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Gostei muito desta palestra do psicanalista Ricardo Goldenberg e sugiro que você escute.

Goldenberg neste vídeo quebra a ideia de que existe algo como o auto-conhecimento, que é algo que foi, a meu ver, fortemente reforçado pelos últimos anos de concentração das redes de construção da verdade, na qual eu não tinha a interação como uma prática, mas a produção cognitiva fechada o que acabou moldando nosso ego monoteísta, que ele questiona neste vídeo.

A base da proposta de Goldenberg é bem diferente do que estamos acostumados.  Argumenta  que não somos seres isolados. Só somos alguém, através do contato com o outro, que nos ajuda a nos reconhecer.

É algo como se fôssemos um projeto, tipo uma bola que só consegue ter noção, apenas noção de sua dimensão, quando batemos ( e refletimos de forma sóbria e profunda sobre esta experiência) nas paredes que nos cercam: a vida, as pessoas, as crises, os dramas e as alegrias.

Um ser interativo, que só se descobre em interação e nunca em isolamento.

Estar pronto, ou se conhecer, seria a capacidade que temos de interagir e refletir sobre cada interação.

A ideia, assim, que eu me auto-conheço, a partir de eu mesmo, seria uma grande roubada, que nos levaria muito mais à ilusão do que uma verdade mais eficaz.

(Porém, esse modelo de um ego isolado, auto-suficiente é hoje hegemônico e faz parte do modelo de organizações neuróticas e narcistas, fruto da contração cognitiva. Com o tempo, elas se tornam anti-produtivas, pois passam apenas a existir para se auto-manter e não mais servir à sociedade.)

A proposta, então, segundo o psicanalista, é de uma mudança de como eu me vejo e como eu construo o meu ego.

É o que eu chamaria da passagem de um ego monocentrista, fechado e isolado para um politeísta, aberto e que se descobre apenas na interação, fundamental para o novo ambiente cognitivo da colaboração de massa, que estamos entrando pós-mídias sociais.

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Goldenberg rebate a ideia da psicanálise “Freud_explica” , na qual o terapeuta acaba por transformar o analisando em um ego suplementar, tal como: façam o que eu acho que você deveria fazer. Quando o movimento seria o contrário, deixar o paciente como uma obra em aberta e ele dá alguns exemplos dessa prática.

Representa com estas ideias, acredito eu, um movimento de revisão psicanalítica de paciente obra fechada versus paciente obra aberta, pois rebate a prática do divã de que o analisando passa a ser o espelho do terapeuta. 

É justamente a mesma discussão que vejo hoje na sala de aula e nas organizações produtivas, incluindo a política por causa das mídias sociais.

(A proposta de ego obra aberta tem um pé forte no existencialismo, que acredito ser a corrente mais coerente com esse novo mundo que necessita de pró-atividade e não de passividade. As ações de Heidegger e Freud parecem que vão subir na bolsa filosófica. :))

O movimento psicanalítico proposto por Goldenberg faz parte da revisão geral, que podemos chamar de espírito da época, Zeitgeist, assim como a escola invertida (no setor de ensino), ou a mídia ninja ( na área de mídia) ou a gestão participativa (no setor produtivo) do movimento de expansão do pêndulo cognitivo.

Todos estes movimentos que percebem e tentam defender com mais ou menos visão do todo, o novo Zeitgeist macro cognitivo, da mudança de umacultura monocentrista para uma politeísta, da unicidade para a multiplicidade das vozes.

Muitos dirão que nada disso é novo  em todos estes campos e eu vou concordar.

Porém, a mudança agora é de uma nova natureza.

Antes era algo ideológico, que partia da visão de alguém e agora é tecnológico, que parte da imposição de um novo ambiente cognitivo. Não se trata de “vamos nessa que é legal”. Mas de “vamos nessa, pois o novo ambiente cognitivo assim o determina”.

Bem-vindo a consciência da tecno-espécie!

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São movimentos motivados em vários locais diferentes, por várias áreas distintas, por várias pessoas, no movimento de expansão cognitiva, que reflete as mudanças das tecnologias cognitivas em processo de expansão.

Ou seja, para concluir: o ego monocentrista que temos hoje, estamos aprendendo com isso,  é construído para lidar com um ambiente cognitivo, no qual há um centro produtor de verdade que se organiza para difundir suas ideias em uma modelo de rede cognitiva que trabalha com baixa interação.

Foi modulado como um livro:  demora para sair, constrói uma verdade e não interage.

O ambiente cognitivo molda, assim, nossos egos.

  • Na contração cognitiva, tende ao monocentrismo com baixa interação;
  • Na expansão cognitiva, tendo ao policentrismo com alta interação.

No caso do ego monocentrista, note bem o trabalho do terapeuta hegemônico, precisa ensinar a objetivar a ponta, tirá-la da sua subjetividade e sua capacidade interativa, pois o indivíduo nada mais é do que uma tela em branco para acatar uma verdade fechada que vem de cima para baixo, sem espaço para interação.

Com o tempo de uso, o ambiente produziu e consolidou cada vez mais egos monocentristas, pois, como sugere Foucault, o poder não está no centro, mas em uma grande rede, da qual todos passam a ser reprodutores do modelo hegemônico e o micro-cosmo desse poder é esse ego de todos nós monocentristas auto-conhecedores fechados, impresso, como um livro.

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Alien – o poder está dentro de nós!

É assim que é produzido um livro didático, um programa de rádio, de televisão, um jornal. O ego tem um momento de reflexão em um círculo fechado e sai de lá para não interagir com o mundo,  pois a sua verdade é construída e empacotada sem interação.

O novo ego politeísta, que se descobre na interação é a saída, a revisão necessária para lidar com esse mundo complexo interativo, que precisa se abrir para a interação, ser visto como uma obra aberta, que se conhece conversando. Isso vai desde o político, ao prefeito, passando pelo professor, juiz, chefe, gerente, terapeuta etc…

Por isso, a relevância da discussão que Goldenberg traz em seu vídeo, que reflete profundamente o espírito da nossa época.

Que dizes?

Versão 1.1 – 07/10/2013 Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

2 Responses to “A crise do ego monocentrista”

  1. Nepô,

    Acredito que a leitura dos Livros Ontologia da Linguagem e El Observador Y Su Mundo do Rafael Echeverría podem ajudá-lo na sua pesquisa.

    Abraços

  2. […] Neste post, discuti um pouco a palestra de Ricardo Goldenbeg que defende que só é possível se desconhecer menos, através do diálogo com o outro e a nossa capacidade de aprender com o que é dito sobre você e sobre o outro. […]

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