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 A revolução não é dentro da velha rede, mas construindo a nova rede!

Assembleia

Marina Silva vai criar um novo partido, saiu aqui.

(Marina, a meu ver, é a líder brasileira mais antenada com os rumos da política mundial, não é à toa que fez o prefácio de um dos melhores livros do ano passado “Terceira Revolução Industrial”, do Rifkin.)

Novo partido?

Nada contra, desde que tenhamos a noção histórica do cenário que estamos vivendo.

Estamos nos primórdios de uma Revolução Social da política, às vespéras de uma Revolução Francesa 2.0.

  • Qualquer iniciativa política que consiga entender esse cenário e use como tática usar o atual modelo para questioná-lo é válida.
  • Qualquer iniciativa política que não incoropore esse cenário e use o modelo atual como estratégia vai nos levar a mais ilusões.

 Por que uma Revolução Francesa 2.0?

Estamos aprendendo que o modelo de gestão da sociedade (no qual se inclui a política) é condicionado pelo ambiente cognitivo de plantão. Muda o ambiente, muda o modelo, foi assim no passado.

Tivemos três eras na política, assim como na gestão (ver mais sobre isso aqui):

  • A era da política oral – dos chefes tribais e dos reis;
  • A era da política impressa – da república, a partir de 1800;
  • A era da política digital – da incipente e emergente república participativa, via redes sociais.

Note que as Revoluções Americana e Francesa, precedidas pela difusão da cultura impressa 200 anos antes, foram movimentos reintermediadores de poder, decapitando metaforicamente (e na prática) os reis, que estavam atrapalhando o desenvolvimento humano e criando uma nova topologia, mais descentralizada: a república.

Houve uma mudança topológica de poder, pois o que era muito fechado em torno de um grande líder, se descentralizou com escolhas periódicas da população dos novos “reis”/”nobres”, políticos, presidentes, primeiros ministros.

Muito água passou por debaixo da ponte e 200 anos depois esse modelo topológico de poder, que foi um avanço para um mundo de 1 bilhão de habitantes se tornou obsoleto para um de 7 bilhões.

Os partidos e seus representantes aprenderam a dominar o jogo por completo, conseguiram aumentar a taxa de fisiologia a níveis nunca dantes navegados e colocar na lona à da meritocracia. Isso é fruto do aprendizado e uso por longos séculos do mesmo modelo topológico.

Não há, a meu ver, saída desse labirinto, pois todo o sistema leva para um caminho intoxicado, por mais que haja ainda pessoas bem intencionadas e honestas.

O sistema e seus desvios são sempre mais fortes do que a força de vontade dos bem intencionados, que são sempre a minoria. O que garante a transparência é uma nova topologia de rede para um mundo mais superpovoado.

Alguma coisa deve ser aprendida com o fracasso do PT, que acreditou ser formado por super-homens e super-mulheres acima do bem e do mal. A vida mostrou que o cavalo era manco.

Assim, criar um novo partido com a bandeira da desintermediação, se aliando ao movimento mundial, como no caso da Islândia, que elegeu e fez usa constituinte pelo Facebook, ou com os jovens espanhóis e americanos, que procuram um novo modelo de representação, que passa pelo digital e colaboração, pode ser um caminho de agregação, sim, ok.

Algo assim me parece algo interessante, mas deixando claro que o novo partido é criado para se auto-dissolver, como o início do filme de missão impossível – que visa pr0mover esse debate, tendo sempre claro que ao crescer o partido será carcomido pelo atual sistema intoxicado, pois a nova política é a nova rede. É preciso ter claro que se deve criar zonas de inovação 2.0 também na política, criando modelos de decisão cada vez mais em plataformas digitais colaborativas para tomada de decisão, espalhando a nova cultura pelo país, acelerando o processo de reintermediação inevitável.

Não se vai assim criar mais ilusões.

Não é possível mais acreditar no modelo topológico atual da política, pois este não tem saída. Não é o caso de reforma, puxadinho, mas de mudança completa da estrutura ao teto.

A luta é, como sempre foi, topológica:

Ou seja, a revolução não é dentro da velha rede, mas construindo a nova rede!

Se for algo assim, estou dentro até a raiz do cabelo.

Se for o sonho utópico e equivocado  igual ao do PT de 1979, do qual fiz parte, de que falta vontade política e honestidade e que agora sim chegaram os honestos e os com muita vontade política, estou fora, pois esta novela já é pra lá de repetida.

É hora de reunir, de novo, os bem intencionados, não fisiológicos, mas que precisam ter um ambiente aberto e transparente para que a vontade de sair do caminho de vários possa ser evitada não pela força de vontade, mas por uma rede aberta, que é capaz de não deixar o instinto humano agir na sombra.

Por aí, que dizes?

 

 

9 Responses to “O anti-partido de Marina Silva”

  1. João Sassi disse:

    Digo que estás em sintonia com o porvir, caro amigo, e digo que transmites a essência daquilo que pode indicar o desabrochar dessa nova humanidade. Parabéns!

  2. Sérgio disse:

    Digo que gostei muito. Parabéns pela elaboração consistente e inteligente.

  3. Luize Sehn disse:

    É preciso difundir a ideia de que a política é um movimento da qual fazemos parte na sociedade que ultrapassa os muros dos partidos políticos assim como meio ambiente não é restrito a ecologia. Ter consciência da vida integral de múltiplas facetas representa dar um passo além e vivenciar a nova política diariamente nas escolhas sejam semelhanças e/ou diferenças tão presentes aos tempos atuais de viver em comunidades.

  4. joao francisco araujo maria disse:

    Muito interessante o texto!! Parabéns!

  5. thelma rodrigues brasil disse:

    Constato a atualidade de Norbert Elias em sua sociedade constituída sim por indivíduos mas transcendendo sua soma. Um processo não auto-determinado em que as tentativas de determinação se diluem na transcendência do infinito processo de interrelação indivíduo/sociedade/indivíduo. Me pergunto e pergunto a vocês: a constituição genética no indivíduo humano é uma resultante social que, no imediato, se torna independente e imune às próprias influências da sociedade?

  6. Digo que Marina Silva precisa ler este teu post! Concordo com vc de A-Z [again…] Nestes termos que vc coloca, tb estou dentro! []s e parabens!

  7. Mauro Soares disse:

    Boa!Interessante e clara a forma que expõe a questão.”A revolução não é dentro da velha rede, mas construindo a nova rede!” De acordo total. Att

  8. Clemente disse:

    Estou com você na visão de que o momento é de grande mudança. A era digital deve influir decididamente sobre a política, principalmente sobre a gestão da coisa pública. No entanto, acho que toda e qualquer mudança se fará com gente comprometida com os novos tempos. O que temos na política é uma velharia caquética. Marina é parte de um dos movimentos sociais mais retrógrados, a igreja pentecostal, que acredita que todos os humanos podem receber um espírito santo para fazer milagres. Uma lástima. É contra aborto e outras coisas incompatíveis com a era digital. Não se iluda. Marina ganhou um número expressivo de votos contra Dilma, mas não apoiou Serra. O projeto dela é personalista. Ela já se declarou inúmeras vezes contra composições políticas e cooperação entre partidos. Ela não se mostra nem um pouco democrática. Infelizmente.

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