Boa parte das empresas morre não por fazer coisas erradas, mas por fazer a coisa certa por um tempo longo demais – Yves Doz– da minha coleção de frases;
Reflexões a partir do debate com diversas empresas no BNDES, ontem.
Todo sistema, qualquer que seja ele, de um jornal a uma linha de montagem de carros, é composto por algo que entra, é processado e sai, a partir de determinada demanda humana.
Para aprimorar o atendimento desse demanda, é necessária uma retroalimentação do processo de produção de forma permanente ou ocasional.
Essa reflexão pós-produção avalia o resultado do processo para aferir se a demanda foi atendida e o que pode ser feito para ser aprimorado, tendo como princípio que uma demanda resolvida gera naturalmente outras em um processo contínuo.
Não existe demanda parada, ela evolui a cada novo ciclo. O demandante (usuário) quer sempre mais, diferente e melhor.
As questões que se colocam, a partir desse “DNA sistêmico” para se gerar inovação permanente no processo são:
- – há canais estabelecidos para se gerar essa retroalimentação?
- – qual é o interesse/necessidade dos executores do processo em, a partir das sugestões, caso hajam, em procedê-la?
- – os canais desaguam em mudanças?
- – e, caso sim, qual o tempo despendido entre o recebimento da sugestão, avaliação de sua relevância e a efetiva implantação?
Nossa civilização, filha da Idade Mídia, estabeleceu, pela característica de um modelo uni-direcional de troca de ideias, um ambiente de informação e conhecimento compativel com uma dada realidade.
Ou seja, o tempo da mudança ainda é regido pela característica desse ambiente de conhecimento, que se manteve equilibrado pela estabilidade do cenário externo ao sistema.
Entretanto,
- – o aumento populacional;
- – a complexidade formada a partir deste;
- – e, por consequência, a necessidade da globalização….
…alteraram esse ritmo, gestando a necessidade de um outro ambiente informacional, que permitisse basicamente uma melhor retroalimentação, tanto no tempo como na qualidade, tendo a necessidade da incorporação de novos atores e novos canais.
(Detalho a nossa carência de novos líderes quando falo sobre o Meritocracimetrômetro.)
A Internet vem ao mundo, portanto, resolver uma crise de retroalimentação para resolver os novos problemas de uma população de 7 bilhões de pessoas, que consomem por dia 21 bilhões de pratos de comida!!!
(Na Copa de 70, éramos 90 milhões em ação e hoje, na do Dunga, 200 milhões!)
Melhorar a qualidade da retroalimentacao é, assim, do ponto de vista da crise populacional que vivemos, o motivo principal da chegada da Internet no planeta.
Nossa civilização, portanto, cresceu a tal ponto que há uma clara defasagem entre a qualidade da retroalimentacao exigida para atender as demandas atuais e a oferecida pelas instituições.
Estamos, sem saber, afundando na lama!
O novo ambiente vem tentar corrigir essa defasagem, através, a princípio, da introdução de uma nova tecnologia que permite um novo modelo de troca de ideias, que, por sua vez cria um novo ambiente que facilita, em última instância, a qualidade da retroalimentação.
A implantação, entretanto, de um novo modelo de retroalimentação altera e questiona:
- – o modelo de controle dos sistemas antigos e os conceitos de quem os concebeu e gerencia, que precisam criar novos modelos mentais, que aceitem o novo patamar da retroalimentação, no qual o controle é feito de nova maneira e sem moderação. Não dá mais tempo para ficar controlando tudo que circula.
(Ou seja, não adianta ouvidoria surda , nem entrar por um ouvido e “sac” pelo outro. Ou criar projetos de gestão de conhecimento eunucos, nos quais se escreve as melhores práticas de um lado, o procedimento de outro. e nada muda na forma da empresa trabalhar. Quando o cara vai fazer de novo, ele repete os mesmos erros do passado! Conhecimento não é substantivo!)
- – cria-se, assim, por outro lado, novos modelos de sistema com melhor qualidade de retroalimentação, que passam a pensar e produzir de uma forma mais rápida mais adequada as demandas.
(São 7 bilhões de chatos: um quer coca light, outro não come carne vermelha, aquele só veste azul)
Assim, o centro, o DNA, do que chamamos projetos 2.0, do que precisamos para revisar nossas organizações, basicamente, trata-se de melhorar a qualidade da retroalimentação para sair da crise civilizacional que nos metemos.
Ou se joga uma bomba atômica e se mata metade da população.
Ou se muda as empresas.
Qual você escolhe? 🙂
Diz.
Excelente matéria. Prefiro que mudem as empresas. Lembro-me inclusive, de quando tinha uns 10 anos de idade (hoje estou com 46), que quando entrava numa farmácia, num posto de combustível ou em uma daquelas lojas em que só se vendiam tecidos, com aqueles rolos de tecidos enormes enfileirados e próximos desses rolos grandes mesas. Naquela época as lojas não eram de departamento era loja de tecidos e ram grandes, enormes. Pois bem, entrava em um desses ambientes e pensava: “Poxa vida, tudo isso só pra vender remédios, ou combustíveis, ou tecidos???!!!”. Pois é Nepomuceno, hoje ainda reflito sobre o que têm feito as empresas para melhorar o ser humano e as suas relações uns com os outros. Adoro ser competitivo, mas sem precisar competir. Adoro ser excelente, mas sem precisar ser sozinho na excelência. Quer ver a extrapolação do foco da tua exposição? As faculdades: Lá dentro te pessoa que fazem de conta que ensinam, outras fazem de conta que aprendem. Aí resolvem que todos vão assinar um contrato de diluição dos custos, onde plejam o tempo e quanto vai ser para adquirir um diploma, sem traumas.
Voto em mudar as pessoas, para que elas mudem as organizações.
A grande questão é: COMO ?????
Ainda bem que curiosidade tem cura !!!!
bj
A ruptura esta dada. Bilhões de pessoas com acesso a informação, escolhendo, rejeitando, avaliando, opinando, inventando e, em breve, produzindo, além de ‘conteúdo multimídia’, produtos materiais. As pessoas, na essência, continuam pessoas. O que há de novo é a possibilidade de amplificação de sua capacidade de ação – a individual e, a mais potente, em rede. As organizações que não souberem se integrar a esse novo ambiente perderão o bonde. E a roda vai continuar a girar. Em um novo contexto que está sendo gestado nesse processo de retroalimentação: tecnologia + o que se faz dela. Em velocidade nunca vista, gente em rede pensa, produz, comunica e gente em rede usa, modifica, massifica ou elimina a novidade…
João, quanto aos acordos para nada mudar ou acontecer, que você cita, em particular, o caso das universidades, acredito que isso existe em todos os lugares. E cabe a nós, a partir do envolvimento, tentar mudar.
Lu, nós estamos vivendo na Dataprev o início do processo de mudança, através da conversa, da troca, da experimentação aberta. Eu acredito que as coisas mudam, a partir do diálogo.
Tesla, fechado. Vou blogar semana que vem sobre aquele nosso papo no metrô, aguarde.
grato a todos pela visita e comentários,
Nepô.
Concordo tesla, cada qual fazendo a sua parte, e como tudo, nos agruparemos em rede, dada as nossas identidades e vontades em comum de poder fazer mais em menos, cada vez mais em volume. Concordo.
Como diz o Pierre Levy, Nepô, a mudança é de modelos mentais.
Do fixo para o líquido. Do unidirecional para o multidirecional. Da massa para o nicho. Do analógico para o digital. Entender as mudanças, participar delas com comprometimento e levar as nossas empresas para o patamar do colaborativo e do não-hierárquico é o desafio que se coloca. Somos agentes da transição e conscientes dela, temos o leme nas mãos. Mas sem controle e sim com entrega-flexível, construindo comunidades saudáveis em que o ego, como disse o Jefrey Abrahms, dê lugar ao coletivo. A economista Noreena Hertz diz que haverá mais colaboração, mais cooperação no mundo. E que estamos na era do Capitalismo Ético. Aproveito para compartilhar o link da entrevista dela à Época: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI118889-15259,00-O+CAPITALISMO+GUCCI+CHEGOU+AO+FIM.html
Força a todos para enfrentar as tempestades.
Abs da Gabriela Mafort
Gabriela,
é uma questão em aberto na minha cabeça, que tenho tentado discutir por aqui…
O mundo que estamos entrando essa passagem do ego para o coletivo está dada? Ou só é possível, de fato, viver essa passagem se houver alguma mudança na relação com o ego de cada um?
Viveremos essa tal sabedoria pós-capitalista por impulso, ou a partir de alguma ruptura nessa relação?
Juntar os dois movimentos me parece o ideal, mas não está dado.
Como fazer com que a civilização 2.0 seja uma humanidade 2.0 é, a meu ver, o “x” da questão.
Me diga você,
valeu a visita,
Nepô
Hey Carlos e pessoal,
eu vejo esta mudança como inevitável. E até como uma questão de evolução humana mesmo. As “crianças índigo” vem aí para criar um mundo mais colaborativo, mais generoso, coletivo e confiante no futuro. Mas as antenas de mudanças – e acho que este nosso grupo é uma delas – que captam as tendências têm um papel fundamental nesta transição. Somos chamados a promover esta ruptura.
Mais um link do futuro, que é logo ali:
http://www.gift-economy.com/index.html
Beijo
Valeram a dica, comentário e visita, Gabriela.
abraços,
Nepô.
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