Sabemos aquilo que é possível dentro da nossa rede. E podemos ser úteis com o que sabemos apenas para um círculo, que pode ser maior ou menor, conforme a originalidade do que é dito e a capacidade de comunicação do pensador.
Mcluhan não e um autor fácil.
(Estou lendo Meios de Comunicação como extensão do homem ).
Ele não aparenta paciência para explicar as coisas.
Como se fossem tão óbvias, que não precisam ser detalhadas.
Não constrói caminhos.
Já apresenta a casa sem mostrar a estrada que o levou e pode nos levar a ela.
Assim, é um autor que exige mais do leitor, que tem que colocar as peças que falta no “motor do raciocínio”.
Claro que um livro é a extensão de uma obra, mas conceder explicações não custa muito.
O que não quer dizer que o que ele diz não é interessante, porém um pensador que tem problemas de comunicação dificulta o diálogo com a sua obra.
Toda nova idéia tem uma trajetória que parte do senso comum e vai na direção de um novo olhar incomum.
Há um caminho percorrido pela leitura, conversas, fatos, conclusões que leva o pensador a suas conclusões – uma “memória de cálculo”.
Muitas vezes achamos que somos nós que não entendemos um texto por nossa incapacidade, mas muitas vezes esbarramos na dificuldade de comunicacão de alguém, que por motivos distintos, não apresenta bem a sua memória de cálculo.
Ou seja, faltam pontes entre o que o senso comum pensa sobre tal problema e o que o pensador passou a lidar com ele.
Muitas vezes o objetivo é atingir a um público dos “entendidos” ou da sua obra ou da conversa.
Mas acho que clareza não mata ninguém, até por que reduz as interpretações equivocadas do pensamento.
O leitor, em geral, está no senso comum e precisa dessa ponte.
Comunicar, seja presencialmente, seja a distância, exige esforços distintos.
A primeira batalha, sem dúvida, é interna.
Esbarramos com nossa eterna dificuldade de compreensão.
Há uma luta de algo novo que não se encaixa bem com o que pensamos.
Abandonar certezas não é uma tarefa fácil, pois implica em um desprendimento da nossa pseudo-identidade, do nosso falso-eu.
Sair do falso—eu causa medo, insegurança, ansiedade.
O desprendimento das nossas certezas, talvez, seja o primeiro passo na abertura para a comunicacão.
Nos ver de fora, bem como o que pensamos.
Não fazer do nosso acervo algo fechado, mas em contínuo movimento.
Não se trata de falsa-humildade, mas de verdadeira sabedoria e é esta sabedoria que nos leva a humildade capaz de nos tornar prontos para o constante exercício do reaprender.
É, assim, de bom tom, não criar nossa identidade naquilo que acumulamos, mas justamente na procura – e o que nos ajuda a abrir espaço para o outro.
É saudável ter a consciência de que é um processo do qual temos diversas limitações cognitivas, culturais, contemporâneas, de tempo, de recursos.
Sabemos aquilo que é possível dentro da nossa rede. E podemos ser úteis com o que sabemos apenas para um círculo, que pode ser maior ou menor, conforme a originalidade do que é dito e a capacidade de comunicação do pensador.
Essa abertura interna para receber o que vem de fora é fundamental, pois precisamos estar disponíveis para receber — se queremos trocar.
E essa atitude é visível, tanto em encontros presenciais, como nos livros.
- Um discurso fechado pouco pergunta, duvida ou aparenta inconsistência.
- Um discurso fechado denota a dificuldade de comunicação do pensador.
O outro desafio da comunicacão é com o outro, com suas dificuldades para se abrir para algo novo.
Há uma barreira a ser transposta.
Quanto mais fechado é o pensador, mais o ouvinte tende a se fechar e vice—versa.
Além disso, se defendemos ideias novas, obviamente, quem recebe terá alguma reação de resistência.
Há, assim, um aprendizado dos encontros e desse rico embate, do qual se aprende:
— a conhecer as principais resistências;
— formas de explicar melhor;
— inconsistências no próprio argumento;
— melhores estórias;
— métodos para aprimorar o diálogo.
Aprender e ensinar, na verdade, é um método de comunicação, que precisamos reaprender.
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Imagino que existe universo para os dois tipos de diálogo,o aberto e o fechado. Depende do momento.
Não imagino, por exemplo, um Sargento com o diálogo muito aberto e nem um professor com o diálogo muito fechado.
=)
Acho este tema basrante interessante e que extrapola a relação autor-leitor e professor-aluno. Acontece todo o tempo nas organizações, sempre que surgem novas idéias e existe uma dificuldade em se explicar e compreender novos métodos, metodologias.
Luciana, sim, isso mesmo, grato pela visita e comentário.