Fazem alguns anos lancei um livro de poesia no antigo Armazém Digital.
Eles produziam livros por demanda, mas infelizmente o projeto não se sustentou e fechou.
Acredito que há mais de ano.
Conheci o Jack London, dono do Armazém, no projeto de prototipação da Booknet (primeiro site de comércio eletrônico brasileiro), que depois foi vendida para a Submarino.
Fui o primeiro autor do Armazém, em função do meu relacionamento com o Jack.
Juntou a fome (meu livro pronto) com a vontade de comer (ter o primeiro autor.)
Dei o título do livro “Poema para 50 leitores”.
(Na verdade, o livro tinha duas capas invertidas, um era de contos e outro de poema, dependendo de que lado que você começava.)
O título “50 leitores” era uma clara intenção de mostar que uma obra independente tinha méritos – ou não – a despeito da quantidade de vendas ou leitores que viesse a ter.
Era a minha micro tribo, minha cauda curta.
Me lembrei do fato, conversando com a Dora, uma das minhas alunas no curso do Senac.
E, por acaso, lendo o livro “Av.Paulista” do inteligente provocador português João Pereira Coutinho, que escreve na Folha, ele disse algo que se junta com esta estória.
Desencava o pensador francês Michel de Montaigne.
Segundo Montaigne há uma diferença entre estima e respeito.
Ou melhor, entre auto-estima, que depende da aceitação dos outros.
E auto-respeito, que depende apenas da opinião pessoal.
Na verdade, ao pensarmos sobre o fator QUANTIDADE de nossos “seguidores”, seja no blog ou no Twitter ou na venda de um livro há sempre uma ponta de vaidade.
Não nego.
Olho para ver como anda a minha audiência no blog quase todos os dias.
Há, além da vaidade, uma curiosidade para saber que ações resultam em mais ou menos leitores e seguidores.
Mas, independente o número de leitores, escrevo no blog, antes de tudo, para exercitar os neurônios, alongar a massa encefálica, opinar sobre as coisas do mundo, criar um arquivo pessoal disponível e deixar meu legado, sabe-se lá o que me aguarda amanhã .
E acho que isso define um pouco o que queremos ao estarmos virtualmente presentes.
Se é uma meta per si, independente dos outros, auto-respeito.
Ou se algo feito para os outros, o que fará aumentar – e muito – a ansiedade por mais e mais seguidores, movidos pela auto-estima, ou pelo ego.
Um pouco a discussão do (pr)ego e do lego.
O paradoxo é que se um blog que passa a idéia de algo feito exclusivamente para bombar, cheira a fake e acaba tendo o efeito contrário, estou certo?
Acaba se contaminando justamente com o que vemos e estamos cansados na mídia de massa e perde, assim, a sua graça e originalidade de algo independente.
Se existe uma filosofia que acompanha os blogueiros, desde a época das cavernas seria essa: existir por uma necessidade individual do autor, independente de todo o resto.
Note que um blog não midiático – assim como um livro de poesia independente – terá um público restrito, que, dependendo da qualidade pode ir saltando de esferas.
Esfera dos amigos, dos amigos dos amigos, até chegar, quem sabe a um fenômeno digno de uma audiência de mídia ampliado, que pode, ou não, se manter, voltar para trás, sempre dependendo da sinceridade do autor e originalidade do tema na avaliação de seus leitores.
É cíclico.
Isso deveria ser consequência de um bom trabalho e não meta.
Independente do caminho a ser traçado e do resultado – com aumento ou não da audiência – um blog, um livro independente, seja lá o que for, nesse mundo veloz, é sempre algo para uma certa micro tribo permanente.
Seus seguidores fiéis de todos os lançamentos e de todos os comentários.
E sobre eles você exercerá, conforme o tempo e a qualidade do trabalho, algum tipo de influência.
Já é muito e, esteja certo, ajuda bastante o ecosistema humano do planeta, pois é um a mais a colaborar com idéias diferentes das “oficiais”, alargando nossa visão das coisas.
Estamos saindo da perversa sombra de décadas das monopolistas difusão da Idade Mídia, quase sempre de âmbito nacional para encarar com paixão nosso valoroso, importante e insubstituível micro-público.
Pois bem, voltando à história do livro para 50 leitores iniciada lá em cima.
Naquela noite de autógrafos, ao longo das horas foi chegando gente e mais gente.
E a edição do livro provisioramente esgotou!
Resolvemos, então, brincar com a coisa, já que estávamos produzindo livros na hora para ir suprindo a demanda.
Mudamos o título para “Poemas para 100 leitores”.
Aumentamos a tiragem também no título. 😉
Assim, quem chegou cedo, saiu com uma capa. E quem chegou depois, do meio para o fim, com outra.
Coisas do mundo Digital.
E eu fiquei feliz da vida com meus cento e poucos leitores, com meu auto-respeito e auto-estima dando piruetas.
Forma e conteúdo se fecharam na mesma noite.
Um tipo de bicho diferente para os padrões midiáticos, que temos há anos tatuados na nossa cabeça.
É hora de meter um laser e tirar.
E você qual é a tua? Estima ou respeito? Diga lá.
Por favor preciso urgente do contato do Sr Jack LOndon é caso de vida ou morte.
Meu e-mail é
a.henriquerj@yahoo.com.br
Muito obrigado desde já
[…] 15UTC Junho 15UTC 2009 por cnepomuceno Ah, meus 100 leitores….que dura é a vida de um blogueiro opinativo […]
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