Há um vício do mercado, que acha que estamos entrando em um mundo novo. E este mundo é o digital. Porém, o digital é a porta para o mundo novo que cria outra dinâmica de troca humana. Precisamos entender e lidar com o mundo que fica DEPOIS do portão digital.
Versão 1.0 – 22 de março de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
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IGEC – ENCONTRO 1 – DIG 10
Ontem, comecei meu módulo “Conversão 2.0” com o pessoal da Dig10, no IGEC.
A grande batalha inicial que tem ficado cada vez mais clara nessa minha jornada de estudar, apoiar projetos e capacitar novos perfis profissionais tem sido a de tirar o foco da causa e mirar principalmente nas consequências.
Explico.
Há um vício do mercado, que acha que estamos entrando em um mundo novo. E este mundo é o digital. Porém, o digital é a porta para o mundo novo que cria outra dinâmica de troca humana. Precisamos entender e lidar com o mundo que fica DEPOIS do portão digital.
Na verdade, essa tecnologia nova, está mudando a forma das pessoas estarem no mundo, juntando gente e, por causa disso, podendo criar um mundo novo, nessa ordem.
Ontem, me veio essa frase do título:
Avisa: o digital é o mosquito; a desintermediação, a dengue;
Estamos olhando para a causa e ficando na causa, sem conseguir ver a dor no corpo, a febre e todas as reações que o mosquito digital começa a trazer e ainda muito trará para a sociedade.
Ao pensar em formar alunos para realizar a tarefa do curso do IGEC: “Estratégia em Marketing Digital“, na verdade, estamos dando uma ênfase ao digital, como se ele fosse um lugar ou um campo de estudo.
Não é.
O nome do curso é aquele que o mercado entende, mas meu esforço e de outros professores, assim como da coordenação é tentar passar que estamos falando de:
“Estratégia de Marketing em um mundo mais desintermediado por tecnologias digitais em redes”.
O digital é apenas um mosquito que nos picou.
É esse profissional com essa visão mais ampla que o mercado necessita.
Temos que, como médicos, olhar o que isso causa nas pessoas.
Podemos dizer que estamos hoje:
- – falando muito mais do que quando estávamos hipnotizados pela televisão;
- – a conversa, mesmo que as mais bobas, criam canais de interação, fundamentais para que o ser humano se sinta menos só;
- – e nesses canais, além das fofocas, rolam coisas que vão nos ajudando a resolver problemas;
- – nesses espaços sabemos o que anda funcionando no mundo e o que não anda;
- – e sem falar do acesso a informações de desconhecidos, de todos os lugares.
Há, assim, um adensamento das trocas humanas, QUE COMEÇA NO DIGITAL, mas vamos saindo juntos da solidão e começamos a nos ver mais como gente social que sempre fomos, criando maior possibilidade de encontros tanto online como presenciais.
Isso dá um poder e uma maturidade maior para as pessoas, como consequência do digital.
Ou seja, depois que a civilização passa pelo portal digital (como foi com a chegada da prensa em 1450) ela sai mais madura do que era antes e pronta para construir um novo mundo e lidar de forma nova com velhos problemas! O que as empresas precisam hoje não são profissionais que entendam DO DIGITAL, mas sim profissionais capacitados para lidar com um consumidor mais maduro e mais sofisticado, por causa do digital.
A descentralização é o grande fator de mudança e é com esse novo tipo de adensamento humano mais maduro, global, integrado, ágil, viral e que as instituições estão tendo que lidar ainda com pouco sucesso, pois estão olhando para o mosquito e não para a febre!
Avisa geral: o cidadão e o consumidor não são mais aqueles bobinhos que já foram no tempo informacional passivo da mídia de massa, da tevê, do jornal e do rádio!
É preciso, assim, entender que a tecnologia é indutora de cultura e não a própria cultura! E a nova cultura não é a digital é de um mundo mais desintermediado do que era antes. E é isso que está mudando – uma relação mais madura e desintermediada das pessoas com as organizações! E é para lá que as organizações devem migrar, com ajuda de profissionais que entendam essa mudança e estejam capacitados para ajudá-las a lidar com ela.
São estas as reflexões do primeiro encontro com a Dig10.
E você o que diz?
Vai ficar aí passivo? 😉
[…] Nepomuceno | 22/03/2012 • 10:15 Que dizes? Há um vício do mercado, que acha que estamos entrando em um mundo novo. E este mundo é o […]
Olá Nepô, queria eu conseguir expor meu raciocinio bem formatado em palavras como você. Do texto acima estou percebendo uma consequencia diferente em relacao ao “ser humano se sinta menos só”. Eu tenho uma visão de que o excesso de informacoes está tornando um vicio para a humanidade onde há cada vez mais a necessidade da “novidade”. Um exemplo são aqueles numerozinhos do facebook. Uma pessoa abre a página sedento para ver os numeros ( qntde de referencias novas q vc tem). e quando ver que não tem nenhum sente uma frustração enorme junto com o sentimento de vazio por ter ficado 5min fora da pagina e ao retornar não ver nenhum referenciamento. essa historia é apenas um dos exemplos. Mas o que quero dizer é que excesso da informação, cada vez mais aumente a necessidade de preencher um “vazio” desconhecido, onde muitas pessoas perdem a personalidade, buscam a religiao e frustam qndo ver varias verdades. buscam a espiritualidade, ou buscam a depressão. esse vazio faz com que se sinta só. ficar um dia sem falar com ninguém a percepção de solidão é muito maior qndo na era analógica. ah, a moda também é preencher esse “vazio” com o consumo (um buraco negro). O consumo devorador, onde sabemos que há de tudo mesmo que não possamos comprar. Como diz a Sra Marina Silva, estamos sentindo a FALTA da FALTA. falta de construir uma historia (inicio, meio e fim) por causa da desintermediação.
Igor, de fato, existem efeitos nocivos da rede, longe de mim achar que tudo é maravilha, se dei essa impressão, não é o o que penso. Porém, esse adensamento que a rede nos traz, que precisamos aprender a lidar com seus lados mais doentios, provoca nas pessoas um outro patamar de maturidade informacional e é isso que precisamos trabalhar, não podemos dizer que nem tudo é rosa e nem tudo cinza, existem as duas pontas e algo no meio que é a grande maioria, concordas. A ideia é essa, grato pela vista e comentário.
Interatividade consciente.
[…] há um fator mais profundo que é o que ela trará de mudanças mais permanentes para a sociedade. Como disse no post passado, o digital é apenas um portal para a entrada em um novo mundo mais descentralizado. Temos que […]
Devo confessar que a ideia do mosquito e da dengue ficaram abstratas durante a aula, mas após ler esse post a ideia se concretizou e acho que consigo entender melhor a relação das pessoas com as mídias sociais descrita por você. As redes sociais e outras mídias tecnológicas não devem ser o foco de nossa atenção, apenas ser utilizadas como instrumentos para nos relacionarmos efetivamento com as pessoas e extrairmos os objetivos necessários para cada tipo de campanha digital. Foi isso que deu pra entender, por favor, me corrija se estiver errado. Grande abraço a todos.
Jefferson, reforçando seu comentário sobre a primeira sessão de desintoxicação coletiva da DIG10… acho que é por aí, mas não sei se o Nepô concorda. Entender bem os efeitos da chegada desta nova tecnologia desintermediadora, que rompe com o ciclo controlado pela mídia de massa, possibilita enxergar melhor novas oportunidades, traçar estratégias mais adequadas ao novo ambiente, criar novos modelos de negócios… É interessante perceber que os grandes saltos civilizacionais ocorrem por causa de revoluções informacionais. O que muda o mundo profundamente não são economia e política, como a grande maioria acredita, e sim a chegada de uma nova tecnologia desintermediadora, que acaba provocando a mudança de conceitos e processos oriundos do ciclo anterior, permitindo assim resolver os problemas com mais eficácia. O que acha?
Acho que é por aí mesmo. Sem dúvidas é uma forma de gerir seu negócio de uma forma mais humana e madura.
Boa Marcelo, acho que até o final do módulo teremos uma ideia concretizada sobre o assunto. Até logo.
– O que estaria acontecendo hoje?
Estaríamos vivendo um momento/processo de desintermediação da comunicação.
– Qual seria o motivo disso?
A sociedade já estaria cansada da falta de comunicação. (E você?)
– O que poderia acontecer nesse mundo menos intermediado pelos meios de comunicação de massa?
Ainda é cedo para afirmar alguma coisa. Mas, se lembrarmos do caso da geladeira da Brastemp e do violão da United Airlines, fica fácil perceber que, de fato, “tem algo diferente no ar”.
– E qual seria a relação disso com a pós em gestão estratégica de mkt digital?
Um profissional que trabalha com estratégia precisa ser capaz de ver o contexto das coisas. Nas palavras de Nepô, ele tem que olhar o filme todo, não apenas uma foto.
“Como ficaria a arquitetura se todos virassem arquitetos? Como ficaria a medicina se todos virassem médicos? Foi o que aconteceu com a comunicação: todos nós viramos comunicadores. E a comunicação ganhou força e velocidade com isso”.
Artigo “Kony 2012” de Nizan Guanaes citado em aula.
Folha de S.Paulo (20-03-2012)
(http://bit.ly/GSl5nL)
Estava tentando fazer uma ponte sobre a desintermediação e um conceito que ouvi muito durante a faculdade, que também era bastante atribuído pelos meus professores ao mundo atual: segmentação da comunicação, impulsionada pelo enfraquecimento dos MCM. Confesso que está sendo difícil, porque ambos me parecem um pouco antagônicos. Só consegui chegar a uma ligação: hoje os públicos se segmentam e possuem interesses diversos, formando nichos que trocam cada vez mais ativamente e “desintermediadamente” em espaços ‘específicos’. Será que é por aí, gente? Ou não tem nada a ver? rsrsrs
Oi Isabella, seguindo nesse papo de nichos, me lembrei da teoria da Cauda Longa de Chris Anderson.
Copio parte de sua entrevista (http://glo.bo/GZH33e)
Nossa cultura e economia estão mudando do foco de um relativo pequeno número de produtos que vendem muito no grande mercado para um grande número de nichos.
Com a internet, o custo de produção e distribuição cai, assim produtos e serviços segmentados podem ser economicamente tão atrativos quanto produtos de massa.
Abraço!
Lilian, legal, valeu visita.
Lilian e Isabella, li o livro A Cauda Longa de Chris Anderson (recomendo fortemente) e realmente não resta dúvida para mim, que chegou a vez do mercado de nicho. Vamos aproveitar?
Marcelo, é nicho e massa tudo junto…não?
Pessoal, obrigada pela dica! Ana Erthal, orientadora do Núcleo de Inovação que participo no meu trabalho, já havia me indicado esse livro. Obrigada pelo reforço, vou comprar agora mesmo! 🙂
[…] (Já fiz um post usando a mesma metáfora, aqui.) […]
Acredito que nesse novo cenário desintermediado, o profissional que melhor souber aproveitar as oportunidades criará um novo vírus, compatível com o mosquito existente (Aedes Aegypti, nesse caso), para disseminar uma nova epidemia (diferente da dengue).