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Talvez possamos dizer que somos naturalmente tecnológicos, ou tecnológicos naturalmente.

2001-Uma-Odisséia-no-Espaço-Macaco

Toda a base da Antropologia Tecno-cognitiva defendida nesse blog parte de uma revisão filosófica de ser humano.

A filosofia tem esse papel de definir nossas potências, impotências e onipotências, ao responder uma das perguntas centrais da nossa existência: quem somos?

(Ver mais sobre as questões fundamentais da filosofia aqui.)

Parto da visão de uma filosofia tecno-cognitivista, extraída das principais ideias da Escola de Toronto.

A base de tudo é o conceito da tecno-espécie.

Causa um certo incômodo nas pessoas quando afirmo que somos uma tecno-espécie e que não somos naturais.

Na palestra da Veiga de Almeida um aluno me questionou, pois disse que já fomos naturais, antes de termos tecnologias. Mas talvez possamos dizer, conforme o filme “2001 – uma odisseia no espaço” sugere, de que é justamente a hora que adotamos a primeira tecnologia que passamos a ser humanos. Ou seja, naturalmente tecnológicos nos tornou humanos e não o contrário.

Ou seja, só fomos humanos quando resolvemos definir que seríamos a primeira – e única espécie – que pode resolver seus problemas não criando tecnologias naturais, no próprio corpo, mas que teríamos um cérebro dinâmico que nos permitiria modificar e cria novas tecnologias.

Na evolução e competição com outras espécies, resolvemos investir no cérebro como um inventor de tecnologias que iria criar órteses que a natureza não ia nos dar.

  • Se há algo que nos define é essa relação de cérebro e tecnologias.
  • E principalmente cérebro e tecnologias cognitivas, que serviram para aprimorar essa nossa flexibilidade de criar.

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Ou seja, quando definimos que a nossa aposta biológica não seria o desenvolvimento de “tecnologias naturais”, tais como garras, asas, caudas, mas que seria num cérebro com capacidade de usar/criar tecnologias.

Só nos tornamos humanos, quando nos colocamos nas condições de tecnos, quando resolvemos não adotar tecnologias naturais, mas tecnologias artificiais, que não seriam incorporadas ao nosso corpo, mas que as usaríamos, quando conveniente, conforme cada necessidade conjuntural, através de órteses.

Ser humano é naturalmente tecnológico, qualquer pensamento que fuja disso, a meu ver, nos cria um problema de percepção básica do que realmente somos.

E nos cega para determinadas mudanças que ocorrem na sociedade, pois se somos uma tecno-espécie não vivemos em uma ecologia, mas em uma tecno-ecologia condicionada pelas introduções de novas tecnologias de todos os tipos, como maior ou menor escala.

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É essa condição de tecno-espécie que nos fez tão versáteis e poderosos. Porém tal condição não é incorporada como um fator fundamental para compreender as nossas sociedades, pois, como disse aqui, as tecnologias se tornam invisíveis, ao serem desenvolvidas, incorporadas na plástica cerebral.

E são vistas não mais como tecnologias artificiais, mas como algo natural ao nosso ser.

Nos achamos naturais, pois nosso cérebro e depois a cultura incorpora a tecnologia como algo natural e não mais inventado. E isso se é bom para vivermos, nos cria um problema teórico, pois não conseguimos enxergar os efeitos que ela têm na nossa vida, principalmente quando sofrem uma mudança radical.

  • Há, assim,  uma falsa-naturalidade.
  • Ou uma tecno-naturalidade invisível.

Tal fenômeno pode ser mantido ao longo do tempo, acredito, pois:

  • as tecnologias demoram um longo tempo para provocar seus efeitos;
  • o cérebro as trata de forma a se tornarem parte integrante das nossas vidas, as tornando invisíveis.

Porém, essa pré-condição da tecno-espécie sofre de forma abrupta quando alteramos de forma radical as tecnologias cognitivas, tal como a chegada da fala, escrita, computador e depois o computador em rede, pois elas alteram o epicentro da espécie. O cérebro que é o nosso solucionador de problemas e desenvolvedor de tecnologias fica mais potente do que era antes.

No passado, tanto a escrita, ou o papel impresso conseguiram uma certa invisibilidade nesse processo, pois o mundo vivia menos conectado e globalizado, a expansão foi muito mais lenta. Note algo engraçado que mostra tal absurdo: a história moderna, vide no Wikipédia, é considerada moderna, em 1453, quando houve a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos.

Na mesma data, 3 anos antes, Gutemberg fazia suas primeiras experiências com a prensa, permitindo que as ideias circulassem de forma completamente diferente na Europa.

Qual fato, podemos dizer a luz de hoje, colaborou mais com nossa presente?

A prensa que mudou o cérebro ou a queda de Constantinopla.

Note que a história não consegue ainda ver a relação das tecnologias e as macro-mudanças, que é onde a Escola de Toronto ganha relevância.

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A prensa foi algo lento, em um mundo que demorou  muitas décadas para assistir a uma modificação gradual do nosso cérebro. A Internet e as mídias sociais já não têm esse modelo, pois é algo explosivo, rápido, com resultados muito diferentes em um período muito curto de tempo.

Todas as teorias que temos das ciências sociais se tornam obsoletas, pois nunca havíamos problematizado como devíamos a questão da tecno-espécie com um fator fundamental para compreensão do humano e seu caminhar no planeta.

A base da antropologia tecno-cognitiva e de várias abordagens sobre o ser humano é, portanto,  a passagem do ser humano como algo natural para um ser artificial, como condição básica da humanidade.

Esta tese está razoavelmente explicada no meu livro impresso – Gestão 3.0.

Os argumentos parecem bem lógicos e estão abertos para questionamentos:

  • a) alguns animais se utilizam de tecnologias, lembro de dois (castores e joão de barro);
  • b) porém, eles repetem as mesmas técnicas, pois não são pensadas, apenas vêm no instinto;
  • c) o ser humano é o único animal que usa tecnologias e as vai aperfeiçoando, pois tem um cérebro especial.

Quando temos problemas desenvolvemos tecnologias para sobreviver.

E nossa vida, física e cognitiva, se adapta a esse novo ambiente tecno-artificial.

Assim, só podemos analisar o humano quando olhamos as tecnologias que nos rodeiam.

Note que os estudos da sociedade sempre incorporaram a ideia das variantes sociais, políticas e econômicas, mas pouco das tecnologias, pois incorporamos tanto e tão bem, a coisa cai como uma luva de tal forma, que se torna invisível.

A base dos argumentos de mudança da espécie passam por essa fonte básica e primária.

Abaixo um vídeo sobre este tema, no qual discuto que:

  • Não conseguiremos entender o século XXI com a ferramentas teóricos-filosóficas do século passado;
  • A montanha filosófica-teórica da economia, política e sociedade como motor da história;
  • A nova montanha filosófica-teórica dos efeitos das tecnologias;
  • Os efeitos das tecnologias cognitivas;
  • As causas endógenas e exógenas.

Veja o vídeo #1:

 

Siga a trilha dos vídeos.

 Versão 1.1 – 22/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

 

 

6 Responses to “A tecno-espécie humana”

  1. […] outras mídias, é condicionadora da nossa tecno-cultura. Não somos uma espécie como as outras, somos uma tecno-espécie, que transforma a natureza para sobreviver e assim estabelece uma tensão dialética […]

  2. […] Muitos dirão que aquelas definem estas, mas o estudo histórico tem demonstrado que as principais mudanças na histórias são provocadas por mudanças nos ambientes cognitivos e não o contrário. O fator principal indutor das mesmas é a complexidade demográfica, já que somos uma tecno-espécie com uma tecno-economia e uma tecno política, ver mais aqui. […]

  3. […] O aparato da verdade não funciona no vazio, pois não somos AINDA uma espécie telepata, que se comunica por pensamentos. Somos, aliás, uma tecno-espécie. […]

  4. […] Assim, na pergunta “quem somos” precisamos incluir a resposta “somos seres tecnológicos” ou uma “tecno-espécie”, como discuti aqui. […]

  5. […] A base principal, a meu ver, dessa revisão é nos ver com uma tecno-espécie. […]

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