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Afeto 2.0

“Tens que ser a mudança que queres para o mundo” – Gandhida coleção;

No post passado, narrei minhas impressões/dor de cotovelo de não ter passado num concurso público para professor de uma Universidade pública.

Tá passando. 😉

Concentrei meus esforços para o estudo, partindo da visão da banca sobre o mundo informacional e foi aí que caí do cavalo.

Teoricamente, nos últimos textos da banca, se lê claramente a percepção da mudança, sua relevância e a necessária procura de saídas.

Acreditei nisso.

Porém, meu grande aprendizado nesse concurso – que fecha algo que já pressentia – é de que qualquer mudança paradigmática, ainda mais na informação/comunicação é cognitiva (inicialmente) no discurso, mas principalmente afetiva (nos finalmente) em colocar coisas em prática.

Ou seja, a banca era 2.0 no discurso, mas a avaliação, os critérios, a estrutura do concurso era toda 1.0, baseada nos paradigmas passados.

Não houve um salto reflexivo no afeto, apenas no intelecto!

Um novo paradigma impõe  mudar nossa prática, o dia-a-dia, e isso é mudança afetiva, pois temos que atuar de outra maneira, contra nosso impulso mais básico de ir seguindo, conforme o piloto automático, ensinado do berço para cá.

Só reflexão sobre o afeto muda a maneira de agir.

É a parte hard do processo, que Senge e outros expressaram no livro Presença. Mudança de atitude e não de discurso, o resumo da obra.

O mesmo que Dimenstein registra no último domingo quando apresenta o convênio de Harvard e MIT, produtores de prêmios Nobels, jogando a toalha da onipotência e se unindo para pensar saídas para o câncer.

Superam egos, vaidades, para poder dar um salto de qualidade, de forma colaborativa, usando a rede e fora dela.

O objetivo?

Inovar melhor e produzir melhor, continuando à frente.

Quanto de trabalho em cima do ego foi feito aí?

Um novo paradigma informacional é algo que altera nossas raízes mais profundas.

Um paradigma informacional reestrutura a forma de poder vertical, iniciada em casa, amadurecida na escola e depois na profissão.

Mexe com o totem e o tabu.

Produzir colaborativamente em rede, de forma horizontal, superando antigos intermediários vai contra o nosso falso-afeto original, congelado pelo ego, e definido como “nossa maneira de ser” em um ambiente informacional marcado por um determinado tipo de relação vertical.

A mentira informacional construída que chamamos de “nossa verdade”

Estamos embebidos num ambiente vertical, vemos que o mundo muda, mas precisamos nos mudar com ele.

Conhecer é se auto-conhecer.

Gandhigamente falando: “é preciso ser a mudança que queremos para o mundo”.

E isso é complicado, pois é preciso entrar em processo de mutação cogntiva/afetiva, pensar e agir coerentemente a cada etapa do processo.

E é esse o desafio que o mundo 2.0 nos impõe.

O Rei precisa ser guilhotinado, ele não foi escolhido por Deus, não tem sangue azul, existe uma nova forma de estruturar a sociedade – mais de baixo para cima ainda.

Mas nós precisamos andar em direção à diferença entre o nosso afeto prisioneiro por uma mídia passada e a porta da prisão que está aberta.

Só você é capaz de dar estes passos!

Quantos acham que a coisa é tão profunda?

E dos que até intuem, quantos estão dispostos a isso, já agora?

Por que não adiar mais um pouco?

Não é fácil, mas necessário.

O mundo gira em outros mares nunca dantes navegados em 7 bilhões de braças (habitantes no planeta).

O passado pode parecer uma bóia conhecida, que salva,  mas tende sempre a afundar cada vez mais, levando-nos inapelevamente com ele.

Que dizes?

17 Responses to “Afeto 2.0”

  1. Sylvi Faustino disse:

    Tem uma simples e velha frase que define um pouco isso: “Falar é fácil, fazer é que é difícil.”
    De acordo com seu post, acredito que a sociedade, por estar conectada às novas tecnologias, acredita que é completamente 2.0 e assume isso como verdade absoluta, entretanto, suas ações e percepções ainda estão presas aos velhos paradigmas.
    Mudanças? Essas vem acontecendo lentamente e é percebida e realizada por poucos, é preciso acelerar e multiplicar.

  2. Raquel Costa disse:

    Nepô,
    No século PASSADO, na década de sessenta, Mcluhan dizia que os efeitos vêm antes das causas em todas as situações. Concordo! Ele alertava para o fato de que se os efeitos vêm primeiro, o estudo da ação do que está acontecendo deve começar com a análise dos efeitos e não com uma busca teórica das causas. Isso porque as causas nada mais são do que explicações e conceitos apresentados para os efeitos, e só fazem sentido depois que as mudanças se efetivam.
    No meu entender, a grande mudança deve começar aí: mudar a forma de enxergar as coisas. Muitos ficam presos em seus paradigmas porque não conseguem “pegar na mão” as causas dos acontecimentos. Tudo parece sem sentido! Principalmente aqueles que precisam manter seu status quo.
    Entretanto, vamos continuar muito tempo assim, acompanhando apenas os efeitos.
    O fato é que perder tempo com as causas no dinâmico mundo em que vivemos pode ser perigoso. Se quisermos nos antecipar, e realmente inovar em nossos mercados, devemos deixar as causas de lado e olhar sem preconceito para os efeitos. Ao fazermos isso, podemos encontrar mais rapidamente as respostas para as novas demandas que estão surgindo.
    Boa Sorte!

  3. Júlia Linhares disse:

    “Estamos embebidos num ambiente vertical, vemos que o mundo muda, mas precisamos nos mudar com ele.”

    Idéias 2.0 = Atitudes 1.0
    Acredito que esse é um dos grandes desafios, que nós vamos enfrentar! Eu falo por mim mesma, pensamentos 2.0 e atitudes retrógradas. Acho que uma coisa que nos faz empacar é o tal do ego, como deixá-lo de lado para produzir e abri a cabeça essas atitudes? é uma pergunta que não tenho resposta, mas percebo que praticar o desapego é mais importante do que nunca.

    beijos, Júlia

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Raquel, seu comentário me deixou inquieto, pois é um ponto de vista novo para mim, sobre os efeitos….veja o Houaiss:

    Efeito:
    “aquilo que é produzido por uma causa; conseqüência, resultado”

    Não conheço o que disse o MacLuhan, mas acho que é uma profunda discussão filosófica que nos leva a pensar como o mundo funciona e que método podemos ter para ter mais eficácia ao analisar seus processos.

    Hoje, tenho adotado uma visão, a partir do que vi, li e senti de que o que se aproxima com mais eficácia dos fenômenos é a ideia de movimento, mas principalmente de eterna busca de reequilíbrio.

    Nada é parado, existem forças que atuam naquele processo e mais do que conhecer causas e efeitos, é preciso estudar, analisar e medir as forças latentes e atuantes em dado ambiente que provocam o que podemos chamar de causas e efeitos.

    As forças estariam acima, ou abaixo, como queira das causas e efeitos.

    Num carro, por exemplo, temos um ambiente como vários equilíbrios que permitem que ele ande, com pesos diferentes, se um para-brisa quebrar não impede o carro de andar.

    Mas se faltar gasolina ou um pneu furar, isso tudo são “forças” que atuam naquele equilíbrio para que o carro possa continuar em movimento.

    Mas mesmo para-brisa se tiver um efeito tempo – outra força – pode chover tanto que tem que se parar, pois não dá para ver nada.

    O que procuro estudar hoje são as forças, agentes, e seus pesos dentro de condições, o que podemos chamar de taxas, que variam..isso mostra a complexidade do fenômeno, mas que nos permite analisar de maneira melhor seus movimentos.

    Quando se entende essa, digamos, essência dos processos começamos a ver as coisas de forma mais clara e monitorar o que realmente importa e descartar o que não.

    No caso da Internet, por exemplo, hoje não avaliamos o peso do aumento da demografia e acredito fortemente que isso é um dos fatores que gera efeito/causa para que a demanda por algo tão grande ocorra nessa massificação desenfreada.

    E aí temos muitas variáveis, algumas maiores do que outras, que podem nos dizer com mais clareza que se a taxa de x,y,z provavelmente deve dar a ou b.

    Obviamente, existe variáveis novas, que aprendemos conforme o tempo, vide terremoto japonês que não entrou no modelo matemático.

    O efeito/causa seria fruto dessa análise.

    Curioso pela sua réplica,

    grato por visita e comentário,

    Nepô.

  5. Gisela Kassoy disse:

    Nepô, V. sacou de cara. Vários especialistas em comportamento falam em 3 níveis de mudança: Kurt Lewin ( o papa da dinâmica de grupo) chama de nível cognitivo, valores ( na verdade o afetivo) e conduta ( prática, pôr a mão na massa). Rudolf Steiner, pai da Antroposofia fala em pensar, sentir a agir , ou seja, mesma coisa.
    O mundo acadêmico valoriza tanto o cognitivo que corre o risco de “empacar” nos outros níveis de mudança.
    Abraços e deixa prá lá .

  6. Carlos Nepomuceno disse:

    Gisela, valeu! Colocou teoria na intuição.

  7. Raquel Costa disse:

    Nepô, acho que a intenção de McLuhan era desconstruir a ideia de que a causa vem ANTES do efeito. Para ele, a causa vem DEPOIS do efeito e nada mais é do que uma explicação teórica para o que aconteceu ou está acontecendo. Só isso! A causa apresentada não é necessariamente o real motivo da mudança/acontecimento efetivo ou em curso.
    Ele chama atenção para o fato de que perdemos muito tempo procurando as causas de mudanças que ainda nem se efetivaram. Só que isso faz com que muitos percam a melhor parte: a análise do padrão do que realmente está acontecendo.
    As Universidades são profissionais nisso. Não é verdade?
    Quando você diz que analisa os movimentos e o equilíbrio das “coisas”, de alguma maneira está seguindo o que ele diz. Já que observar o movimento é se focar nos efeitos e não nas causas.
    As pessoas, de maneira geral, fazem o contrário. Ou melhor, nem fazem, preferem aguardar os famosos gurus e suas causas bem elaboradas.
    Espero ter sido mais clara.

    Um grande abraço!

  8. Carlos Nepomuceno disse:

    Raquel,

    vc diz:

    ” Para ele, a causa vem DEPOIS do efeito e nada mais é do que uma explicação teórica para o que aconteceu ou está acontecendo.”

    Sim, isso é a Ciência.

    Na minha tese, trabalho com crises e vejo que existem algumas que acontecem por não ter se feito aquilo que já conhecíamos que era para ser feito. Erros conhecidos, que se repetem.

    Um outro tipo de crise – como o terremoto japonês – são fenômenos que não temos ainda modelos para analisar as causas.

    A Ciência, assim, caminha nesse processo de causa/efeito, o que a filosofia chama de indução/dedução. A indução parte do efeito para a causa e a dedução, o contrário.

    Há na filosofia pragmática americana essa tendência de analisar o que está rolando e ir aprendendo junto, o que os leva a ter essa visão inovadora e mutante.

    Porém, o papel da Ciência é sempre procurar causas e efeitos e colocar tudo isso em alguma fórmula.

    A física define que se você fizer algo assim (causa) terá o seguinte (efeito) há um controle do processo, num modelo que se consolidou.

    Ou seja, olhar os efeitos é algo que acontece, dependendo do contexto, da nossa incapacidade de poder também ver as causas.

    Não faria disso uma regra, mas apenas uma das possibilidades de analisar determinado fenômeno, dentro do contexto de ser novo ou já conhecido.

    Ou diria mais, a Ciência sempre correu atrás dos efeitos, pois eles são nossos objetos de estudo, mas principalmente dos “NOVOS EFEITOS”.

    No que já dominamos, as causas vêm antes, pois já fazem parte do nosso saber.

    Vc alerta:

    “Já que observar o movimento é se focar nos efeitos e não nas causas.” (…) Só que isso faz com que muitos percam a melhor parte: a análise do padrão do que realmente está acontecendo.”

    Não podemos adotar um modelo de observação por causa de problemas que acontecem de acomodação, burocracia.

    Há momentos de ver causas e efeitos.

    E o efeito só vem antes da causa, naquilo que ainda é desconhecido de uma dada fórmula.

    Veja que se um químico faz uma mistura ele sabe qual é a causa daquele efeito, que veio antes.

    Isso é epistemologia, aquilo que sabemos e não sabemos, o Gleiser discute muito isso.

    É relacional.

    Muito bacana a questão que vc trouxe.

    bjs,

    Nepô.

  9. Carlos Nepomuceno disse:

    Julia, vc diz:

    Acho que uma coisa que nos faz empacar é o tal do ego, como deixá-lo de lado para produzir e abri a cabeça essas atitudes?

    O ego é parte integrante do nosso ser, acredito que é o protetor do afeto mal resolvido. Para reduzir o ego, temos que apostar no papo da cognição com o afeto. Só conseguimos reduzi-lo quando passamos a proteger nosso afeto, papo longo, umas 23 esfihas rs.

    valeu visita,

    Nepô.

  10. Tem uma coisa que falo pros meus ouvintes quando palestro, escrevo pros meus leitores quando blogo:

    A HUMANIDADE NÃO CRIOU A TECNOLOGIA POR QUE É EVOLUÍDA, A TECNOLOGIA NOS FOI DADA PARA QUE POSSAMOS EVOLUIR DE ALGUMA FORMA!

    Vi-a-jei. O que dizes Nepô?

  11. Carlos Nepomuceno disse:

    Acho a mesma coisa..mas diria que a tecnologia e a humanidade crescem juntas…..um mudando o outro.

  12. Júlia Linhares disse:

    heheheh verdade! papo longo!

  13. Raquel Costa disse:

    Nepô, na época McLuhan falava sobre os impactos e as mudanças que estavam ocorrendo nos meios de comunicação (que até hoje debatemos). Penso não ser adequado levar a cabo a ideia de “causa e efeito – invertida” para todas as áreas do conhecimento.
    Reconheço que no início a ideia me incomodou um poquito. Só que dias depois me deparei com este trecho da entrevista de Michel Serres no Roda Viva.
    (http://bit.ly/gwzYge)
    Desde então tudo fez mais sentido para mim!
    Bjs,

    Raquel
    Ps. Espero que faça sentido para você também. Perdão caso eu tenha fugido do tópico.

  14. Carlos Nepomuceno disse:

    Raquel, ok, vou ver..fugido do tópico?
    Se as ideias não fogem, ficam presas 😉
    beijos
    Nepô

  15. Michele Baêta disse:

    Bom, me sinto um “peixe fora d’água”, porque pensar como 2.0 e querer agir 2.0 e trabalhar numa empresa 1.0, é bem complicado!
    Como você mesmo disse Nepô na sala de aula:

    “É bem difícil dar aula para alunos de uma pós em que o mercado não está preparado para eles”.

    Mas fico feliz por saber que esse Tsunami vem por aí, creio que seria pior quem nem consegue visualizar isso!

  16. Carlos Nepomuceno disse:

    Michele, sempre é melhor ter consciência, pois aumenta nosso poder de decisão!
    bjs,
    Nepô.

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