Aos poucos fui tentando transformar não mais as coisas, mas a mim mesmo – Herman Hesse – da coleção;
Um papo que rolou bacana no grupo de estudos II, que começou semana passada, foi sobre falar bobagens.
Como falá-las na rede, já que ficam para todo o sempre?
Falo, não falo?
Fico na minha?
Fico na dos outros?
Já falei tantas “bobagens” nesse blog!!!
Meus posts iniciais eram versões betas de ideias novas que vieram depois.
E só vieram depois, por que as disse, falei em público, fui questionado, repensei e passei para a bobagem 2.0, 2.1, 2.2…
A Ciência, aliás, é a bobagem do dia, pois amanhã, alguém vai chamar do seu devido nome, vindo com uma nova bobagem.
Vou, de novo, de Gleiser:
Disso, aprendemos que é loucura levar nossa visão de mundo muito a sério, pois sem dúvida ela vai mudar. É bom tomarmos nossas certezas com muita humildade.
Diria que a Ciência é feitas de bobagens carimbadas. 😉
Há uma ilusão que bobagens faladas na academia são menos bobagens, não são, apenas duram mais tempo, pois são bobagens mais embasadas e longe do senso comum.
São quadros na parede colocados com brocas e não com pregos, que caem mais fácil.
Ponto, nada mais.
Nosso problema, a meu ver, é que misturamos nossos egos com as ideias.
Somos as ideias egóicas que achamos de nós mesmos, falando para espelhos refletidos a cada passo.
Note que é comum falar:
Eu sou assim…
Eu sou assado…
Ah, nessas horas eu sou desse jeito…
Caraca, fico impressionado como as pessoas se conhecem tão pouco e acham que se conhecem tanto!
Nós somos um misto de somos e estamos.
Somos um tanto assim, mas estamos assado.
Tudo vai depender das condições de vento e temperatura!
Porém, o senso comum, a caixa geral, nos faz achar que somos e, portanto, viramos consumidores daquilo que somos.
Já viu aquele cara que compra toda a roupa de ciclista e fica tão cansado que não vai pedalar? Pois é.
Estamos e quanto mais variarmos esse estar, mais coerentes seremos com a vida. Porém, também somos, ao se ver na história.
Somos e estamos, ao mesmo tempo.
Essa é a questão filosófica humana, ser ou não ser? Estar ou não estar? Ser e estar e estar e ser?
Eis a vã filosofia 3D 2.0 do mundo caótico e complexo.
Sabe uma tática que uso para não ter vergonha?
Penso assim:
Cara, se eu morrer amanhã, quem vai ligar para isso?
É tudo tão transitório, somos tão peixes num aquário tão grande.
Quem tá aí para o que eu falo ou deixo de falar?
Bola adiante, pois quem sabe de mim sou eu mesmo, certo?
Somos mutantes parados ou parados mutantes, como acertou – mais uma vez – o Raul Seixas, cantor ambulante.
Mudamos um pouco a cada dia, mas como não vemos, achamos que tá tudo igual.
Tudo em volta se mexe e nosso humor, amor, gestor, aflições, etc se movem também.
Fecho com a Schiesse que lembrou que a maioria das besteiras são deletáveis, pois estão dentro do nosso espaço da tecla DEL.
O quer estiver solto, basta um texto em algum lugar:
“Sabe aquilo? – Esquece.”
Quem lê, quem viu?
Tem esse lance de achar que tudo que cai na rede é mundial.
Baby, sorry, mas o mundo não quer saber de você.
Tem nossa mãe, nosso pai, aquela tia..;)
Além disso, as mudanças do tempo da informação, nos faz hoje ser betas contínuos (como gosta a Priscila da Prodesp).
Para viver o diálogo e a democracia, preciso estar aberto ao outro, ao ponto dele me convencer que a minha ideia sobre determinado assunto, carece de mais discussão.
Assim, a besteira é fundamental no mundo dinâmico, pois ela referencia o ponto que estamos em dada discussão e como podemos avançar.
Quem não fala besteira, ou diz o que pensa, não sai do ponto que está.
Ter a coragem de assumir que temos de nós muito senso comum programado lá no fundo da placa-mãe nos dá possibilidade para reprogramar!
Mesmo que sejam atos impensados, mesmo estes, podem ser reavaliados, a partir de reflexão.
Dar a cara ao mundo, tem um risco, mas muitas vantagens.
É preciso só sabedoria para saber quando, como e onde se abri.
Pero, é preciso abrir!
É preciso leveza para aceitar que as ideias podem ser leves, mutantes e profundas, ao mesmo tempo e precisam vir à luz, para deixar de ser sementes.
Concordas?
Sempre penso: “quando eu tiver 50 anos, isso vai ser certo, errado, importante ou desnecessario?”
Isso me ajuda a tomar muitas decisoes.
Leveza, sempre. Deixar-se ir. E nao pretender ser coisa alguma. A despretensao estah para a alegria assim como a transitoriedade estah para a vida.
Nepo, muito bom post!
Acho que o conceito de “besteira” é difícil de julgar… muitas vezes pode depender do nível intelectual ou mesmo do contexto no qual ela é dita.
Mas muitas vezes apenas quando falamos (em voz alta) ou escrevemos, ou seja, quando expomos nossa opinião, é que somos capazes de julgar se aquilo é uma bobagem pura, uma bobagem com potencial de virar boa idéia ou uma idéia genial.
Além disso, as pessoas têm memória curta e cada um está tão preocupado com si mesmo que não há tempo para julgar as besteiras alheias por muito tempo. Portanto, falemos o que tivermos que falar. E saibamos filtrar as besteiras que ouvimos por aí…
Gostei da reflexão, Nepô.
Uma bobagem muitas vezes faz rir. E rir é tão gostoso, né? Aquele sensação de cosquinha interior, de alegria súbita, de leveza e descompromisso…
E, além do mais, quem é que diz o que é bobagem ou não? Eu vejo diarimente um monte de coisas consideradas “sérias” por aí que para mim são pura bobagem… E vejo coisas que poderiam ser consideradas bobagem, mas que despertam a minha criança interior e, por isso, produzem sensações deliciosas – e o direito ao prazer é muito sério pra mim 🙂
Abração.
Bobagem é acreditar que as pessoas, e suas ideias, são imutáveis 🙂 Assino embaixo do seu texto, Nepô! 🙂
Keila, boa política…
Marina, talvez adaptando “Quem não fala (besteira) não sai da escola..” 😉
Bruno Z, sim, o termo bobagem aqui é o que nós achamos que é bobagem…nossa vergonha…a vergonha é algo reacionário, veja algo que discuti aqui sobre isso:
http://nepo.com.br/2010/05/13/vergonha-1-0/
Vinicius, gostei e Twittei:
Bobagem é acreditar que as pessoas, e suas ideias, são imutáveis
valeram as visitas
Mas afinal , o que é bobagem? Alguém anda por aí com um detector de bobagens ativado? Ele mede também o nível da bobagem? Bobagem para quem? Onde?…
Ainda bem que eu posso falar bobagens, não falar, falar muito, mudar de idéia, só assim há condições para o diálogo, para a evolução e para se chegar ao bem comum.
Quando eu era adolescente e meus irmãos eram crianças, a minha mãe usava de sua sabedoria para lidar com as nossas “bobagens”. Para mim , em um dado momento, brigar com o namorado era algo muito sério, para o meu irmão a bicicleta furar o pneu era muito grave, e para o outro, os carrinhos quebrarem era um problemão. A minha mãe ouvia com o mesmo respeito e seriedade as três coisas, que poderiam ser consideradas “bobagens” por ela, diante de sua experiência de vida. Com isso, nos sentíamos respeitados e confiantes de que qualquer coisa que tivéssemos a dizer ela teria ouvidos para nos escutar e assim, fomos crescendo, seguros, confiantes.
Este exemplo doméstico, se aplica a muitos contextos. Não é?
Sigo com a certeza de que qualquer bobagem pode ser uma grande solução, depende de quem ouve e de como ouve.
Nepo, como eu disse no nosso encontro, todos nós mudamos de opinião e muitas vezes conseguimos registrar isso de algum jeito. Mas as vezes ficamos presos a momentos que não voltam… Expressei esta reflexão no meu blog, no ano passado (http://radioladigital.wordpress.com/2009/09/23/recall-de-palavras-ou-liquid-paper-falado/)
Todos nós sabemos que vamos mudar e todos nós sabemos que as opiniões que ouvimos também mudarão um dia… A gente cresce, amadurece, quebra a cara… Mas, fico pensando, será que isso nos impede de ‘taxar’ e ‘rotular’ alguém que disse uma bobagem? A gente muda e sabe que muda, mas será que aceitamos a quem além de nós muda também? Essa questão da bobagem também tá muito ligada na discussão do ego… Não queremos parecer ‘bobos’ dizendo bobagens… e muitas vezes não enxergamos muitas vezes que não somos os únicos que tem o direito de mudar de idéia: Somos algozes ferozes de bobagentos incautos.
Simone e Mônica, complementações válidas…
O medo de falar bobagem se liga com vergonha,que é algo incutido por quem detém o poder.
Saiu essa frase hoje:
“Vergonha é a irmã gêmea da opressâo”
bjs,
Nepô.
Acho bobagem discutir besteira, a não ser pelo fato de que aquela é filha desta. A bestagem se manifesta ciclicamente no bestunto humano, podendo, por vezes, induzir à mudanças, enquanto a bobagem resiste mudar por receio de encarar outra bestial realidade.
Sempre nos apegamos às bobagens religiosas, ideológicas ou científicas, por falta de um acervo de besteiras que a essas se contraponham.
A bestagem é a mãe da inovação e só modifica a visão dos abobalhados quando a asneira é certificada científicamente.
É besteira discutir bobagem com o mundo em movimento. Quando ele, o mundo, parar a gente salta e lasca mais besteiras.
Saudações e abraços caro Nepô.
Ivan, tava sumido?
Pensei que tinha sido sequestrado por algum twitteiro do mal? 😉
abraços,
Nepô.
Ter coragem de falar o que quiser mesmo achando que é besteira, seja besteira ou não, é genial, provoca, inova, tudo pode surgir daí… E realmente em certas suituações é difícil deixar a vergonha de lado.
Mas pior é o cara que “acha” que está falando sério e só fala asneira, tipo o exemplo do Lula, citado no outro post: http://nepo.com.br/2010/08/06/contra-a-pena-de-morte-de-sakineh/#comments
“Tenho que respeitar as leis de um país”.
Ah, fala sério! Essa politicagem internacional que ele está fazendo tem que servir para alguma coisa, nem que seja para salvar apenas uma vida de uma inocente. O pior é quantas vidas poderão ser perdidas se o Irã conseguir fazer a bomba.
Misturei os comentários dos posts Nepô…
O pessoal que questionou sobre “Piloto automático”…pode-se dizer é quando o humano vira máquina, veja matéria sobre o tema:
http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=45853
Quanto mais pilhado, menos a subjetividade acontece.
E mais vamos sem pensar.
O ego (dominador) deita e rola.
Eu até hoje não sei exatamente o que pode ser uma bobagem! A Minha bobagem termina quando a do outro começa. Não pode ser assim? O Mundo é movido por bobagens. Besteiras políticas, musicais, intelectuais, artísticas, pessoais, organizacionais, fotográficas. Com a internet, as bobagens e besteiras se multiplicam. Mas, quem sabe se o que o outro está falando e você lendo é realmente uma grande besteira, uma bruta bobagem.
Quem nunca falou uma bobagem na vida ou fez uma besteira que atire a primeira pedra. Eu por exemplo só consegui minha carta de alforria, sai de uma grande empresa e senti a liberdade para dizer as “bobagens e besteiras” que eu acho de comunicação. Antes, não poderia. Certamente seria colocada no tronco e levaria mais de 100 chibatadas, esporros mesmo, porque abri o bico e soltei um bando de besteiras, que para mim, significavam verdades.
Hoje, tenho a liberdade para sentar e escrever as minhas bobagens e como diz a Schiesse, basta teclar o DEL caso ache o que estou falando uma grande besteira.
Todos os dias nossas caixas postais são lotadas de besteiras e lixos. Correntes de oração, piadinhas. Muitos passam por cima, não leem e pensam: “lá vem fulaninho encher a minha caixa postal com suas besteiras”. Pode ser para você que recebeu, mas para quem passou não é.
Bem, o dia que eu conseguir saber o que realmente é uma besteira, possivelmente eu estarei estabelecendo uma linha divisória entre o real e o não real. Será que estou falando uma besteira? Ihhhhhh! Muito papo cabeça! 🙂
Janaina,
Talvez a palavra bobagem não seja boa, trocaria por “ideias virgens”…
Medo de falar ideias virgens…próximas ao senso comum…
Aquelas que não amadurecemos..
Valeu!
“Você quer coisa que exponha mais do que a imprensa? O escritor Guy de Maupassant tem uma frase bem-humorada e maldosa que aponta o alcande dessa invenção: ‘Ao alfabetizar o vulgo, a tolice se liberta’. Com a popularização de jornais, livros e revistas, as pessoas podem não só ler besteiras mas também escrevê-las e divulgá-las. A imprensa libertou a exposição e a internet a elevou a enésima potência.”
Mário Sérgio Cortella em “O que a vida me ensinou”.
Lucia, acho isso muito legal, adorei a frase do Guy de Maupassant, que aliás é um dos meus autores preferidos de cabeceira, quando não tenho nada para ler, releio os contos dele.
Vou apimentar.
Acredito que besteira e tolice fazem parte do senso comum, que é com a qual qualquer pensador, professor, ou quem queira “libertar” as pessoas das suas amarras deve lidar.
Ou seja, levá-la a repensar aquela besteira.
Que é o processo de conhecimento, pois dentro da besteira existe um mar de sentimentos imersos, boiando em traumas, veja o post sobre o filme “Origem”:
http://nepo.com.br/2010/08/11/origem-reflexoes-sobre-o-filme/
Qualquer tentativa de atribuir a alguém determinada besteira cristalizante é uma ferramenta de opressão.
A pessoa pensa daquele jeito, pois fizeram a cabeça dela.
Pode avançar com outras ideias ou ficar ali repetindo aquilo.
Trabalhamos com os primeiros e nos afastamos dos últimos.
Valeu visita, frases, carinho, etc..
Nepô.
Lendo aqui para a tese achei essa pérola de Paulo Freire:
http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=bGhGZfa_a_AC&oi=fnd&pg=PA7&dq=%22paulo+freire%22+senso+comum&ots=07atrktIwp&sig=ltw1docV-PLJPqRFzfcVE5RTmso#v=onepage&q=%20senso%20comum&f=false
“Eu tenho que respeitar o estudante na sua própria maneira de saber o mundo”
Tem pessoas que são pessoas.
Tks, Freire!
Eu acredito que o medo de falar as besteiras e bobagens vai muito da pressão que a sociedade impõe sobre todos. Somos pressionados a sermos intelectuais, bem sucedidos, com cargos em multi-nacionais, com o carro do ano, com gadgets de ultima geração, com roupas de marca, falando no mínimo 3 línguas fluentes entre tantas outras coisas. A pressão é tanta que desde jovem há um medo de falar uma bobagem e perder a sua reputação. O problema disso tudo? Seres incapazes de inovar de enfrentar desafios, seres que são pressionados a não errar nunca, porém é completamente contraditório aos conselhos que dizem que só se aprende errando.
No meio de tudo isso há uma busca eterna pela informação e conhecimento para se tornar um ser humano respeitado e bem sucedido entre os seus amigos, colegas de trabalho, mulheres (ou homens no caso feminino) e entre a sua família. É um problema macro complicado de ser resolvido apenas com um “falem mais bobagens”, a sociedade também precisa estar preparada a ouvir mais.
Espero que minhas bobagens sejam úteis para algo… se não forem, bom ai considerem só bobagens então!
Abraços
Oscar Ferreira
@kakamachine
Kaka, concordo, superar pressões, quem não tira o senso comum do armário,continua com ele!
Uma frase que veio na discussão:
Quem não tira seu senso comum do armário, dorme mais e mais com ele – Nepô;
Coloquei na coleção!