Estive ontem no X Encontro Petrobras de Comunicação.
Lá estavam diversos gerentes e diretores de Comunicação da Petrobras para discutir o “Diálogo é fundamental“.
Dizia eu que as cidades modernas não podem mais prescindir da participação ativa da população e ainda de mais e mais tecnologia para corrigir os erros.
(Na Época Negócios, 33, de novembro, nas bancas, coletei os seguintes dados: o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) revela que até 2030, 5 bilhões de pessoas, o equivalmente a 60% da população mundial viverão nos centros urbanos, em 2050, seremos 70%. Segundo o especialista da IBM para sistemas inteligentes de transporte e gerenciamento de tráfego, Carlos Tunes, a partir de 5 milhões de habitantes começa o caos urbano. Na mesma revista, Willian D´Andréa, da Unilever, que viveu na cidade do México, relata que lá os executivos, em função dos engarrafamentos, têm motorista particular e fazem do carro o escritório e as mulheres deixam para se maquiar enquanto estão paradas no trânsito!).
Citei especificamente o caso de Curitiba. que conta com o apoio da população para o conserto dos sinais (semáforos ou sinaleiras para os não-cariocas).
Uma manutenção (diria até uma gestão qualquer) eficiente ganha muito com a participação do cliente, pois pode colocar menos gente para “procurar o problema” e mais gente para “resolver o problema”, pois os cidadãos entram para a equipe de quem aponta o erro.
Uma participante do evento argumentou algo do tipo de forma mais delicada do que resumo abaixo:
“Mas Curitiba tem esse sistema há mais de 30 anos! Isso não tem nada a ver com Internet!”.
O que me obrigou a dar uma resposta, que não achei satisfatória, que agora complemento aqui.
(Santo blog, band-aid das minhas incompletudes!)
Na verdade, temos três tipos de processo colaborativos, que se mesclam na Internet:
- 1) a colaboração como método que independe de redes eletrônicas, que é a colaboração como ideologia. As pessoas que acreditam que o trabalho em grupo é melhor do que verticalizado. Já citei vários exemplos, mas repito: Paulo Freire (Pedagogia do Oprimido), Augusto Boal ( Teatro do Oprimido), Bill Wilson (Alcóolatras Anônimos) e o método de manutenção usando o telefone para descobrir falhas nos sinais de Curitiba. É uma colaboração como método, continuada, no centro de uma dada metodologia, que parte de uma ideologia, visando um determinado fim comum, na qual a colaboração é o centro do processo. Sem ela, o método não existiria!;
(Neste caso, a colaboração e o método são inseparáveis. O resultado só é alcançado, por que a colaboração é promovida, sem ela, não se teria os mesmos resultados. Paulo Freire, por exemplo, conseguia com seu processo colaborativo educar um adulto em 40 dias!;)
- 2) a colaboração por necessidade. É aquela que em determinadas situações, tipo um elevador parado, os sobreviventes de um desastre aéreo em uma ilha deserta, pessoas para levantar um carro tombado numa estrada. São ações emergenciais, não ideológicas, que fazem que rapidamente um grupo assuma um trabalho colaborativo, pois percebe-se que é a única forma de resolver o problema. É quase instintivo. Solucionado o problema vai cada um para o lado e podem ser as pessoas mais egoístas do mundo.
(Tem um filme filme que aborda algo similar: “Herói por acidente“)
- 3) a outra, por fim, é a colaboração incentivada pelo ambiente de conhecimento (onde se inclui as tecnologias da informação, conexão e comunicação). Na qual estamos inseridos. Qualquer clique que você der em uma página, será armazenado em um banco de dados, podendo servir que outros se utilizem dele para quantificar páginas e qualificá-las como mais relevantes, do que outras. O votações em um site, ou um comentário que se deixa em um blog, ou um texto que se insere no Wikipedia. O ambiente tecnológico favorece que você participe pela facilidade da coisa, incentivando a colaboração, e até o surgimento de mais métodos colaborativos permanentes, como ideologia, e quebrando galhos nas emergências.
(É só ver a chuva de livros sobre o tema.)
O ambiente de conhecimento, formado pelas tecnologias de comunicação, informação e conexão, que estamos entrando favorece os três tipos acima e a potencializa.
- há diversos ideólogos da colaboração enquanto prática de melhoria da humanidade (Linus Torvald, o pai do Wikipedia, Obama, etc..);
- há uma emergência no planeta de muita informação para pouco tempo. O coletivo ajuda a filtrar, classificar e ordenar, sendo sempre um grande quebra-galho para nossas necessidades informacionais;
- E há a própria nova tecnologia da rede, que, pela primeira vez, permite a troca de muitos para muitos a distância, potencializa o um-para-muitos, barateando o custo de forma tremenda (qualquer um pode ter um espaço na rede ou comentar no do outro). E ainda facilita em demasia o contato um-um, através de MSNs e Skypes da vida.
Assim, apesar da colaboração da população em Curitiba ser antiga, como saída para facilitar problemas da cidade, ela serve como exemplo de um método colaborativo, necessário para esse novo ambiente informacional no qual a troca é hiper-facilitada e, portanto, estimulada muito mais naturalmente.
É preciso separar estes três tipos de colaborações, pois uma é facilmente confundida com a outra.
E a que dará resultados para as empresas é basicamente a colaboração como método continuada, as outras duas darão a falsa impressão da participação, mas irão minguar como água.
Ou seja, separar o teclado do mouse é preciso!
Muitos consideram que a Internet, por si só, é uma colaboração como método, desde o princípio, não é.
Ela potencializa a colaboração de emergência, digamos;
E cria um ambiente barato e propício para a colaboração como método, que precisa ser elaborado e implantado, a partir de uma dada ideologia de que o muitos dará mais e melhor como resultado final do que o um;
Ou seja, a era da colaboração exige um trabalho de forma contínua, ideologia e metodologia, que estamos construindo, um dos maiores desafio para os gestores modernos.
Tendo como pano de fundo, como já frisei, uma situação emergencial coletiva: o drástico aumento da população do planeta, que exige ambientes de conhecimento mais complexos, que explica a razão de estarmos com toda essa tecnologia prontamente aceita pela sociedade.
Lembro de novo Gullar, da minha coleção:
Toda vez que a invenção é arbitrária, ela não sobrevive – Ferreira Gullar;
Para concluir, lembro que depois da respiração, não existe outra ação humana mais cotidiana do que comunicar e se informar.
Quando algo muda na forma com que fazemos esses dois atos cognitivos, a sociedade muda de alguma maneira.
Quando alteramos de forma radical essas ações, a sociedade muda do mesmo modo.
É o que assistimos hoje em dia.
E o que veremos de forma mais acelerado ano após ano, a partir da difusão cada vez maior da Internet no planeta.;
Que dizes?
Parabéns pelo blog, muito rico em conteúdo!Visitem o nosso blog tbm, espero que gostem:
http://www.abczdigital.com.br/wordpress
Um grande abraço!
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