As organizações têm a tentação de prolongar o problema para qual eles tem a solução – Clay Shirky – da minha coleção de frases (dica da Paula durante nosso encontro de ontem);
Estivemos lá ontem.
E voltamos a discutir o modelo teórico da sociedade para compreender melhor as mudanças trazidas pela Internet.
Aliás, os encontros serão sempre na tentativa de aprofundar este modelo, que será a arma destes agentes de mudança, ali reunidos para poder sair do senso comum e, de fato, poderem conscientemente alterar a realidade em que atuam.
Veja até onde chegamos.
Modelo 1.0, sem visão de empresa 2.0:
Agente 1: população consumidora que entra no sistema, a partir de suas necessidades conscientes ou inconscientes (latências);
(Note que o agente 1 e o crescimento populacional é o único item do sistema que podemos chamar de “fator irreversível“, pois não há forma de se reduzir o número de pessoas no planeta.)
Agente 2: setor produtivo que se organiza para atender às demandas da população, resolver problemas, através de produtos e serviços e também criar novas demandas existentes ou supérfluas;
Item 1: rede de distribuição de produtos e serviços;
Item 2: rede de comunicação entre consumidores e setor produtivo;
Item 3: tempo de resposta entre os pedidos de melhoria dos usuários e a resposta dos agentes produtivos para a melhoria dos produtos e serviços, a partir da experiência de consumo;
Balde de latências: tudo aquilo que vai se acumulando de forma consciente ou inconsciente de insatisfação do consumidor, a partir da sua experiência de consumo, que o ambiente não é capaz de resolver e nem há outras opções, mercados fechados, monopolizados, etc;
(Detalhei depois melhor a ideia de latência aqui.)
Balde de solução de latências: capacidade do setor produtivo de escutar, compreender ou advinhar as latências dos consumidores e lançar novos produtos ou serviços para resolver estas demandas.
Este é um modelo de uma empresa 1.0, que vive na pele a crise de inovação produtiva.
Razões para a crise:
- Houve um crescimento nos últimos 50 anos de 3 bilhões para 7 bilhões de pessoas no planeta no Agente 1.
- O que ampliou em demasia o balde das latências dos consumidores, que não tinham como se manifestar, expressar desejos, trocar com outros consumidores seus sonhos.
- Aumentando a latência pelo tempo de novos produtos, qualidade, diferentes produtos para um público mais eclético.
- O balde está cheio!
Essa pressão – que não recebe retorno do mercado – pois o setor produtivo não tem capacidade de atender a essa nova demanda no tempo (item 3) exigido.
Cria-se, assim, uma incompatibilidade entre o balde da latências com o balde da solução dos problemas.
Modifica-se, portanto, o item 1, a rede de comunicação, que começa a dar vazão, trazer à luz da sociedade daquele balde de latências, que estava invisível no modelo de comunicação passado.
O que obriga uma mudança radical no item 2, na rede de distribuição de produtos.
Ou seja, se objetiva, através de uma nova rede de distribuição de produtos (item 1) e uma nova rede de comunicação com os consumidores (item 2) reduzir o tempo (item 3) de resposta.
(Esta é a métrica necessária para se aferir se um projeto 2.0 está bombando e não número de seguidores e outra baboseiras em voga.)
- Portanto, uma empresa 2.0 introduz um novo modelo de relacionamento com seus consumidores, na qual muda a rede de comunicação que passa a ser cada vez mais de mão-dupla.
- E altera a rede de distribuição, colocando o usuário, para participar e ajudar a alterar os produtos e serviços.
Ou seja, no centro passamos a ter um novo modelo, como vemos abaixo.
Modelo 2.0, com visão de empresa 2.0:
Neste modelo, teremos o Item 1, que é uma plataforma tecnológica para troca de experiências entre consumidores e o setor produtivo, reduzindo, como se vê ao centro o tempo, com um relógio pequeno, entre o balde das latências e o balde das solução das latências.
Não se vê mais o agente 1 e o agente 2 em ambientes distintos, mas em uma plataforma co-criando e acelerando o processo entre consumo – experiência de consumo – ajustes de problemas – e novos produtos e serviços para atender antigas e novas latências.
Isso, acreditem, dá muito lucro, evita desperdício, fideliza a clientela.
Só não vê quem não quer, ou melhor, não vê por que o concorrente ainda não partiu para isso. Rezem, como sugere Andrew Mcafee, na Época Negócios de março, de 2010,
Note, assim, que a rede de comunicação e de distribuição passam a conviver no mesmo espaço, não havendo mais separação.
Projetos de empresa 2.0, portanto, não são projetos de comunicação, mas projetos integrados de gestão, produção, comunicação para criar um elo co-criativo com seus consumidores, de tal forma a reduzir o tempo entre o que eles querem – e como querem – com o que o setor produtivo pode oferecer.
O que é bem diferente do que temos visto no mercado hoje, um senso comum, não baseado em nenhum método científico para analisar o problema.
O modelo teórico atual está em desenvolvimento e qualquer ajuda, crítica e sugestão, é bem-vinda!
Vamos em frente.
Mais encontros do nosso grupo, aqui.
PS1: ao final do encontro, veio a piada coletiva, que mudei e twittei hoje –
Projeto de camiseta: “Faço frete: te levo do mundo 1.0 para o 2.0, sem acréscimo de tarifa e com ar condicionado” 😉 Quem encomenda uma? 🙂
Foco : Solução de Problemas
Meio : Agente de Mudança
Felicidades,
Formanski
Fala Nepo
Vc viu a mancada da Locaweb ?
http://tinyurl.com/yz2qq3r
Parece que o pessoal de lá não anda lendo seu blog….
É a noticia mais comentada….
[…] Vi no excelente blog do nosso amigo Nepôsts – Rascunhos Compartilhados […]
[…] (Agentes de mudanças, no grupo de estudos “Ruptura 2.0″ está fazendo um esforço para … […]
Matéria do valor que reforça o impacto do Agente 1, pressionando o sistema: http://www.noticiasagricolas.com.br/noticias.php?id=64549
Dado relevante:
“Até 2050, a população mundial deverá aumentar, de 6,3 bilhões hoje para mais de 9 bilhões, portanto a produção agrícola precisará crescer em 70% para alimentar essas pessoas, segundo o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura”.
Destaco ainda e comento:
“Só ciência não basta para elevar oferta de alimentos
Alimentar uma população global em crescimento acelerado em vista da mudança climática e das estagnadas verbas para ajuda alimentar e pesquisa agrícola exigirá uma reformulação básica da agricultura, dizem especialistas”.
Note que ele chama de “reformulação básica” é uma revisão de um conceito geral, pressionado pelo aumento da população.
Veja que a saída não passa apenas por novas tecnologias:
“Não podemos abordar os riscos da segurança alimentar mundial unicamente através de uma ciência e de uma agenda tecnológica”, disse Joachim von Braun, ex-diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas Públicas para Alimentação, numa conferência realizada domingo.
E prossegue:
“Temos os programas, temos os projetos, temos o conhecimento… Temos tudo que precisamos, menos vontade política”, disse ele, acrescentando que surgiram indícios de mudanças. “Percebemos que o problema da segurança alimentar não é unicamente um problema técnico, econômico e ético. É um problema de paz e segurança no mundo”.
São agentes que entram e pedem a revisão de um todo – que não se resolve apenas com mudanças cosméticas.
O que acontece na questão da fome, vale para todos os itens de consumo básicos ou supérfluos, exigindo uma reformulação geral para que as latências sejam atendidas.
Outro case que reforça a plataforma tecnológica interativa pode ser vista nesta matéria, é algo que vai se co-criando:
http://www.fenacon.org.br/pressclipping/noticiaexterna/ver_noticia_externa.php?xid=3159
Veja os destaque:
“O PeixeUrbano trabalha com uma tecnologia que permite aprimoramentos diários no site, a partir do conceito de inovação rápida que Vasconcellos está trazendo do Vale do Silício. “Isso permite lançar um produto que não está 100% pronto, mas está “usável” e ir aprimorando a partir do feedback dos usuários“, diz ele, que, nos últimos três anos, foi vice-presidente da Experience Project, portal de redes sociais para pessoas com interesses afins, com mais de 4 milhões de usuários”.
Outro dado sobre o aumento da população e os impasses que vai criando. Matéria da Folha do dia 28/03/10:
A exemplo de São Paulo, pequenas capitais passam a ter congestionamentos
DA AGÊNCIA FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM RIO BRANCO
Meio-dia, trânsito parado e motoristas estressados nas ruas que ficaram pequenas demais para a frota que se multiplica. Parece São Paulo, mas a cena é de Rio Branco, capital do Acre com pouco mais de 300 mil habitantes.
A cidade é apenas um dos exemplos de “pequenas” capitais que passaram a conviver com congestionamentos. Como consequência, esses municípios vêm adotando desde 2005 medidas como Zona Azul e câmeras de monitoramento.
O problema reflete o descompasso entre o aumento da frota -estimulada por facilidades de crédito e pela isenção fiscal promovida pelo governo federal desde 2008- e a malha viária.
Na capital acriana, a frota aumentou 70% desde 2005 e exigiu a criação da Zona Azul. Já em João Pessoa (PB), a frota cresceu 58% nos últimos cinco anos e um sistema de câmeras teve de ser implementado.
Em Porto Velho (RO), o trânsito piorou para seus 382 mil habitantes; a cidade adotou a Zona Azul e constrói seis viadutos.
Sede da Copa de 2014, Cuiabá (MT) planeja mais de 60 intervenções no trânsito.
Florianópolis, destino comum de quem quer fugir do estresse das metrópoles também enfrenta problemas e, por ser uma ilha, o órgão de trânsito não pode combater congestionamentos com abertura de novas vias.
RT: Lúcia Peixoto.
Nepo e Colegas,
Na pagina 14 desta revista tem um artigo falando justamente sobre o que conversamos no encontro de ontem. O nome do artigo é “Como as empresas de varejo e consumo estão respondendo ao modo de vida das novas gerações, que querem tudo ao mesmo tempo e agora.”
Identifica algumas empresas que já perceberam as latências, já mudaram sua lógica de produção e estão saindo na frente: Dell, Nike (Aliás fiquei impressionadíssima com os novos tênis da Nike. Quem precisará de treinador?).
Eu complementei:
Lucia,
fiquei pensando sobre o texto que você mandou da revista ontem.
E cheguei a conclusão que aquele texto eu classificaria como Nível 2.
Como detalhei no post (http://nepo.com.br/2010/03/26/a-informacao-adequada/):
Nível 2 – Informações que complementam a lógica do processo – são reflexões, conceitos e ideias, que questionam ou reforçam nossa visão do processo. São pessoas que não estão discutindo a lógica geral, mas que chegam a conclusões, frases, que nos mostram novos pontos de vistas, ou consolidam a visão geral. É importante se cercar desse tipo de “inputs” para aproveitar e fazer uma revisão da lógica geral do processo;
Só se apercebe desse nível 2 quem já passou pelo nível 1. No primeiro nível, iremos ler mais livros e mais artigos de fundo. Neste, ficamos mais com notícias de revistas, de entrevistas em jornais, que vão reforçando o nível 1.
Ou seja, ali temos a resposta concreta de empresas para superar a tal crise que falamos.
Os exemplos da Dell e da Nike mostram duas linhas diferentes de resposta, que podem ser paralelas, que
devem entrar no modelo.
Dell – plataforma interativa de produção de produtos e serviços;
Nike – plataforma interativa para criação de comunidades em torno de nossos produtos.
Note que são coisas diferentes, mas que devem estar uma potencializando a outra.
Mas que deve ser vistas como itens diferentes.
A primeira tem mais a cara de um perfil de gestão, administração, engenheiros;
A segunda seria a substituição do atual povo da informação, conhecimento e comunicação.
O que nos leva a ver como o Nível 2 nos ajudar a rever o Nível 1 (modelo).
Veja bem que o nível 2, como vemos aqui, experiências relevantes e descritas de uma forma clara, apontando
caminhos, são extremamente úteis, quando podemos encaixá-las em algo maior, tendo um sentido claro,
ou pelo menos uma tentativa de, compreender o que está acontecendo.
Nepo,
Nessa questão de termos tudo para resolver o problema, menos a vontade política, me lembrou aquela frase que a Camila Leporace citou, não lembro de quem:
“As instituições tentam preservar o problema para os quais elas seriam a solução.”
Não será esse o cerne da questão? Será essa resistência, medo do deconhecido? Vamos ter que chegar no fundo do poço, quer dizer, da fome, para começarmos a agir?
Lúcia, a frase é, até prova em contrário:
As organizações têm a tentação de prolongar o problema para qual tem a solução – Clay Shirky;
E acho que foi a Paula, se não me engano, que lembrou.
Ping-pongueio, como outra frase:
O futuro já está aqui. Ele só é mal distribuído – William Gibson;
Ou seja, a ideia de um mundo homogêneo não existe.
Iremos mudando em camadas, por regiões, pessoas, oportunidades.
Há uma tensão no ar entre quem vai e quem não vai.
Esta tensão vai marcar a saída e a não saída para as crises.
Nosso papel de agente de mudança conscientes é a de puxar para um lado mais humano e coerente com as demandas.
Que dizes?
Ei! Você inseriu um fator novo: “lado mais humano”. Até o último encontro você estava centrado apenas nas demandas … Está adiantando o próximo encontro?
Esse negócio de mudança em camada, aos poucos, setorialmente, não me empolga. A sensação que dá é a de sempre. Muitos com pouco e muitos poucos com muito.
Lucia, isso é engraçado.
Fala-se de nova humanidade.
Mas, teoricamente, nossa humanidade, essa que vamos ao cinema junto com ela, assistimos aos mesmos cometas, vai perecer.
Se todos nós – digamos – melhorássemos, o que vai garantir que nossos filhos ou seus netos, não voltem para um lado diferente do que nós fomos?
É possível falar em melhoria humana?
Não seria sempre dentro de um contexo?
Há acumulação?
Se sim, como podemos explicar o holocausto, na acumulação européia. Ou as guerras, tanto a primeira como a segunda, que envolveram milhões?
Evoluímos de lá, ou apenas estamos sublimando aquilo que pode emergir do nada?
Note que o modelo que estamos montando começa pelas questões básicas, mas sobre ela as grandes questões filosóficas têm o seu lugar.
Vamos aos poucos.
O que é bom observar – e por isso o meu comentário – é de que as mudanças – digamos sistêmicas de ajustes – vão acontecer e precisam ser ampliadas e aceleradas, seriam, a meu ver, aquilo que vamos tirar o piloto automático de hoje e introduzir um novo, em outro patamar.
A outra coisa é a discussão – permanente – do que podemos fazer que, independente qualquer sistema – possamos ajudar as pessoas a superar a pilotagem automática.
E aí vem a questão permanente do medo da morte, que nos empurra para a “solidão de massa”, que nos leva para nossas caixas e para o consumo dos dados, nível 3, das informações no mundo.
Queremos tudo, desde que sejamos iguais a todos os demais!
Sim, segunda vamos adelante.
Você disse, por fim:
“Esse negócio de mudança em camada, aos poucos, setorialmente, não me empolga”
Bom, há da minha parte empolgação moderada e profissional, mas as grandes questões passam por outro movimento, que, confesso, ainda não consigo colocar em prática.
Mas está em processo.
Que passa por tentar chegar a métodos – ou trabalhar com os métodos já existentes – que permanentemente nos tiram dos pilotos automáticos.
Nada garantem que fiquem, mas serão sempre armas nas mãos de Lúcias e Nepôs do futuro, que estarão na trincheira humana contra a alienação e a massificação desumana das pessoas.
Que métodos, isso é um longo e interessante papo.
Beijos
Nepô.
[…] esse acúmulo invisível de vontados no modelo teórico para compreensão da Web, que estamos desenvolvendo de “balde das […]
[…] (Já temos dois outros posts sobre o tema, em Latências e uma visão geral do modelo.) […]
[…] nas observações da Lúcia, que nos apresentou, a partir da revista, os “cases” da Dell, que vende produtos e o da […]
[…] Pois bem, estaria tudo certo, se a civilização não resolvesse dar uma basta nisso empoderada que está por um novo canal de expressão, entornando o baldinho das latências. […]
[…] questão me faz lembrar uma frase de Clay Shirky, que conheci no grupo de estudos do meu amigo Nepô. As instituições têm a tentação de preservar o problema para o qual elas têm a […]