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Sem teorias incertas, injustificáveis, ousadas não há mutação na Ciência-  Karl Popper – da coleção;

(Continuidade deste post.)

Vivemos uma verdadeira sinuca de bico teórica.

E isso tem consequências graves para o futuro das  organizações e da sociedades, apesar das pessoas acharem que as teorias não são relevantes.

Até a chegada da Internet a sociedade aceitava, bem ou mal, o seguinte:

A força preponderante na sociedade é a economia, se olharmos para a economia e seus desdobramentos poderemos estar melhor preparados para o futuro.

Esse pensamento, válido de certa forma, pois a economia é um dos fatores principais a serem observados ao se pensar em cenários futuros, veio outro que é dependente deste.

A mudança que estamos vivendo no século XXI é a passagem econômica de um mundo que vivia sobre a égide de um modelo industrial/força de trabalho braçal para outro que passa a viver de um modelo industrial do conhecimento/força intelectual.

Nessa direção se cunhou o termo: “sociedade do conhecimento/informação”.

Na qual, o peso maior não é o campo/fábrica, mas o que conseguimos criar e pensar, a força agora é a informação/conhecimento.

Estamos saindo do peso das forças tangíveis para as intangíveis.

Certo?

E isso nos fez criar um conjunto de estratégias e ações, tais como os métodos de gestão de conhecimento, cursos, pós, etc…

Mas note que esse conjunto de metodologias está ancorado numa premissa maior:

A economia é o principal fator de transformação da sociedade e, por consequência, estamos entrando na sociedade do conhecimento para a qual é preciso fazer a sua gestão.

Certo?

Mas e se não for?

A visão economicista do mundo é fortemente apoiada por quem quer gerar valor e riqueza, porém, se houver uma falha nesse cálculo, nessa fórmula, várias decisões serão tomadas de forma equivocada e podemos cair do cavalo.

O castelo todo de carta tende a ser repensado, das teorias às metodologias!

Como detalhei aqui, depois da palestra de Lévy no Rio, o autor é o que consegue, de forma simples e eficiente, questionar essa premissa maior.

O que ele no fundo está apontando?

A sociedade, em alguns momentos, é governada por forças muito maiores do que a economia: quando há mudanças nos ambientes cognitivos, todas as outras forças passam a ser condicionadas por esta. Ou seja, a economia que era condicionante passa a ser condicionada, assim como a política, os negócios, etc.

As redes cognitivas, por serem parte integrantes do ser humano, nos alteram a forma de ser e de pensar e, portanto, leva a sociedade de roldão.

A fórmula economia com o peso maior, nestes momentos tem que ser redirecinado, pois a nova rede recondiciona tudo, inclusive algumas leis da economia que eram falsas, mas se escondiam numa lógica em um ambiente mais controlado em uma rede menos desintermediadora!

Para aceitarmos a teoria de Lévy temos que admitir que as nossas premissas não eram tão eficazes e isso exige a revisão na fórmula mestra da teoria que tínhamos da história social.

De fato, vemos fatores econômicos que mudam em uma sociedade cujo peso do capital intelectual aumentou, mas, além disso, estamos diante de outro fenômeno, em termos de escalas e consequências, muito maior.

O maior contém o menor e não o contrário e estamos olhando o rabo balançando, mas não o cachorro!

E para esta nova premissa nós não estamos tão preparados!!!!

É preciso, antes de tudo, uma revisão teórica da fórmula para depois rever a estratégia, para, só então, entrarmos nas metologias e começar a obter os resultados esperados, que é a geração de valor.

Um longo caminho que a nossa sociedade não tem tempo, cabeça, cultura para empreender, mas é neste árduo e estranho caminho que temos as melhors oportunidades e a redução dos riscos das mudanças que se avizinham.

Vivemos a macro-passagem de uma sociedade regida por um ambiente cognitivo do papel impresso/mídia de massa para um regido pela rede digital, que incorpora todos os outros, cujo efeito principal é a desintermediação.

Se essa força é superior aquela temos que criar metodologias que possam diagnosticar nossa incapacidade de lidar com essa rede digital e metodologias para nos facilitar a entrar nela e nos preparar para um mundo muito mais desintermediado do que estávamos acostumados.

Temos que criar metodologias para gerir a rede digital e não a sociedade do conhecimento, pois está é condicionada por aquela e não o contrário!

Ou seja, é preciso metodologias não para gerir o conhecimento, como se ele fosse o mesmo, mas que possam ser capazes de compreender teoricamente de forma diferente de onde estamos e para onde vamos e auxiliar a sociedade a entrar no mundo digital em rede.

Eis a sinuca de bico principal, que nos tem levado a cometer erros atrás de erros ao se pensar projetos na sociedade e, principalmente,  nas organizações!

A partir daí, temos que rever os conceitos que acabaram marcando nossa maneira de pensar o novo século.

Da mesma forma que a fala, a escrita cunharam as sociedades, o mundo digital vai moldar a sua maneira o novo mundo, criando uma nova civilização que começa a se delinear de forma mais clara nessa década que entra, com projetos cada vez mais ousados e diferentes que a lógica economicista anterior é incapaz de compreender.

Ou seja, isso é algo que coloca as teorias de cabeça para baixo, todas, de maneira radical, inviabilizando a abordagem que tínhamos anteriormente que era ajudar a sociedade a gerir o conhecimento e a informação.

É a chamada crise teórica paradigmática, não adianta fazer se existe algo maior que se alterou. Parar para pensar é uma grande economia.

Precisamos, por fim, criar métodos URGENTE para nos auxiliar a fazer a passagem da cultura da rede digital analógica (hierárquica e fortemente intermediada) para a sociedade digital em rede (horizontal e fortemente desintermediada).

Temos uma premência de inovação e precisamos de uma velocidade maior para dar conta das demandas que temos pela frente.

É aí que está o valor, pena que nosso mundo enfumaçado pela visão economicista (ironicamente em nome da riqueza e do lucro)  não nos deixa ver.

Que dizes?

 

 

 

4 Responses to “A sinuca de bico teórica do século XXI”

  1. Valéria Miranda disse:

    Acho muito bom! Mas bem distante do meu fazer de hoje… Esse olhar macro sobre o processo e sobre o que estamos vivendo como civilização eu acho fascinante. Vc deve ser historiador, não?! Sem querer ser metida, eu acho que isso é coisa de quem fez história. Que bom que existe gente vendo e falando sobre a rede como algo realmente especial, marco mesmo na nossa história. Adorei! Abs, Vc fala de Pierre Levy?

  2. flavia disse:

    voce matou a pau! que clareza! me inclino ao seu insight. estas atento amigo! precisamos de mais seres humnos assim neste mundo…

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