Uma ideia interessante para pensarmos o futuro é a criação de zonas de inovação. Tais áreas, que podem ser trabalhadas nas organizações públicas e privadas devem ser vistas como ambientes de experimentação. Aprovadas pelos conselhos de administração ou pelo parlamento. Deve-se se escolher locais fora das estruturas vigentes (geralmente viciadas pelos modelos antigos) para que a novidade possa caminhar sem barreiras – tais projetos devem estimular o uso intenso das redes digitais colaborativas.
Versão 1.0 – 11 de junho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
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- Como as pessoas mudam?
- Ou melhor: por que as pessoas não mudam?
- Por que não gostam de mudar?
São questões chaves para esse novo mundo em que a mutação é o remédio e ficar parado o veneno.
Vivemos um momento interessante e atípico na história da humanidade, a saber:
- Nunca fomos tantos e nunca a taxa de aumento demográfico foi tão alta;
- Nunca vivemos tanto;
- Nunca estivemos tão conectados como agora;
- Nunca os mais jovens chegaram aos ambientes cognitivos novos antes de seus pais;
- Nunca profissões que abraçamos hoje, não mais existirão quando nos aposentarmos;
- Nunca o planeta mostrou limitações como agora;
- Nunca tivemos tantas ilhas de inovação pelo mundo, que tornam cada vez menores os ciclos dos produtos e serviços.
Temos problemas novos pela frente.
- Digamos, como sugeriou Schumpeter, que o capitalismo é o sistema das mudanças e que o ambiente deve ser propício para que os empreendedores tenham todas as condições para criar;
- Digamos, como sugeriu Kuhn que a ciência, qualquer uma, é o sistema das mudanças e que ela deve estar pronta para os desafios que se colocam, através de uma constante inovação – porém não é o que se observa.
Podemos dizer mais.
Que a civilização nunca esteve parada, sempre andou, com passos mais rápidos ou lentos.
E, conforme tais autores sugerem, as mudanças relevantes nunca vêm de dentro do sistema, das instituições, que apostam na manutenção de um certo padrão.
Mudanças relevantes, estruturais, vêem sempre de fora por pessoas que querem entrar e vêem o mundo de forma diferente, têm ideias novas e querem experimentá-las.
Um misto de curiosidade, coragem, arrojo, gosto pelo desafio, de mostrar que as coisas podem ser feitas de forma diferente.
Podemos sugerir que o ser humano, entretanto, que precisa sobreviver, se sente inseguro com as mudanças, tem medo da morte, sempre possível, de não ter o que comer no dia seguinte, de ficar velhos sem dinheiro aposta suas fichas em conquistar e manter.
E atacar tudo que possa tirar essa segurança de sua frente.
Assim, quando consegue estabilizar uma fonte de renda, já é o primeiro a apostar na conservação e não na modificação.
Surge a figura do inovador que está de fora, quer entrar no “baile” e se as condições políticas, sociais e econômicas permitirem procura alternativas para alterar e bagunçar o mundo dos que não querem mudar.
Esse “ser de fora” tem outra visão do problema a ser resolvido e uma nova forma de modificá-lo.
E assim a roda da história gira, tanto nas organizações, como na ciência.
É fato: udo que possa mudar o que conquistamos nos perturba.
(Falei sobre isso aqui no paradoxo da inovação).
Assim, o que podemos chamar de “sistema” é conservador, preparado para repetir, reproduzir o que aprendeu e tentar, ao máximo, pela conversa, às vezes tentando fugir das regras, e ainda pela força, manter seus privilégios.
Podemos dizer que a maioria da humanidade é conservadora?
Porém, toda a conservação nos leva à crise, pois o ambiente é sempre mutante e as organizações vão se tornando paralisadas, ainda mais quando temos uma taxa sempre crescente da população.
Ao longo do tempo, a sociedade começa a ter demandas sem ofertas compatíveis.
E aí sobra oportunidade para que o novo ocorra, desde que tenham um ambiente propício para agir, criar novas instituições e dinheiro para que esse sonho possa acontecer.
Hoje, com o ritmo acelerado das mudanças, há cada vez mais reflexões sobre como alterar esse “instinto natural” das organizações, podendo ser elas mesmas a dar espaço para os inovadores, de forma planejada, de dentro para fora.
Seria uma tentativa de conseguir que a inovação faça parte de algo, que normalmente, nunca fez.
Uma guinada na maneira de se pensar o futuro.
Vejam que a decadência de várias grandes empresas que temos assistido demonstra que essa meta é prá lá de difícil.
Precisamos, assim, responder as perguntas:
Como fazer com que as organizações saiam dessa maldição conservadora, não só no discurso, mas na prática? Como criar uma rotina em que as instituições estejam permanentemente criando regras para não se deixar cair na arapuca da não-mudança?
De tudo que li, a proposta da administração da carteira de inovação de Geoff Tuff e Bansi Nagji, me parece a mais interessante, pois prevê que 10% dos esforços das organizações devem se dedicar a projetos transformadores (70% para o que já faz, 20% para mudanças cosméticas nesse mainstream.)
Não entram nesse detalhe, mas podemos dizer que uma empresa saudável é aquela que prepara o seu próprio funeral, com direito a vela e caixão de luxo. 😉
Ou seja, 10% deve ser feito de criação destrutiva para questionar valores básicos, tradições, que são impensáveis hoje em dia.
O problema é que estas mudanças são tentadas dentro da cultura atual, mas esse tipo de modelo me parece caro e pouco produtivo.
Todas cultura mais antiga já aprendeu a combater o novo, eliminando-o sempre com uma rapidez e prática antiga.
Assim, o novo deve ocorrer fora dos muros para que possa não ser intoxicado pela cultura antiga, pois se não for assim a transformação fica muito mais difícil.
Não se deve, portanto, passar para essas ilhas de futuro antigos processos, mas apenas problemas que devem ser resolvidos de outra maneira.
Empresas de tecnologia de ponta têm resolvido esse problema comprando a inovação de empresas menores. É prática olhar para o mercado e ir comprando startups.
É um caminho, sem dúvida, talvez mais caro, mas é um caminho.
Porém, podemos imaginar uma organização cada vez mais como uma incubadora de novos negócios, que devem criar espaços para o novo surgir, dentro e fora dos muros.
- Se for cosmético, se faz dentro;
- Se for transformador, faz fora (podendo inclusive contar com capital de risco.).
Podemos ainda aliar essa discussão a das redes sociais, que é, a meu ver, uma nova cultura não compatível com o modelo de gestão atual.
Estamos falando de uma borboleta de um lado e de um beija-flor de outro. Ambos voam, mas uma borboleta não vira um beija-flor por mais que bata as asas. Pode fingir que é, mas vai se ver que não, rapidamente.
Assim, não faz sentido não aliar à discussão da carteira de inovação transformadora, o uso intensivo nestas novas experiências de uma cultura digital em rede 100% nativa, com um modelo de gestão em oposição ao modelo piramidal.
Assim, uma ideia interessante para pensarmos o futuro versus o passado longo é procurar criar zonas de inovação. Tais áreas, que podem ser trabalhadas nas organizações públicas e privadas devem ser vistas como ambientes de experimentação. Aprovadas pelos conselhos de administração ou pelo parlamento deve-se escolher locais para que a novidade possa caminhar sem barreiras.
No caso das organizações privadas, pode se experimentar startups, migrando os problemas da “empresa-mãe” para a filha.
E para o Governo cidades e orgãos públicos que seriam escolhidas (com ok da população) áreas de experimentação, com novos modelos de escola, postos de saúde, transporte, gestão, pessoal, decisões – tudo baseado em novos paradigmas.
Diria que se teria ali a anistia da nação e das organizações para a experimentação sem “agrotóxico do passado”.
O que for bom vai se espalhando e o que não se mostrar efetivo descartando.
Seria uma forma gerenciada, mais barata e efetiva de se adaptar ao futuro, criando desde já uma ponte viável.
Vai se gastar muito dinheiro com tentativas transformadoras em ambiente intoxicados.
Caminhar pelo caminho de zonas de inovação me parece mais eficaz e barato.
É isso,
que dizes?
Caminhar pelo caminho de zonas de inovação pode ser mais barato, mas talvez não seja mais eficiente.
Acredito que em muitos casos o “ambiente intoxicado” necessitará de soluções que nunca seriam encontradas em “novas zonas de inovação” (ambientes desintoxicados).
Cada método/ambiente tem seus pontos fortes, basta saber extrair a melhor lição de cada um, é o que penso.
[…] (O que amadureci depois é que tais projetos ficam mais fáceis de serem implantados dentro das zonais de inovação – ver mais aqui.) […]
[…] melhor forma de fazer essa migração é através da criação de ilhas (zonas franca) de inovação, nas quais a nova cultura do diálogo deve ser criada sem a intoxicação da escola […]
[…] E precisamos criar metodologias de alinhamento a esse mundo digital em rede, que tem uma nova cultura cognitiva, mais dinâmica, que nos permita tomar decisões mais ágeis e mais eficazes (sugerindo que projetos desse tipo sejam feitos em uma carteira de inovação, com 10% dos esforços em atividades isoladas, não intoxicadas pela cultura passada e transformadoras – ver mais aqui). […]
[…] essa discussão aqui (falando das culturas distintas) e aqui (da necessidade de se criar novas empresas do zero.) E isso significa, anotem, a montagem de novas empresas com marcas antigas – que é algo […]
[…] experiência tem me levado à ideia de criação de zonas de inovação e a criação de startups que possamo começar do zero em um novo […]
[…] sugerido um caminho mais direto, através de zonas de inovação isolada. Sim, muito mais difíceis de serem aprovadas, pois a Revolução Cognitiva não é um […]
Acho a idéia G E N I A L !!!
A expressão Zona França de Inovação soa bem, e a grande maioria das pessoas vai entender exatamente o que você quis dizer, mas é equivocada, já que franca nesse caso significa livre. O certo seria algo tipo Zona França de Forças conservadoras. Mas para usar as palavras que devem ser reforçadas, podemos usar Ilhas de Inovação (mas dá uma sensação de isolamento…) ou simplesmente trocar a preposição: Zona França PARA Inovação. Só preciosismo… A idéia é excelente! Vamos pensar em um modelo para escola?