Há algo de radicalmente novo acontecendo nesse mercado e temos de ser sensíveis a isso, como gestores, profissionais e também acadêmicos – C.K Prahalad – da coleção;
O texto da semana passada me levou a um outro patamar para compreender as macro-mudanças históricas que estamos passando com a chegada de um novo ambiente informacional, trazido pela rede digital (Internet).
O que posso observar e compreender até aqui dos macro-movimentos históricos, influenciados por revoluções da informação?
Pode-se dizer que existe um movimento de passagem de um sistema fechado e bem controlado para outro aberto e com um novo tipo de controle ainda não assimilado pelas estruturas de poder vigente.
O que abre um vão enorme para mudanças de todo tipo, inaugurando uma nova civlização, como detalhei no meu e-book “Civilização 2.0″.
(Vide mundo árabe e #spanhishrevolution agora.)
Vejamos.
Estamos vivendo a última etapa da ecologia informacional do papel impresso, que começa por volta de 1450, na Europa, e declina, a partir da massificação do computador e da Internet, que podemos situar por volta da última década do século passado.
Há algumas características importantes de um ciclo completo e, principalmente, de estarmos vivendo no presente o seu final:
- – o domínio completo do uso do ambiente dá as estruturas de poder um controle muito grande da sociedade;
- – este controle estabelece fortes sensos comuns e formas de produção e troca de informação e conhecimento bem consolidadas e enraizadas nas pessoas que a praticam;
- – e este controle leva à sociedade como um todo a um movimento forte de conservação do conhecimento e da própria realidade dentro desse ambiente.
Cria-se um ambiente de sistema fechado, no qual a realidade é apreendida em documentos – no caso – de papel.
Apenas doutores – depois de muito estudo – podem alterar esse conteúdo, através de tese que tragam inovação a todo esse bloco.
Ou seja, todos temos contato com essa massa de conhecimento, mas apenas muito poucos podem se atrever a questionar os seus princípios, através de um longo ciclo de filtragem.
Todo o resto da sociedade é obrigado a “aceitar” tal conteúdo, através do ensino variado, nas escolas, família, na mídia que é reprodutor do mesmo.
Estabelece-se uma forte hierarquia na produção de conhecimento.
E tais características criam um sistema fechado de compreensão da realidade, no qual os encontros que visam “conhecê-la” são apenas para transmissão do conhecimento e não de revisão do mesmo, de mudança ou de questionamento.
Há um forte controle do que circula e de como pode ser alterado, pois os canais são poucos e fortemente controlados.
O que não passa por estes filtros não é “publicado”, vide a produção acadêmica que necessita que os pares analisem aquilo que sairá.
Ideias novas, por tendência, são desistimuladas, pois podem não ser compreendidas e aprovadas.
Isso gera um processo de engessamento da realidade, da percepção de nós mesmos e vai criando uma espécie de escuridão de ideias, ou do controle muito rígido.
O que nos leva a estruturas sociais cansadas e decadentes.
Isso é fruto desse sistema fechado de conhecimento que estamos habituados, via mídia de massa, hierárquico, que nos trouxe até aqui e – digamos – funcionou, pois todos estamos vivos, apesar das péssimas condições de vida da maioria e das tamanhas disparidades.
Minha hipótese – que não canso de repetir – é que o aumento da população (de 1 para 7 bilhões nos últimos 200 anos) vai pressionando esse sistema fechado a se abrir.
Esse método de produção de conhecimento fechado e hierárquico, que atinge a toda a sociedade tem uma velocidade, que vai ficando incompatível para resolver os problemas cada vez maiores e mais complexos que uma população maior exige.
Tal velocidade baixa, digamos, assim, repercute fortemente no tempo de inovação e, por sua, vez da melhoria da produção.
O sistema fechado que estamos habituados é gerador de crises produtivas, pois encarece os custos da produção, não é flexível, demora a se adaptar, não atende ao que se quer, gera insatisfação, mesmo que não consciente.
Fazemos trabalhos burros, repetitivos, duplicados e ineficazes, o que vai gerando problema de oferta e demanda.
Reforça-se uma casta que se aproveita desse ineficácia.
Porém, isso desestabiliza a sociedade ao longo dos anos, pois verifica-se claramente que há algo ineficaz que podia mudar e não muda.
Gesta-se mudanças de todo tipo.
E principalmente a juventude que chega começa ou começará a querer mundo diferente.
Há, assim, uma latência por um sistema mais dinâmico e aberto em toda a sociedade, da produção, à democracia, passando por novas formas da escola, família, indivíduos.
Essa latência recebe muito bem novos meios de produção de conhecimento, como foi o computador e depois a Internet, com suas novas formas de produção de ideias.
Note que a Internet nos traz a primavera da informação (e da comunicação).
Novos canais de publicação de novas ideias se estabelecem que não seguem mais as normas do sistema fechado anterior. E alguns ambientes inovadores do sistema fechado também vão se abrindo.
(Vide participação de leitores em jornais, por exemplo.)
Quer-se ganhar velocidade e qualidade no pensar e agir.
No novo ambiente aberto produção do conhecimento não passa mais pelos canais formais, as pessoas começam a produzir fora das esferas tradicionais.
(Note que os termos Governo aberto, inovação aberta, desenvolvimento aberto, vem daí.)
E isso imprime nova velocidade de produção de conhecimento, que ao entrar no sistema como um todo, estabelece nova taxa de inovação e, por sua vez de produção.
Todo sistema produtivo é competitivo entre si.
Necessita – para se manter e estar compatível – uma velocidade com a nova taxa em vigor, por causa disso foram adotados sem questionamento – por uma questão de sobrevivência – as cartas, o telégrafo, o telefone, o fax, etc…
Ou seja, a produção se estabelece em um novo ritmo, não mais em sistemas fechados, mas em um novo patamar que cria um novo ciclo social dentro de um novo ambiente informacional que é o da rede digital, que nos levará a uma nova civilização mais compatível com 7 bilhões de habitantes.
No sistema aberto, o conhecimento passa a ser produzido e questionado em todos os lugares.
Como demonstra a figura abaixo:
No sistema fechado o conhecimento vem todo de fora para dentro. E no aberto há uma troca, com a possibilidade de construção de conhecimento, a partir da interação.
No aberto, a cada encontro é possível se questionar o que se diz, criando um processo rico – e muitas vezes ainda caótico – de nova produção de ideias.
Tal expansão nos leva à uma nova visão da realidade, que começa a não mais parecer tão estática e dominada, mas como algo que está em aberto a ser mudada a cada interação.
Isso nos provoca um questionamento na própria maneira que nos vemos e, por sua vez, toda a sociedade, começando a vontade de alterá-la para torná-la compatível.
Nesse novo ambiente aberto viveremos um forte ciclo de questionamento dos poderes vigentes e teremos que reformar nossos sistemas fechados, introduzindo a inovação em todos os canais.
As escolas tenderão a adotar novas formas de ensino para permitir que novas ideias e questionamentos ocorram mesmo nas crianças menores, pois o que se quer é um cidadão questionador e não mais replicador.
Viveremos esse grande ciclo de reajustes global, em função das novas demandas sociais existentes.
Precisa-se preparar o ser humano para criar e não mais para repetir para um novo tipo de desafio.
Tal fato já está ocorrendo também nas empresas, quando pede-se cada vez mais que o colaborador, colabore, mas isso terá um preço em ampliar sua participação do poder e, principalmente, nos lucros, um conceito que terá que ser repensando.
Fala-se do capitalismo social, por exemplo (Prahalah.)
Ou seja, viver em ambientes abertos de produção – que levará um longo ciclo – até ir se fechando novamente em outro patamar (o que me parece uma tendência mais adiante).
Tudo isso nos fará repensar a maneira que pensamos a nós mesmos e a realidade.
Somos, por formação, incompatíveis com esse mundo aberto e participativo.
Não fomos educados para isso, nossa psicologia foi toda montada para obedecermos e seguirmos o manual da família, da escola, da empresa, etc.
Não somos questionadores do sistema, mas reprodutores do mesmo.
E isso não será algo de uma geração, como foi a de 68, por exemplo, mas é uma demanda básica do próprio sistema, vide a maioria dos pensadores na área de negócios que falam em repensar as empresas.
É diferente.
Há uma vergonha e uma timidez tóxica a ser superada para nos expressarmos e podermos dizer a que viemos.
Somos ainda telespectadores da vida e não atores.
Não acreditamos que podemos criar novos conhecimentos.
Não temos auto estima para isso.
É uma fase difícil e muito rica.
E temos que ter consciência histórica dos desafios que temos pela frente.
É isso.
Quer dizes?
(Veja ainda a anatomia comparativa entre o sistema aberto e o fechado.)
[…] Estamos todos em bloco saindo juntos de um ambiente de produção de conhecimento fechado para um aberto, como abordei nestes dois posts (aqui e aqui). […]