Acabo de receber da Editora Campus o novo livro de Davenport, Competição Analítica: Vencendo Através da Nova Ciência.
Basicamente, o autor discute a questão do uso da informação versus a intuição.
Prevê que mais e mais as empresas vão precisar coletar os dados confiáveis para saber usá-los, separar aquilo que interessa do que não, e, principalmente, desenvolver capacidade de análise.
Acredita em que esta tarefa deve ser feita por especialistas, dedicados ao tema e não por palpiteiros de plantão, que deverão contar com um conjunto de ferramentas adequadas para esse objetivo.
O autor defende ainda que a competição se dará, principalmente, nesse novo mundo analítico da informação, principalmente em cima dos dados coletados cada vez mais na Internet.
Vejam algo nessa linha no meu artigo sobre o Karma Digital.
Acredito que no Brasil o temos um grande problema nesse campo.
Trabalhamos com a intuição sem dados.
E não com dados e fatos analisados para, só então, utilizar a intuição, como, aliás, o livro sugere.
O que nos leva para a feitiçaria, crendice, despacho na esquina ou outras coisas do gênero, do que para as forças reais do mercado.
Davenport lembra que essa análise criteriosa dos fatos vale para todos os campos da sociedade.
Chama a atenção, por exemplo, o uso das informações da competição de beisebol americano, no qual determinados times procuram jogadores que não são aqueles que têm mais visibilidade, mas aqueles que realmente funcionam em campo, e que, por essa falta de análise, acabam sendo jogadores mais em conta na folha de pagamento, com os resultados, muito melhores.
(Uma boa lição para vários times brasileiros, aliás.)
Nessa linha, enviei ontem essa carta abaixo para Fernando Calazans, colunista do Globo, um exemplo típico de uma avaliação feita de cima da intuição e não da verdadeira análise da realidade, a partir de mais dados.
Ele estranha a torcida do Botafogo não ir a jogos decisivos contra outros times com torcidas maiores. E conclama o torcedor a de hoje contra o Americano pela Copa do Brasil e Domingo contra o Flamengo, decisão do segundo turno aos jogos do campeonato carioca.
Mas por trás disso tudo há uma análise de dados e fatos a ser feita, como descrevi na carta abaixo, que acabei melhorando para publicar no blog:
“Prezado Calazans,
hoje, acabo de ler a sua última coluna na qual questiona o motivo pelo qual a torcida do Botafogo não tem ido aos estádios.
Na verdade, infelizmente, a torcida do Botafogo encolheu nas últimas décadas.
Se observamos o perfil da torcida hoje temos menos homens adultos e muito mais mulheres e crianças que se dispõe a ir ao estádio.
Se analisarmos, por exemplo, a decisão da Taça Guanabara contra o Resende, quando a torcida compareceu em massa e lotou o Maracanã, foi uma presença (perfil de torcedores) completamente diferente da torcida do Flamengo, que vai um jogo de decisão.
Não, não fiz uma pesquisa, mas observo ao longo dos últimos anos.
Para lotar hoje a parte que lhe cabe daquele “latifúndio”, o Botafogo precisa da família.
Diferente do Flamengo e Vasco que ainda conseguem lotar um estádio basicamente com homens adultos.
É um fato: a torcida deles é maior.
Que se dispõem a compra de ingressos em filas gigantescas, debaixo do sol, com tumultos, o que afasta ainda mais a torcida família.
Sem falar no medo da violência durante o próprio jogo.
(É raro ver torcedores de outros times de torcida média utilizando as camisas de seu clube. Todos vão à paisana.)
No caso do Engenhão, quando normalmente é jogo de torcida única, é um fato diferente.
A construção do estádio naquele ponto da cidade me parece que foi um erro básico de concepção urbanística.
Para solucionar essa questão e aumentar o público, acredito que deveríamos criar um sistema alternativo de transporte nos dias de o jogo, que permitisse a circulação das pessoas de todas as partes da cidade de tal forma que garantisse a ida e volta de forma fácil, tranquila e segura.
Hoje, tudo gira em torno do trem. E da falta de lugares de estacionamento + engarrafamentos + flanelinhas sem controle.
Claro, em horários compatíveis com quem trabalha, chegando em casa não mais do que 11 horas da noite.
Hoje, infelizmente não é assim.
É muito fácil, baseados apenas na intuição, em mística, em covardia, amarelamento, afirmar que a torcida do Botafogo não vai ou abandona o time nos momentos decisivos.
(Não foi o seu caso, mas é o que se fala por ai.)
Os homens adultos até que vão, mas não são em número suficientes para lotar a sua parte da arquibancada.
Na verdade, é preciso entender que se queremos de fato modificar essa realidade, temos que dar condições para essa nova torcida-famíla possa ir ao campo com tranquilidade.
A primeira medida, no meu entender, é a informação e depois dela a análise.
Estudar o novo perfil dessa torcida, suas novas necessidades e exigências.
Bem parecida, aliás, com a demanda de outros times com torcida de médio porte no país.
O Fluminense vive, em parte, esse mesmo problema, sem o drama do Engenhão.
abraços,
do leitor,
Nepomuceno.”
Bem, sempre leio o blog e hoje fiquei feliz em ver o meu Botafogo como objeto de um post. Concordo com o Nepo (se me permite o abreviamento), mas levo em consideração também que as últimas experiências deixam o torcedor alvinegro ainda mais melindrado. Ficamos com esse “karma” do time do quase. Mas enfim, como diz Nepo, não há uma prova cabal desse número reduzido, apenas essa pequena constatação quanto ao torcedor-família (o que me deixa muito orgulhoso por ser botafoguense).
Abraços
Levei algum tempo para compreender que a intuição que eu julgava suficiente para navegar no mundo não era capaz de me oferecer uma leitura adequada da realidade.
Os instrumentos para a compreensão dos fenômenos estavam na academia, tardiamente ingressei neste campo, talvez nem tão tarde assim, pois neste processo descobrimos que a formação é contínua, permanente.
O bom é descobrir que aquilo que intuímos pode ser confirmado ou não, logo confiar no seu “taco” tem a sua utilidade. Como botafoguense e tendo uma filha mais convicta do que eu, sinto-me feliz com a referência.
Um forte abraço.
Márcio Kerbel.
Pessoal, valeram os comentários.
A nação alvi-negra é menor, mas não menos importante. 😉
abraços,
Nepô.