A realidade sempre vence a representação, o marketing deve gerar valor real– Frank Striefler – da coleção;
Estava em sala de aula este fim de semana.
E fiz um exercício sobre se a Internet é uma revolução ou ou uma evolução.
O senso comum vai pela evolução (veio o jornal, o rádio, a tevê…e agora a Internet, tudo em sequência evolutiva, não sendo a última algo “revolutivo”).
Alguns acham que é uma revolução, mas nem sempre conseguem justificar.
Lá pelas tantas, uma aluna que resistia à ideia de uma ruptura mais do que uma evolução vira e diz:
“Tudo bem, são conceitos mesmo, né!?”.
Do tipo, cada um escolhe o seu e estamos conversados.
É isso?
Conceitos e teorias vêm ao mundo para nos ajudar a resolver problemas.
Se temos conceitos e teorias inviáveis, vamos ter atitudes inviáveis.
E vale a discussão: o que seria inviável?
É tudo aquilo que não gera valor.
Diria até energia.
A Ciência, no fundo, é uma medidora de energia, pois avalia se os conceitos quando colocados em prática ajudam a resolver os problemas da humanidade.
Existe várias formas de transformar um arroz do saco em um prato de comida. Há algumas que viabilizam que vire comida, outras, não.
A Ciência procura as receitas que permitem a alimentação.
Obviamente, que aí temos algo a ser aprofundado, o que prometo fazer mais adiante num post sobre viabilidade, valor, problemas humanos.
Sigamos.
Podemo supor, portanto, que há teorias e conceitos mais viáveis do que outros e este é o papel da Ciência, tornar isso mais claro.
Isso substituiria o conceito de certo e errado.
De verdade ou mentira.
Mas sempre, a partir da prática, o que ajuda a resolver problemas humanos e o que não ajuda.
(Obviamente que ao definir problemas humanos entra a visão ética, outra questão filosófica e geradora de valor.)
Claro que todos têm o livre-arbítrio de pensar do jeito que quiser.
Porém, o estudo das coisas, na qual a Ciência está empenhada, vem ao mundo para apenas demonstrar o que é viável ao ser aplicado e o que não é.
Ou quando e em que casos, vai-se para “A” ou “B”.
No dia que não houver separação entre teorias viáveis e inviáveis, acabou a Ciência. Vira tudo poesia, arte ou música. Uma meta, aliás, de muita gente que defende uma academia distante dos problemas da vida (humanos inclusive).
Se você não acreditar na lei da gravidade, pode pular de um prédio. 🙂
Saindo dos fenômenos da natureza e indo para os sociais, é possível também ter uma certa medição.
Se você não der liberdade para as pessoas, na maior parte das vezes elas não inovam.
Pode-se tentar demonstrar isso de várias maneiras.
O mesmo se dá ao pensarmos sobre a Internet.
Geralmente, comparamos a Web com outras mudanças de mídia, tal como o rádio e a televisão.
Porém, essa visão tem se mostrado inviável na prática.
O rádio e a tevê, que foram evoluções midiáticas importantes e com consequências relevantes, não têm algumas características como a Internet, tal como:
- – ampliação de novas canais de expressão a baixo custo, ampliando a visão dos que estão fora da estrutura de poder formal;
- – inclusão de comentários em mensagem publicadas por grandes emissores;
- – possibilidade de colaboração a distância;
Só para ficar em algumas.
Parte-se, assim, do princípio que as consequências futuras da Internet devem – por causa disso – ser diferentes da chegada do rádio e da tevê.
Há uma lógica, um bom senso nisso, não?
Assim, comparar a passagem do rádio para a tevê e desta para a Internet foge a uma lógica racional.
A não ser que demonstre-se que o rádio e a tevê tiveram essas características, quando, onde em que lugar, etc…
E isso ajudaria, só então, a repensar a questão.
Até aqui não aparecerem esses fatos!
São fatos, assim, passíveis de compreensão e lógica!
Quem defende algo assim (A Internet é igual ao Rádio e a Tevê) tem que se cercar de argumentos para coo-vencer os demais que isso tem sentido, que não é algo BEM diferente.
E não tentar “vencer” o debate pela negação de novos argumentos ou pela repetição da ladainha.
Porém, essa visão tem se tornado cada vez mais inviável, ao se colocar em prática tal maneira de pensar, pois ela nos induz necessariamente à estratégias evolutivas e não “revolutivas”.
No fundo, desaprendemos a conversar de forma honesta.
É a chamada crise da comunicação no auge do mundo interativo, “da sociedade do conhecimento” e da “informação”, denunciada por Dominique Wolton.
(Leiam o cara!)
A redução desse debate a algo como se fosse – “você tem o seu conceito e eu tenho o meu” – é algo grave do ponto de vista da comunicação e do avanço do conhecimento sobre qualquer problema.
Não se rebate argumentos, alegando que cada um tem a sua visão de mundo.
Se for assim, é melhor todo mundo ligar o Ipod e ficar ouvindo sua música.
Argumenta-se com lógica, fatos, ponderações.
Ambos os lados devem estar abertos à:
- – ouvir o outro;
- – compreender os argumentos;
- – ser capaz de se render, questionar, complementar o que o outro te traz – um processo honesto de querer conhecer mais sobre dado fenômeno.
Rejeitar os argumentos do outro sem aprofundá-los é uma atitude de negação, com consequências danosas para a compreensão e futuras ações de quem as ignora.
Faz parte da não-comunicação que estamos inseridos depois de 550 anos, vivendo uma mídia vertical, baseada na interação (um) falando para (muitos), do papel impresso, da mídia de massa.
Isso deixa marcas!
É a anti-ciência, o anti-conhecimento e a anti-filosofia, que é toda baseada na interação e no questionamento de como pensamos.
É preciso em um debate sustentar argumentos e admitir que o outro apresenta pontos interessantes, mesmo que você tenha que pedir um tempo para pensar.
Uma sociedade e o conhecimento (uma ignorância eternamente trabalhada) se formam com a garantia de debates honestos e estes passam por entender o ponto de vista de outros e admitir quando os argumentos apontam contradições nos nossos.
Sendo uma lógica menos viável, ao tentar resolver problemas, do que a outra, gerando, portanto, menos valor, pois se gastará mais tempo e esforço ( dinheiro) e pode-se não chegar aos mesmos resultados.
(Em qualquer sociedade, sempre haverá um esforço para ter ideias de valor, não confundir valor com lucro, algo histórico da sociedade atual.)
Quando não há algo tão claro, vai-se à prática para demonstrar o que pode ser comprovado.
E assim se segue avançando com lógicas mais viáveis de compreensão e, por sua vez, de ações que se originam dela, podemos ser mais ou menos úteis para a sociedade.
O útil significa valor.
E o valor, em última instância, garante a sobrevivência da pessoa, do grupo das organizações sociais diante dos desafios de sobrevivência e qualidade de vida.
Reduzir os debates a cada um tem a sua verdade e me deixa com a minha é algo que deve ser combatido, ainda mais em sala de aula e pessoas que se propõem a lidar com comunicação.
(Obviamente, que há interesses em jogo, pontos de visas ideológicos, embates políticos (dogmas) que envolvem esse entorno, mas até chegar neles, muitas coisas podem ser bastante dirimidas pela conversa franca com os não dogmáticos.)
Porém, quando se fala em filosofia, ciência, conceitos e teorias viáveis e geração de valor a base de tudo é o diálogo honesto, algo que no mundo da interação está cada vez mais escasso.
Que dizes?
[…] (Aprofundei o assunto aqui.) […]
Nepomuceno,
Não há dúvida que a Internet – eu diria melhor – o conceito de Web 2.0 traz toda uma situação bem diferente que não havia no rádio e na televisão mas também existem sim alguns pontos (veja, alguns, não todos) que levam a aplicações similares, como por exemplo, a questão de atrair audiência (e, com isso, os patrocinadores). Eu vejo empresas se perguntando o quê fazer para atrair audiência para seus sites quando a resposta é óbvia: oferecer conteúdo interessante! (e de graça!) Que é exatamente o que se faz na TV. Para fazer sua mensagem ser vista por uma multidão, a Nike paga uma grana altíssima para as redes de TV organizarem um evento esportivo (tipo Campeonato Brasileiro de Futebol) que atraia público (conteúdo de graça) e daí, no meio, nos intervalos ou mesmo durante o evento (no meio da partida) mostrar sua marca (de forma mais ou menos explícita). É simples, é assim que se criou os eventos esportivos, os programas de calouros, etc. Concorda?
Antunes,
concordo, mas chamo a atenção de que toda mídia tem semelhanças e diferenças. O ponto central de quem não tem tido mais ousadia com a Internet, parte justamente de não encará-la como uma revolução similar à do livro impresso e daí por diante, tudo é consequência dessa maneira de pensar.
O que você aponta são pontos em comuns, que tem vários.
Porém, para efeito de reflexão temos que procurar o que há de diferente para tomar decisões estratégicas.
O rádio e a tevê tinham muito em comum, apenas um salto da voz para os gestos (imagem).
Porém, com a Web há uma mudança no controle da informação e quando isso aconteceu…não foi bolinho..
abraços,
Nepô
valeu visita!
[…] (Continuo a discussão sobre conceitos e teorias, viáveis e inviáveis, que começou neste post.) […]
Desculpa me meter, mas… Apenas por um erro de avaliação a coitada da “tal aluna” mereceu um post enfurecido desses Nepô?
Ricardo,
se pareceu forte com a aluna realmente não foi a intenção…
Foi uma discussão geral..concordo, lendo agora, que talvez pudesse ser feito sem ter referenciado a turma,
valeu o toque,
Nepô.