Ontem, caminhei ouvindo a entrevista de Augusto de Franco sobre educação, aqui neste link (http://www.youtube.com/watch?v=tuPvOifsXqI).
A conversa acabou rolando, “ao vivo”, no Facebook.
Várias coisas me passam pela cabeça, já fiz um primeiro post e este é o terceiro.
Augusto topou a conversa e logo depois ele questionou o termo “concordância e discordâncias” que propus e sugeriu algo diferente: ecologia de diferenças coligadas.
Na verdade, no dicionário teríamos:
- Diferença – Falta de igualdade ou de semelhança;
- Discordância – Opiniões contrárias; falta de acordo; divergência ou desacordo. Ausência de compatibilidade; sem harmonia; desarmonia;
- Concordância – Opiniões similares; acordo; convergência ou acordo. Presença de compatibilidade; com harmonia; harmonia;
Assim, ao discordar aponto que tem algo que para mim não está harmônico, me soa mal, me é estranho, me incomoda. E ao concordar, o contrário, digo que algo está mais harmônico, me soa bem, me é familiar, me agrada.
Acredito que é natural quando nos aproximamos de um novo discurso sobre qualquer tema algo desse tipo. Hoje, por exemplo, li no Valor um artigo sobre os problemas dos governos diante das manifestações em toda a América Latina e em nenhum momento aparece a chegada da rede como elemento detonador do processo.
Não é um diagnóstico que eu concorde, ou que eu tenha “semelhança coligada”.
O que me aproxima da análise do Augusto é justamente partimos, como já disse, da mesma estrada lá atrás, na encruzilhada epistemológica do século XXI, quando optamos por eleger a chegada das redes descentralizadas (eu uso mais este termo) e distribuídas (o Augusto vai direto para este) como o fator principal das mudanças.
É preciso nesse caso dizer que eu e provavelmente o Augusto ao ler o artigo do Valor que discordemos do diagnóstico aplicado. Há uma desarmonia, uma discordância, uma não concordância com um diagnóstico deste tipo.
Não é, a meu ver, certo ou errado, apenas ineficaz e trará dificuldade na hora que tiver que agir diante deste cenário, pois não vai perceber a causa principal do desequilíbrio em curso.
Assim, podemos separar hoje os pensadores que analisam os fenômenos sociais tendo a rede como o principal fator de mudança (minoria – 1%) e os que ainda atribuem as mudanças a fatores clássicos, tais como sociais, políticos e econômicos (grande maioria – 99%).
Assim, temos uma divisão importante e relevante para que se possa abrir debates públicos sobre o tema. E nisso posso admitir que temos uma “ecologia de (pequenas) diferenças coligadas entre aqueles que colocam a chegada das redes (centralizadas e distribuídas) como a principal força de mudança do século XXI.
Já aí, entretanto, começamos outra etapa, já que a principal está vencida. Digamos que já se atravessou a rebentação e está se esperando ondas em águas calmas e fundas.
O que é possível trocar entre quem já NÃO TEM DÚVIDAS sobre o diagnóstico: redes – fator principal de mudanças?
Há – e isso é importante e natural – abordagens diferentes, por formações, históricos, que nos levam a outros diagnósticos e, por fim, a metodologias de abordagem.
Talvez a grande diferença entre a minha visão e do Augusto é do desdobramento que vem depois. Há, assim, a concordância da mudança radical da sociedade daqui por diante.
O que estamos agora analisando é se haverá uma nova centralização mais adiante. Se esse movimento é algo que tem uma continuidade e estaremos em um mundo cada vez mais descentralizado. Ou teremos, como ocorreu no passado, uma capacidade de um novo grupo dominar as novas redes e estabelecer, em um patamar completamente novo, um retorno a redes, de novo, centralizadas.
Eu confesso que tenho dúvidas sinceras, mas tendo a achar que haverá centralização não pelo que vejo hoje, mas no que vi lá atrás.
Se olharmos o passado, com a chegada da prensa, por exemplo, eu diria que sim, teremos centralização. Porém, é preciso admitir, que a prensa foi uma mudança incremental da escrita e não uma mudança radical como estamos tendo agora.
O mundo tinha muito menos gente, não estava tão hiperconectado, não havia algo tão poderoso como o capitalismo.
Por outro lado, já podemos perceber que a rede descentralizada, se descentralizou, mas na sua primeira etapa acabou por se fixar em torno de alguns poucos nós: Facebook, Youtube e Twitter, por exemplo.
Hoje, estar nestes ambientes, com cada um tendo o seu canal, é um salto gigantesco e muda toda a sociedade, vide protestos de Junho de 2013, mas nossos novos canais contemporâneos ficam submetidos a um novo modelo de concessão privada que pode, como já faz, criar limites que não são os que queremos.
Podemos dizer, assim, que já começamos a ter problemas por causa disso, o que reforçaria a minha tese do pêndulo cognitivo de que a todo processo de expansão cognitivo vem um de contração.
Não é à toa, que o Augusto é um defensor radical das redes distribuídas, que seria a luta política do próximo século, para fugir do domínio das redes descentralizadas atuais, que já estão nos limitando.
A grande maioria não sente, mas quem já é cobra criada percebe isso claramente.
E aí vem o que podemos ter de interessante quando duas pessoas que estudam de forma honesta e profundamente um assunto podem ganhar.
O Augusto se aprofundou muito no fenômeno Rede e seus autores, no qual eu não fui tão fundo. E eu percorri um caminho histórico, na aba da Escola de Toronto, comparando fenômenos similares ao longo da história, motivado pelo Pierre Lévy que não aparece muito no discurso do Augusto.
Por fim, há ainda a questão do “Que fazer?” “Como migrar?”. Estou ouvindo agora uma outra palestra dele e sobre isso vou falar depois.