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O Médico 2.0

Verdade seja dita com todas as LETRAS MAIÚSCULAS:

A Internet é horrível, uma verdadeira INFERNET, a verdadeira morte para o médico – ou qualquer – profissional que não se atualiza, pois arrisca do seu usuário/paciente estar melhor informado que você!!!.

Tapar esse sol com a peneira é um erro enorme!

Saiu no Globo no último Domingo a matéria “Discutindo a relação médica“, na qual detalharam como o aumento da informação possibilitada pela rede aos pacientes têm influenciado na relação destes com seus médicos.

relacao_medica

Antes da rede, as informações sob determinadas doenças eram apenas de exclusividade de acesso aos médicos.

  • Os resultados de Congressos não estavam “Googláveis”
  • Paciente não aprendia com paciente;
  • Não havia o acesso possível a relatórios ou pesquisas médicas sobre a doença ;
  • Ou sobre as diferentes linhas de conduta possíveis, etc..

(Já que para cada problema humano sempre há diferentes pontos de vista, seja em que área for!)

Isso não quer dizer que os pacientes agora são os novos médicos.

Mas também não quer dizer que são mais os mesmos.

O processo de desentermediação das informações que atinge diversas profissões: bibliotecário, professores,  jornalista, médicos, corretores de bolsa, de imóveis, de carro, entre tantas outras exige de todos nós uma nova postura.

O intermediário já não será mais o mesmo, pois o usuário, a quem presta serviço,  mudou.

A relação, no fundo, continua parecida, com necessidade de alguns ajustes importantes, alguns serão feitos agora no consultório e outros com a incorporação das redes sociais, como elemento importante de cura, da qual falarei um pouco mais abaixo.

Eles saem  de um papel de ordenhador de vacas e assume o de apicultor, mas continuam com o mesmo propósito:  ajudar ao seu paciente/usuário, mas com uma postura menos controladora.

Pois desde Hipócrates, não tem nada que questione o diálogo cada vez maior entre profissional da saúde e paciente, basta ver o juramento do médico.

Subimos de patamar.

Os "usuários 2.0" querem ir para "consultórios 2.0" com "médicos 2.0".

Índio quer diálogo, pois ele também tem acesso à informação.

Que exige um outro tipo de postura por parte de quem detinha o antigo poder do acesso ao néctar informacional.

A relação de poder agora é diferente e deve ser incorporada de forma sábia e não rejeitada!

Discute-se, assim,  em um nível mais sofisticado, horizontal, do que era antes.

O poder é mais negociado, mas o médico tem a última palavra, o paciente é que escolhe, como sempre foi, se vai adiante com o tratamento, ou não.

E aí vem um problema fundamental da  NOVA ABORDAGEM 2.0.

Se eu estudo oito anos em uma Faculdade de Medicina, me atualizo constantemente, me dedico a um determinado tipo de problema de saúde, aprendi com meus pacientes a aplicação de diversas alternativas, me capacito para poder lidar com ela.

Sou um especialista, que, deve, a princípio, estar aberto para as novidades, que acabam chegando à Internet e ficam acessíveis também aos pacientes.

Na verdade, a novidade é que o paciente vai ao consultório com a intenção de saber também se o seu médico está antenado e é capaz de resolver bem o problema.

Em mente aberta, não come insegurança!

Mente aberta, tem menos insegurança!

É um teste, por um lado, e a necessidade de diálogo, por outro, para saber o que o médico acha sobre o que ele leu, ouviu falar e discutiu com outros doentes sobre aquelas novidades.

É também um debate cada vez mais informacional.

Nesse novo encontro, o paciente não pode achar que pode ser arrogante com o médico, nem o médico com ele.

Ambos trocam impressões sobre a quantidade enorme de informação disponível sobre aquele problema, de forma madura e saudável!

Tudo sempre é um grande aprendizado.

Ou como dizia Pessoa:

“Tudo vale à pena…”

Xô arrogância de ambos os lados!

Os riscos do processo:

  • É aquele vendedor de seguro que não viu a nova tabela de prêmios na rede, que você achou em 20 segundos.
  • O vendedor de aparelho de tevê que sabe menos do que você que ficou duas horas rodando a rede lendo notícias, inclusive em inglês.
  • Ou o médico que nunca ouviu falar do último remédio que todas as comunidades dos pacientes crônicos daquela doença estão comentando.

Se a rede deixa nú o rei que não se atualiza, é uma grande oportunidade para o antenado, pois pode, a cada visita de cada doente, estar aprendendo novidades, pois a rede é vasta, os pacientes idem, com mais tempo do que ele, em alguns casos, para chegar a determinados dados.

O rei que não se atualiza hoje, está nú!

O rei que não se atualiza hoje, está nú!

E mais aprender como paciente aprende com outros paciente.

Assim, o paciente não é mais apenas o doente, mas também um anunciador de novidades, que podem ser discutidas e trabalhadas no consultório.

E discutir com o paciente, a partir de sua vasta experiência, que ele não tem.

Todos ganham com isso, principalmente a saúde!

Concordas?

(Por fim, já fui uma consulta com meu homeopata em grupo de pacientes com problemas similares. Foi a minha primeira consulta verdadeiramente 2.0, pois o médico já era um apicultor de fato de uma rede social de pacientes, uma tendência interessante e, nesse caso, que altera não só a abordagem, mas muda a própria idéia de consultório. Mas falamos disso depois.)

Pós escrito – 06/05/09 – Ampliei a discussão com o texto “A Reforma do Consumo“.

Recomendo o livro de Isaac Epstein –A Comunicação Também Cura na Relação Médico Paciente.

E o artigo:

Emília Vitória Da Silva & Lia Lusitana Cardozo de Castro:
A internet como forma interativa de busca de informação sobre saúde pelo paciente
Áreas disciplinares:
Ciencias de la Salud & Internet
Resumen/Introducción:
A Internet, por sua interatividade, facilidade e baixo custo de acesso, constitui importante fonte de informação sobre saúde, sendo frequentemente utilizada por pacientes, o que lhes permite participar ativamente no tratamento. Contudo, a baixa confiabilidade do conteúdo disponibilizado pela rede pode comprometer esse processo. Neste artigo, as autoras discutem estudos que avaliam a qualidade da informação sobre saúde divulgada na internet e comentam a influência desta sobre a conduta dos pacientes em relação a sua saúde. Além disso, fazem recomendações sobre os critérios para avaliar a qualidade do material publicado em páginas da Internet.

9 Responses to “O Médico 2.0”

  1. Sarita Bastos disse:

    Muito bom esse texto e gostaria de destacar a importância da linguagem nesse processo.
    Além do aspecto tecnológico, uma característica do cenário da medicina 2.0 é a modificação do discurso médico. A televisão foi fundamental para isso tendo em vista o sucesso dos médicos midiáticos nos últimos anos.
    A linguagem hermética, própria dos médicos entre seus pares, passou por processo de didatização com o uso de tecnologias discursivas próprias da televisão, aproximando o médico-apresentador do paciente-telespectador.
    Na web 2.0, o campo da medicina potencializa esse processo de abertura a outros campos sociais. Os médicos não perdem a legitimidade mas são desafiados a dialogar e justificar ainda mais para o paciente que contesta o que chamaríamos de discurso “prescritivo”.
    abraços
    Sarita Bastos
    jornalista

  2. Oi Nepomuceno, excelente reflexão como sempre e fico só na dúvida se encaminho ou não para alguns dos meus clientes na área médica. Alguns – os mais antenados – irão se identificar enquanto outros estarão sempre em dúvida. Tenho um livro, que reúne diversos artigos – coordenados pelo prof. José Marques de Mello – que abordam o que vem acontecendo ao longo do tempo. O título do livro é muito sugestivo “A Comunicação também cura na relação médico paciente”. Abs, Cris

  3. cnepomuceno disse:

    Legal o livro….se tiver, queria dar uma olhada.

    Eu acredito que deva apontar, mostrar, que é da discussão que vai se mudando aqui e ali, mesmo que não agora,

    beijos
    grato pelo comentário,

    Nepomuceno.

  4. cnepomuceno disse:

    Sarita, acho que são três etapas, que você citou e me alertou bem:

    1- a mídia ser mais didática – usando o meio unidirecional;

    2- a etapa do diálogo, no qual o médico tem que trocar informação com um paciente cada vez mais informado;

    3- e vejo uma etapa que nem está no texto, só no final, que é a incorporação das redes sociais de pacientes para uma intervenção dos profissionais de saúde neles, seja de forma reativa (entrando para ajudar) ou seja proativa (criando as redes).

    Mas isso é mais para diante,

    Grato pelo comentário,

    Nepomuceno

  5. ‘Assim, o paciente não é mais apenas o doente, mas também um anunciador de novidades, que podem ser discutidas e trabalhadas no consultório.’

    pois é, super legal isso. Mas já pensou? isto só se o paciente tem dinheiro para pagar um médico particular e ter tempo pra discutir com o profissional, né?

  6. […] mais  do que o próprio fornecedor (corretor, médico, professor), que não está muitas vezes pronto para esse […]

  7. luis disse:

    interessante este tópico.

    é muito interessante que o paciente possa participar do seu tratamento.

    no entanto muitas vezes o paciente passeia pela intenet à procura de tratamentos que o satisfaça, mas que eventualmente não irão curar suas doenças.

    nem sempre o que o paciente acha ideal, é o mais correto para sua cura.

    além disso existem muitos sites com conteúdo discutível, que podem deformar um pouco as idéias do usuário.

    os sites eu acredito que com o tempo se tornarão confiáveis – no entanto a fé da cura pode levar a resultados inesperados para o paciente.

  8. cnepomuceno disse:

    Luis,

    na verdade, o paciente hoje tem mais informação do que antes. Que pode ser positivo ou negativo, dependendo da sua capacidade de discernimento.

    Sugiro dar uma olhada no texto:
    http://nepo.com.br/2009/05/05/a-reforma-do-consumo/

    abraços,
    Nepomuceno

  9. […] com a informação da Idade da Rede Colaborativa! Sabemos mais do que o próprio fornecedor (corretor, médico, professor), que não está muitas vezes pronto para esse […]

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