Uma tecnologia quando passa a invisível, vira cultura.
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Estive com os alunos do curso de pós-do Senac de Mídias Interativas, neste fim de semana.
Uma aluna confessou o quanto considera confuso o cenário atual com tantas mudanças.
Não, não é ela, somos todos nós que estamos com farol baixo no meio da neblina.
Lembrei a eles de um professor de basquete que tive no passado, que dizia que para marcar bem o adversário é preciso olhar para o umbigo dele.
Lembro bem:
“Os braços e as pernas se mexem rápido, porém o umbigo é o centro do corpo, mais lento”.
Guardei a dica e tento praticar ao olhar para a atual Revolução Cognitiva.
Digamos que ela tem duas partes.
- O centro o DNA da mudança, que se expande – o umbigo, a força principal;
- E a periferia que é o DNA agindo sobre o corpo social – que são os efeitos secundários, ou o que se vê mais facilmente.
A maior parte das pessoas que estuda e trabalha com o fenômeno se concentra demais na seringa (tecnologia), mas não o que há dentro da seringa e, por sua vez, qual é o efeito que essa vacina cognitiva tem no mundo – o DNA da mudança.
Na minha tese de doutorado (Ciência da Informação – UFF/IBICT), dediquei quatro anos no estudo de um largo conjunto de livros históricos das mudanças dos ambientes de informação no mundo.
Muitos autores têm comparado a atual mudança com a que ocorreu com a chegada do livro impresso. Isso aqui para nós é novidade, mas na academia, entre estes autores, é algo que está cada vez mais consolidado.
(Disse eu em sala de aula que quando temos uma mudança grande – uma crise – é de bom tom que procuremos no passado uma similar, com o mesmo DNA, para nos agarrar como se fosse uma tábua num naufrágio.)
Assim, podemos dizer que a atual Revolução Cognitiva digital é similar à Revolução Cognitiva do livro impresso, como foi também com a chegada da escrita, do livro manuscrito. Tais mudanças têm o poder de troca de água do aquário do mundo.
O ser humano é um ser social, diferente dos animais.
Somos fortemente dependente dos ambientes cognitivos.
Se estes sofrem uma mudança brusca, todo o aquário é afetado por ela.
Assim, podemos dizer que o DNA da mudança é tecnológico na entrada, pois é o que permite a “troca de água” mas não é na saída, pois há uma mudança cultural do ambiente.
Portanto, ma tecnologia quando passa a invisível, vira cultura – e é desse efeito da vacina que estamos falando.
Quais são as causas, assim, de uma Revolução Cognitiva?
- População dá um salto de tamanho (de 1 para 7 em 200 anos);
- Que obriga o setor produtivo a inovar;
- Para inovar é preciso melhorar a forma de se comunicar/informar/conhecer;
- Para isso, é preciso aumentar a participação, a colaboração, a cooperação;
- Nos levando a desintermediação dos antigos poderes – modelo de gestão, de como as decisões são tomadas.
Ou seja, há uma latência no ar por mais participação, desintermediação, que se expande e se torna tangível quando uma tecnologia cognitiva desintermediadora aparece.
Não é algo planejado, mas todo mundo fica ali vendo que precisa ser feito algo e vai tentando, procurando até que a tal tecnologia começa a atender aquela demanda latente.
No fundo, o que estou dizendo é que mais gente no mundo pede INAPELAVELMENTE um novo tipo de exercício de prática de tomada de decisão, pela ordem, vai ocorrendo na produção, inovação, comunicação, desintermediação.
E aí começa-se a atender mais com menos.
Ou seja, a democracia (e os modelos de gestão) de 1 bilhão de pessoas (de 1800) não servem para a que precisa ser construída para 7 bilhões (em 2012), com perspectiva de 9 bi na próxima década.
O que estamos falando agora é que estamos passando um macro-processo de desintermediação, abrindo as bases de dados do mundo (públicas e privadas), que foram digitalizadas nas últimas décadas, mas estavam fechadas, para a intensa participação dos consumidores/cidadãos.
Isso está aí a olhos visto, sempre com o objetivo de acelerar o tempo de resposta entre a demanda e a oferta.
- Fase 1 – banco eletrônico, compra de ingresso pela internet, retirada de documentos em organizações eletrônicas;
- Fase 2 – participação cada vez maior dos usuários em acessar e alterar os bancos de dados, que vamos chamar de organizações colaborativas (para onde estamos indo).
A primeira é um passo importante, mas é apenas um primeiro passo, sem uma mudança cultural significativa, pois a estrutura de gestão não se modifica, pois não se altera a forma como se decide, apenas se deixa acessar os dados
Na segunda, a desintermediação se dá, pois começa a se mudar a forma de se tomar decisões, que é a mudança na maneira de exercer o poder, através da troca com o mundo exterior, via banco de dados cada vez mais interativos – comentários sobre produtos, estrelas, avaliação, mudança na produção/serviço, conforme interação;
Estamos indo na direção de organizações mais porosas, com paredes mais finas e mais voltadas para fora e menos para dentro.
É aqui que estamos e para lá que vamos…
Por aí…
Que dizes?
Prof, achei interessante quando a Patrícia comentou sobre a como a desintermediação poderia afetar de forma radical o processo eleitoral, dando visibilidade a candidatos que passariam despercebidos dentro dessse modelo atual. Ou do caso do deputado sueco, comentado pelo sr., que toma decisões com base nas redes sociais. É excitante pensar na ideia de “povo no poder”, tomando as rédeas do seu próprio futuro. Queria deixar como sugestão para próximos posts. Abraços!
Gustavo, mais gente no mundo, vai exigir uma nova democracia, a meu ver, questão de tempo. Porém, um novo ambiente democrático é apenas um espaço de atender as demandas básicas, a garantia de uma humanidade melhor, a meu ver, passa pelo contínuo esforço de se colocar os valores espirituais aos materiais, o que é uma tensão constante..valeu visita e comentário.