada sobre qualquer problema que um ser humano consegue identificar em algum momento direta ou indiretamente vai causar um determinado sofrimento. E isso é a parte ética do fazer científico, pelo menos, para meus critérios de valor, que, obviamente, não são universais)

Assim, a estrutura, a meu ver, mais eficaz e construtiva de um trabalho acadêmico deve ser:

  • Qual é o problema e que sofrimento anda causando?
  • Como é visto hoje (teoria/filosofia) e como se faz/age (metodologia) para ser minimizado?
  • O que eu sugiro diante da teoria e metodologia atual para que possa ser alterado?

Esta é a base para um trabalho acadêmico relevante, pois está se intervindo em um dado problema e, a partir de um esforço intelectual, procurando minimizar o sofrimento.

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E aí podemos fazer uma divisão.

  • Trabalhos mais teóricos/filosóficos – se considera-se que o problema está sendo visto de um forma extremamente equivocada, que é preciso uma mudança de olhar sobre o dado problema, estamos diante de uma tese mais teórica e menos metodológica. Exige-se um perfil de pesquisador com facilidade para abstração, gosto pela leitura e com a capacidade de articular e sintetizar grande volume de pensamentos;
  • Trabalhos mais metodológicos – se considera-se que o problema até está sendo visto de forma adequada, mas é preciso uma mudança na maneira de agir sobre o dado problema, estamos diante de uma tese mais metodológica do que teórica. Exige-se um perfil de pesquisador com facilidade para a ação, gosto pela pesquisa de campo e com a capacidade de articular e sintetizar grande volume de dados colhidos.

Note que as duas abordagens são PRÁTICAS, pois o pensar e o agir vão impactar no problema e no sofrimento alheio.

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A mudança é apenas do esforço que será feito.

  • Um trabalho mais teórico/filosófico vai trabalhar com pensamentos, livros, autores para procurar identificar o equívoco do pensamento, as contradições que levam a um metodologia equivocada.
  • E uma trabalho mais metodológico vai trabalhar com fatos mais concretos, casos, estatísticas, pesquisa de campo, para procurar demonstrar que a metodologia utilizada não está dando os resultados esperados.
  • Ou seja, é falso afirmar que uma tese teórica não é prática.
  • Ou que uma tese metodológica não é teórica.
  • Ambas refletem apenas momentos diferentes de resolver um problema.

A teórica vai mais em cima e a prática toca mais nas ações.

Na tese teórica, quanto mais se questiona a maneira de pensar, mas se acha absurdo o jeito que se pensa hoje sobre um dado tema, mais vai se subindo para a filosofia, como tenho demonstrado aqui no triângulo do conhecimento.

É isso, que dizes?

Versão 1.1 – 03/12/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

7 Responses to “Reflexões sobre o fazer científico (teses, dissertações e artigos)”

  1. Teresa disse:

    Nossa! adorei. Só senti necessidade de encaixar em algum ponto ou na pirâmide(na minha), o Pensamento. Talvez ele só seja a liga ou perpasse a metodologia, a teoria e a filosofia, não sei. Divagações…
    Lembrei do Mia Couto: “Precisamos de uma forma radical de repensar o próprio pensamento.”
    Será?

  2. […] Teresa Mafra comenta no outro post: “Nossa! adorei. Só senti necessidade de encaixar em algum ponto ou na pirâmide(na minha), […]

  3. Marcelo disse:

    Estou iniciando um projeto que visa compreender as raízes do seguinte problema: apesar dos mecanismos de participação social disponíveis na Internet por meio do governo eletrônico, a participação ainda é muito pequena quando comparada a movimentação que percebo no Facebook sobre os mesmos temas (reforma política, conselho participativo, etc.). Por que isso acontece?

    Estou procurando uma teoria para embasar o projeto e leio agora sobre o cognitivismo.

  4. Marcelo disse:

    Assuntos que estão na lista dos mais comentados (Twitter) ou super replicados e comentados no Facebook não desaguam em /ações/. Quero dizer, o Facebook pode estar bombando com discussões sobre o tema da Reforma Política, mas nesse momento quando o Senado abre um chat com transmissão online de uma audiência pública sobre o tema, essas pessoas não participam.

    Pode-se reclamar e atuar em manifestações variadas sobre o transporte público (Goffman – Representação Social), mas quando o Plano Plurianual é aberto (online à participação), o número de contribuições é pequena.

    Não penso que o resposta esteja na descrença nas instituições democráticas, Embora exista um descontentamento, todos querem delegar as suas /ações/.

    Por algum motivo, talvez por conta das relação fluidas (Bauman) ou da falta de laços fortes (Gladwell) entre aqueles que poderiam atuar em conjunto nas redes, por conta disso as /ações/ que ultrapassem comentários na rede não acontecem.

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