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Estive debatendo com a turma do Laboratório de Inovação Colaborativa da IPlanRio um tema interessante que é qual é a melhor linguagem a ser usada na Internet nos seus diferentes canais.

E eu diria que quanto menos técnica vinda de fora para dentro melhor. Devemos procurar a linguagem da diversidade, a procura da singularidade de cada um, na qual as melhores técnicas vem de dentro para fora e não de fora para dentro. O outro se adapta a você e não você ao outro.

E vou explicar.

Todo o aparato de técnicas de comunicação que desenvolvemos até aqui tinha como referência dois pontos fixos.

  • Eu tenho um canal transmissor e um aparelho fixo.
  • Havia um controle sobre a saída e a entrada;
  • Pouca possibilidade do receptor em interferir na recepção (parar, voltar, ir, quebrar).

A TV Globo sabia, até bem pouco tempo, que o outro lado vai assisti-la em um aparelho de televisão.

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Com o longo período que durou a contração cognitiva (de 1800 para cá), houve uma certa pasteurização do público, que passou a ser dividido não mais por seus gostos específicos, necessidades, singularidades, mas apenas por faixa etária e classe social, sexo.

Era impossível ir mais além.

Vimos aqui que essa concentração de canais provocou problemas objetivos e subjetivos na humanidade, principalmente a perda de singularidade dos indivíduos, que passaram a ter uma alta taxa de de massificação. A crise atual é a crise da baixa diversidade na construção da verdade e na tomada de decisões, como falei aqui.

A chegada da Internet marca a macro-canalização humana, como ocorreu com a chegada do papel impresso, em 1450.

Muitos canais se abrem, ao mesmo tempo, em vários lugares, que é o que chamamos de Revolução Cognitiva, que permite uma oxigenação da sociedade com novas verdades e empoderamento do cidadão/consumidor, que exige mais participação nas tomadas de decisão.

Diferente do papel impresso, porém, a Revolução Digital traz uma novidade que é a diversidade de canais emissores e receptores, o que se agudizou bastante com a chegada dos celulares.

Um vídeo no Youtube pode ser visto pelo espectador:

  • pelo computador, com ele sentado, ouvindo e/ou vendo;
  • por um tablet, com ele deitado, ouvindo e/ou vendo;
  • em um celular, com ele andando na rua ou em pé dentro do ônibus, ouvindo e/ou vendo.

Hoje há leitores de voz para textos, que permitem que um blog seja escutado em um celular dentro de um ônibus lotado por um ouvinte em pé com um headphone.

Anne Hathaway with headphones!!!

Como discutir linguagem e técnicas de comunicação neste caso?

Além disso, há um controle muito maior do receptor que havia antes.

Eu posso parar o que estou recebendo, deixar para depois, pular.

Ou seja, o receptor é muito menos passivo do que era.

Ou seja, todo o conceito de técnica de comunicação adotada pela mídia de massa tem problemas nesse ambiente de multi-canais, multi-recepções e multi-interesses com um receptor cada vez mais empoderado e diverso.

Além disso, o público está se “despasteurizando” e não podemos mais falar em público-alvo, pois as pessoas hoje não querem mais ser alvos de nada, pois também são setas com poder de decisão e de controle sobre o que consomem.

  • Há pessoas que querem saber algo rápido sobre um determinado tema;
  • Outras querem aprofundamento.

E isso nos leva a um desafio e uma questão mais funda e filosófica sobre linguagens, técnicas de comunicação e produção de conteúdo nos novos canais dos cidadãos/consumidores.

Se tudo é fluído que linguagem devo usar?

Eu acredito que é justamente fugir da técnica vindo de fora para dentro e apostar na diversidade e na singularidade, criando uma técnica adaptada a esta e não ao contrário.

Detalho.

A expansão cognitiva hoje tem como base a necessidade de diversidade no mundo.

O que se pede hoje é que novas vozes surjam para nos trazer oxigenação de um mundo preto e branco. O que se quer é mais cores, mais tons de cinza e para isso precisamos tomar cuidado para não cair na armadilha da técnica monocentrada, que quer atingir a um determinado alvo.

Nossa crise tecno-ecológica é justamente que temos 1% tomando decisões e produzindo verdades pelos outros 99%. De nada vai adiantar criar canais que vão procurar chegar a um público-alvo que não existe mais!

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Normalmente, tendemos a querer ser e falar para aqueles 1% e ser aceitos por eles, como falei aqui do grande outro.

O que temos, ao contrário, é estabelecer novas interações com os 99% que estão por aí.

E só há um caminho.

Procurar a sua singularidade e só esta busca te guiar para chegar a a melhor forma para que seja passada.

É a personal-técnica de cada um, que pode receber sugestões e ajustes, desde que não corra o risco de brecar a singularidade.

  • Se alguém acha que um vídeo de 30 minutos atende bem o que queria passar.
  • O melhor vídeo para aquela pessoa naquele momento é um vídeo de 30 minutos.

Quem quiser ouvir a singularidade daquela pessoa, no novo ambiente, vai se adaptar aquela singularidade e não o contrário, pois é algo único e não massificado.

É aceitar que a cada canal estamos entrando em um lugar sagrado da singularidade do outro, que não está lá para te atender, mas para atender ao desejo do outro em ser singular!

Ou seja, hoje é mais fácil o ouvinte se adaptar e filtrar do jeito que quiser a singularidade do outro, com tantos recursos, parar, continuar, ver depois, NÃO ACESSAR, ouvir no celular, em pé, sentado, deitado do que pedir para o outro abrir mão da singularidade dele, pois você não quer se adaptar ao jeito que ele está publicando.

Quanto mais diferente for o mundo e você se adaptar também a ele, é melhor para todos.

Vamos parar de querer que as pessoas atendam nossas personal-umbigo estéticas!!!!!

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Obviamente, que há ruídos que podem ser evitados, tais como evitar som baixo, ter boa qualidade de vídeo, quando for o caso, repetição indevida, mas nada, nada, absolutamente nada que vá atrapalhar aquilo que é o mais precioso que é a sua singularidade, que todos estamos tão carentes.

O que estou dizendo é que na Internet dos multi-canais e multi-públicos você deve se render a singularidade do canal do outro e não ele a você.

VOCÊ NÃO É O PUBLICO-ALVO DE NINGUÉM, ASSIM COMO O DONO DO CANAL NÃO FEZ O VÍDEO PARA VOCÊ. ELE FEZ PARA RESPEITAR A SINGULARIDADE DELE E VOCÊ TEM QUE INCENTIVAR E RESPEITAR ISSO.

O conteúdo do outro não é obrigatório (são milhares/milhões de opções) e se deve deixar que ele vá procurando a sua singularidade, pois o objetivo não é atingir você, mas que ele consiga mais e mais ser singular.

Repito, isso não é um dogmatismo, mas é o que vai ser relevante agora: menos técnicas empacotadas de fora para dentro e mais, muito mais, algo que seja cada vez mais compatível entre forma e conteúdo sempre a partir da singularidade do dono do canal e não de quem o acessa.

Ou seja, a lógica é a seguinte.

  • Se você for singular isso vai ser raro.
  •  E essa raridade vai atrair a quem possa ajudar.
  • E será tão singular que pouco importa a técnica, pois a pessoa estará disposta a se adaptar a você, pois sabe que é ali ou em mais nenhum outro lugar. 

É isso que vai fazer a diferença no médio e longo prazo de quem realmente for fundo na sua diversidade, que é o que todos nós, nessa expansão cognitiva, precisamos MUITO.

Por aí,

que dizes?

Falei mais disso neste vídeo:

Versão 1.0 – 16/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

 

4 Responses to “A nova linguagem da diversidade”

  1. Alex Rodrigues disse:

    Só faria uma observação: na minha percepção podem existem pessoas que querem profundidade e outras que querem informação rápida, mas existe também momentos, da mesma pessoa, em que ela quer profundidade e outros que ela quer algo mais rápido.

  2. Luiz Milfont disse:

    Concordo com seu ponto de vista no que diz respeito à importância da singularidade de cada um. Também ao fato de que quem está assistindo/ouvindo terá que se adaptar à esta singularidade, principalmente se for do interesse dele o assunto em questão. Ele o fará. Defendo a criatividade e sou contra a pasteurização. Temos muitos exemplos, na própria Globo (Faustão, Luciano Huck, Jô Soares, Ana Maria Braga, entre outros tantos que foram destaques em outros canais na sua área, e após contratação na Globo perderam o brilho por pasteurização, como estrelas que têm suas pontas aparadas para caber na esfera prateada). Lamento quando grandes empresas internacionais compram produtos que antes eram fabricados artesanalmente (temos muitos exemplos: Requeijão poços de caldas, Catupiry, Mate Leão), pois é certo que o sabor mudará em função de uma política de redução de custos e troca de matéria prima ou pela simples automatização do processo, como já constatado tantas vezes. Meus argumentos sobre a questão, entretanto, se baseiam no fato de que, no final das contas, na prática, é fato que um video que tenha sido produzido usando o artifício de diagramas e imagens inseridas sobre um audio (que é uma técnica muito comum da linguagem) não será capaz de transmitir tudo o que deseja para um espectador que o esteja consumindo através de fones de ouvido. Há casos, inclusive, onde a “singularidade” pode impedir por completo o acesso à certa informação, por exemplo: Como assistir a um slideShow usando fones de ouvido? Se é suposto agora que o espectador deve se adaptar ao canal, ele não deveria também neste caso? Por esta lógica? Portanto, compreender o papel da linguagem do meio é essencial. Essencial para COMUNICAR. Independente da singularidade, criatividade, diversidade, que são itens que eu também defendo, a linguagem permanece e difere de pasteurização. A linguagem está ligada à capacidade de comunicar. É ferramenta que democratiza a informação que se deseja compartilhar, ou seja, contradizendo sua hipótese, utilizar corretamente a linguagem é justamente permitir que mais pessoas tenham acesso à informação. De formas diversas, em tamanhos diversos, em dispositivos diversos. Mas o que foi feito para Mobile não se adequa a Desktop e vice-versa. Se não fosse assim, não haveria necessidade de adequar todo um projeto para aquela linguagem. Este é um exemplo bastante interessante. A linguagem do mobile pressupõe que a pessoa está em movimento e que o dispositivo de entrada é o toque na tela. Todo o contexto da informação que é mostrada ali está relacionada a isto, ou seja, a linguagem é totalmente diferente da linguagem de um conteúdo voltado a desktop. Não apenas as informações que devem aparecer na tela (que devem ser georeferenciadas de acordo com a posição do usuário no globo) mas considerando a maneira como ele interage com o aparelho. Se fôssemos aplicar sua hipótese neste contexto, teríamos sites “singulares” cuja visualização dependeria do esforço do usuário a se adaptar àquele conteúdo. Então, meu nobre Nepomuceno, permite-me cometer o sacrilégio de discordar de ti 🙂 Um grande abraço do amigo Luiz Milfont.

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