Desaprendemos a conversar. Isso é um fato real e concreto que aprendi ao longo dos últimos sete anos com meus mais de mil alunos e na vida do dia a dia no uso cotidiano de tentativa de diálogo nas diferentes mídias sociais sociais que uso (Facebook principalmente).
Era Aristóteles que dizia que conhecer é se dedicar ao estudo das causas.
Muitos dizem que são as mídias sociais as responsáveis por essa babel de vozes desconexas.
Eu, que estudo história, digo que é o resultado do fim de uma contração cognitiva que nos tira, finalmente, de uma ditadura cognitiva e nos leva à uma expansão cognitiva, um momento similar ao fim da baixa idade média, até 1450, com o surgimento da prensa – outra nova mídia descentralizadora, quando surgiu os novos “canais dos livros impresso” e voltamos a ter novas vozes a oxigenar a sociedade em um fenômeno de macro-canalização.
Um dos efeitos da fase final da contração cognitiva é justamente essa gigantesca incapacidade de diálogo.
Note que vivemos, até aqui, durante décadas, a comunicação vertical de alta intensidade e a comunicação horizontal de baixa intensidade.
Interagimos muito pouco e criamos o que chamei de condomínios das verdades.
Cada um só conversava com quem estava próximo e não com percepções da realidade distantes da sua.
E isso criou um fenômeno de cada um achar que é o dono da verdade, na ideia de que a verdade existe, eu consigo vê-la e qualquer um que tenha algo diferente da que eu vejo só pode ser completamente maluco, quando a loucura está em mim, que não consigo compartilhar a minha percepção da realidade.
Isso se deve aos efeitos de uma contração cognitiva, na qual vivemos uma baixa capacidade de abstração e não conseguimos separar percepção de realidade.
Sem a noção de que tudo é percepção, fica impossível dialogar. Quando, entretanto, tenho percepções incertas, abro-me para o diálogo.
A mudança, entretanto, não é simples, pois envolve uma alteração importante, a nossa relação com o ego. Diria que estamos querendo nos livrar hoje de uma aproximação muito grande do ego com o superego.
Nossa noção da realidade vem de fora, da moral, das verdades hegemônicas da realidade, mas de forma invisível.
Não sabemos que fizeram nossa cabeça.
Temos pouca prática de questionar o que nos disseram e, para conviver com isso, empacotamos e fizemos o que é do outro a nossa verdade.
O aumento da taxa do diálogo passa pela separação da noção de realidade com o ego que estão indivisíveis e isso impede que se converse, pois são dois egos endurecidos, que não conseguem trocar impressões. E isso é a base para a incapacidade da troca, geradora forte de neuroses, pois todo mundo é um neurótico sem saber.
O diálogo baixa essa taxa de neurose!
O ego, assim, deixou de trabalhar e ser musculado, para uma comparação do que nos dizem com o que posso pensar diferente, que é uma ação ativa diante da verdade.
Nosso ego foi infantilizado e é repetidor e não criador.
A sociedade hoje tem como marca a repetição, pois a produção da verdade e a tomada de decisões está fechada em pequenos certificadores da verdade,
Uma expansão cognitiva implode esse modelo e começa a abrir nova frentes, o que torna todo o ambiente muito mais instável e pede um novo modelo de Governança da Espécie que vai lidar com um grau de novidade muito maior.
Assim, o esforço de todos é de sair do mundo da falta de diálogo para o diálogo, da continuidade para a criação, do ego repetidor para o ego criador.
Isso faz parte do espírito do tempo e pode ser visto em todas as áreas da sociedade na mesma direção em uma grande macro-tendência em direção a suprir as faltas que a ditadura nos legou.
Esse é o grande desafio político-educativo que temos pela frente.
Que dizes?
Versão 1.0 – 31/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
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