Problemas complexos são dinâmicos e causam visões desconexas, pois tem causa e efeito só percebidas pela reflexão, pois estão longe no tempo e espaço. Não podem ser percebidos, assim, pelos sentidos; têm desdobramentos imprevisíveis e desconhecidos e, por causa disso, suscitam nas pessoas diferentes visões. Não se pode lidar com problemas complexos da mesma forma que fazemos com os simples – o resultado é desastroso!
Versão 2.0 – 14 de junho de 2012 (revisei depois de pensar mais sobre algumas coisas)
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.
Temos tido dificuldade de analisar a chegada da Revolução Cognitiva e seus desdobramentos, entre outros problemas complexos da sociedade.
Temos nos mostrado incapazes de analisar um problema complexo, perceber que não é algo simples, destacar pessoas para estudá-lo e tomar medidas para que possamos lidar com ele de forma mais madura e racional.
Não é só nesse aspecto, me parece que a crise do Euro, do mercado financeiro e mesmo ecológica denotam que estamos intoxicados demais com a visão indutiva (principalmente estimulada pelos americanos) e não conseguimos mais sair do pensamento cotidiano.
Problemas complexos pedem parar para pensar.
Vivemos um momento histórico de muita atividade e pouca reflexão.
É a dita sociedade do conhecimento (que rejeito o nome), mas ninguém para para pensar.
Não estamos conseguindo separar o que é simples do que é complexo.
E achamos que vamos resolver algo sofisticado da mesma maneira que o simples.
Não vamos são duas formas de lidar com o problema: debaixo para cima ou de cima para baixo, com dois perfis distintos de inteligência: associativos (que ajudam a teorizar) e memorialistas (que ajudam a coletar e agregar os fatos).
Perdemos muito tempo com o irrelevante e deixamos de nos dedicar tempo ao que importa.
É um dos desafios do século XXI.
No livro “Como resolver problemas complexos“ – de Ada Kahane, editado pelo Senac, ele diz lá, citando o Peter Senge:
Problemas complexos são dinâmicos, generativos e causam visões desconexas. Ou seja, dinâmicos, pois tem causa e efeito só percebidas pela reflexão, pois estão longe no tempo e espaço. Não podem ser percebidos, assim, pelos sentidos; têm desdobramentos imprevisíveis e desconhecidos e, por causa disso, suscitam nas pessoas diferentes visões. Tais fatos os tornam polarizados e emperrados.
Perfeito!
Isso tudo é a cara da Revolução Cognitiva e o estranhamento que estamos tendo com as redes sociais. Certo?
Os problemas que estamos tendo na sociedade com a chegada da Revolução Cognitiva são:
1- a complexidade é anti-natural, as pessoas lidam bem com problemas simples, mas têm cada vez menos tempo para parar para pensar. Nossas escolas ensinam de forma a não juntar lé com cré. A filosofia que é a base para pensarmos como pensamos e nos ajudar a melhorar como pensamos é uma cadeira extinta (mas vai voltar, anotem);
(Veja bom artigo da Tanure aqui, que toco em alguns destes pontos.)
2- vivemos um momento especial: o fim de uma era cognitiva e o início de outra. Nesse fundo do poço de baixa circulação de ideias temos uma decadência cognitiva, o que nos torna com mais dificuldade de pensar o longo prazo, a despeito do que dizem, a Internet vai nos ajudar a trabalhar de outra maneira mais adiante;
3- tal fato, nos coloca mais pragmáticos, mais colados à realidade, mais interessados em assuntos do que em problemas, mais memorialistas do que associativos, mais indutivos do que dedutivos, mais pragmáticos e menos filosóficos, mais ligados à coisas que vemos e podemos usar (materiais) do que bens imateriais – o que dificulta uma visão de algo mais amplo, complexo e de longo prazo;
(Note que essas variações são fases de cada um ou de grupos, porém estamos falando de fatores macros, dentro do espírito do estudo da macrocognição.)
3- o tema da mudança cognitiva atualmente é tratado (como tantos outros) de forma corriqueira, como um problema simples, relegado na organização a escalões mais operacionais e técnicos, com menos maturidade e/ou poder de decisão.
O principal erro que tal problema tem tido nas organizações é o seguinte: quem tem tomado decisões nessa complexidade é quem não tem tempo e nem o perfil necessário para tal.
Ou seja, temos um problema complexo e estratégico sendo encaminhados para perfis muito táticos e práticos para resolvê-los e isso é o “x” da questão!
Tal desalinhamento tem como consequência:
a) método de tentativa e erro em algo que precisa ser visto mais de cima;
b) custos elevados, além do necessário;
c) crises culturais, falta de medição;
d) abertura de espaço para concorrência;
e) por fim, radical perda de valor competitivo no mercado por falta de visão adequada do cenário.
Podemos dizer que se avalia uma empresa saudável pela capacidade de identificar problemas complexos e dar para eles as cabeças mais associativas e estratégicas, mais de cima, para o estudo e decisão. E pela capacidade de criar espaços de inovação transformadora (dentro ou fora) para experimentar novas formas de produzir ou de gerir.
Nada disso está sendo levado em conta nesse caso em particular!
Isso nos impede de ver melhor os seus contornos.
Problemas complexos, portanto, pedem a história para que possamos ver suas causas, pois elas estão longe.
Por isso, problemas complexos pedem uma visão dedutiva, de cima para baixo, da filosofia e da teoria para os cases e não o contrário.
Não que a visão indutiva (dos cases para as teorias) não seja boa, porém, para problemas complexos são pouco eficientes!
Temos um mega problema de cenário e quem está se debruçando sobre ele não tem janela para olhar e – quando tem – não pode fazer nada com ela.
É isso,
Que dizes?
Acredito que é um pouco mais do que apenas um problema de cenário. Trata-se de uma mudança de paradigmas tão séria quanto foi no tempo de Galileu Galilei admitir que a Terra não era o centro do Universo, na verdade era apenas um planeta, rodando em torno de um Sol, num universo de zirilhões de estrelas. O que estamos vivendo é uma ampliação concreta da percepção das relações e conexões que sempre existiram de tudo com tudo. O Ser humano está tendo que reconhecer que a Natureza não existe para ele, para seu domínio e controle. Os humanos começam a perceber que são apenas parte de algo muito mais complexo e poderoso e que seu entendimento de tudo que existe é ainda muito limitado.
As tecnologias sempre funcionaram como uma forma dos humanos de ampliar sua percepção e entendimento do Universo e com isso criar melhores condições de sobrevivência da espécie. A educação tem suas tecnologias que precisam se adequar e avançar na produção e disseminação de conhecimentos, adaptando-se e recriando novas formas de aprender e ensinar, de acordo com a compreensão de mundo de cada época. É por aqui, neste território, que me parecem estar os maiores desafios.
Gostei muito da definição de empresa saudável. O “saudável” como capaz de sustentar no tempo a “saúde” que apresenta no momento em que foi tirada a foto. Seria uma ótima idéia ter um índice de empresa saudável com base nesse conceito, mas para isso teríamos que desenvolver um método de aferição em movimento, senão estaríamos contrariando a própria definição.
Só trocaria o título do post.
Primeiro porque a revolução nao é um problema em si. E depois, também nao acho certo dizer que ela traz problemas complexos. Isso é só o que a gente está enxergando agora, mas uma revolução cognitiva traz, na minha opinião, as soluções para os problemas complexos que ela nao gerou.
Meninas, vocês estão afiadas! 😉
Daisy, você comenta…
“Acredito que é um pouco mais do que apenas um problema de cenário. Trata-se de uma mudança de paradigmas tão séria quanto foi no tempo de Galileu Galilei admitir que a Terra não era o centro do Universo, na verdade era apenas um planeta, rodando em torno de um Sol, num universo de zirilhões de estrelas”.
Sim, são visões sobre a sociedade e o humano que precisam de novas teorias, tal como a do Lévy que nos dá essa dimensão, falei mais sobre essa mudança de paradigma, aqui:
http://nepo.com.br/2012/05/14/o-design-cego-das-tecnologias-cognitivas/
Temos uma dificuldade de ver – o conceito dos problemas complexos de Senge cai como uma luva..e colocar a Revolução Cognitiva atual mostra bastante por que estamos tendo tanta dificuldade de lidar com ela.
Você continua:
“O que estamos vivendo é uma ampliação concreta da percepção das relações e conexões que sempre existiram de tudo com tudo”.
Essa guinada do ver começa com a visão sistêmica x a visão cartesiana que já estava em curso…a parte contém o todo e não pode ser vista de forma isolada….vai nessa direção, porém, tem um dado importante – a visão sistêmica é a procura de olhar para as mesmas coisas de outro jeito.
O problema da revolução cognitiva é que existe um novo fenômeno que não é teórico – ele é vivo, existe, o que nos obriga AINDA MAIS ater que olhar de uma nova maneira.
O que a visão sistêmica ajuda mais que a cartesiana, ainda digo mais, a visão dedutiva vindo da filosofia e teoria para os fatos, veja que detalhei mais sobre isso aqui:
http://nepo.com.br/2012/05/10/e-tempo-de-pensamento-dedutivo/
Você ainda diz:
“O Ser humano está tendo que reconhecer que a Natureza não existe para ele, para seu domínio e controle. Os humanos começam a perceber que são apenas parte de algo muito mais complexo e poderoso e que seu entendimento de tudo que existe é ainda muito limitado”.
Essa percepção vem da transparência da rede também, mas faz parte de outro problema complexo que é o ecológico, que a rede digital dá uma saída diferente para ver e ajudar a minimizar….fazem parte do mesmo barco, bem lembrado, porém a visão da rede como algo complexo é independente.
“As tecnologias sempre funcionaram como uma forma dos humanos de ampliar sua percepção e entendimento do Universo”.
Ainda mais as tecnologias cognitivas, que não podem ser vistas como tecnologias quaisquer, pois expandem nosso cérebro que ficam mais ágeis para desenvolver outras tecnologias.
“e com isso criar melhores condições de sobrevivência da espécie. A educação tem suas tecnologias que precisam se adequar e avançar na produção e disseminação de conhecimentos”
Diria tecnologias, filosofia, teorias, conceitos e métodos que precisam avançar…
“, adaptando-se e recriando novas formas de aprender e ensinar, de acordo com a compreensão de mundo de cada época. É por aqui, neste território, que me parecem estar os maiores desafios”.
Concordo, mas você pegou a palavra “cenário” e globalizou, se ler o texto com calma verá que não acho que é só uma mudança de cenário, mas também é ….
Outra coisa que é importante é perceber para quem um determinado texto é escrito, meu esforço agora tem sido ajudar organizações com essa visão e alguns termos, códigos, conceitos precisam ser colocados para que haja essa conversa…..
Cenário é algo de fácil compreensão.
Grato pela visita e comentário, interessantes…
Lu, agora você. 😉
LUCIANA SODRE says:
“Gostei muito da definição de empresa saudável. O “saudável” como capaz de sustentar no tempo a “saúde” que apresenta no momento em que foi tirada a foto. Seria uma ótima idéia ter um índice de empresa saudável com base nesse conceito, mas para isso teríamos que desenvolver um método de aferição em movimento, senão estaríamos contrariando a própria definição”.
Bom, a métrica de uma empresa saudável e a geração de valor que se expressa em duas coisas, clientes gostando e, em função disso, dinheiro sendo gerado. No caso da área pública, mais eficiência e criação de medição de ok dos clientes, que geralmente não há.
“Só trocaria o título do post.
Primeiro porque a revolução nao é um problema em si”.
Discordo, temos sim um problema de percepção e alinhamento. Um novo fenômeno é um problema a ser compreendido, imagina uma nova doença, é um problema que precisa ser pensado, reavaliar filosofia, teorias e metodologia…problema nesse sentido…é algo que tem que entrar na pauta para ter-se atitudes, você só tem atitudes se enxerga que algo precisa ser feito…nessa direção..agree?
“E depois, também nao acho certo dizer que ela traz problemas complexos”.
Ops, olha a comunicação..não digo que traz problemas complexos, ou não penso assim, o que digo que é um problema que tem que ser colocado como complexidade….para não se ter respostas simples, como estamos vendo, na hora de lidar com ele…
“Isso é só o que a gente está enxergando agora, mas uma revolução cognitiva traz, na minha opinião, as soluções para os problemas complexos que ela nao gerou”.
Isso eu gosto..digamos que há:
a) a percepção do fenômeno – que é um problema;
b) e o fenômeno que vem resolver problemas complexos da humanidade de nova maneira.
Separa-se duas coisas….
Vou pensar mais sobre isso, gostei bastante das observações, ajuda a melhorar a visão..
bjs,
Nepô
Continuaremos conversando NepÔ!
Nepo, quando vc diz: “O tema é tratado de forma corriqueira, como um problema simples, relegado na organização a escalões mais operacionais e técnicos, com menos maturidade e/ou poder de decisão.”
Eu acredito que as consequências vão muito mais além, por ex:
a) método de tentativa e erro em algo que precisa ser visto mais de cima;
– Isso gera um desgaste do projeto, perda de crédito na idéia, descrenca de que um projeto de “comunicação desintermediadora emrpesarial” é necessário. O que acaba não só minando futuros projetos, mas intoxicando ainda mais a organização.
b) custos elevados, além do necessário;
– Além do desgaste gerado, o alto custo do projeto (fracassado) deixa a alta direção com muito mais receio de futuras mudanças, tornando a estrutura ainda mais rígida do que ja é.
c) radical perda de valor competitivo no mercado por falta de visão de um cenário adequado.
– Perda de valor competitivo e de valor “cognitivo” e consequêntemente perda do “valor da comunicação”, o que agrava ainda mais a situação.
Então, do meu ponto de vista, caso um projeto não seja muito bem estruturado é melhor que não saia do papel do que criar um fiasco desgastante, caro e problemático.
Bruno, essa de não fazer nada é uma alternativa, desde que haja uma preparação + capacitação para que quando se fizer haja a noção do que deve ser feito, porém o mundo não é bem assim, e nós agentes de mudança 2.0 temos que ter sabedoria para saber lidar com tudo isso,
grato pela visita e comentário,
Nepô.
Resposta perfeita!!! Resposta perfeita…
Quando disse que é melhor não fazer nada, me referia à quando o tema é tratado de forma corriqueira, simples e relagado a escolões despreparados! 🙂
Valeu Bruno!
Lu, vou retomar a minha resposta, pois pensei mais sobre o que você falou. Na verdade, tenho tentado, nem sempre com o sucesso que gostaria, dividir esse blog em três níveis, para três públicos, coerente com a ideia que trabalhamos com filosofia, teoria e metodologia para lidar com a vida.
Diria que parte do blog se dedica aos curiosos pela filosofia, outros pela teoria e, talvez a maioria, pela metodologia,que nos permite agir.
Quando digo que a Revolução Cognitiva é um problema – estou falando com os filósofos e teóricos, um problema a ser compreendido, um desafio.
Para os gestores, sim, ela é uma grande solução…que vem resolver outros problemas, vou tentar deixar isso mais explícito…
Já fiz isso nas categorias, mas vou deixar ainda mais, grato pela sua provocação.
[…] Podemos dizer, assim, que a análise dos efeitos das tecnologias é um problema complexo (ver mais sobre problemas complexos aqui.). […]