O problema não é o excesso de informações, mas a falta de filtros – Li de alguém em um jornal e não consegui achar, (ainda bem que tenho um blog :), quando achar, dou crédito)
Imagina há cerca de 500 anos atrás…
A Igreja era a única “editora”, com seus padres propagandeando suas ideias aos quatro cantos.
- Cuidado, vais para o Inferno.
- O Rei é escolhido por Deus.
- Pague $$$ e mande sua mãe para o céu ( a sogra tem desconto) 🙂
E do nada surge o livro impresso.
Na Europa, em 50 anos (1450-1500) saíram do armário 13 milhões de exemplares dos 27 mil novos títulos.
Caraca!
Que explosão informacional!
Quantos desconhecidos aparecendo nas aldeias!
Quantas ideias novas circulando!
Várias editoras se distribuem pelos países da Europa.
Do nada, aquela fonte única de informação (Igreja e Monarquia), que fazia o filtro entre as pessoas e a realidade, se expande em novas e diferentes possibilidades.
Interesses que dominava a mídia se abalam.
Foi o caos democrático informacional!!!
Que acabou guilhotinando reis e pavimentou a estrada informacional para se criar o capitalismo….
O mesmo que vemos hoje com a Internet.
Acabou o mundo?
Não, pois o humano sempre precisará de filtros de informação para sobreviver.
Anote isso e vou dizer de novo com calma, em negrito, identação e com três pontinhos separando as frases:
(Especial para os Dummies que defendem que o mundo está acabando por que os grandes jornais ou grandes editoras estão tontinhos):
O humano…..
sempre precisará….
de filtros de informação….
para sobreviver.
Quer que eu repita? 🙂
O problema é a qualidade dos filtros.
Quando as pessoas defendem a mídia tradicional esquecem de dizer que:
- – ela estava filtrando e mentindo (se quiser algo mais leve, distorcendo, manipulando), pois a mídia cumpre sempre papel de defender os interesses de quem está no poder (faz parte do jogo);
- – não estava dando espaço para novos valores;
- – cada vez mais poderosa, não permitia diálogo;
- – com o aumento da população, cada vez tínhamos mais sombras de pessoas com suas atividades sem espaço de divulgação.
Mentira? Ou verdade?
Ou seja, a Internet vem resolver esse problema de filtros viciados para alguns menos viciados.
Portanto, não vem acabar com filtros que sempre terão que existir.
E estabelece, como foi no livro impresso, novas fontes de informação menos ligada ao sistema para permitir oxigenação:
- Luz aonde existia sombra informacional;
- Um critério mais meritocrático dos novos filtros;
- Filtros mais segmentados por interesse, região, assunto, etc;
- Mais espaço para fatos, que anda não circulavam;
- Mais versões.
Ou seja, estamos migrando de um ambiente mais fechado para um mais aberto, no qual novos filtros se imporão, dentro de uma nova lógica de filtragem (e não sem filtragem), porém, com critérios mais fluídos do que o ambiente anterior.
Motivo?
Quanto mais gente para ir ao churrasco, menos controle deve se ter de como se compra a carne.
Assim, temos que compreender uma nova lógica humana:
Filtro sim, mas quando estes começam a ficar poucos, viciados e impedem a inovação e mudanças, surge uma ruptura de mídia, multiplicando fontes, justamente para mudar o mundo.
E um mundo só muda quando uma nova forma de filtrar a realidade mais aberta se estabelece.
É o primeiro passo para os que se seguem.
Ou seja, vivemos a crise dos filtros, pois temos muito mais, mas a coisa vai se assentar, porém em novos parâmetros.
Vejam que na Idade Média:
- A Igreja não acabou.
- As editoras não acabaram.
- O mundo não acabou.
Tudo se ajustou, pois a civilização precisa seguir seu curso procriando e comendo cada vez mais…(não necessariamente nessa ordem.) 🙂
Umas passaram a determinado nicho, outras se cristalizaram, outras fecharam, mas, de qualquer forma, nunca mais voltamos a termos uma Igreja única nos dizendo como é o mundo.
Hoje, estamos aprendendo uma nova forma de dar crédito às fontes, através da reputação em rede, a partir da possibilidade de conhecer o rastro de cada um.
É uma validação mais meritocrática do que a anterior.
Sempre será, sujeita à compreensão de quem chegar ao poder e da manipulação futura, criando nova crise, exigindo nova mídia e tudo recomeçando.
Uma nova forma de filtrar – sempre.
Nada além disso.
Obviamente, alterando a cada etapa diversos interesses.
E por causa essa grita e terrorismo que o mundo está sem filtros.
Balela.
Sai “A”, entra “B”.
The End.
Que dizes?
Pô, disse tudo.
E a mídia tradicional mente mesmo. Descaradamente. Deliberadamente.
Mas venceremos!
Essa visão é muito poderosa, pois explica também a crise de algumas indústrias culturais, as que só são filtros… de musica, literatura, arte…
Uma editora agora só pode ser um filtro, pois não se precisa mais da sua capacidade para distribuir conteúdos.
E como filtros tem muita concorrência.
Alberto,
sempre tivemos filtros…e sempre teremos.
Os filtros são impostos, nas ditaduras.
E eleitos nas democracias.
Mas nas democracias digamos velhas acabam ficando viciados.
E precisa-se de uma renovação.
Que é uma nova safra de filtros.
É isso, valeu a visita!
Nepô.
Oi professor,
dando (mais) uma visitada nesse blog me deparo com esse ótimo artigo.
Com a clareza que lhe é peculiar, você abordou a questão dos filtros por um ângulo que nem todos estão acostumados a ver.
Certamente os filtros precisam ficar mais refinados para atender uma demanda (cada vez maior) por informação de qualidade.
Dito isso, você não acha que os estudos da web semântica poderiam propiciar justamente essa evolução dos filtros?
Eu li no artigo Mito da web 3.0 a visão que você tem sobre esse tema, e até concordo em parte com o que escreveu, principalmente em relação ao termo “Era Digital Artificial”.
Nessa nova era digital artificial, ao cruzar informações, e não mais apenas links, a máquina (Internet) não poderia ser capaz de cruzar informação, e, utilizando a lógica e a ordem, características inerentes ao mundo das máquinas, dar uma resposta mais precisa possível sobre um determinado assunto?
Não sei se consegui me fazer entender aqui, mas penso que em um futuro (não tão distante) poderemos perguntar coisas diretamente à Internet (através de um filtro de busca), e ela, ao analisar toda produção de informação da humanidade (presente dentro dela, claro), terá que dar uma resposta o mais próximo da verdade possível. Ou pelo menos mostrar o caminho mais lógico, pois ela não tem como fugir dessa precisão.
Do contrário ela perderia toda a sua relevância.
E como lidaremos com as respostas?
Pegando o próprio exemplo da mídia tradicional, que como você mesmo disse (e eu concordo) filtra, mente, distorce e manipula fatos e acasos todos os dias por toda a história.
Como será a relação entre essas mídias e a população, que contará com uma fonte com muito mais credibilidade?
Juntando tudo isso com os planos do Google de ir para a TV, e um aproveitamento melhor dos rastros deixados em todas as plataformas digitais, podemos esperar que algo acontecerá. Essa é a minha aposta.
Foi muita coisa?
Mas de qualquer forma as idéias ficam no ar.
Um abraço professor,
Saiba que já estou colocando o projeto em prática. Agora to trabalhando (e aprendendo) em um projeto da UFRJ de educação alternativa em Cabo Frio, e por isso, to tendo que morar aqui.
Um dia a gente chega lá.
Até mais!
“Dito isso, você não acha que os estudos da web semântica poderiam propiciar justamente essa evolução dos filtros?”
Bom, Daniel, vamos separar duas coisas.
Tecnologia/Metodologia;
Seres Humanos.
Estamos saindo de:
– um ambiente informacional, no qual as “fontes humanas” de informação eram limitadas pela distribuição de ideias, através de caros canais de distribuição;
Para:
– de um ambiente informacional, no qual as “fontes humanas” de informação não são mais limitados pela distribuição de ideias, através de caros canais de distribuição;
Nosso problema agora deixa de ser “colocar a cara no mundo” de antes para “achar a cara que você colocou no mundo”.
Não resta dúvida, que hoje do anonimato à “fama” o tempo é muito mais curto, milhares de exemplos chovem por aí.
Assim, temos novos filtros alternativos que podemos optar por nos guiar no mar informacional. Escolhemos a partir de novos critérios, muito mais baseado em meritocracia do que no passado.
Obviamente, cercado ainda de vários fatores, tipo marketing pessoal, domínio do ambiente, condições social para se manter alternativa sem custos durante bastante tempo, etc…
Saímos de um mundo nublado para um menos nublado.
Não é o paraíso, mas se vê melhor.
A Web semântica considero que é o aperfeiçoamento do que já estamos fazendo, através do uso de robôs para melhorar as nossas recuperações.
O Google foi um salto quântico nisso e vamos mais adiante, sempre na ideia de que é preciso gerar mais relevância, sempre evitando que “forças” não meritocráticas ganhem a guerra das buscas.
Esse é o espírito.
Você ainda diz:
” terá que dar uma resposta o mais próximo da verdade possível…”
Bom, se você ler alguns textos do blog, recomendo este:
http://nepo.com.br/2010/06/08/a-realidade-e-aquela-que-nos-interessa/
Verás que o conceito da verdade/realidade é algo que temos que ter bastante cuidado….
O que o Google pode nos levar – ou uma busca similar – a locais na Internet que correspondam o mais perto possível do que estamos procurando.
E para isso ele vai precisar:
a) saber cada vez mais sobre o seu perfil para tentar “adivinhar”, de fato, o que você costuma procurar para errar menos;
b) monitorar a rede e deixar que as pessoas que tenham um perfil parecido com o seu “te ajudem” mesmo involuntariamente (do tipo o robô da Amazon que indica livros.);
c) usar os critérios atuais, do tipo, páginas relevantes, links para aquela página, relevância do termo buscado, etc…
Veja que não é a “verdade”, mas é tentar reduzir a taxa de erro entre a sua “demanda informacional” e o resultado de dada busca.
Esse é um exercício que também vamos ter que interferir, ajustando os robôs, para que possamos ajudá-los…podemos, por exemplo, pedir “mais oficial” (sites com CNPJ, por exemplo) e “alternativos” (sem CNPJ), coisas do tipo.
É isso,
que dizes?
abraços,
Nepô.
PS – Gustavo e Alberto, valeu a visita….
DEIXEM EU FALAR ESPECIFICAMENTE SOBRE A BUSCA DO GOOGLE? Então, já que deixaram, vamos lá… Há um problema muito comum na questão do uso eficiente da busca: as pessoas não conhecem a ferramenta. Aí podemos dizer que o problema não é se temos tipos de filtro pra todos, mas que ninguém conhece os filtros que existem. Ainda especificamente sobre a busca do Google, ela tange levemente num ambiente polimorfo, de certa forma desorganizado, com carências de metadados (dados que descrevem o dado para interpretação), o que a busca traz é o que existe, aliás, menos ainda, e o que tem disponível e permitido. A Google tem indexadas mais de um trilhão de páginas (há quase dois meses atrás, deve estar bem maior agora), e isso significa apenas 1% das páginas que realmente existem, as demais estão indisponibilizadas pelos seus proprietário (vc pode dizer se quer se o google indexe ou não a página) ou estão no lado sombrio da net, das páginas ocultas. O que o google está tentando fazer é nada mais nada menos que a sua própria missão: Organizar toda a informação do mundo (mundo=internet) e disponibilizar para todos…só isso. Mas o problema é que as informações legadas ainda precisariam ser estruturadas, e aí na questão dos filtros eles não poderiam ser de muita ajuda não. Há um longo caminho a ser percorrido até que se possa ter a web-semântica em toda a internet, por enquanto vai ser apenas em algum pequeno percentual do que temos aí.
João, é isso, a estrada é longa…
Oi professor,
confesso que tive que ler mais de uma vez para entender a sua resposta, mas entendi e tenho q dizer que concordo com você.
Como Mcluhan mesmo disse, “nós moldamos as ferramentas e depois nos modelamos às ferramentas.”
Se colocar na frente da onda, tentando prever o que irá acontecer nos próximos anos é bem complicado, e nós só podemos supor mesmo.
Mas como disse no comentário acima, a estrada é longa….realmente!
Abraço professor, e obrigado pela resposta
Daniel
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