Oh vida, oh azar – Hardy ha-ha.
Quando inventaram a faca, uma parte do mundo pensou: ” como será bom cortar um pão de forma mais fácil”. E a outra: “Finalmente, um instrumento perfeito para matar fulano”.
As tecnologias servem aos propósitos humanos, para o bem ou para o mal.
Elas, em si, são apenas camadas sob as quais caminhamos para diversas direções.
Assim, quando há novidades no front temos os Nerds (difusores) lutando contra os Freds (reativos).
Aqueles que acham que chegou o paraíso versus os que estamos às portas do apocalipse.
Ninguém tem razão na casa de Noca – só o bom senso.
Só que como é careta não ser moderno, o discurso predominante é o dos Nerds, que, muitas vezes, passam por cima de posições interessantes dos Freds.
Ninguém vai pegar uma faca e enviar na própria barriga, mas não quer dizer que não vai ter ninguém no mundo que não vá se suicidar com a faca.
Ao se ler “Primo Basílio” do Eça de Queirós, por exemplo, temos retratato ali o ambiente de papo de final de tarde.
As pessoas se sentavam na sala, ou na varanda, para falar do mundo.
A estória se desenrola praticamente nesse ambiente.
Um espaço interessante de troca, que o rádio invadiu, depois a televisão. E agora com a Internet, em alguns casos, resgatou-se.
Meu filho chega da escola e vai para o MSN continuar o recreio.
É melhor ele ali do que na frente da tevê.
Ou não é?
Na tevê, ele só recebe e não interage, já no MSN….
E ainda se puder ainda sair de casa para jogar bola, etc…show!
Considerar que o rádio que tirou o Primo Basílio do papo de final de tarde só trouxe coisas boas (as notícias do mundo, que ampliou o universo regional) é parcial, como também pode ser a interpretação de de que foi uma bomba encadeadora da desintegração do lar e da conversa da família.
Há uma inevitabilidade de algumas tecnologias.
O trem, o avião, o rádio, o telefone….
Elas são necessárias para um planeta que tem cada vez mais humanos.
Tudo vem para tornar isso possível, tirando, obviamente, ações interessantes, características, que perdem espaço.
Quando inventamos o livro, perdemos a capacidade de guardar estórias no cérebro – nossa memória encurtou.
O mesmo hoje podemos ver com as calculadoras, nossa capacidade de fazer contas de cabeça se reduziu.
Mas se temos as calculadoras por que calcular de cabeça? Mas o cálculo de cabeça desenvolve uma parte do cérebro que ficará atrofiada? O que colocar no lugar?
E por aí vai o debate…
Não devemos ouvir apenas os utopistas, os nerds, pois há um conjunto de fatores nocivos de cada tecnologia que deve ser combatido, adaptado, não com um processo de fora do movimento, mas dentro dele para poder influenciar e não ficar jogando água no chope.
Como é uma luta entre opostos, cada um estica, ao máximo, o seu ponto de vista, o que torna o discurso de ambos os lados, em alguns momentos, monocromáticos.
O livro “The cult of the Amateur” – de Andrew Keen, um nerd arrependido, é, por exemplo, ponto de encontro dos Freds.
Lá, ele questiona a Web 2.0 de cabo a rabo.
Acredita que a participação das pessoas pela rede vai mais trazer ignorância, narcismo, mediocridade.
E que iremos sentir falta de um bom editor que dê sentido ao caos.
Vocês me perguntam, concordas?
Não, mas em parte, há riscos no processo que temos que ficar atentos.
Estamos construindo, às duras penas, esse novo tipo de filtro sem um editor formal e não é fácil.
Mediocridade, narcisismo e superficialidade podem crescer. É preciso cuidado.
O que está para trás não era o ideal, não significa que tudo que vem é melhor.
É preciso muita discussão e negociação para se chegar a um bom senso.
Estamos em um processo de mudança de longa data que, na verdade, começou com o rádio e depois principalmente com a tevê, que vem tirando dos jovens o gosto pela leitura individual, que desenvolve, entre outras coisas, o bom hábito da concentração.
Mas, de certa forma, a Internet, em parte, resgata o que a tevê e o rádio deixou para trás: o diálogo e o retorno da escrita e da leitura, mesmo que a midiática.
A tevê me deixou burro demais – Titãs.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=7wv7NabwtC0&feature=related]
Alertar e propor ações concretas para suavizar os impactos da tecnologia é algo fundamental, saudável.
Se colocar na frente da onda e mandar a ressaca diminuir o tamanho, é uma atitude tão narcisista – para chamar a atenção para si – daquilo que se pretende combater.
Na televisão, antigamente, tínhamos um desenho do Lipi e do Hardy, o Leão pró-ativo e da Hiena reativa e pessimista.
Para um, tudo ia dar certo; para o outro, “oh vida, oh azar”, o buraco.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LA0czf_aeW0]
No final, eles se entendiam e vinham os comerciais.
Que achas?
A campanha da TIM que saiu estes dias reflete bem o desafio: “toda banda larga será inútil se a mente for estreita”. É uma frase boa demais para ser desperdiçada em um publicidade vazia.
Eu complementaria isto aqui com alguns ganchos:
1) o bastante útil Hyper Cycle proposta pela Gartner, que mostra que toda tecnologia tem sua fase de entusiasmo até encontrar um equilíbrio mais “sensato”.
2) a visão de Sandra Braman sobre as faces da tecnologia, em que discute com bastante cuidado estas nuances.
3) a proposta de Latour de que não devemos estudar homem como homem e tecnologia como tecnologia, uma vez que, ao incorporar a técnica na sociedade, ambas as instituições perdem sua noção original. Vivemos então no meio destes híbridos com significado próprio, indissociável.
Negar a neutralidade do meio como instrumento, é dar murro em ponta da faca (a mesma uilizada em seu texto e ilustrada – he he).
E é esse o perigo de não se entender direito a floresta – e enxergar umas poucas árvores.
Esses dias mesmo, conversando sobre as comunidades soltas e sem controle, alguém retrucou que precisariamos criar ‘novas’ comunidades – só que com controle …
Devemos nos valer de gente de bem, para que realmente Lipi seja o nosso herói – pois ao final tudo acaba dando certo.
Se não deu certo, é porque ainda não acabou!
[…] eterna luta dos Freds contra os Nerds Collected by nepomuceno 00 mins ago from nepo.com.br // Event.onDOMReady(function() { // sizeText($(‘video_title’), 475); // }) collect this […]
Leandro,
engraçado que antes de escrever o artigo procurei essa frase da TIM….e você complementou.
A Sandra, que não conheço o trabalho, vou dar uma olhada e vi que está por aqui:
http://www.uwm.edu/~braman/html/pub.html
O Latour, velho de guerra, tem essa idéia homem-máquina em interação que reforça a idéia sobre um cara não é o mesmo cara com um revólver no bolso….
Valeu mesmo….
Valeu Volney as dicas…e a visita de vocês..
abraços
Nepô.
Ela (Sandra Braman) estará no simpósio organizado pela Sarita, que rola no Rio em Março e Abril.
Sobre este tema, vá direto neste texto:
http://www.uwm.edu/~braman/bramanpdfs/023_technology.pdf
Um abraço.