Uma aluna me questionou por que não podemos falar em Sociedade do Conhecimento? O que há de mal nisso?
Versão 1.0 – 30 de outubro de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
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Estive em intenso debate semana passada com a turma 24 do MBKM, curso do MBA de Gestão de Conhecimento da Crie/Coppe/UFRJ, no qual dou aula há vários anos.
Uma aluna me questionou por que não podemos falar em Sociedade do Conhecimento? O que há de mal nisso?
Tenho questionado bastante essa visão.
Eu respondi a ela e agora no blog:
- Ao defender a sociedade do conhecimento estamos fazendo um diagnóstico da sociedade que temos hoje. E um diagnóstico teórico, nos leva a uma metodologia, que nos leva a formação de pessoas e que nos leva ao desenvolvimento de tecnologias;
- O que nos leva a implantação de práticas nas organizações, que nos leva a resultados, que nos leva ao aumento ou a redução de competitividade, a custos e benefícios com a nosso prática;
- Tudo por causa de um diagnóstico teórico, que nos leva à macro-metodologia, como é o caso da gestão do conhecimento, filha direta da sociedade do conhecimento.
Se algo começa a dar problemas na metodologia, que é a vacina, precisamos rever o diagnóstico. Certo? E é isso que temos que fazer agora que a gestão do conhecimento entrou numa encruzilhada diante das redes sociais digitais.
Veja bem, quem vê House com frequência, sabe a relevância de um diagnóstico para tratar da doença.
Se estamos na sociedade do conhecimento precisamos criar um “tratamento”, uma macro-metodologia (ver mais sobre macro-metodologias aqui) que nos leve a ajustes na organização, a partir dessa visão.
Não é algo impune.
Se eu pudesse pautar um Congresso da SBGC, por exemplo, eu me concentraria em levar gente para discutir o diagnóstico sociedade do conhecimento, pois a Gestão do Conhecimento é uma “vacina” criada, a partir da picada desse “mosquito”.
Vou pegar do Wikipédia um trecho, como exemplo, sobre sistemas de gestão de conhecimento, que é algo bem prático da aplicação da metodologia:
Os Sistemas de Gestão do Conhecimento (Knowledge Management Systems) são soluções de TI que amparam as iniciativas empresariais típicas de Gestão do Conhecimento como identificação, criação, apresentação e distribuição do conhecimento dentro do contexto corporativo. (MVL)
Os Sistemas de Gerenciamento de Conhecimento tem como importante objetivo proporcionar habilidades (a gerentes e organizações em geral) que apoiem a tomada de decisão, e consequentemente aumentem a vantagem competitiva da empresa.
Tais sistemas possuem como principal característica a coleta de dados, que posteriormente serão processados para que se obtenha um conjunto de relevante informações que serão agregadas e distribuídas em forma de conhecimento dentro da organização.
Note que “Sistemas de Gerenciamento de Conhecimento” são criados dentro das organizações (pela TI ou comprados de uma organização de SGC) e são ferramentas específicas para lidar com um modelo de gestão que levará a empresa da era industrial para a do conhecimento.
Não são considerados, assim, como sistemas de gerenciamento do conhecimento válidos pela GC o modelo de troca e compartilhamento que está sendo desenvolvido pela garotada fora das organizações, responsável pelo desenvolvimento dos softwares livres, a venda e compra por desconhecidos no Mercado Livre (ou Estante Virtual), pedir táxi por uma aplicativo do celular, via Karma Digital.
Por que não?
Por que a visão da sociedade do conhecimento prevê que as organizações são as agentes das mudanças no mundo, a economia rege as estratégias e os modelos de gestão irão criar modelos “mais modernos” de solução dos problemas atuais de dentro para fora, como sempre foi.
Quem faz os sistemas de GC “somos nós aqui dentro”, o que acontece hoje lá fora é algo que vamos analisar mais tarde.
Não vão se render, assim, ao conceito maior das redes cognitivas (by Pierre Lévy) que afirma que quando redes cognitivas se transmutam, o mundo as segue e não o contrário.
Ou seja, a mudança ocorre de fora para dentro, sem dó nem piedade!
A organização não faz o seu sistema, mas se adapta ao sistema que está sendo feito lá fora, a uma nova topologia de rede, (ver mais aqui) pois é muito melhor, testado, validado para resolver problemas complexos e mutantes.
Note bem, são dois diagnósticos, que nos levam para tratamentos COMPLETAMENTE DISTINTOS!
- Ou vamos para a sociedade do conhecimento, tendo a organização como indutora desse processo, baseado nas mudanças econômicas, que nos levam de uma sociedade/organização industrial para a do conhecimento, via Peter Drucker. A economia é a mudança;
- Ou vamos para a sociedade do digital em rede, tendo a organização como seguidora desse processo inapelável, baseado nas mudanças cognitivas, que nos levam de uma sociedade/organização impressa/eletrônica/digital vertical com uma topologia de rede fechada e vertical para uma sociedade/organização digital em rede, com uma topologia de rede mais aberta e horizontal, via Pierre Lévy. A rede é a mudança.
É o duelo Jungle Fight de Lévy x Drucker nos canais teóricos/metodológicos. 😉
Note que as visões poderiam se integrar, se fossem dentro do mesmo paradigma, mas não são.
Tudo que acontece fora – um novo modelo de resolver problemas – não faz parte do conceito geral da sociedade do conhecimento, pois está fora do diagnóstico da Sociedade do Conhecimento, que não consegue entender isso que está acontecendo do lado de fora: o mundo 2.0, que é uma mudança das topologias das redes cognitivas, que é um outro diagnóstico e pede outro tratamento!
E isso nos leva a duas metodologias diferentes.
- Quem acredita na sociedade do conhecimento implanta sistemas de GC.
- Quem acredita na Sociedade de rede Digital procura implantar projetos de Redes Sociais Corporativas, ou a nova Gestão por Redes.
Os projetos são teoricamente incompatíveis, ou um ou outro, e não é isso que está acontecendo nas organizações, pois não estamos revendo o diagnóstico!!!
Por isso, o caos está implantado!
Note que há uma relação, assim, entre:
- Diagnóstico: sociedade do conhecimento;
- Tratamento: gestão do conhecimento;
- Aparelhos cirúrgicos: sistemas de Gerenciamento do conhecimento.
Começamos a perceber que a força principal nas mudanças em curso não é no modelo econômico, as organizações não vão ensinar, desenvolver, ou criar, comprar sistemas de gerenciamento de conhecimento, mas vão aprender com os jovens como lidar também com o conhecimento com a nova geração. alinhando a topologia atual da rede organizacional a outra, mas dinâmica!
Ou seja, o alinhamento não é algo híbrido que parte de empresas que vão oferecer produtos de “gerenciamento do conhecimento”, mas é aprender a usar as metodologias e tecnologias que estão aí fora, mostrando a sua eficácia – pois como dizia o Capitão Nascimento: o alinhamento agora é outro!
- O diagnóstico: sociedade digital em rede;
- Tratamento: aderir, criar e implantar redes sociais corporativas;
- Aparelhos cirúrgicos: utilizar o que o mercado (fora das organizações) já desenvolveu, agora adaptando para o mundo corporativo.
Dois caminhos que nos levam a lugares e resultados diferentes.
Assim, a base da revisão que a GC deve ser: voltar ao laboratório e se perguntar se era o Peter Drucker estava realmente “certo”, ou se é melhor conhecer mais e se aprofundar em Pierre Lévy para se chegar a um diagnóstico mais preciso do mundo atual?
Os fatos estão demonstrando, mais e mais, nessa luta de teórico grande, qual lado do ringue tem conseguido fazer mais pontos.
Que dizes?
[…] (Como detalhei aqui.) […]