Tudo é rede e sempre foi. Nós é que não víamos – Nepô – da safra 2010;
Texto conceitual
Livre para republicação (coloque apenas o nome do autor e o link para este texto, pois pode ter uma versão mais nova)
Versão 1.0 (Rascunho) – 26/01/2012 – colabore na revisão!
O principal problema das organizações ao pensar em projetos 2.0, de redes sociais, de gestão de conhecimento 2.0, de informação descentralizada ou o nome que escolher é o arraigado e pouco eficaz conceito de rede que temos nas nossas mentes de um mundo centralizado pela mídia de massa.
Nosso conceito de rede, portanto, é antiquado, incompatível com a atual realidade e isso nos dificulta, portanto, planejar melhor de onde estamos e para onde vamos com a chegada de uma voraz e apressada Revolução Cognitiva.
Podemos constatar que para a maior parte das organizações rede é algo parecido com um extra-terrestre, completamente fora do que podemos chamar de cultura organizacional tradicional.
E esse susto com pitadas de medo explica e justifica nossas atitudes pouco embasadas e pouco estruturadas em relação a esse novo problema a ser trabalhado.
Como muitos autores dizem por aí: temos que ter uma noção clara do tamanho da mudança pela qual estamos passando antes de agir de forma precipitada!
Registramos por aí, de forma explícita ou implícita:
- A organização é uma coisa e a rede é outra.
- A organização é uma estrutura e a rede é outra.
- A organização tem uma lógica e a rede tem outra.
Quando o mundo das redes chega por todos os lados, principalmente com o nome de redes socias, torna-se imperativo mudar, mas mudar para onde? Precisa mesmo? Não é mais uma onda administrativa? Será que é tudo isso mesmo? Não dá para adiar mais um pouco?
Nós estamos tão bem…
Opta-se, assim, por não pensar sobre o tema e ir com o mercado tateando uma solução sem uma visão global, mais holística e estratégia das causas e efeitos de algo tão grande e poderoso.
Perde-se, assim, a chance de se fazer projetos com menor custo, menor taxa de riscos e de colher as oportunidades que estão por aí brotando por todos os lados.
Muitos acham que essa é uma discussão conceitual de rede é muito teórica e nada relevante para o futuro dos negócios. Será?
Entretanto é bom que se diga.
O pragmatismo funciona muito bem para mudanças incrementais, sob um mesmo paradigma. Quando é algo radical e baseado em outro paradigma, recomenda-se cautela e canja de galinha reflexiva.
Gosto e uso muito essa frase que li por aí:
“Nada mais prático do que uma boa teoria”.
Ou seja, a teoria ajuda a planejar melhor, desde que bem voltada para a geração de valor, focada em problemas mais complexos, que nossas vãs intuições não dão conta.
E ainda digo mais:
“Podemos dizer que só se pensa fora da caixa quando olhamos nossas teorias como turistas e colocamos no lugar novas percepções”.
E para olhá-las é preciso refletir como pensamos senão continuamos repetir os mesmos erros com uma pequena dose de maquiagem.
Iniciar um projeto de implantação de empresas 2.0 mais colaborativas passa por uma reconceituação teórica das redes para depois definir o projeto prático: onde estamos e para onde vamos?
isso é ponto pacífico ou atlântico, a gosto. 😉
Quem começa debaixo para cima (da prática para depois conceituar), pode chegar lá também, mas vai gastar muito mais dinheiro e pode competir com quem veio da visão geral para a específica – mais recomendada em situações de grandes rupturas.
Dito isso, imagina-se hoje no mercado, portanto, que a empresa vai “entrar” nas redes sociais, como se fosse um território estranho, inóspito, desconhecido. Uma praia cheia de pedras e conchas pontiagudas.
Só que dificilmente uma organização já não teve alguma experiência de redes mais horizontais, mesmo que sem tecnologias modernas de redes sociais.
Já experimentou isso em algum lugar, já tem alguns setores mais avançados nessa área.
Ou seja, o que precisa é revisar as experiências e aprender com o que já fez, seja nas redes internas e/ou externas, criando pontes de uma empresa mais vertical, que vai ficando obsoleta para uma mais horizontal – mais competitiva.
Pode-se e deve-se implantar a nova cultura com calma, através de projetos pilotos, ou mesmo abrir start-ups (como fez a Americanas.com, por exemplo), mas é importante que os bolsões que vão experimentar a nova cultura possam ter liberdade para vivê-la por inteiro e poder se disseminar as boas práticas e melhorar o que não funcionou a contento.
Não é algo, assim, de fora, feito por pessoas diferentes das que conhecemos, mas algo de dentro, que precisa ser visto de forma diferente, como uma macro-gestão de mudança necessária, diante do fenômeno que estamos vivendo.
Teremos sim tempos distintos de impacto da chegada da nova cultura em cada setor, conforme a área de atuação, algumas mais urgentes (vide indústrias de comunicação, informação e entretenimento – bens intangíveis) e outras com mais vagar – produção de bens tangíves.
Mais a meta é imaginarmos uma empresa 2.0 com uma cara muito próximo de uma colmeia, na qual as abelhas atuam de forma coletiva com cada um sabendo seu papel, com um tipo de controle muito mais maduro e sofisticado do que feito atualmente.
As pontas vão trabalhando com princípios gerais muito mais do que por ordens fechadas e restritas.
Isso exige empresas menos gananciosas e mais sociais, que vão gerar valor, através da cada vez maior troca com o ambiente e não mais tentando intermediar relações e impedir a circulação de ideias e produtos.
Essa passagem de uma rede mais vertical para uma mais horizontal é um caminho cultural mais difícil, mais doloroso, mais profundo e – como somos humanos – optamos pelo viés mais imediatista, mais de curto prazo, de ver o processo como algo tecnológico, no qual não se muda a forma da empresa ser e fazer a gestão, apenas introduz-se novas tecnologias para tapar um sol com uma peneira pequena.
Assim, se a organização não se vê como uma rede, mas tem algumas redes internas exóticas e redes externas estranhas a tendência é que a organização queira “controlar” com a cultura passada.
Impor a sua cultura de não-rede para as redes inóspitas, tanto de dentro como de fora.
Os fracassos de uso inadequado das redes sociais podem ser diagnosticados por causa dessa visão pouco eficaz de achar que as redes sociais é um bicho de sete cabeças, algo estranho e não o caminho natural para o qual a empresa vai migrar.
O modelo mental clássico das organizações é este “Eu não sou rede” e tenho que lidar com um monstro chamado “Rede” como dois seres separados e não como algo do tipo passado e futuro:
Implementar projetos de empresas 2.0, objetivamente, é mudar a maneira de se pensar redes e criar uma nova gestão por redes menos engessada, mais dinâmica, mais inovadora, mais fluída, mais compatível com o novo século.
Ou seja, não estamos falando de trazer uma rede para dentro do modelo vertical, mas mudar o modelo vertical para algo mais compatível e alinhado com a nova forma que aparece de fazer negócios, muito mais parecido com as abelhas do que o mundo de aranhas, com poucas cabeças e muitas pernas.
Os atuais projetos de implantação internos e externos de redes sociais, que podemos chamar de “empresas 1,5”, estão tentando fazer o seguinte: incluir na organização modelos isolados horizontais, na estrutura vertical.
Tem tudo para gerar crises internas e externas, pois as duas culturas são incompatíveis entre si:
O problema dessa concepção é que ela é artificial, conservadora e pior de tudo, fará a organização perder muito dinheiro, valor e competitividade ao longo do tempo.
Compare o valor das ações da bolsa da Microsoft (vertical) e Apple (no modelo horizontal que implantaram). Vais levar um susto.
Por fim, algumas novas verdades precisam ser problematizadas e discutidas estrategicamente:
- As novas redes horizontais vieram para ficar, não são opcionais, mas obrigatórias, com um tempo de impacto em cada setor. Isso se deve ao condicionamento que uma tecnologia cognitiva tem na sociedade, um novo fenômeno ainda pouco estudado;
- Elas criam uma nova dinâmica de inovação, que estabelece um patamar de competitividade com outra cultura de controle, que as empresas serão obrigadas a adotar, que altera profundamente a relação de cada pessoa com sua formação mais arraigada, incluindo formação familiar, escolar e empresarial;
- A migração é feita através de nova forma de circulação de ideias, passando de um modelo mais vertical das organizações para algo mais horizontal;
- A nova cultura de circulação de ideias, entretanto, a longo prazo, mudanças radicais nos processos produtivos e não apenas mudanças na comunicação ou no fluxo da informação/conhecimento, que é apenas a primeira etapa, mas nunca um fim em si mesmo;
- Projetos 2.0 são assim a migração da gestão das organizações (onde se inclui conhecimento, informação, comunicação e processos produtivos) de um ambiente mais vertical e menos dinâmico para algo mais horizontal e mais dinâmico, capaz de gerar valor e competitividade alinhado com o novo século hiperpopuloso e hiperconectado.
O caminho me parece ser esse.
Que dizes?
Nepô
Como você afirma (e as evidências confirmam), estamos em uma revolução cognitiva. Muitas pessoas em cargos de controle-comando-supervisão nas organizações ainda não percebem isso. Acham que a mudança não é de processo, mas sim tecnológica. A nova geração chegando a este modelo-velho organizacional tem provocado alguns desajustes, devido a sua experiência rede-horizantal. Até quando tentaremos por vinho novo em odres novos? Em muitos casos, não dá para começar do “0” devido a inúmeros fatores. Então pergunto: Como as empresas conseguiram mudar a estrutura piramidal para a estrutura em rede? Entendo que a educação (educar as pessoas para que reconheçam essa revolução cognitiva) seria o combustível/condutor para a mudança acontecer. O que “re-dizes”? rs.
Corrigindo: Vinhos novos em odres velhos.
Nilton, essa pergunta:
Como as empresas conseguiram mudar a estrutura piramidal para a estrutura em rede?
É a base principal de um novo campo de ação na sociedade, que podemos chamar de macro-gestão de mudança, de alinhamento do mundo 1.0 para o 2.0.
Não temos ainda teóricos e nem práticos que estão capacitados devidamente para respondê-la.
O que se vê por aí são agências procurando criar empresas 1,5, mas há um grave erro de avaliação de cenários.
No que tenho visto e tentando ajudar, a base de tudo é capacitação e diálogo com organizações mais sensíveis a esse desafio.
Não tem fórmula, apenas abrir espaço e usar a macro-lógica e não aceitar a fumaça que domina hoje o debate sobre o tema, abraços, grato pela visita e comentário.
[…] Veja mais esse problema da revisão do conceito de rede, aqui. […]